domingo, 31 de julho de 2022

SINALÉTICA LOCAL PARA UMA HISTÓRIA GLOBAL

                                                                              


A euforia estival não impede o curso normal dos dias que fazem a história do mundo. E na ampla história do quotidiano das gentes perpassa aquele princípio da filosofia que nos faz partir do particular para o universal, ou seja, detectar num episódio local horizontes virtuais que se traduzem em teses e conclusões de âmbito global ou, como classificam os sociólogos, um fenómeno de “glocolização”.

         Foi o que me foi dado observar e ‘viver’ neste início da semana. Sintetizo-o em três tópicos – tão distintos e tão iguais nos seus contrastes – que passo a partilhar com quem me acompanha regularmente neste passeio familiar.

1.     Algo de invulgar, direi mesmo estranho, aconteceu nas páginas do decano dos matutinos regionais: um estudo muito sério, assinado pelo jornalista Élvio Passos, sobre um eclesiástico, pároco do Faial, que em 1936, aquando da encarniçada luta, denominada “Revolução do Leite”, contra os monopólios dos lacticínios n Madeira, assumiu por inteiro a defesa do seu povo, os camponeses criadores de gado bovino. Era o tempo da pesada e persecutória ditadura salazarista. O Padre Teixeira da Fonte, forçosamente envolvido nessa refrega perigosíssima para a sua própria segurança pessoal, entendeu que não podia voltar as costas ao seu povo, valendo-lhe a prisão para o Forte de Elvas. Conheci homens e mulheres da Ribeira Seca (hoje, já falecidos) que me relataram a rudeza implacável com que o Padre e os restantes presos foram tratados nessa altura. Mesmo na prisão, ele era o arrimo psicológico e moral de pais, mães e filhos, levados nesse fatídico transe.

          

No cancioneiro da Ribeira Seca, lá está a evocação, em verso, música e coreografia, da “Revolução do Leite”:

                                      Até o Padre do Faial

                                      Padre Teixeira da Fonte

                                      Por defender o seu povo

                                      Também foi levado a monte

 

         A diocese abandonou-o. Saído da prisão, cursou Direito e foi advogado em Lisboa de muitos presos, vítimas da ditadura salazarista. Grande Sacerdote que teve por trono uma cadeia e por altar o sacrifício da verdadeira Eucaristia: dar a vida pelo seu povo! Nunca me há-de sarar a ferida de não o ter conhecido em vida!

2.     Participei hoje na “Missa Nova” de um neo-sacerdote, meu conterrâneo. Em toda a cerimónia, revestida de imponência e sumptuosidade litúrgicas, só via diante de mim um Padre humilde e sofrido – o Padre Teixeira da Fonte - que cumpriu o mandato evangélico: servir o Povo de Deus, mais que servir e aninhar-se na Instituição.

 

3.     Na mensagem do LIVRO para este domingo, o Mestre Nazareno põe de sobreaviso os Doze, acautelando-os contra as vaidades mundanas, a ostentação e o dinheiro, as quais podem camuflar-se sob as roupagens do clericalismo triunfalista.

 

Ao compulsar o testemunho de Lucas 12, 13-21, tocou-me até ao mais íntimo de mim mesmo a contradição gritante entre o ritual apoteótico da ordenação de um jovem clérigo e a degradante  prisão do Padre Teixeira da Fonte.  Sinais dos tempos, que dimanam desta minúscula parcela de território, mas atingem toda a história da Instituição!

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                   31Jul -01.Ago.22

                   Martins Júnior

sexta-feira, 29 de julho de 2022

SILLY NIGHT MADE IN MADEIRA

                                                                              


(Mini-GPS nocturno para um sábado sem rumo)

 

Primeiro, sais do apertão de gente na baixa de Machico, enquanto os Zargos e os Tristões abrem as dezenas de barracas gastronómicas de comes-bebes-e-pagas. Apanhas logo a ‘Nau São Lourenço’ ou um tuc-tuc ad-hoc e zarpas até Santana (e São Joaquim, os abuelos) e aí tens à pega o compadre ‘Jodé’ mais o títere da TVerão que vão entrevistar-te para TVeremos. Espetada, vinho, poncha e bolo-caco a rodos.

Depois, se te arranhar os tornozelos a filarmónica da ‘terra tabaqueira’, sãroqueira, saltas logo para as ‘Feiteiras’ vicentinas e aí apanhas no palco o padre da festa ajudando o padre do ‘aperta-com-ela’ numa cega-rega que te põe a zunir e a dançar com as moçoilas do bardo.

Mais um pulo e vis cair num mar de cerveja naqueles baixios das piscinas naturais do Porto Moniz. Ui, cuidado que ainda te afogas, nos batentes dos Xutos e nas cotoveladas de gente a mais para uma muralha tão pequena.

 

O melhor é pirares-te para o Montado do Pereiro e aí, na lagoa do chão  de todas as ressacas, entras à boleia de uma tenda e esperas sentado o ‘climax’ do ribombar sexy das bombas ralli-feras que comem alcatrão e põem a Madeira Autónoma no mapa-mundi!

 

Então, até o sol raiar, o cesto-riquexó cá da ilha burguesa leva-te nos braços ao convés do cruzeiro henriquino que a marca Sagres gravou no casco. Ela lá está à tua espera para atirar-te fora da barra, como o grande almirante de uma nau-sem-rumo…

Que noite, toda a noite, toda a noite, Saturday,  made in Madeira!

         29.Jul.22

         Martins Júnior

  

quarta-feira, 27 de julho de 2022

O ÚNICO SOBERANO COLONIZADOR QUE PEDE PERDÃO AOS COLONIZADOS…

                                                                       


Pela primeira vez relevo a nomenclatura híbrida do Papa de Roma, situando-o no trono que Benito Mussolini lhe outorgou, pelo Tratado De Latrão, de 11 de Fevereiro de 1929: o de monarca de um país, minúsculo embora, mas a todos os títulos dotado de soberania autónoma. Discordando terminantemente desta estranha e explosiva simbiose – entidade bicéfala saída do mesmo tronco e na mesma pessoa – apraz-me vê-lo assim, sobretudo nesta viagem ao Canadá, porque o que está em primeiro e último plano é o pedido de desculpa ao Povo Indígena pelas “atrocidades e pelas graves injustiças perpetradas pelo colonialismo contra a cultura e a sobrevivência desse Povo”.

         Não adianta dourar a pílula, porque no acto de contrição do Papa Francisco está bem patente a Igreja, como parceira conivente, identificada com a fatídica realidade denunciada pelo Papa: o colonialismo. Tive o cuidado de, em epígrafe, cognominar eufemisticamente  o Representante Máximo da Igreja Católica como “Soberano colonizador”, em vez de “Super-monarca colonialista”, porque, bem vistas as coisas e os efeitos delas, a Igreja aliando-se ao poder temporal dos reis na colonização dos territórios ocupados foi ela mesma ainda mais além: colonizou as mentes, as culturas, direi mesmo, as próprias almas. Daí que é maior e mais estrénua a sua responsabilidade, razões redobradas para a sobre-humana atitude pontifícia em pedir perdão às gerações canadienses de ontem e de hoje. Em termos teológicos, diríamos que “onde abundou o pecado, superabundou a Graça”.

         Não será difícil descortinar nas palavras do Papa Francisco o eco do incontornável sociólogo, Josué de Castro, no seu corajoso e inquietante livro Sete Palmos de terra e um caixão (1965, Ed. ‘Seara Nova), um ensaio sobre o Nordeste Brasileiro: “As coisas devem ser mostradas como elas são, na sua dura e crua realidade, sempre as duas faces da medalha: a face boa e a face má. A que nos enche de orgulho e a que nos mata de vergonha. É preciso evitar que aconteça com o Nordeste o que costuma a acontecer em seguida às grandes descobertas: a tendência à disseminação pelos quatro cantos da Terra de um mundo de lendas, em lugar de factos, servindo à formação de uma falsa imagem das terras e dos povos colonizados. Isto é tanto mais perigoso quando vivemos numa era de ‘slogans’, dos ‘slogans jornalísticos’…

          É esta atitude eminentemente científica, pastoralmente pedagógica, que tem pautado toda a vida deste “Homem que veio do fim do mundo”, como ele próprio se identificou. Tem sido sobejamente divulgada a matéria de vergonhosos factos imputáveis à Instituição Eclesiástica no Canadá, na América Latina, nas Áfricas, em todos os cantos do mundo onde chegou o colonialismo europeu. O de Portugal também. O super-soberano colonizador, sediado em Roma, carrega nos ombros frágeis as culpas de crimes que ele nunca ousaria praticar contra vítimas que, ainda hoje, sofrem na pele e no espírito as feridas dos tempos de criança, exploradas e empurradas para as chamadas ‘escolas residenciais’, de malfadada memória. Por muito que nos estremeça, Putin obriga actualmente milhares de refugiados a seguirem para a Rússia…

         Ao lado, porém, desta noite negra, há lampejos de verdadeira cultura autóctone que muitos missionários acenderam nesses longínquos territórios. E isso aí é de erguer bem alto como a bandeira do compromisso de distintos e sacrificados membros da Igreja em prol do Indigenato de todos os continentes, entre os quais o nosso Padre António Vieira, precisamente no Nordeste Brasileiro.

         Embora não apague “o rasto viscoso e sujo” de outras eras, a atitude do Papa Francisco ergue-se como “o arco de uma nova ponte” para novos dias ou, como ele próprio disse, um verdadeiro “recomeço”.

         Quantos governantes terão a coragem de ir bater à porta-lugar do crime e aí pedir perdão das atrocidades colonialistas cometidas contra gentes lá longe, mas com a mesma dignidade dos de perto?!...

Quantos hierarcas – bispos, presbíteros e afins – serão capazes de seguir as pegadas do Papa Francisco e penitenciar-se diante das vítimas  dos abusos de poder praticados sob a bênção da cruz peitoral ?!...

 

27.Jul.22

Martins Júnior

     

segunda-feira, 25 de julho de 2022

RESPIGANDO SOBRE A “ACÇÃO CATÓLICA” NA MADEIRA – APOTEOSE E MORTE…

                                                                            


Porque o arco sempre tenso perde a sua elasticidade, aí está a silly season para nos deixar respirar sem esforço e alongar a vista sobre a paisagem dos dias – os de agora e os de outrora. Veio, pois, mesmo a calhar a sugestão de um amigo meu, activista dos anos 50-60 do século XX,  convictamente empenhado na divulgação dos valores humanos e cristãos, através de um dos mais dinâmicos  vectores da Igreja, a denominada “Acção Católica”, um movimento que deixou marcas indeléveis, na altura vanguardistas, e que ainda hoje perduram internacionalmente e no território nacional, menos na Madeira.

Recomendada pelo Papa Pio XI, em 1933, à hierarquia da Igreja em Portugal, presidida pelo Cardeal Cerejeira, a Acção Católica tinha por objectivo penetrar em todas as camadas sócio-económicas e culturais do país. Tal como os partidos políticos, a sua estratégia englobava militantes de vários níveis etários, por um lado, os mais novos – catalogados por J, Juventude – e, por outro, os adultos – sob a designação de L, Liga. Servindo-se das cinco vogais do alfabeto, os programadores oficiais da Igreja estabeleceram cinco variantes, coincidentes com as cinco vogais: JAC, JEC, JIC, JOC, JUC, que significavam, respectivamente, os jovens agrários, os jovens estudantes, os jovens independentes, os jovens operários e os jovens universitários.

Deixo aqui, porque assim me foi solicitado, o meu testemunho sobre a JAC em Machico. Daquilo que vi e vivi de muito perto, posso seguramente afirmar que a JAC constituiu uma epifania renovadora, não só a nível religioso, mas também no quadrante social da zona leste da Madeira. Numa época em que era evidente o deserto de instituições jovens organizadas (tenha-se em conta o regime castrador do Estado Novo) os jovens agrários, sob a tutela da JAC, davam nas vistas e abriam novos rumos no panorama imobilista de então.

Refira-se, desde logo, que os corifeus do Estado Novo não perderam tempo em assediar o movimento nascente na Igreja Portuguesa, puxando para a sua área política os principais militantes e dirigentes e, com eles, toda a massa associativa. Durante muitas décadas, a Acção Católica foi uma das frentes protegidas e, paradoxalmente, protectoras do regime. Tudo dependia dos padres assistentes. Em Machico, por exemplo, a JAC conheceu dois neo- sacerdotes, o Padre Maurílio de Gouveia (mais tarde, Arcebispo de Évora, já falecido)  e, sobretudo, o Padre Jardim Gonçalves, hoje com 90 anos de idade, residente em Lisboa.

É historicamente assinalável a presença deste jovem padre, como coadjutor em Machico, pelo esforço de aculturação e visão social da Igreja, até então fechada sobre si mesma. Conseguiu abrir mentalidades pioneiras  em jovens e adultos, através do contacto mais directo com a sociedade local. Muitos deles singraram na vida, graças ao espírito integrador e ‘empreendedor’  que, já então, cultivavam, sob influência do grande pedagogo e seu assistente Jardim Gonçalves. Recordo-me de uma emocionante peça de teatro , “O Filho Pródigo”, representada na sede da JAC, à Rua do Ribeirinho, que ele próprio encenou e, no papel de ‘Pai’, contracenou com os restantes ‘actores’, jovens rurais.

Mais tarde, por mais incrível que agora me pareça, nas antigas instalações do ‘Engenho de Machico’, mais precisamente no largo onde os agricultores descarregavam a cana sacarina, consegui pôr em palco, sob a égide da JAC,  a peça clássica de Sófocles, “Èdipo-Rei”, a mesma que, meses antes, havia sido representada por nós, seminaristas no Seminário do Funchal. O imprevisível (e por onde se atesta a vitalidade cultural da JAC) é que os actores amadores eram todos jovens, uns do perímetro urbano da Vila, outros oriundos da ruralidade profunda.

Ao descrever que a Acção Católica foi uma forte ‘assessora’ do Estado Novo, não posso deixar de, com o mesmo respeito pela verdade histórica, testemunhar que das fileiras desse movimento católico, sobretudo da JOC, Juventude Operária, emergiram quadros militantes das causas sociais e, embora clandestinamente, opositores políticos ao regime, de certo modo precursores do “25 de Abril” de 1974.

A este propósito, ocorre-me à memória um episódio inesquecível, revelador do que acabo de referir. Decorria uma dessas reuniões da LAC, Liga Agrária Católica, a dos adultos, numa das salas da ‘Quinta Santana’, a escola dirigida pelas freiras da Congregação das Missionárias Franciscanas de Maria, da Irmã Mary Wilson.   Eis senão quando, estando a assembleia em oração, irrompem dois agentes da ‘Pide’, a tenebrosa polícia política de Salazar, deixando todos os presentes em alvoroço, transidos de medo.  .Escusado será dizer que nunca mais se realizaram essas reuniões periódicas.

A Acção Católica na Madeira finou-se às portas do “25 de Abril de 1974”.  Dito assim, poderá pensar-se que foi decisão anti-clerical do MFA, Movimento das Forças Armadas, ou similares. Mas não. Manda a verdade dizer que quem matou e enterrou a Acção Católica Madeirense, sobretudo as suas organizações juvenis, foi um bispo, aliado confesso do regime deposto – o bispo Francisco Antunes Santana -  após a sua entrada  como bispo do Funchal, em 18 de Março de 1974. Sem mais comentários.

Não obstante todos os percalços e oscilações, a JAC – ramo juvenil da Acção Católica Portuguesa – foi na Madeira e, decisivamente, em Machico, um grande passo na evolução sócio-cultural e religiosa dos jovens deste concelho, cujo tributo nunca será suficientemente reconhecido, particularmente ao seu grande e valoroso Assistente, Padre Agostinho Jardim Gonçalves, mais tarde Assistente Internacional da JOC, Juventude Operária Católica.

Ao amigo e empenhado activista dos valores humano-cristãos,, José Fagundes, os meus parabéns pelo seu esforço de investigação e divulgação da génese e dos feitos da Acção Católica, da qual foi um autêntico ‘apóstolo paulino’ no panorama católico da Madeira. E a todos quantos ainda persistem em restaurar, se não em corpo, ao menos  no seu espírito e essência, a raiz e o tronco da Acção Católica, o meu apoio e elevada consideração!  

25.Jul.22

Martins Júnior

 

sábado, 23 de julho de 2022

A FESTA BIOLÓGICA HABITADA POR DEUS E PELO POVO !

                                                                             


 

De Festa foi toda a semana que agora chega ao fim, mesmo no turbilhão dissonante do planeta que nos comprime. Porque somos aquilo que somos mais a circunstância que nos é dada. É assim que Ortega y Gasset   fazia o relatório dos lugares, desde os altos himalaias das urbes aos inóspitos tugúrios da Amazónia.

         A nós, coube-nos o ‘jogo da glória’ e nele uma festa – para nós, a Festa – que reúne terra, água, pão e vinho, a chamada Festa do Senhor. Direi que é uma Festa Biológica, pois que o Nazareno assim optou naquela Quinta-Feira, véspera da sua morte.

             Cedo-me, curvo-me e assimilo-me no corpo e no espírito que este povo deu ao seu dia histórico-tradicional da sua Festa. Quem aqui passar, naturalmente concluirá que esta não é uma festa de plástico nem de cheques passados em branco. É a entronização do verde em todo o perímetro do acto. Cada passo, cada pegada, cada centímetro do que ali está tem a marca, o dedo, a mão, numa palavra, o corpo e o talento criativo da população local.

         Por isso é que, hoje e amanhã, haja o que houver, Festa é Festa!

         Recorro ao LIVRO  (Marcos 2, 18 e sgs.) numa época em que os puristas da tradição judaica interpelaram o Mestre porque os Doze não observavam o jejum e os sacrifícios impostos pela ortodoxia do Templo. Era uma questão de lesa-sacralidade, cominada com penas severas. Mas o Mestre não perdeu tempo com eloquentes teses teológicas, tão gosto dos fariseus opositores: carregou no acelerador festivo e respondeu-lhes com nova provocação: “Então achais bem que, numa festa de casamento, os convidados se auto-flagelem com jejuns e sacrifícios na presença dos noivos?”. Ninguém contestou. E mais: Ele, o “noivo” da alegoria provocatória, ainda jovem, põe em confronto a natural antinomia juventude-festa e velhice-decrepitude, através das metáforas remendo novo em tecido velho ou vinho novo em barris velhos, estragados. É desconcertante, sublime, o Galileu sem Fronteiras. Há até exegetas de renome que definem a vida pública de Jesus como uma sucessão de festas, banquetes com fariseus, refeições com os publicanos, convívios com os pecadores e pescadores. Era aí que Ele transmitia o melhor das suas mensagens.

        

Depende de nós que a vida seja uma Festa Verde ou uma mísera tragédia.

Por isso, acreditamos que o Deus cósmico perpassa e diverte-se na Sua e nossa Festa Biológica. Viva !!!

 

23.Jul.22

Martins Júnior

quinta-feira, 21 de julho de 2022

DOPAMINA NA FESTA: SAÚDE, FORÇA, VITALIDADE!

                                                                   


Festa é Festa – poderia titular assim e alongar a anterior comunicação que fiz aos meus amigos através desta tribuna ubíqua dos dias ímpares. E é o que faço, hoje mesmo, na esteira de um ensaio publicado na revista Psychologies, sob a epígrafe “Un noveau sens da la Fête”  e onde se define a Festa  como uma “pulsão social da relação, uma pulsação da vida”.

Analisando o fenómeno festivo, Emmanuel Lallement interpreta-o na linha de uma “necessidade social” que cumpre uma função central, durante longo  tempo levada muito a sério pelo sector religioso. E lança o pré-aviso: “Não há, hoje em dia,  razão nenhuma para deixar de tomá-la a sério, a Festa, ”porque em encruzilhadas de incerteza, de pandemia continuada, de desastres ecológicos e de futuras guerras,  ela consegue reatar as suas origens sagradas de experiência existencial e de catarse – seja num desfile de carnaval, numa rave party, ou de qualquer outro ajuntamento, onde corpos desconhecidos, invadidos pela música,  transfiguram-se como se fossem um só  e único ser”.

Por outro lado, Marie Charlotte Dapoigny dá conta de estudos americanos que provam o carácter vital do ajuntamento humano para os animais sociais que nós somos. Confirma também que o isolamento afecta não só a nossa mente, mas também a nossa saúde: o agravamento da  tensão, o aumento da taxa de cortisol, diminuição de um sono reparador. Há uma exigência animal, arcaica (i.é, ancestral) de unir, aproximar, de tocar e ser tocado para termos a sensação de existir”.

A propósito do factor ‘Música’, associada à Festa, Pierre Lemarquis  acentua as suas virtudes terapêuticas, entre as quais  a secreção da dopamina, responsável pelo movimento, o élan vital e a alegria de viver.

Em louvor das Festas, sejam elas folclóricas, desportivas, académicas, religiosas – o mesmo não direi dos exibicionismos político-partidários – importa viver e reter o pensamento de Marie-Claude Treglia:

“Tempo de suspensão sagrada onde, como em todo as expressões meditativas, cada qual aproveita para fazer uma provisão de novas forças, de alegria e de vitalidade”.

Oxalá fossem assim todas as festas!

Assim será a “Nossa” - a Festa do Senhor, na Ribeira Seca, sábado e domingo próximos, com o Povo, alma-corpo-comunidade, em estreita união de crenças, danças e cantares originais, enchendo o vale de Machico.

Festa é Festa|

21.Jul.22

Martins Júnior

 (Na gravura, Sérgio Godinho no palco de Ribeira Seca, em 1982)

terça-feira, 19 de julho de 2022

FESTAS E MAIS FESTAS, SUPERFESTAS --- ANATOMIA E “AUTOPSÍA” DAS FESTAS

                                                                  


 Como se diz das “Cartas de Amor”, o mesmo se diz das “Festas e quais, quem as não tem?”.

Por isso, dentro ou fora, a norte ou a sul, a montante ou jusante, do nascente ao poente, aí estão elas, as festas, como sereias luzentes saltitando irresistíveis diante dos nossos olhos vassalos delas. E todos lhes prestamos culto, com o ouro do capital, o incenso da alienação e a mirra de um ópio caseiro fabricado pela tradição.

Na tríade enunciada – ouro, incenso e mirra, símbolo da grande Festa Natal - estamos todos envolvidos:

Como produtores

Como consumidores

Como intermediários

Como actores

Hoje, em plena efervescência logística das festas estivais, a minha proposta é só esta: Anatomia das Festas – o que me diz uma festa, o que espero dela e o que  ela me dá ?

E, acabada a festa, a ‘Autopsía’ (escrevo  propositadamente no registo morfológico de vocábulo grave) para acentuar o sufixo grego: “ver, ver-se a si próprio”, sob a força de uma interpelação: Que me ficou da festa, das festas, especialmente daquela em que me empenhei: como produtor, consumidor, intermediário ou actor? …

Quem achar paladar por este naco de isco, prenda-se ao anzol e traga à rede, às redes de todos nós, o plâncton de sabedoria colhido no oceano dos dias.

Porque é do verdadeiro ‘sentido das Festas’ que se trata.


19.Jul.22

Martins Júnior  


domingo, 17 de julho de 2022

EM BUSCA DO SILÊNCIO PERDIDO … “FAÇAM BARULHO” !!!

                                                                                 


Estava eu onde nunca quis estar – e onde nunca estarei – outros também ali estavam como inquilinos solúveis com o tempo. Todos eles liam com uma saudade incontida e devoravam as folhas de um tal Marcel Proust: À la recherche du temps perdu”. Da minha parte, prisioneiro entre quatro tábuas caiadas de alvaiade ‘pálida e fria’, ouvi alguém abrir o LIVRO deste domingo e decifrar aquele dilema de duas irmãs, Marta e Maria. A  primeira, assoberbada de trabalho, turbinada na acção febril da casa; a outra, em silêncio envolvente, escutava as palavras do doce Nazareno. E memorizei a  fala apaziguadora do Mestre entre a dissensão doméstica das duas irmãs: ”Marta, não te aflijas tanto, a tua irmã Maria escolheu a melhor pate” do dia e da vida. (Lc. 10, 42).

Foi então que me dei conta da discrepância entre mim e os partilhantes vicinais do mesmo apartamento: Enquanto eles suspiravam pelo tempo perdido, eu só pensava em voltar ao mundo em busca do silêncio perdido.

Do turbilhão tumultuoso dos dias, nem sombra de memória. Nem das trombetas das vitórias, nem do troar dos canhões portadores das derrotas. Sumido na caverna de Platão, atirei para fora dela a barafunda de outrora, as pulsões do instante, os ventos cruzados, suicidas, em que eu próprio fui tantas vezes protagonista – como outras tantas réu inconformado. Só me inundava a saudade dos silêncios perdidos.

E voltei ao mundo. A mesma agitação sem rumo, a mesma entropia atómica, generalizada, as mesmas fugas: fugas da realidade exógena, fugas do tronco endógeno, desvarios de fora, anomalias de dentro. Descobri que o homem-mulher é um ser comido, triturado pela buldózer do tempo. Comido pelos poderosos, assediado pelos media, esventrado pelos políticos e pelos dogmas ditos religiosos e seus corifeus. Somos o joguete de quem nunca sonhámos ser. E nem damos por isso! Enfim, escravos dos tempos perdidos, do passado,  do presente e dos tempos a perder - os tempos futuros.

“Façam barulho” – e nós, os pacóvios simiescos, aplaudimos!

Neste ribombo infrene em que estamos forçosamente jogados, o que mais falta faz é voltar à liberdade dos silêncios perdidos. E recuperados. Para serem reprodutivos, multiplicados, seja lá onde for.

Silêncio permutado em flores e frutos da terra, com o do homem camponês, lavrando e cavando  na paz operante da montanha, de cuja sorte bem invejava o poeta Virgílio, nas suas inspiradas ‘Éclogas’: Oh Fortunate Senex!

Silêncio vigilante como o do homem do leme, entre mar e céu,  perscrutando os horizontes e deles recebendo o astrolábio navegante.

Silêncio criador, como o da Gruta de Macau, onde Camões completou a Magna Epopeia do Povo Lusíada.

E silêncio catártico, ascensional dos místicos, como o de João da Cruz e Teresa de Ávila.

Como o silêncio purificador das chamas que tornarão meu corpo em volutas de incenso-cinza naquele voo directo, para não mais voltar às quatro tábuas caiadas da cor alvaiade ‘pálida e fria’.

Enquanto é tempo, ganhar os tempos do silêncio perdido! No alto da serra ou nas profundezas do mar imaginário. Ou até mesmo na vozearia anárquica da grande multidão.

  

17.Jul.22

Martins Júnior

sexta-feira, 15 de julho de 2022

LUME NA NATUREZA… E NO CORAÇÃO!

                                                                 


O fogo que deflagra em Espanha ameaça propagar-se à fronteira norte de Portugal.

A seca em Espanha ameaça os caudais do rio Douro que percorre o nosso país,

O derrame de crude em determinada enseada não ameaça apenas, contamina largos quilómetros da orla marítima adjacente.

A guerra na Ucrânia remove as estruturas financeiras da Europa e do mundo.

 

Ao estertor da refrega corresponde o improviso desesperado das soluções. Para os incêndios, mais bombeiros (passando de voluntários a sapadores) mais aviões, mais transportes-auto. Para a seca, implorar que chova. Para o crude, mais apoios logísticos à marinha, aos batedores marítimos. Para as consequências da guerra, esperar por Putin ou investir na contra-guerrilha urbana.

 

Esquecemo-nos - ou propositadamente ignoramos - a mais elementar estratégia de acção: o prejuízo combate-se a montante, não a jusante. O mal corta-se na raiz, não no tronco. Não é apagando que se combate o fogo, é impedindo que ele comece. Não é limpando o mar (ou a terra) que se o defende, é não sujando. Não é neutralizando mísseis que se acaba a guerra, mas calando as armas.

 

Decerto que hoje não me recomendo. Porque do que fica atrás pensado e dito, nada mais penoso e estimulante do que ter nos braços uma criança  – daquelas que não foram parar a um contentor de lixo – rebento lindo de uma raiz inquinada. Elas são cada vez em maior volume, fruto de uniões frustradas, de ambientes física e humanamente insalubres, enfim, fogo posto pelos progenitores, seca severa das fontes biológicas, marés negras das nascentes, espermas de pólvora em ovários armadilhados e podres,

Mas está no mundo, candidato a todo o lugar a que tem direito quem nasce. Ei-lo diante da pia baptismal. Por fatalidade atávica, adivinha-se-lhe o futuro. Pensa-se em dá-lo para adopção, ou institucionalizá-lo, esse aparente ‘menino d’oiro’, nascido em berço roto, de espinhos e abrolhos.

Mas ele não está só. Ele é uma longa fila em lista de espera. E os mais sensíveis beneméritos pedem, reclamam, exigem mais infantários, mais ‘orfanatos’ e mais abrigos-casas de acolhimento.

Pura ilusão! Não é por aí o caminho da sua felicidade. Talvez já não seja possível regressar à raiz, ao berço, ao lar. Mas, de tudo quanto se faça, é aí que tudo começa.

Parafraseando Augusto Gil, vou moendo e remoendo entre mágoas e esperanças.

…Uma infinita tristeza

Uma funda turbação

Entra em mim, fica em mim presa

Cai lume na natureza

E cai no meu coração

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         15.Jul.22

         Martins Júnior

quarta-feira, 13 de julho de 2022

COINCIDÊNCIAS E REMINISCÊNCIAS

                                                                              


    Deambulávamos os cinco em saudável percurso pedonal, quando um deles traz ao nosso convívio o nome de um padre madeirense do Estreito de Câmara de Lobos, (hoje, freguesia do Jardim da Serra), de sobrenome Neto, a cuja missa e homilia assistira no Algarve e às quais fez as melhores referências. “Parece-me que é seu primo” – acrescentou, dirigindo-se ao Padre José Luís Rodrigues, connosco no grupo dos cinco.

         Passadas vinte e quatro horas, eis que nos chega a infausta notícia: “O Padre Agostinho Clemente Gonçalves Neto morreu ontem em Vila Real de Santo António”. Contas feitas – coincidência das coincidências! – ele morreu aos 69 anos, naquela mesma hora em que na Madeira cinco colegas e amigos falavam da sua intensa acção pastoral!

         De tudo quanto se possa agora dizer, ressoa mais alto o galardão maior da sua personalidade: foi missionário dehoniano em terras de missão, em Madagáscar, entre 1984 e 2019.

         Aproveito o momento para tecer a distinta e merecida homenagem a esses homens e mulheres que deixaram tudo para entregar-se a um mundo inóspito, duro e perigoso, chamado Missão em África, Ásia, Oceânia e demais áreas do planeta. Conheci-os, alguns deles, em Cabo Delgado e na Zambézia, no dentro mais dentro da floresta. Admirei “in loco” o sacrifício e abnegação na forma como tratavam e viviam as privações, os dramas e as tragédias dos povos africanos a quem se dedicavam de corpo e alma. Em contrapartida, vi claramente  o carinho que as populações indígenas tributavam aos seus pastores, o sentido de posse, protecção e segurança que neles encontravam.

         É actualmente pomo de discórdia o papel dos missionários em terras de Além-Mar, já desde a descaracterização da cultura e fé dos seus ancestrais (o problema da inculturação exógena), já a subserviência política  da Missão aos Estados-emissores. No entanto, é inegável a mais valia social que as Missões levaram aos povos missionados, sob o ponto de vista da saúde, logística, habitação, escolas, higiene pública e privada. Honra perpétua a tantos e tão prestigiados obreiros da felicidade global!

         Certo é que o nosso país, em tempos de ditadura, usou os missionários como ´tropa avançada’ ao serviço da política vigente. O regime chamado de “Padroado”, concertado entre a Santa Sé e Portugal, deixou uma nódoa negra nesta cobiça de mais poder ditatorial à custa do poder religioso missionário. Certo é que o bispo da Beira, D. Sebastião Soares de Resende, e o bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto, foram expulsos de África, pelo governo de Oliveira Salazar. Motivo: lutar pela dignificação e pela Autonomia dos moçambicanos. Quem mais tarde restituiu a diocese de Nampula ao seu bispo legítimo foi precisamente Samora Machel, quando presidente de Moçambique. Nesta simbiose interpretativa da história, vejo no bispo de Nampula a reincarnação do grande missionário Padre António Vieira, no século XVII,  defensor acérrimo dos escravos índios do Brasil!

         No mesmo pódio do Padre Agostinho Clemente Gonçalves Neto coloco todos os homens e mulheres – de diversos estatutos e profissões - que continuam na esteira dos sonhadores e construtores de uma sociedade igualitária em direitos e deveres, seja qual a etnia ou continente a que pertençam. 

À Sociedade Dehoniana no Funchal,  à família do malogrado missionário residente no Jardim das Serra, particularmente ao Padre José Luís Rodrigues e ao Dr. Manuel Neto, os meus sentimentos mais profundos: o de luto pela sua partida e o de glória pelo seu percurso em terras de Madagáscar!

 

         13.Jul.22

         Martins Júnior

          

                                        

segunda-feira, 11 de julho de 2022

PERDOA-OS, SENHOR, POR TE CULPARMOS DA NOSSA INÉRCIA E DA NOSSA COBARDIA …

                                                                     


 Ficaria incompleta e obscura a petição inscrita no penúltimo blog se  lhe não juntasse o reverso do mesmo apelo, vezes milhentas repetido à Divindade e, por isso,  irritante e fastidioso: ‘Ouvi-nos, escutai-nos, atendei-nos’…

Sei que o assunto não interessará, talvez, à grande maioria dos transeuntes da vida, mesmo crentes, mas  não resisto a expô-lo, dado que foi uma das conclusões de um retiro pensado, interiorizado, mais que um retiro pregado. E a conclusão é esta: grande parte das nossas preces, massivamente a chamada “Oração Universal dos Fiéis” – sublinhada com o importuno refrão Ouvi-nos, Escutai-nos – não passa de um exercício de inversão de conteúdos e transferência de responsabilidades. Somos tão lestos a pedir a Deus que nos oiça e somos `tão vadios e surdos para ouvir a resposta do mesmo Deus.

Por quem é que ardorosamente pedimos na dita “Oração Universal”:

 Pela paz no mundo, na Ucrânia, na Rússia, no Ruanda, etc. –Ouviste, Senhor, ou andarás distraído?...

E o Senhor responde:

Que tenho eu a ver com as guerras dos homens? Já não sou o judaico “Deus dos Exércitos”. Não tenho paióis nem fabrico armamento. Não me convidam para as Grandes Cimeiras do G7. Isso é convosco!

Alguém ouviu? Parece que não. Mas insistimos:

Pelos nossos governantes para que governem na paz e na justiça social, etc., etc..

E o Senhor responde:

Mas isso não é comigo. É com o povo que vota neles, é com os lobistas da opinião pública. Não sou presidente de nenhum país nem sou Secretário-Geral da ONU. Também não sou o Putin nem o pérfido patriarca Kirilos que lhe abençoa  os mísseis.  Nem sequer tenho direito a voto. Isso é convosco, só convosco.

Alguém ouviu? Parece que não. Mas voltamos à carga:

Pelos pobres que passam fome, pelos sem-abrigo, pelas crianças abandonadas, bá, blá, blá… Ouvi-nos, Senhor.

E o Senhor responde;

E de quem é a culpa? Minha não é. Onde estão as políticas para as famílias, onde estão os parlamentos, os fazedores de leis, os executivos? Eles vivem aí no meio de vós. Exijam maior justiça distributiva. É convosco, não é da minha jurisdição.

 Se alguém ouviu, fez ouvidos de mercador. Mas não desistiu de cena. E rezou muito, cada vez mais alto:

Pelos padres, pelos cardeais, pelos bispos, para que preguem o evangelho, para que se voltem para os pobres e não dêem mais escândalos e… amen, amen, amen… Ouvi-nos, mais uma e mil vezes escutai-nos.

Falai com eles – tacitamente responde o Senhor – chamai-os à atenção e, sendo caso disso, puni-os. Eu não tenho prisões eclesiásticas, mas eles têm os profetas e a lei, têm o Papa Francisco que tem feito o retorno ao Evangelho de Jesus. Sigam-no. Sou o elo mais fraco no meio de tudo isto. O Povo de Deus é que deve assumir o compromisso de uma Igreja santa, transparente.

Muitos são os episódios desta encenação teatral que pretende mudar o mundo obrigando Deus a intervir directamente no desconcerto da humanidade. E assiste-se presunçosamente a esta contradição: pretendemos abrir os ouvidos de Deus às nossas propostas e fechamos os nossos às propostas de Deus.

Esta atitude reiterada configura-se com a aplicação da ‘lei do menor esforço’ à prática religiosa. Mas será mais, muito mais: é a própria inércia pietista, uma práxis hipócrita de exercer a Fé que torna a denominada “Oração Universal” uma fuga para a frente, mas que não deixa de ser um elogio à cobardia farisaica de endossar tudo a Deus, como se Ele fosse o culpado de todo o mal que existe no mundo. E nós, os crentes, ficamos felizes por enviar uma tão pesada mensagem ao destinatário errado. Porque o destinatário somos nós, construtores de um Mundo Melhor.

Perdoa-nos, Senhor.

Estejam os nossos ouvidos atentos à Vossa Palavra!

Como Jeanne d’Arc, António Vieira, Luther King, Gandhi, Mandela!                                                                  

11.Jul.22

Martins Júnior                                                                                                                                                                                                   

sábado, 9 de julho de 2022

TRIGO BORDADO DA MADEIRA E VINHO NOVO DE CANAÃ

                                                                              


À Maria e ao João Bernardo, no seu casamento em Torres Vedras, celebrado com vinho de Canaã da Galileia

 

Ninguém pôde contar os braços

Entrelaçados em dedos d’oiro enamorados

Tantos foram os beijos e os abraços

Que encheram céu e mar

Entre as altas Torres e os fundos lagos

 

Ponte suspensa de atlânticos afagos

Desde a jangada ilhoa

Até às margens de Lisboa

 

Genesíaco portento

Dessa manhã primeva

Da Diva Criação

Eis de novo Maria - a Nova Eva

 Eis João Bernardo - o Novo Adão

 

Nada faltou

Na mesa dos manjares esponsários

Nem a magia de um Stradivarius

Nem o doce puro da infância rediviva

 

E maior que um trono real

Na toalha bordada a trigo da Madeira

O Vinho Novo de Canaã

Promessa do Futuro

Canto livre imenso

De um perpetuo, interminável Amanhã

 

 

09.07.22

Martins Júnior