sexta-feira, 15 de julho de 2022

LUME NA NATUREZA… E NO CORAÇÃO!

                                                                 


O fogo que deflagra em Espanha ameaça propagar-se à fronteira norte de Portugal.

A seca em Espanha ameaça os caudais do rio Douro que percorre o nosso país,

O derrame de crude em determinada enseada não ameaça apenas, contamina largos quilómetros da orla marítima adjacente.

A guerra na Ucrânia remove as estruturas financeiras da Europa e do mundo.

 

Ao estertor da refrega corresponde o improviso desesperado das soluções. Para os incêndios, mais bombeiros (passando de voluntários a sapadores) mais aviões, mais transportes-auto. Para a seca, implorar que chova. Para o crude, mais apoios logísticos à marinha, aos batedores marítimos. Para as consequências da guerra, esperar por Putin ou investir na contra-guerrilha urbana.

 

Esquecemo-nos - ou propositadamente ignoramos - a mais elementar estratégia de acção: o prejuízo combate-se a montante, não a jusante. O mal corta-se na raiz, não no tronco. Não é apagando que se combate o fogo, é impedindo que ele comece. Não é limpando o mar (ou a terra) que se o defende, é não sujando. Não é neutralizando mísseis que se acaba a guerra, mas calando as armas.

 

Decerto que hoje não me recomendo. Porque do que fica atrás pensado e dito, nada mais penoso e estimulante do que ter nos braços uma criança  – daquelas que não foram parar a um contentor de lixo – rebento lindo de uma raiz inquinada. Elas são cada vez em maior volume, fruto de uniões frustradas, de ambientes física e humanamente insalubres, enfim, fogo posto pelos progenitores, seca severa das fontes biológicas, marés negras das nascentes, espermas de pólvora em ovários armadilhados e podres,

Mas está no mundo, candidato a todo o lugar a que tem direito quem nasce. Ei-lo diante da pia baptismal. Por fatalidade atávica, adivinha-se-lhe o futuro. Pensa-se em dá-lo para adopção, ou institucionalizá-lo, esse aparente ‘menino d’oiro’, nascido em berço roto, de espinhos e abrolhos.

Mas ele não está só. Ele é uma longa fila em lista de espera. E os mais sensíveis beneméritos pedem, reclamam, exigem mais infantários, mais ‘orfanatos’ e mais abrigos-casas de acolhimento.

Pura ilusão! Não é por aí o caminho da sua felicidade. Talvez já não seja possível regressar à raiz, ao berço, ao lar. Mas, de tudo quanto se faça, é aí que tudo começa.

Parafraseando Augusto Gil, vou moendo e remoendo entre mágoas e esperanças.

…Uma infinita tristeza

Uma funda turbação

Entra em mim, fica em mim presa

Cai lume na natureza

E cai no meu coração

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         15.Jul.22

         Martins Júnior

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