quarta-feira, 31 de agosto de 2022

TRIÂNGULO SOLIDÁRIO NO CORAÇÃO ATLÂNTICO

                                                                                 


Quis o calendário gregoriano que em cada ano da graça sete vezes os Dias Ímpares se abraçassem entre o 1º e o 31º ou, cronologicamente, entre o último e o primeiro de cada mês. Este é o quinto encontro solidário e pleno do ano de 2022 – 31 de Agosto e 01 de Setembro.

         Nesta geminação dos Dias Ímpares, apraz-me deambular por outras e tantas geminações de ilhas e gentes que, como jangadas de basalto, acham um porto de abrigo e uma baía de abraços –  encontro este projectado e lavrado pela mão de quem estando longe sente bater mais perto o coração.

         Trago a notícia, na decorrência da já propalada visita da “TCM-Tuna de Câmara de Machico”, (extensão do CCCS-RS, Centro Cívico-Cultural e Social da Ribeira Seca) à ilha do Pico, mais precisamente ao Município das Lajes. Razão e oportunidade do evento: a geminação do concelho de Machico com o concelho das Lajes, em 1989.

         Mas não só nessa ilha os dois Municípios se irmanaram. Em 1996, foi em São Miguel que novamente Machico rumou ao concelho da Povoação, onde se rubricou a nascença de dois novos irmãos gémeos. Bem me recordo: a gentileza do presidente daquele concelho micaelense, o Dr. Carlos Ávila, e o signatário destas linhas, então presidente da autarquia que antes fora a primeira capitania da Madeira. De toda a substantiva afinidade entre as duas autarquias e o seu povo, retenho as permutas sócio-culturais então realizadas e, com agudo pesar, não me sai da memória a tragédia ocorrida na ‘Ribeira Quente’, aquando do desabamento da falésia sobre o aglomerado populacional e as vítimas mortais, os funerais que acompanhei presencialmente.

         São vários e distintos os genes histórico-laborais que nos unem. Lajes e Povoação assinalam os primeiros locais onde os descobridores (ou achadores) aportaram, respectivamente, ao Pico e a São Miguel. Daí o topónimo ‘Povoação’. Ora, Machico pode ostentar igualmente os pergaminhos de ter sido a baía onde chegaram pela primeira vez à Ilha os marinheiros do Senhor Infante. A actividade piscatória e, particularmente, a faina atuneira e a extinta indústria baleeira tornaram próximos e gémeos os dois concelhos. Visitar o Museu do Baleeiro ou a antiga Fábrica da Baleia, nas Lajes, é como atravessar uma gostosa ponte inter-ilhas.

         Mas o mais surpreendente foi saber pela boca da própria presidente lajense: “As Lajes do Pico também estão geminadas com o concelho da Povoação”. Aí ficámos com a nítida sensação de termos desenhado um perfeito Triângulo no coração do Atlântico.

         A Tríade poética, romântica, quase mítica:

MACHICO-POVOAÇÃO-LAJES DO PICO !

         Numa tentativa de balanço, perguntar-se-á qual o efeito prático e útil para as respectivas populações. Logicamente, não serão visíveis e palpáveis as projeções imediatas das geminações, mas o seu significado, o de sabermos que não estamos sós, que não somos apenas ilhas separadas pelo mar, cria na sensibilidade insular uma interpretação tangente de vivermos todos na mesma aldeia global ou, como diz Francisco Papa, na mesma Casa Comum. Além de que estabelecem-se liames afectivos e laborais entre madeirenses que vivem nos Açores e açorianos que fazem da Madeira a sua segunda pátria natal.  Confirmámo-lo nós próprios por conhecimento directo.     

           Daqui a milhas de distância, fazemos do Triângulo Inter-Ilhas um navio carregado de hortênsias e buganvílias sulcando o mar atlântico ao encontro dos irmãos gémeos em todos os Dias Ímpares !

 

         31.Ago-01.Set.22

         Martins Júnior

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

MISSÃO CUMPRIDA

                                                                                   


Sem qualquer outro acento enfático, mas com toda a simplicidade gozosa – de um gozo espiritual indescritível – acabámos de regressar à Ilha, a nossa, e abraçarmo-nos efusivamente dizendo, mais com emoção do que com palavras: CUMPRIMOS !!!

Elas e eles, mais precisamente. Um punhado de jovens sentiu-se plenamente investido da missão de representar o Concelho de Machico na Ilha do Pico, Açores,  em virtude da geminação (com mais de 30 anos) entre o nosso Município e o Município das Lajes do Pico.

Na hora do regresso e enquanto co-responsável pelo cumprimento desse mandato entregue à juventude da Tuna de Câmara, (extensão do Centro Cívico da Ribeira Seca) cabe-me neste item fazer a avaliação do serviço prestado e registar em três momentos assinaláveis o desempenho dessa missão, deixando para o CCCS~RS (a colectividade organizadora) os devidos protocolos de gratidão às entidades competentes.

Em primeiro plano, releva-se o concerto que a “TCM” proporcionou à imensa multidão que aguardava junto ao palco monumental o programa dos jovens de Machico. Era a maior festa da ilha, a Festa dos Baleeiros. Porque ninguém é juiz em causa própria, não serei eu a tecer elogios, mas todos quantos assistiram ao espectáculo. Devo esclarecer que nas Lajes do Pico, como de resto em todas as ilhas açorianas, a cultura musical atinge níveis muito acima da média comum no Portugal Continental e Insular, o que fica justamente demonstrado na profusão das bandas filarmónicas que povoam o arquipélago. Por isso, a prestação da Tuna, diante de um público selecionado, ganha maior ênfase e reconhecimento do mérito.


Outro ponto alto tem mesmo a ver com a altitude maior de Portugal, a subida ao famoso Pico que deu nome à Ilha. Para os valorosos caminheiros desse percurso, que tem tanto de desafiante quanto de apaixonante, ficará para sempre nos pés doloridos e na mente libertada o inolvidável prazer de atingir a coroa-cratera desse Pico gigante. O robusto investimento físico ficou largamente compensado pelo pódio dos vencedores, a alegria de ter conseguido aquilo que outros não conseguem. E mais: o prestígio daquele pelotão de bandeirantes que ostentaram, como um padrão simbólico, o estandarte de Machico nas alturas do Pico.      


O terceiro “grito do Ipiranga” aconteceu quando fomos surpreendidos pela inscrição rodoviária de um nome constitutivo da nossa identidade: RIBEIRA SECA!... E foi aí que os ânimos se soltaram espontaneamente, cantando a plenos pulmões o hino que nos define: “Ribeira Seca…Tens para todos o calor de um coração”! E não foi apenas uma Ribeira Seca, foram três, foram quatro: em São Jorge, no Pico e duas em São Miguel.

Nesse preciso instante uma nova aventura surgiu no horizonte: Por que não fazer um encontro amistoso entre as Ribeiras Secas – dos Açores e da Madeira?!... E, porventura, de algum idêntico topónimo existente no continente português. Afinal, “Homem algum é uma ilha”… E Ribeira Seca também. Não estamos sós!  

 Mas isso são ‘contas de outro rosário’. Por hoje, o júbilo do trabalho concluído com êxito e a vontade redobrada da juventude em abrir clareiras de sonho e arte nos dias de amanhã!

 

29.08.22

Martins Júnior

sábado, 27 de agosto de 2022

O LIVRO IMPERECÍVEL!...

 

O Guião dos Dias Ímpares seguiu a onda contínua e cheia que os sinos do carrilhão de Ponta Delgada lançaram, via marítima, às nove ilhas do arquipélago açoriano, em 23 e 25 de Agosto, em memória e gratidão a um Homem Bom, bispo António Braga, assinalando respectivamente, a sua morte em Lisboa e a sua  sepultura em terro insular onde foi nado e criado, a ilha de Santa Maria.

Destas terras vestidas de azul e verde poderia encher toda a noite com aquele brilho de um pôr-do-sol inebriante, ex-libris desta estância gémea da nossa. Da mesma  forma, poderia debruçar-me sobre o LIVRO, como sempre faço neste entroncamento entre uma semana e outra.

Mas não! Hoje vou, sem conter a emoção, no rasto de um outro Livro que se fechou definitivamente. Com maior  mágoa o digo: um Livro que nunca se abriu ao mundo. Talvez porque o mundo, que o tinha nas mãos,  não quis ou não soube abri-lo.

É de um amigo e colega que hoje quero encher esta página. Breve e discreta, como lhe agrada e como sempre foi seu apanágio. Indiferente aos louros da publicidade e de uma pacífica transparência aos remoques do vulgo, ele criou desde a juventude um mundo interior característico que tanto se assemelhava a um tronco robusto como a um rústico portal, onde todos, grandes ou pequenos, podiam entrar sem risco de serem corridos.

Era assim o Padre José Vieira Pereira!

Mútuos confidentes que nós éramos, já nos bancos do Seminário do Funchal, admirava-lhe a capacidade de assumir reflexos originais, fruto de um pensamento próprio, inspirado na pujança biológica  da Natureza. Tudo discretamente, diria quase clandestinamente, sem agredir o status quo de quem se acomodava aos usos e costumes do mais gratuito laissez faire, laissez passer.

A construção de um consistente acervo filosófico-teológico, plenamente interiorizado, desabrochou, explodiu neste desabafo que um dia bateu à minha porta na Ribeira Seca, era ele pároco do Caniçal:

Martins, tenho de publicar este livro. Já sei que me vão boicotar em Portugal. Mas eu vou a Paris e publico. Tu ajudas-me a traduzir.

Fiquei atónito e, ao mesmo tempo, entusiasmado. Abrimos o volume, ainda em folhas soltas. Era um Tratado de Teologia Sacramental, uma nova visão dos sete sacramentos  da Liturgia Católica. Uma irresistível revolução dos paradigmas tradicionais, fechados sobre si mesmos!...  A Transcendência na Imanência da Matéria. Baptismo, Confirmação, Eucaristia e todos os outros rituais teriam de ser transformados em manifestações concretas da vida, do alimento, da saúde holística do composto humano: água, cultura, ginásio, pão, serviço. Os sacramentos, porque são sinais reprodutivos, e a sua recepção nunca deveriam ficar confinados às quatro paredes do templo. É fora do templo que eles se actualizam.

Passaram-se os anos e o Livro foi-se desvanecendo. Circunstâncias várias – O homem é aquilo que é, mais a sua circunstância – talvez preocupações e acontecimentos ainda por explicar ditaram o esquecimento. Terá sido, julgo, uma das suas maiores mágoas ao despedir-se de nós. É por isso que, aceitando o ocaso da vida (somos ambos do mesmo ano) ainda procuro o Livro !...

Conforta-me, no entanto,  saber que o verdadeiro Livro  é ele próprio, o Padre Pereira. E esse ninguém - nem a terra, onde já dorme definitivamente – pode comê-lo ou destruí-lo. Para os amigos e para quem o conheceu na sua riqueza bio-espiritualista, o Padre José Vieira Pereira ficará sempre vivo, no seu pensamento perene e galvanizador.

Por impossibilidade física e absoluta, não o acompanhei até à sepultura. Acompanhamo-nos todos dias, como nos tempos de outrora.

Com esta mágoa e este apelo: o pior mal não é morrer. O pior mal é não ter vivido.

Viva a Vida !!!

 

Em Lajes do Pico, Açores

27.Ago.22

Martins Júnior

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

ENTRE 23 E 25 DE AGOSTO: POR QUEM RE-DOBRAM AS ONDAS DO ATLÂNTICO ?...

Os nossos olhos viram e os nossos ouvidos escutaram.

Mais que as ondas hertzianas foram as ondas arquipelágicas do Grande Mar açoriano que transmitiram a Boa-Má Nova: Morreu um Homem Bom!

Vimos e ouvimos, surpreendidos, primeiro no solene carrilhão de Ponta Delgada, alvoroçando a manhã clara e calma do 23 de Agosto. Depois, o dobre dos sinos repercutia-se em monumental uníssono pelas nove ilhas que o mar separou e, no mesmo tempo, entrelaçou.

Vimo-lo presencialmente por onde nos levaram as naus nesta viagem às terras da baleação. Os sons da homenagem aos baleeiros tornaram-se acordes baladeiros prostrados à beira da campa de um Homem Bom, em

sua terra natal.

Um Homem Bom morreu. Será boa ou má notícia?...

Sempre o pior mal não é morrer. O pior mal é não ter vivido. E a maior dor!

Por ter vivido plenamente – viver é servir – os sinos dobraram e as ondas re-dobraram, não à morte, mas a Vida.

Estas palavras pretendem ser o eco frágil, é certo, mas sentido do clangoroso carrilhão de homenagens à personalidade humanista do bispo António Braga, que foi hoje a sepultar na terra onde nasceu, Ilha de Santa Maria, Açores.

No mesmo tom de balada mística envolvo o meu colega e companheiro evangelizador, o Padre José Vieira Pereira, hoje falecido na sua e nossa ilha natal.

 

23 e 25.Ago.22

Martins Júnior

 

 

 

 

domingo, 21 de agosto de 2022

NO TRIPLO SALTO, ESCONJURAR OS GIGANTES DE PÉS DE BARRO

                                                                            


Sem tempo para largas lucubrações em tempo de vilegiatura estival, vale a pena passear a vista pela narrativa de Lucas, capítulo 12. É o ‘prazer do texto’ em cada nó da semana: o LIVRO. E o prazer está no triplo salto que se nos apresenta na argumentação, simultaneamente metafórica e assertiva, do Mestre e Líder das multidões na Galileia dos Gentios.

         Em luta frontal o parecer e o ser, o esforço denodado e o privilégio gratuito, os imerecidos predestinados ao trono e os ‘párias’, construtores anónimos do Reino Novo a haver. É o genuíno rosto de Jesus de Nazaré, a sua personalidade vertical, enérgica, galvanizadora,  em contraponto com as degradadas e derrotadas, resignadas imagens que os mercenários das religiões costumam fabricar para consumo magro dos crentes e para obesa recolha dos oradores.     

         Quem cortará a meta, quem alcançará o pódio vitorioso ou quem serão os convidados vip’s  ao banquete real?

         No contexto bíblico que provocou o discurso veemente do Mestre, só estarão os predestinados do berço, os herdeiros apáticos, os brasonados sem peito, os ‘imóveis’ (no duplo sentido) da casa, enfim, o nepotismo, o amiguismo, o compadrio, os sanguessugas alapados às botas do poder e às saias da hipocrisia. No caso vertente, os levitas, os sumos-sacerdotes, os fariseus, os escribas mangas-de-alpaca dos legisladores da época. É de uma dureza implacável o “Doce Nazareno” quando se trata de chamar ‘as coisas’ e os titulares pelo seu verdadeiro nome. No seu vocabulário não entram os parónimos, as reticências, as meias tintas ambíguas.

         Por breve análise, vejamos a dinâmica do Mestre em três fases progressivas;

         Primeiro: a quem o interpela sobre “quais e quantos se salvam”, responde em tom sintético, mas direcionado: “Se entrares pela porta estreita, chegas lá”. E precisa o método: “Esforça-te por isso”. Acção, empenho, voluntarismo!

Segundo: Os amigos batem à porta, o dono da casa manda desapareçam da frente da casa, porque não os conhece, mas “somos teus amigos, comemos e bebemos contigo, assistimos às tuas prédicas e aos teus discursos na praça pública, então não te lembras?”… E o dono repete com maior indignação “desapareçam da minha porta, vós que praticais injustiças, iniquidades, não vos conheço de lado nenhum”!

         Terceiro round,  este sem apelo nem agravo, directo, ‘tiro e queda’ contra os soberanos do templo, os juízes da salvação e da condenação distribuídas a seu bel-talante: “Virão muitos do Ocidente e do Oriente, do Norte e do Sul, sentar-se-ão à mesa do Reino e vós sereis postos na rua, todo o povo presenciará o vosso choro e ranger de dentes”.

         Ai, ai, ai, Senhor e Mestre, que isso não é só contra os Anás e os Caifás, não é só contra os fariseus… isso também é connosco, é comigo, é para os inquilinos do século XXI. É para os que cavalgam a mula da falsa fé, é para os rançosos penduras da política, é para os vendilhões compradores das consciências, para ‘os que dão um chouriço e esperam um porco de volta’, para os vira-casacas e similares.

         Oh, vem de novo, Jesus, com a vergasta da tua palavra e areja esta casa nossa envernizada mas pútrida, em cujos pilares estão alguns calados piratas vestidos de mordomos donzelos…

         Ou, perdoa-me, não venhas. Mal abrisses a boca, terias um putin em cada esquina da vida para te secar a garganta com o garrote da fome. A Ti e à Tua família. Ao ver cenas tão desajeitadas, ostensivamente mefistofélicas e ao ouvir certas prédicas de solenes arraiais,  ditas em Teu nome, permite-me, Senhor,  mas é o que sinto: Isto tem pouco conserto. Ou nenhum!

         Mas de pé fica para sempre o que disseste neste início da semana!     

 

         21.Ago.22

         Martins Júnior

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

NO DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA: AUTOPSICOGRFIA EM REGISTO DE CHARADA

                                                                                      



FICASTE BEM NA FOTOGRAFIA! 

E TU…  FICAS-TE BEM

CONTIGO MESMO?...

 

Em apenas duas formas verbais, toda a diferença entre o parecer e o ser – entre o positivo e o negativo de estar na vida !!!

 

         19.Ago,22

         Martins Júnior

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O ELOGIO DAS PERIFERIAS… E a todos um xi-coração!

                                                                               


Às amigas e amigos que tiveram a amabilidade de enviar, de várias formas, saudações aniversárias pelas seis décadas deste longo  percurso sócio-espiritual e cultural que anteontem concluí, aqui deixo e retribuo para as suas vidas o mesmo calor intimista com que as recebi.

         E porque nalgumas delas vinha colado o desafio de fixar por escrito algumas dessas travessias nos mares navegados, aqui vai um breve registo, talvez o maior desta sexagenária trajectória: o meu agradecimento à Instituição Eclesiástica por me ter entregue em 15 de Agosto de 1962  esta bússola dos ventos, como a indicar-me o meu sonho e a minha sina: “Nascido para as Periferias”.

         E assim se cumpriu um destino.

         Por ter proferido a, então denominada, ‘Oração de Sapiência’ no púlpito da Sé Catedral do Funchal, por ocasião do soleníssimo Te-Deum do patriotíssimo 1º de Dezembro, Dia da Restauração – onde afirmei que “os maiores criminosos não estão nas cadeias” e, de seguida, que “o nosso Jesus não precisa de adoradores que venham ajoelhar-se em fofas almofadas vermelhas” – por isto e só por isto, recebi, no fim do ano lectivo, guia de marcha para o Porto Santo. O ‘azar’ – ou a ‘sorte’ – foi que, na imponente cerimónia,  quem tinha a seus pés almofadas vermelhas eram o governador civil e o governador militar

         A solidão, os extensos campos de trigo e uvas que se confundiam com o areal da praia, aí aprendi a olhar a vastidão da vida e da história humana. Senti-me ao lado de Charles de Foucauld a mergulhar no mistério do ser aqui-e-agora, relevando tão-só o essencial contra os fogos fátuos do superficial que tem tanto de espectacular como de efémero. E como tal, aprendi a ganhar a autonomia de pensamento e acção, na interpretação evangélica e nos rituais da liturgia. A periferia fez-me crescer e, ao mesmo tempo, reconhecer a fragilidade de viver. Ganhei caule e tronco existenciais.

         A ‘rosa-dos-ventos’ meteu-me dentro do velho ‘Nissas’ e lá fomos, em 1967, mais de dois mil homens para o extremo norte de Moçambique, a periferia que cheirava ao verde do capim e ao sangue da juventude. Aí aprendi a injustiça das armas feitas da ganância criminosa dos colonizadores sem escrúpulos. Vi também, no mesmo cômputo, a humilhação misturada com a raiva ancestral dos povos colonizados. Aí, descobri a tremenda falácia dogmática que “fora da Igreja não há salvação”. Vi gente boa, honesta, sedentas de um Mundo Melhor. Gente negra por fora, branca por dentro. Aí, voltei a ouvir o eco de Pedro Apóstolo: “Em qualquer nação ou em qualquer lugarejo, quem pratica o que é justo é aceite por Deus”.  Aí, descri da Igreja monárquica, absolutista e passei a crer e adorar os muitos mártires que ali deixaram o corpo em missões de paz e progresso.

         Longe da periferia dos palácios-basílicas, das embaixadas-nunciaturas, das centralidades salomónicas em que os poderes ditos sacros sentam-se à mesa dos poderes do deus Mammona, do capital e da política, ali na periferia nua e crua aprendi a ver o autêntico Jesus crucificado e, como o Padre António Vieira no nordeste brasileiro, aprendi a rejeitar dos templos as falsas imagens mortas “que não padecem nem sofrem”. Repudiei a hipocrisia farisaica das roupagens de ouro e  púrpura sacramentais e toquei o choro abafado de crianças e mulheres, adultos e velhos para quem viver é ficar amarrado à sala de espera da morte. A periferia abriu-me caminho de andar com o verdadeiro Jesus. A periferia fez-me servir o Povo, não a Instituição.

         Regressado à minha terra e, por mais inverosímil que pareça,  regressei de novo à periferia, uma ‘segunda África’ – Ribeira Seca, sem pingo de água potável, sem estrada, sem luz. Mas com o capital mais precioso do mundo: o seu Povo. Em 1977, mais um anátema de proscrito: o libelo condenatório da ‘suspensão a divinis’. Sem processo, sem crime, sem direito ao contraditório. Entrei na ultra-periferia. E descobri em plena luz o que já antes vinha desvendando: Quanto mais longe do absolutismo hierárquico da Igreja Institucional, mais perto de Jesus de Nazaré, o Libertador.  

Daí em diante, valeu tudo: Em 1985, a ocupação selvática da igreja, por 70 efectivos policiais, sem mandado judicial, à revelia da lei.  Em 2010, a expulsão da Imagem Peregrina: a diocese não a deixou entrar nem no adro nem na igreja.

Agradeço todos quantos se irmanaram comigo na reta final da sexagésima estação.

À Instituição agradeço a vocação periférica com que me brindou a mim, durante 60 anos. A mim  e à Ribeira Seca durante 45 anos. A força centrífuga da periferia transformou-se na força centrípeta de Jesus, o Nazareno.

Bendita, Iluminante  e Renovadora Periferia!

“E, no entanto, a terra move-se”.

E, no entanto, a Vida continua!

 

17.Ago.22

Martins Júnior

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

SESSENTA ANOS – UM EPISÓDIO FUGAZ !

                                                                             


Fosse minha a síntese genial de Fernando Pessoa e, como ele, diria hoje, aqui e agora; Quem quiser fazer a  biografia destes 60 anos de percurso terá só de inscrever  duas datas – 15 de Agosto de 1962 e 15 de Agosto de 2022. Tudo o mais é meu!

Mas, porque não é meu tudo o mais, aqui deixo um registo breve (que eu desejaria longo, infinito) de gratidão para com todos os que comigo fizeram esta viagem. Faço-o com o frio gelo que queima toda a emoção  e, ao mesmo tempo,  com todo o calor que não posso conter no coração.

O dia em que um rapaz de 23 anos de idade subiu ao altar-mor da igreja matriz de Machico para celebrar Missa Nova. Era a manhã de 15 de Agosto de 1962.

O ano  de professor e prefeito no Seminário da Encarnação no Funchal.

Os dois anos (1963-1965) na paróquia do Espírito Santo, Porto Santo, então um deserto, que fez desabrochar em mim o milagre de transformar os cardos espinhosos em pétalas de oiro. Eternamente grato às gentes do Porto Santo, ao Grupo Folclórico, aos colaboradores locais, madeirenses e continentais em serviço na ilha, que comigo iniciaram o Ensino Preparatório e Secundário, os quais ainda não existiam oficialmente. O Pico Castelo, o Campo de Baixo, o Campo de Cima, a Lapeira e a Ponte. E o Ilhéu da Cal, para onde me levaram, com receio de que a Pide viesse buscar-me por ordem da diocese. Aos descendentes vivos dessa plêiade de ‘combatentes’ o meu preito maior.  

Os dois anos (1965-1967) como coadjutor na Sé Catedral do Funchal, os alunos da Escola Salesiana e do Colégio Lisbonense onde lecionei, a convite do poeta e historiador Padre Eduardo Pereira. “A Malta do Calhau”, distintos velejadores. Os Escuteiros Marítimos.

Os dois anos da guerra colonial (1967-1969) em Cabo Delgado, Moçambique, nessa degradante condição de tenente-capelão do Batalhão de Caçadores 1899, a nódoa mais negra em toda a minha vida: desalojar quem vivia pacificamente na sua própria casa, ainda que não passasse de uma pobre cabana. O baptismo de 32 macondes em Palma, junto ao Rio Rovuma.  Os 11 amigos meus, praças e furriéis, mortos à minha frente, numa mina anti-carro, precisamente em 15 de Agosto de 1967.  “A Visita da Velha Senhora”, de Francis Durremat, no palco de Mocuba, Quelimane, Zambézia. Os missionários italianos de Morrumbala.

Os 53 anos (1969-2022) na Ribeira Seca, a minha Universidade Existencial, onde aprendi factualmente que “O Povo é quem mais ordena”. Contra a ditadura política (1985) e contra a ditadura diocesana (2010), a Ribeira Seca escreveu em pedra no adro da sua igreja; “Este Chão é um Chão sagrado/Onde cantámos Vitória”. E porque ainda é cedo para o tempo da memória – estamos vivos! -  a História continua abrindo caminho.

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Ao fim de 60 anos, um súbito episódio na tela da vida, gostaria de incluir-me entre aqueles de quem o Mestre afirmou: “Somos servos inúteis. Só fizemos o que devíamos fazer” .  

 Com uma ressalva: Servi o Povo, não servi a Instituição!

Aos companheiros de viagem, a minha gratidão sem limite.

15.Ago.22

Martins Júnior

sábado, 13 de agosto de 2022

O ESCÂNDALO DESTA NOITE: UM HOMEM PRESO, JULGADO E CONDENADO À MORTE !!!

                                                                           


 Juntaram-se os dois tribunais supremos: o político e o religioso, este – o religioso – mais interessado que o primeiro na pena capital.

         - Com que então andaste na praça a dizer que ias incendiar o mundo, confirmas?

         - Sim, confirmo e mantenho. É esse o meu maior desejo.

         - Também confirmas o que de ti diz toda  a gente: que vais fazer guerra, que andas a semear o divisionismo entre o povo.

         - Confirmo. E mais te digo: vim fazer guerra aos regimes e não só. Também dentro de cada família: pais contra filhos, filhos contra pais, noras e sogras em guerra acesa.

         Acusação lavrada em processo sumário e confessada pelo próprio réu: Incendiário compulsivo e revolucionário desestabilizador da paz nacional.

         Conclusão: Entregue ao Ministério Público, sentenciado pelo juiz: pena capital!

         O réu chama-se Jesus de Nazaré!

         O “Doce Nazareno” acusado de destruidor pirómano, de conspirador nato, incorrigível!

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         Eis aí a tradução para o século XXI daquilo que vem escrito em Lucas, capítulo 12. A sentença vem em todos os evangelistas sinópticos.

         Essa foi toda a vida do Nazareno. Contra o ‘império da indiferença’, contra o gelo glaciar da insensibilidade humana, a começar pelos poderes instituídos. Contra as assimetrias sociais, contra os monstros das ditaduras – políticas ou eclesiásticas.

         O sangue derramado pelo Grande Mártir escorreu  (e ainda corre) nas veias de tantos homens e mulheres que não se conformaram com as margens abissais que separam as sociedades. Homens e mulheres que não desistiram de acordar as multidões, desestabilizar os magnatas instalados nos imerecidos cadeirais da opulência política e/ou financeira. Homens e mulheres que recusam o imobilismo dos que se auto-proclamam  representantes do “Incendiário“ das mentalidades e não se revêm na exposição mórbida (quase pornográfica) de um Jesus despido e derrotado para sempre.

        

         Embora em contraciclo da hora que passa – florestas em chamas e guerras fronteiriças – o programa do Mestre e sua paixão suprema estão na luz candente que queima as trevas e na vanguarda dos fracos e humilhados que lutam para que definitivamente a Terra seja plana.

         Predisse Pascal que ‘Jesus estará em agonia até ao fim dos tempos’.

         Poderia também afirmar que Jesus estará no banco dos réus até ao fim dos tempos. Pelo duplo crime: Incendiário e Revolucionário!

         Ele o confirmou neste Domingo, no LIVRO:  Lucas, capítulo 12.

         13.Ago.22

         Martins Júnior

      

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

INTERMEZZO LUNAR – Para quem não tem pressa…

 


    Se tem pressa não perca tempo a ler este breve apontamento – é o que o título quer dizer. Na verdade, trata-se aqui de um quase-passatempo (há quem desrespeitosamente lhe chame um fait-divers), talvez uma infantilidade de que se riem os adultos. Mas lá vai o conto em poucas linhas;

         Diante de um palco feericamente  iluminado, a plateia suspensa dos acordes tumultuosos dos trombones, das tubas, dos tambores, o cheiro quente das espetadas a arder nas periferias, e um fundo de cena capitoso, como uma lufada de estupefaciente irresistível, alguém ao meu lado aponta para o alto firmamento e diz: “Estás a ver?... Parece que foi alguém que a colocou propositadamente naquele sítio”.

         Era a lua, o majestoso luar de Agosto, posicionado a meio do palco e por cima das bambolinas dianteiras. Tão belo e tão discreto. Tão forte e tão raquítico. Quase invisível, ofuscado que estava pela ruidosa luminotécnica do palco.

Ninguém dera por ela, nem eu próprio, se não fora o toque de cotovelo de quem estava perto de mim. Mais estranho ainda é o mensageiro: nem poeta nem poetisa, nem pianista. Era alguém da área do Direito, o tal Direito frio, cego, insensível. Mas desta vez, jurista virou  artista.

Fiquei a pensar no desconcerto do mundo, na ambição demiúrgica do homem que pretende rivalizar com a beleza inimitável da Criação Iniciática, enfim, os ‘muros da vergonha’ com que o homúnculos terráqueo tapa e obscurece as cordilheiras supremas do planeta.

Não obstante a banalização do espaço lunar (bora, bora, os magnates da Terra já lá foram sujá-lo), ainda conservo o romantismo do Luar de Janeiro de Augusto Gil, a Lua branca, além, por entre as oliveiras como a alma de um justo ia subindo aos céus de Guerra Junqueiro, a Lua de Londres de Gomes Leal. E de tantos outros poetas, pintores, músicos, gente atenta ‘que vê o invisível’.

É de uma evidência brutal e tão contraditória que nem damos por ela: fechamos os olhos  àquilo que nos traz a pureza virginal da Natura e, em seu lugar, fabricamos fantasmas  que, mais cedo ou mais tarde, roubar-nos-ão a capacidade de olhar. Ver !!! – ver como um danado, dizia Fernando Pessoa.

O betão-alcatrão macadamiza as flores dos jardins, os roncos das ‘bombas’ matam o canto dos pássaros, os gigantes super-industriais aquecem os elementos e secam as chuvas, esfacelam os solos, desabam os glaciares. E até os palácios da justiça nutrem-se de injustiças assolapadas nas dobras das togas. E até a sumptuosidade de santuários e vaticanos só servem para esconder o verdadeiro rosto do seu Fundador!

Tal como a apoteose desbragada do recinto da festa escondia o Luar de Agosto, estou certo que na noite de amanhã a barafunda dos arraiais vai desviar a vista dos mortais para não contemplarem a anunciada ‘chuva de estrelas’…

Perante a opacidade de uma atmosfera que se quer transparente, a todos os títulos (biológicos, psíquicos, ambientais, espirituais) e contra os vendavais de miragens apocalípticas com que os novos “cavaleiros de Tróia” presenteiam e poluem o ar que respiramos e a paisagem que disfrutamos, não há melhor resposta que a do filósofo Diógenes, da velha Grécia, deu ao Rei que lhe apareceu à porta do tugúrio onde vivia e, por isso, lhe tapava o sol: “O que te peço é que saias da minha porta e não me tires o que não me podes dar. Tira-te daí e deixa o sol entrar na minha cabana”.

Não permitamos que nos tirem o Intermezzo do Luar de Agosto!   

 

         11.Ago.22

         Martins Júnior

 


terça-feira, 9 de agosto de 2022

ELEGIA SOBRE UMA “VITÓRIA” DE SANGUE… em quatro actos!

                                                     


Venturoso nome lhe dera a mãe

Vitorioso trono sonhara-lhe a manhã de todas as manhãs:

Tranças laureáceas na fronte angélica

Iguais às dos heróis predestinados

E um repuxo esvoaçando

Plumas de seda aquática

Vindas do perdido paraíso

 

II

 

Mas onde sobrou o sonho

Faltou-lhe o chão

E o que era extensa linha recta

Estilhaçou-se em curva estreita

 

III

 

Enquanto titãs da estrada bombardeiros do silêncio

Soltam ondas ébrias do perdulário champanhe

Um anjo exangue paga factura

 

Enquanto olímpicos louros enrolam vaidades soberanas

Um anjo adormeceu

Sob o lençol negro do alcatrão

Que não terá trono nem história…

                                       IV

Tão só e triste seu venturoso nome de Vitória…

 

         09.Ago.22

         Martins Júnior

 

domingo, 7 de agosto de 2022

COMO DAR O GRANDE SALTO NO ABISMO?

                                                                             


Trata-se do manual atlético mais expedito para dar o Grande Salto no Abismo. Queiramos ou não, ninguém fica no ‘banco’: todos e cada um de nós teremos essa hora, esse desafio inexorável de nos atirarmos ao abismo insondável, o mais comum e o mais estranho. Seja ele um mar de espuma azul, seja o fundo de uma cratera crivada de cravos pontiagudos.

E quem nos faculta esse manual de treino para o Grande Salto?

Em início de semana, encontramo-lo no LIVRO, mais precisamente em Lucas, capítulo 12. No ‘consultório’ do Nazareno, é-nos oferecida a receita-antídoto contra todos os medos que nos assaltam diante do varandim que nos separa do Abismo:

Estai vigilantes, sentinelas do dia e da noite, para abrir a porta quando chegar o dono da casa… Se és o encarregado-mor, trata de fornecer a cada um a porção de trigo que lhe compete…

O dono da casa não exige ao seu capataz nada mais que a vigilância e a justiça no desempenho do conteúdo funcional do seu cargo. Não lhe pede discurso, devoção, reza, óleos, perfumes, promessas de fidelidade canina, Só estar no seu posto de trabalho ou no recinto de diversão – eis o estatuto de vigilante que o Juiz e Mestre requer de nós.

E nisso está o ganho. Da consciência profissional  e da oportunidade oficinal nascem a coragem e a paz de dar o Grande Salto no Abismo!

 

07.Ago.22

Martins Júnior

 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

ENFIM. MACHICO FEZ TEATRO … COM BERTOLD BRECHT !

                                                                          


            Mesmo que ninguém o diga, toda a gente o vê: Machico é diferente!

         Diferente, porque alia  - e até antecipa - o sabor do espírito ao prazer gustativo da arraia-miuda que tipica os arraiais, Foi o que se viu no  evento do princípio de Julho, quando afirmou e sublinhou o encontro convivial em Machico e a que deu o sugestivo  título de “Arte e Pesca”. Outro tanto (e com maioria de razão e efeito) assomou no decurso da “Semana Gastronómica”, com a peça de teatro “As espingardas da Senhora Carrar”.

         Pela fruição plena do evento e pela mensagem possante que dele emanou, não poderia o blog dos Dias Ímpares deixar passar incógnita esta hora ímpar da Arte Dramática em terras de Tristão Vaz. Primeiro, pelo autor – Bertolt Brecht. Depois, pela actualidade histórica do conteúdo, escrito embora em 1937 a propósito da guerra civil de Espanha, ganha um força anímica e um acento impressivo se o aproximarmos do trágico cenário que nos coube viver na invasão russa contra a Ucrânia.

         Em confronto aberto desfilam em palco as duas teses opostas e os dois comportamentos contraditórios: de um lado, o pacifismo imobilista dos defensores da paz, mesmo tendo por factura inexorável a humilhação e a perda da dignidade existencial. Do outro lado, a luta esclarecida e sem tréguas contra o opressor, ainda que seja exigido, em última instância, o recurso às armas. A intuição de Brecht – e que arrasta o espectador para dentro da cena – está na objectivação do conflitop psico-sociológico, não  ao nível da pura ciência política, mas no seio de uma família da classe proletária, mais precisamente, numa aldeia de pescadores. É de um realismo inquietante o dilema familiar entre o resignar-se ao ditador e o afrontá-lo de corpo e alma armados, ainda que com risco da própria vida, Acabou por vencer a opção da luta, em homenagem aos que já tinham sucumbido na frente da batalha!

         Para além do autor e da oportunidade d“As Espingardas da Senhora Carrar”, ficou patente aos olhos do público o desempenho de todos os personagens - dicção, economia gestual, intensidade emotiva, sobriedade cénica – sob a direcção dos professores Lucinda Moreira e Fábio Ferro, uma produção da recém-criada “Oficina d’Arfet Teatro”. Bem hajam. E venham sempre!

         Titulei este apontamento com um “Enfim, Machico fez Teatro”. E mantenho-o. Porque a amostragem de publicidade enganosa que tem passado a opinião pública sob a designação de “Teatro em Machico” não tem sido mais que  uma agência empresarial  de contratação do exterior, valendo tão-só por esse ofício.

         Todos não somos demais para reerguer a eloquente Arte Dramática em Machico. Eis o abrir e o fechar do pano d”As Espingardas da Senhora Carrar”.

 

         05.Ago.22

         Martins Júnior