O
fogo que deflagra em Espanha ameaça propagar-se à fronteira norte de Portugal.
A
seca em Espanha ameaça os caudais do rio Douro que percorre o nosso país,
O
derrame de crude em determinada enseada não ameaça apenas, contamina largos quilómetros
da orla marítima adjacente.
A
guerra na Ucrânia remove as estruturas financeiras da Europa e do mundo.
Ao
estertor da refrega corresponde o improviso desesperado das soluções. Para os
incêndios, mais bombeiros (passando de voluntários a sapadores) mais aviões,
mais transportes-auto. Para a seca, implorar que chova. Para o crude, mais
apoios logísticos à marinha, aos batedores marítimos. Para as consequências da
guerra, esperar por Putin ou investir na contra-guerrilha urbana.
Esquecemo-nos
- ou propositadamente ignoramos - a mais elementar estratégia de acção: o prejuízo
combate-se a montante, não a jusante. O mal corta-se na raiz, não no tronco.
Não é apagando que se combate o fogo, é impedindo que ele comece. Não é
limpando o mar (ou a terra) que se o defende, é não sujando. Não é
neutralizando mísseis que se acaba a guerra, mas calando as armas.
Decerto
que hoje não me recomendo. Porque do que fica atrás pensado e dito, nada mais
penoso e estimulante do que ter nos braços uma criança – daquelas que não foram parar a um contentor
de lixo – rebento lindo de uma raiz inquinada. Elas são cada vez em maior
volume, fruto de uniões frustradas, de ambientes física e humanamente
insalubres, enfim, fogo posto pelos progenitores, seca severa das fontes biológicas,
marés negras das nascentes, espermas de pólvora em ovários armadilhados e
podres,
Mas
está no mundo, candidato a todo o lugar a que tem direito quem nasce. Ei-lo
diante da pia baptismal. Por fatalidade atávica, adivinha-se-lhe o futuro.
Pensa-se em dá-lo para adopção, ou institucionalizá-lo, esse aparente ‘menino d’oiro’,
nascido em berço roto, de espinhos e abrolhos.
Mas
ele não está só. Ele é uma longa fila em lista de espera. E os mais sensíveis
beneméritos pedem, reclamam, exigem mais infantários, mais ‘orfanatos’ e mais
abrigos-casas de acolhimento.
Pura
ilusão! Não é por aí o caminho da sua felicidade. Talvez já não seja possível
regressar à raiz, ao berço, ao lar. Mas, de tudo quanto se faça, é aí que tudo
começa.
Parafraseando
Augusto Gil, vou moendo e remoendo entre mágoas e esperanças.
…Uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim
presa
Cai lume na natureza
E cai no meu coração
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15.Jul.22
Martins Júnior
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