segunda-feira, 30 de outubro de 2023

GUTERRES E MOISÉS – NETANYAHU E PUTIN: TESE E ANTÍTESE SEM VISLUMBRE DA SÍNTESE FINAL !!!...

                                                                          


          Que livro nos dão a ler, aqui e agora, quem os escreve ?...

          E que Livro escreveram e nos legaram, há mais de quatro mil anos ?...

          Por mais estranho que pareça,  as páginas envelhecidas de milénios e os factos ocorridos nos dias de hoje revelam que o Livro é o mesmo, nos mesmos territórios, mas com personagens diferentes.

          Em fim-de-semana, volto à ‘minha praia’ preferida: o LIVRO, por excelência, hoje focalizado na TORAH, matriz constitucional do Judaísmo, titulado de Pentateuco para todos os credos cristãos. Seu autor, o grande líder do povo hebreu, Moisés, herói da sua libertação das garras sanguinárias do Faraó. Após a saída do Egipto, esse esmagador cativeiro de 40 anos, vendo Moisés que o povo libertado passou-se a opressor de povos vizinhos com quem se envolvia em repetidas incursões sangrentas,  decretou em nome de De Iahveh:

          Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva ou o órfão. Se emprestares dinheiro a um pobre do meu povo, não o explores sobrecarregando-o com juros, como fazem os usuários. E se penhorares a capa de um próximo por dívidas, apressa-te a restituí-la nesse mesmo dia, antes que o sol se ponha, porque essa é a única manta que possui para passar a noite.  (Êxodo, 22, 20-26).

          Passaram-se mais de quatro mil anos. O mesmo povo, trucidado, queimado  por um mesmo faraó-nazi, recupera a liberdade, ganha o galardão de Estado Independente e – oh trágica ironia dos tempos e fatídica herança abraâmica! – persegue barbaramente irmãos seus, mata-os ou expulsa-os da sua própria terra, da casa de seus pais e avós. Os facínoras tribais são os do Hamas e são os de Israel, ainda que ao abrigo do direito de legítima defesa, mas completamente deturpado, pois trata-se do mais cínico genocídio, cujos contornos são bem conhecidos.

          Surge de imediato a voz de alguém, ecoando vigorosamente o veredicto de Moisés por sobre os campos da morte de inocentes. Para dissuadir os invasores de Gaza e para informar todo o mundo, o Secretário Geral da ONU recorda que os mesmos invasores não têm o direito de continuar a perseguição e o extermínio que vêm perpetuando há 56 anos – ou 75, se nos reportarmos a 1948 – contra os vizinhos e parentes palestinianos.

          Levanta-se então, tonitruante, um escarcéu da boca do representante de Israel na Magna Assembleia das Nações, espumando furores, insultos e ameaças contra quem, com autoridade moral e política, veio implorar aquilo que, em nome de Deus Iahveh, há milénios impunha o líder libertador Moisés  ao povo judeu – a mesma etnia, os mesmos descendentes de Abrão, Isaac, Jacob e  Ismael. E se lermos atentamente o texto do Êxodo, veremos que se viesse o mesmo Moisés falar – aqui e agora, hoje  - aos invasores de Gaza, seriam bem mais duras as sanções contra  Netanyahu e o seu desumano exército. Ei-las:   

          Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, garanto-vos que eu atenderei o seu clamor, inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas e órfãos os vossos filhos. (Ibidem).

          Afirmam os mestres da historiografia o clássico axioma: a história não se repete. Mas a realidade e a sucessão dos tempos ensinam-nos que, se não se repetem, as histórias sobrepõem-se e formam o majestoso arco de triunfo ou o interminável muro de lamentações e tragédias. E o somatório de todos os arcos e de todos os muros reconduz-se sempre à genesíaca luta entre o Bem e o Mal, sejam quais forem os nomes, atributos, adjectivos ou substantivos que lhe queiram apor.

          Aqui fica, pois, patenteada essa eterna antítese. António Guterres, reencarnando a mensagem pacificadora de Moisés e a estranha/inconciliável  dupla Netanyahu-Putin, mercenários de Satã e Marte, espalhando o letal furor faraó-nazi contra inocentes. A tanto chega a cega insensatez: Como pode Putin exigir a Israel o respeito da Palestina ao seu território dependente, quando é ele mesmo que desrespeita e mata esse direito aos ucranianos que querem recuperar a sua Pátria Independente?+!

          Quando chegará a desejada síntese final ?!:::

 

          27-31.Ago.23

          Martins Júnior

 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

UM OUTRO CAMINHO PARA A PA Z – QUEM O VÊ NÃO QUER ENTRAR

                                                                       


É um caminho novo, não obstante regado de sangue e lágrimas sobre um chão de ternura jovem, indefesa, mas que uma mão justa ergueu e transformou em bandeira da Paz  e pista segura, geradora de esperança futura. Enquanto os paiós da morte aferram-se na indústria armamentista como ardiloso antídoto à guerra, três mulheres nascidas do seio do fundamentalismo armado são erguidas como mensageiras precursoras de um mundo de todos onde todos nos podemos abraçar e, enfim, viver.

          Falo das três heroínas da liberdade, igualde e fraternidade, ideais que vêm desde 1789,mas que todas as noites da história são presos, esquartejados, queimdos vivos e todas as manhãs reaparecem aqui, acolá, mais além, transparentes, invencíveis no corpo e no espírito de quem

                                       Mesmo na noite mais triste

                                       Da mais negra escuridão

                                       Há sempre alguém que resiste

                                       Há sempre alguém que diz NÃO

 

                    Falo de três personagens que, tendo tudo ou quase tudo para acomodarem-se ao silêncio e à submissão – são ainda jovens, são mulheres,  são iranianas, vítimas de regimes misóginos, totalitários – no entanto romperam os vergonhosos muros da repressão e, por um imperativo de consciência individual e colectiva, ousaram  interpretar ao vivo a angústia reprimida  de milhares, milhões de compatriotas suas, dando a conhecer ao mundo a desumanidade do regime. Malala Yousafzai, paquistanesa, 23 anos, vítima de atentado em 2012, depois recuperada num hospital de Londres, Prémio Nobel da Paz em 2014. Narges

Mohammadi, iraniana, Prémio Nobel 2023, actualmente detida numa das prisões do Irão, a que foi condenada com uma pena de 31 anos.   Mahsa Amini, 22 anos, iraniana, atingida  a tiro pelos talibãs, morreu em 8 de Outubro de 2022 num hospital de Teerão,  Prémio Sakarov 2023, a título póstumo.

  Três mulheres que trazem na  face os olhos sequiosos de dignidade de todas as jovens e mulheres oprimidas, rechaçadas nos seus direitos basilares! No entanto, elas bem podem erguer o mais belo e justo troféu do mundo civilizado: galardoadas pela Academia de Oslo e pelo Parlamento Europeu!

Eis o caminho novo para a Paz: não com os carros de combate, com os drones e os mísseis assassinos. Nem mesmo com as convenções diplomáticas,. Apenas com o reconhecimento dos valores humanos e dos seus defensores e das suas corajosas heroínas, bandeirantes da Paz.

Cegueira militante, assumida pelos líderes fanáticos que não querem ver a luz que brilha não apenas ao fundo dos túneis de guerra, mas em pleno dia, o Dia Novo de um mundo feito para todos!

Quando virá o Dia?... Só com as criança---*+s de hoje, só com a tenacidade de homens e mulheres como a de Malala, Narges e Mahsa!

 

23-25. Out.23

Martins Júnior.

sábado, 21 de outubro de 2023

MALDITO ‘deus’!!! MALDITA ‘bíblia’!!! MALDITO ‘corão’!!!

                                                                       


   BENDITO O CRIADOR!!! BENDITO O LIVRO!!! BENDITO MAOMÉ!!!

          O título refere-se a um deus que não existe; a uma bíblia mal lida e, nalguns casos, mal escrita; a um corão virado do avesso.

          O primeiro parágrafo, ao invés,  louva o Supremo Arquitecto que, após a criação, “viu que tudo era bom” e disse: “Crescei e multiplicai-vos, dominai a terra que é de todos vós”!...  O Livro, por excelência, a Bíblia bendita, que resume mil anos de escrita, muitas mãos a plasmá-la e muitos séculos da nossa história fundadora!... Maomé bendito, aquele que sentenciou: “Levar alegria a um coração – um só que seja -  vale mais do que construir mil altares”!...

          A contradição frontal entre estes dois tempos e conceitos - o título e o  parágrafo – resulta do argumentário a que recorrem os ideólogos e os operacionais desse tremendo “armagedon” antecipado a que se dá o nome de conflito israelo-palestiniano: a Bíblia! E personalizam os fundamentos: “Foi Deus que nos doou esta terra, pelas mãos de Abraão, nosso Pai”! A invocação bíblica passa geneticamente para a mentalidade do vulgo que logo vocifera com toda a força dos esgares faiscantes do Monte Sinai: “Que Deus queime o coração deles, Deus faça deles o que quiser, desde  que os esmague e mate os palestinianos. Hoje mesmo”! Das hostes palestinianas, Hamas, Faixa de Gaza e Cis-Jordânia, idênticas motivações fazem  acionar o gatilho e os engenhos assassinos. Juntam-se depois os obtusos fanáticos muçulmanos. Uns e outros reclamam que Abraão teve dois filhos herdeiros, Isaac e Ismael, ambos com os mesmos direitos à mesma terra.   

          Para lá de outros interesses subjacentes a todas as guerras, o conflito israelo- -árabe vem demonstrar o malefício das religiões quando moldadas aos figurinos e ambições dos humanos. A conceção híbrida do culto aos deuses – poli ou monoteístas – produziu esse monstruoso estatuto tricéfalo – Sacerdote, Profeta e Rei – atribuído a David, protótipo dos regimes teocráticos israelitas e muçulmanos. E daí irrompem os mais bárbaros instintos e sancionadas todas as atrocidades. Demonstrativo mas execrando é o Salmo 135 (136) do mesmo ‘Santo Rei David’ quando, após a derrota infligida pelo exército inimigo,  ‘reza’ ao seu deus e suplica vingança nestes termos: “Senhor Deus, sejam bem-aventurados todos aqueles que agarrarem as crianças desses inimigos e as esfacelarem contra um rochedo”. Está na bíblia, uma oração que nunca devia ser feita, muito menos  escrita! Aliás, o cognome atribuído ao Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, é nem mais nem menos “Senhor Deus dos Exércitos”.

Até há bem pouco tempo, na liturgia católica, repetia-se esse mesmo ritual judaico – Senhor Deus dos Exércitos -   alterado depois para “Senhor Deus do Universo”. E que foram as Cruzadas?... E a Inquisição?… E as capelanias castrenses, os chamados capelães militares em tempo da guerra colonial… e os padres coronéis ou coronéis padres e, pior, um bispo brigadeiro, Bispo das Forças Armadas Portuguesas?... Daqui, incentiva-se o povo ignaro a prometer velas à Senhora de Fátima em prol do rapaz que anda na guerra a derrotar e expulsar  o ‘inimigo’, o pobre africano que está na sua própria terra, na sua mísera palhota… Por tudo isso passei eu, vi com os meus próprios olhos e de que me envergonho até à morte.

Quando compreenderemos nós - crentes ou não crentes, beligerantes ou pacifistas – que DEUS (com maiúscula e não o deus minúsculo, a bíblia minúscula, o corão minúsculo) nada tem a ver com as guerras dos homens?!... Rogar a Deus para fazer a paz significa que Ele, ao menos indiretamente,  é cúmplice da guerra. Se pode evitá-la, por que razão não o faz antecipadamente?... Implorar a um pai que faça a paz entre os filhos pode redundar em ofensa ao próprio pai. Até porque deverá ser esse o dever inalienável do exercício paterno. 

“Senhor dai-nos a paz”!

E a resposta vem, de ricochete: “Filhos, isso é convosco. Ninguém mais do que  Eu  quer a Paz. Mas se vós não a quiserdes?... Essa é uma tarefa exclusivamente vossa”!

É por isso que os regimes teocráticos nunca terão paz em seu redor. Porque os seus interesses são conflituantes e, por vezes, irredutíveis. A guerra, que é estritamente humana (e até infra-humana) os seus líderes irão sacralizá-la, divinizá-la, mandarão benzer as armas, as fardas, os canhões.  Já o Mestre Nazareno, há mais de dois mil anos, vaticinara perante os Doze: “Muitos daqueles que vos matarem julgarão estar prestando um serviço a Deus”.

A tanto chegam os malefícios das religiões auto-descrentes!

Jesus de Nazaré teria vergonha e mor desgosto de voltar à sua pátria. Matá-

-lo-iam de novo em Jerusalém.

          Em forma e tentativa de conclusão: A Paz do Amanhã começará pela sã educação – cívica, fraterna, holística – das crianças e dos jovens de Hoje!

 

          21.Out.23

Martins Júnior     

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

DANÇA DAS ILHAS NO CÍRCULO DO AMOR

 


Desde quando se agitaram as ilhas do vulcão

E no mar alto

Abraçaram as ilhas de basalto?

E quem lhes trouxe a espuma  perfumada

Daquela  areia dourada

De outra ilha madrinha?

 

 

 

Sonhado já estava na alcova marinha

Escrito já vinha na cambraia das estrelas

Cheiro ao azul das hortênsias e  à flor de ananás

Sabor ao verde ramo açúcar e mel

 

Da gávea cimeira foi São Miguel

No bergantim dos amores

Quem abriu a dança

Entre Madeira e Açores

 

                             Terceira de nome, de amor a Primeira

                              Deixou enfim as terras de bruma

                              Bebeu o sol

                              Num Porto que é Santo e nunca se esfuma

 

 

                              Oh dança inteira

                              Milagre novo

                              De um sonho antigo:

                              A Quadratura das Ilhas

                              No círculo de Amor

Da bela Suzy e do mago Rodrigo !

 

 

  Em

        07..Out.23

        Martins Júnior


terça-feira, 17 de outubro de 2023

A 9ª SINFONIA DE BEETHOVEN E O ÚLTIMO CONCERTO DE ÓRGÃO DO PADRE JOÃO MENDONÇA

                                                                                  


        Descem do alto os acordes plenos, percorrem as paredes brancas do templo dedicado à Senhora do Guadalupe, mergulham no soalho-caixa de ressonância e penetram no cérebro, coração, vasos capilares, corpo e alma dos muitos participantes que enchem o sacro recinto.

           O director do XII Festival Internacional de Órgão da Madeira, João Vaz, ao apresentar o programa, dedica-o ao grande entusiasta da Arte dos Deuses, o anterior pároco Padre João Mendonça, restaurador do órgão local pelas mãos do abalizado organeiro Dinarte Machado. Coincidência dramática: a essa mesma hora, João Mendonça era já cadáver  na lousa fria  da câmara mortuária. Falecera poucas horas antes de começar o concerto do instrumento ao qual tinha dedicado o mais encendrado empenho. O “seu” último concerto!...

Enquanto se evolavam na grande nave do templo porto-cruzense as sonoridades da tradição sinfónico-teatral da Itália da primeira metade do século XIX, com o sacro belocanto, na voz de Rosana Orsini Brescia e o órgão de Marco Brescia - ali desfilaram Donizetti, Morando, Rossini, Bellini, Davide de Bergamo – ao mesmo tempo também voava o meu pensamento até junto do colega e amigo João Mendonça e (estranha conjunção!) visualizava o grande Teatro de Viena de Áustria, onde decorria a estreia da 9ª Sinfonia, a última do genial compositor: ali estava Ludwing van Beethoven!

Qual a lógica de tal convergência e paradoxal similitude?

Ei-la na sua inteira nudez, tão dramática quanto comovedora:

Beethoven já não conseguiu ouvir a sua obra-prima, atacado que estava pela inexorável surdez. Foi a sua última Sinfonia! E, neste domingo de outono quente, 15 de Outubro,  o Padre João Mendonça também não conseguiu ouvir o inspirador concerto de órgão, saído do instrumento-rei que ajudou a restaurar na sua igreja. Bem podia ele dizer: “Foi o meu último Concerto”!

Hoje, 17 de Outubro, João Mendonça foi a sepultar na sua sua terra natal, Santana. Após o longo percurso ascensional até ao cemitério, ali ficou sob uma colcha polícroma, feita de flores nascidas do chão verde da mais jovem cidade da Madeira.

Aos meus ouvidos ficam ecoando os acordes do órgão do Porto da Cruz e, com eles, em perfeita sintonia, o “Hino da Alegria” – o testamento musical do Padre João Mendonça!

 

 15-17.Out.23

Martins Júnior

         


quarta-feira, 4 de outubro de 2023

TOADAS-OITAVAS DA “NAU CAPOEIRA”

                                                                                  



Lá vem a Nau Catrineta

Outra história vai contar

Dentro dela uma opereta

Desafia o alto mar

À proa vai a vedeta

Põe tudo a cacarejar

Maravilha da Madeira

Chama-se a Nau Capoeira

 

A vedeta é uma pombinha

Sem orgasmo nem paixão

Inocente e maneirinha

Cabe na palma da mão

Ela sabe coitadinha

Que à popa vai o pavão

Tão astuto e tão bacano

Que ao leme toca piano

 

Ele toca, ela comanda

Ele canta, ela ameaça

Se alguma tranca desanda

Pianista perde a graça

E a menina do panda

Manda tudo prá desgraça

Ó pombinha do Divino

Vê lá não percas o tino!

 

A nau assim se acostuma

Neste estranho solidó

De dia sopra-lhe a espuma

De noite sobra-lhe o pó

Porque a batuta é só uma

E o maestro um fala-só

Mas há quem fuja do tom

E esqueça o Michel Dom

 

Capoeira na Travessa

E já aumenta o brouhaha

Do porão sai uma peça:

Rua com  ménage à trois!

Os que chegaram à pressa

Não têm direito a estar cá !

E o leme levanta o dedo:

“A mim ninguém mete medo”

 

Que é isto? – gritou um velho

Que infernal este banzéu

Tem as garras de francelho

Feiticeiro do Ilhéu

O  bico ficou vermelho

E debaixo do chapéu

Como Velho do Restelo

Soltou um tremendo apelo:

                                                      


“Quem é este galinheiro    

Roçando aqui ao meu pé

Cacarejo tão rafeiro

Nem na arca de Noé

Os que já estão no poleiro

Não maltratem a bebé !

Se seguem nesse vexame

Vai ao fundo o cavername

 

“Marinhagem anda à toa

Quem devia ir à popa

Bem galante vai na proa

Ao da ré falta-lhe um tropa

Chama  a armada de Lisboa

E atrás de montespretos

Vêm rochedos e tropedos

 

“Não tinhas medo, mas tens,

Diz o bruxo ao pianista

Não te dou os parabéns

Trocaste a estirpe tourista

Por uma de três vinténs

Sai mais barata a alpista

Mas não sabes ao que vens

Quem quer papinhos de penas

Há-de tê-las às centenas

 

“Vão-se já daqui embora

Afastem-se de ao pé de mim

Vão p’ràs ilhas Bora Bora

Com esse enorme chinfrim

E se alguém for borda fora

Deixai-o em Arguim

Se agora a coisa está feia

Que não será na Assembleia”.

 

Assim falou

O Feiticeiro-avô

E com o enguiço

Pôs-lhe o feitiço

                                                            Lá foi a Nau Capoeira

                                                           Desapontou ao ilhéu

                                                           Quando voltar à Madeira

                                                           Já cá tem um mausoléu

 

                                                           No galináceo vapor

                                                           Há preces, velas, incenso:

                                                           Que morra o Adamastor

Da Ponta de São Lourenço

 

                                                           Entre Setembro e Outubro

                                                           Outra história vai rodando

                                                           Madeira ficou ao rubro

                                                           Só não se sabe até quando

 

                                                                                                                     

                    29.Set-3-5.Out.23

Martins Júnior

 

 

 


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A DIVA MÚSICA TAMBÉM MORA EM MACHICO!

                                                               


           

Se nome algum pudessem ter a alma do mundo e o ritmo da história um só, mais que todos os demais, escrever-se-ia com seis letrinhas apenas; Música!

Nem literatura, nem filosofia, teologia, ciência ou tecnologia conseguem alcançar o poder mágico dos sons que tocam a epiderme e a intraderme (passe o neologismo) de tudo o que existe. Enquanto todos os vectores que dimanam da criatividade humana ou se esgotam ou se defrontam ou entram em colapso-beco sem saída, a Música penetra os ossos, inocula-se nas veias, fecunda o cérebro e, sem nunca abandonar a matéria corpórea, evola-se para o além, o mais alto e mais longe, a estratosfera do espírito , por isso, lhe chamam a Divina Arte ou a Arte dos Deuses.

Perscrutando-a na sua amplitude, constatamos que Ela partilha de dois atributos supra-humanos, apanágio da Divindade: primeiro, a infinitude produtiva, quer a criacionista quer a evolucionista: com sete notas apenas, quantas miríades de estrelas sonoras atravessam o tempo e o espaço, os de ontem, os de hoje, os de amanhã?! O segundo, a ubiquidade cósmica que faz da Música um habitante nómada, sem morada certa ou exclusiva, um ‘sem-abrigo’  bilionário que mora em todas as casas, tanto nos palácios reais como nos bairros periféricos  dos que até trazem no bolso o ‘radiozinho’ proletário!

  No Dia Mundial da Música, a Diva volta a subir entronizada nos extremos polos do planeta e na horizontalidade do seu diâmetro, desde os concertos orquestrais dos seus maiores até aos mais ingénuos recantos onde floresce a alma dos povos, jovens, crianças, idosos, entrelaçados pela seiva intergeracional que os une através dos acordes saídos dos agrupamentos locais, tunas, bandas filarmónicas, corais, solistas e afins.

                                              


Incluo neste roteiro tão diversificado a tarde soalheira deste domingo, 1 de Outubro,  em Machico, mais precisamente na vetusta Capela de São Roque, sentinela e farolim da nossa generosa e inspiradora baía, onde a suave espuma das ondas ganha ritmo e sonoridade tocadas pela grande orquestra das pedras e areias que a circundam desde tempos imemoriais.

Num ambiente acolhedor, ladeado pela obra-prima da azulejaria dedicada a São Roque (o padroeiro oficial de Machico eleito pela vereação em 1728, conforme os Anais do Município), nesse recinto vocacionado para a Música de câmara, partilharam da Arte dos Deuses muitos circunstantes, jovens e idosos (é também o Dia do Idoso), madeirenses, nacionais e estrangeiros hospedados nas unidades hoteleiras locais. A TCM-Tuna de câmara de Machico fez as honras da casa, a convite da Câmara Municipal, registando-se o bom acolhimento por parte da diocese e da paróquia matriz.

A Diva – interclassista e musicalmente super-democrática – também mora aqui!... E todos os dias são Dias da Música|  

 

01-02.Outt.23

Martins Júnior