Festa é Festa – poderia titular assim e
alongar a anterior comunicação que fiz aos meus amigos através desta tribuna
ubíqua dos dias ímpares. E é o que faço, hoje mesmo, na esteira de um ensaio
publicado na revista Psychologies, sob
a epígrafe “Un noveau sens da la Fête” e onde se define a Festa como uma “pulsão social da relação, uma
pulsação da vida”.
Analisando o fenómeno festivo, Emmanuel
Lallement interpreta-o na linha de uma “necessidade social” que cumpre uma
função central, durante longo tempo levada
muito a sério pelo sector religioso. E lança o pré-aviso: “Não há, hoje em dia,
razão nenhuma para deixar de tomá-la a
sério, a Festa, ”porque em encruzilhadas de incerteza, de pandemia continuada,
de desastres ecológicos e de futuras guerras, ela consegue reatar as suas origens sagradas
de experiência existencial e de catarse – seja num desfile de carnaval, numa rave party, ou de qualquer outro
ajuntamento, onde corpos desconhecidos, invadidos pela música, transfiguram-se como se fossem um só e único ser”.
Por outro lado, Marie Charlotte Dapoigny
dá conta de estudos americanos que provam o carácter vital do ajuntamento
humano para os animais sociais que nós somos. Confirma também que o isolamento
afecta não só a nossa mente, mas também a nossa saúde: o agravamento da tensão, o aumento da taxa de cortisol,
diminuição de um sono reparador. Há uma exigência animal, arcaica (i.é,
ancestral) de unir, aproximar, de tocar e ser tocado para termos a sensação de
existir”.
A propósito do factor ‘Música’, associada
à Festa, Pierre Lemarquis acentua as
suas virtudes terapêuticas, entre as quais a secreção da dopamina, responsável pelo
movimento, o élan vital e a alegria
de viver.
Em louvor das Festas, sejam elas
folclóricas, desportivas, académicas, religiosas – o mesmo não direi dos exibicionismos
político-partidários – importa viver e reter o pensamento de Marie-Claude
Treglia:
“Tempo de suspensão sagrada onde, como em
todo as expressões meditativas, cada qual aproveita para fazer uma provisão de
novas forças, de alegria e de vitalidade”.
Oxalá fossem assim todas as festas!
Assim será a “Nossa” - a Festa do Senhor,
na Ribeira Seca, sábado e domingo próximos, com o Povo, alma-corpo-comunidade, em
estreita união de crenças, danças e cantares originais, enchendo o vale de
Machico.
Festa é Festa|
21.Jul.22
Martins
Júnior
(Na
gravura, Sérgio Godinho no palco de Ribeira Seca, em 1982)
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