domingo, 29 de dezembro de 2019

FALTAM SÓ 3 DOS 365 DIAS DE 2019


                                                  

Nunca tão desejadas foram
as folhas cadentes
do tronco verde-velho
mais que as estrelas dormentes
à beira da manhã que chega

uma…duas…
e quando cai a terceira?...
Oh quanta demora
de ver chegar-lhe a última hora!

Do velho tronco nunca mais se esgueira
a folha derradeira
a que já foi verde-virgem, a primeira…

E dos fogos fátuos saídos
da tumba das folhas secas tombadas no chão
erguer-se-á austera esta elegia-canção:
No bojo do verde-velho tronco feito baú
Estamos todos, folhas cadentes,
Cedo ou tarde
Estarei eu! Estarás tu!

         29.Dez.19
         Martins Júnior

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

AGIR É SORRIR E FAZER É UM PRAZER – A NOSSA GRATIDÃO


                                               

Os homens e mulheres, Jovens e Crianças que construíram na sua sala de visitas o renascimento de Jesus  – “Como se Ele nascesse Aqui” – já manifestaram publicamente o seu contentamento por terem executado a ideia programática do Natal/2019, o último da presente década: Jesus nasceu – poderia ter nascido -  em qualquer das cinco  freguesias do concelho. Trabalho árduo, mas gostoso de fazê-lo, pensando que a mensagem que o Menino trouxe ao mundo estende-se a todos os lugares, cidades e aldeias, terminando com as “escadinhas madeirenses” por onde sobem as bandeiras de todos os países do mundo, como os Reis Magos, ao encontro do Messias Libertador da Humanidade.
Em nome de toda a comunidade aqui fica o  agradecimento a todos esses nossos vizinhos e amigos que participaram neste projecto global. A mesma gratidão para com os nossos visitantes, particularmente aos que trouxeram da sua própria freguesia alfaias e equipamentos típicos para completar a decoração dos nossos presépios.
Dentro do templo e em todo o adro da igreja, o Povo da Ribeira Seca oferece casa e coração! Porque agimos com sorriso e construímos com prazer.
Bem-vindos à Nossa Festa!
         27.Dez.19
Martins Júnior

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

O NATAL ESTÁ VELHO – TORNA-O JOVEM!


                                                     

Quantos anos terá feito hoje o Natal? Dois mil e mais, por certo. O que sabe, mesmo certo, é que ele envelheceu, Envelheceu e engordou.  Essa a verdade pura. O Natal está velho e gordo. E tremendamente diabético. Não o vedes?... Aí mesmo à vossa porta, talvez dentro de casa, na rua, nas placas centrais e marginais, nos talhos e mercados, nas rádios,  nas tvês de quanto é canto?... Mas o que é, no mínimo, confrangedor e, no fim, nauseabundo, é vê-lo, o Natal, na ponta do microfone e no linguajar do locutor de turno, a provocar o cidadão comum pela enésima vez: ‘Como é que os  pais e avós faziam a Festa, como era a cozinha, os acompanhamentos, etc.,etc.”. E as respostas, pela enfadonha e enjoativa enésima vez, com ‘a matança do porco, os torresmos, as rabanadas, as tripas, as carnes de vinho e alhos e vinha d’alhos’, tudo a atestar o intestino grosso e as nádegas do  Pai Natal… Falta ainda a pastelaria do velho: o bolo de mel, as pudineiras, as broas, o bolo-do-caco, mais os licores e as macias e os tim-tantum, enfim, uma cisterna velha, onde o velho mergulha e volta a mergulhar até à exaustão e de onde sai bêbedo ou, pelo menos babado. É o natal da publicidade e da ‘canja’ popular. Há quantos anos?! Para dourar a overdose bacanal, lá vem a missa que, ainda por cima, se chama ‘do Galo’! Tudo somado e mutatis mutandis, é o eco tardio de um carnaval dezembrão.
Está mesmo gasto e velho o Natal assim. Quem o põe novo, quem o torna ágil e fresco, como se fora sempre o Primeiro?... Só tu! Só cada um de nós! Como? Percorrendo os trilhos que nos levam à sua nascente original! Repondo a sua essência!
Foi o que tentámos fazer nos nove “meses-dias”  parturientes que antecederam a Grande Notícia do 25 de Dezembro, descrita nos blogs anteriores e plasmada no palco aberto da Ribeira Seca sob o título: Como se Ele nascesse Aqui”!

25.Dez.19
Martins Júnior


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O NATAL PROFÉTICO DE UM SÃO PATRIOTISMO



Após a longa viagem que os levou a Água de Pena, depois ao Santo da Serra e ao Porto da Cruz, os Três Reis atravessaram a perigosa rocha do Larano, tendo por guias os borracheiros do Norte carregadores de vinho, chegaram ao Caniçal e viram o Menino nascido numa canoa. Depois, depois… quem nos conta é o Narrador:

Vede a Estrela já em Machico
Caminhai sem medo algum
Lá está o desembarcadoro
Como esse não há nenhum

Acudiram logo os Anjos em pressurosa informação:
Abraçai essa baía
Atravessai-a com fé
Aqui jazem os amores
De Machim e Ana d’Arfet

E segui junto à Ribeira
Cantai-lhe as vossas canções
Como outrora já cantou
Álvares, o “Nosso Camões”

Catedral és tu, Machico,
Dentro de um vale outros vales
São arcos e são ogivas
Que curam os vossos males

Onde houver duas ribeiras
Numa ponte entrelaçadas
Guinai à vossa direita
Subi por essas calçadas

Não obstante o peso do cansaço, a custo subiram o velho empedrado do estreito caminho que os levou atá ao coração de Machico, a Ribeira Seca. E, à uma, exclamaram:
Agora, sim, aqui vemos
Na concha do vale enorme
O Imperador do mundo
Nas palhinhas sonha  e dorme

Ao som que vem da Ribeira
O Menino sonha e canta:
Dizem que a Ribeira é Seca
Mas p’ra Mim ela é a mais santa

Faz com que as forças do mal
Nunca nos matem nem vençam
A Machico e ao Mundo inteiro
Jesus, deita a tua bênção

Feita a adoração dos Magos e a sua profissão de fé no Menino renascido, os céus abriram.se e logo surgiram os Anjos Mensageiros, apostrofando os descrentes em alta voz:
Onde estais, padres de Roma,
Fugistes mesmo a sério?
Trazei o Papa e o Bispo
Venham ver este mistério

Deitem fora esse orgulho
Essas mitras, essas togas
Não sejais novos Caifás
Das antigas sinagogas

E vós, Reis do Oriente,
Ganhastes esta vitória
Jesus nasceu em Machico
In excelsis Glória Glória
Ide reencontrar Jesus
Noutra terra e noutra história

No epílogo deste longo percurso, fica-nos a lição de Machico, marco primeiro das Descobertas e, com isso, o brio patriótico de quem pertence a este solo mátrio, tal como o Nazareno nutriu pela sua cidade capital de Jerusalém. Excluindo liminarmente quaisquer resíduos de nacionalismos ou regionalismos exacerbados, impõe-se-nos a nós, herdeiros da Primeira Capitania da Madeira, uma inteira prestação de serviços à grei a que pertencemos, até merecermos dos nossos vindouros o mesmo justo panegírico que Luis Vaz de Camões dedicou aos “varões assinalados” da velha Lusitânia: “Ditosa Pátria que tais filhos teve”!
Que a trajectória das chamadas “Missas do Parto”, em que acompanhámos os Três Reis do Oriente na demanda do velho casebre em que nasceu o Libertador da Humanidade, nos transporte ao mundo da reconciliação, do amor e da construção do sonho infante. É o que rentaremos programar amanhã, 24 de Dezembro, pelas 6 horas da madrugada,  neste recanto bucólico em que Jesus também “nasce” em cada dia que passa.

23.Dez.19
Martins Júnior

sábado, 21 de dezembro de 2019

NASCER NO MAR DO CANIÇAL…


                                                            

      Ainda calcorreavam a vereda do Larano e já os Reis Magos eram surpreendidos por  uma voz angélica vinda dos lados do Monte da Piedade, no Caniçal:
Reis Magos, muita atenção
Aqui também é Natal
Venham ver o Deus Menino
Nascido no Caniçal

Na casa da sua Mãe
Senhora da Piedade
Seja embora pequenina
Cabem todos à vontade

Os barcos lançam as redes
Maré baixa maré cheia
Aqui o pão vem do mar
Como o Mar da Galileia

Extasiados perante tão inaudito acontecimento, os Três Reis abriram o peito e soltaram alto brado:
                            Ó que doce maravilha
Ó que milagre divino
Dentro daquela canoa
Está nascendo o Deus Menino

Esta notícia tivemos
Aqui mesmo quem diria
Por isso nós vamos dar
Os parabéns a Maria

Ó Senhora Faroleira
Da Ponta de São Lourenço
Recebei as nossas prendas
Oiro mirra e mais incenso

         Feitas as homenagens reais ao recém-nascido, filho de pescador, o Narrador da alegoria informa cuidadosamente os nobres peregrinos sobre os trilhos a percorrer:

                            Boa viagem, Romeiros,
Para lá do Caniçal
Passareis a ‘Pedra d’Eira’
E a ‘Ribeira de Natal’

         O Excerto da alegoria – “Como se Ele nascesse aqui” – representada ao vivo no adro da Ribeira Seca, em 2006, foi o mote da sexta ‘Missa do Parto’ deste ano de 2019 e pretende chamar a atenção para a importância dos mares no equilíbrio do planeta e, consequentemente, no quotidiano das nossas vidas. Pretende, ainda, ser uma homenagem aos homens do mar, particularmente aos pescadores do Caniçal e de todo o mundo. Aliás, o próprio Jesus teve sempre essa dupla paixão, o seu coração balanceava entre o campo e o mar. O Mar de Tiberíades ou Mar da Galileia  era a sua praia, o seu palco e o seu púlpito. Era ali o meio ecológico da sua mensagem e ali é que recrutou os seus principais colaboradores, os Apóstolos.
E se Ele cá nascesse… voltaria a amar a mesma natureza, o mesmo ambiente e seriam os mesmos, os seus dois amores paisagísticos, a Terra e o Mar!

21.Dez.19
Martins Júnior  
          

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

OS TRÊS REIS SOBEM SANTO DA SERRA E PORTO DA CRUZ


                                                                   

  É esta uma viagem bizarra: os Magos do Oriente, ávidos de achar aquele Herói Judaico, inscrito nos velhos papiros das antigas civilizações, puseram-se de viagem às “Ilhas Encantadas”, belas e verdes  que  “do muito arvoredo assim se chamam”. Seria o primeiro de todos os achamentos da Ilha, muito antes que genoveses e bretões a descobrissem.
         Passando Água de Pena, alcançaram Santo da Serra, onde
                            As moças lindas, rosadas
                            Como o canto das manhãs
                            Trouxeram renas bordadas
                            E cestinhos de maçãs

         Caminhando mais acima, ouviram a voz guiadora dos Anjos em revoada:
                            Ó Romeiros do Oriente
                            Mais depressa não tardeis
                            Que o Menino nesta rocha
                            Está à espera dos Três Reis

                            Depressa mas com cuidado
                            Entre folhados e faias
                            Olhai bem para a ribeira
                            Ribeira Tem-te Não-Caias

                            Outra nova encontrará
                            Todo aquele que aqui venha
                            Nasceu a Divina Águia
No mais alto desta penha

         E foi aí que o mais ancião dos Três Reis, o veterano Gaspar, exclamou  num arrobo de puro encantamento:

                            Bendita és tu, Penha d’Águia
                            Bendita a terra que piso
                            Terra do Pão e do Vinho
                            Parece-me o Paraíso

         Em síntese: durante as chamadas “Missas do Parto”, também acompanhamos os Três Reis e, com eles, pegamos no Menino nascido no alto rochedo do Porto da Cruz e ali escutamos a sua mensagem: “A Terra é vossa. Aumentai-a, multiplica-a”.
Muito antes que Eric Veríssimo titulasse o seu belo romance, já o  Nazareno tinha dito: “Olhai os lírios do campo”! Muito antes que Nietzche proclamasse o seu avatar de amor telúrico, já o Nazareno havia apregoado com palavras e feitos: “Irmãos, amai a Terra”! Tomara eu possuir a eloquência de um Demóstenes para tecer, em 20 de Dezembro de 2019, o mais alto panegírico ao Homem Lavrador, aquele que de ombros curvados à terra, alimenta o mundo inteiro e torna erguida e firme a coluna vertebral de todos nós. Olhando o Menino nascido na terra do pão e do vinho, altaneira  Penha d´Águia, celebraremos amanhã no meio ecológico da Ribeira Seca a grande epopeia da ruralidade excelsa e produtiva – uma das paixões do Menino nascido em Belém.


         19.Dez.19
         Martins Júnior   



terça-feira, 17 de dezembro de 2019

A GRUTA DE BELÉM NO BAIRRO DA BEMPOSTA… E EM TODOS OS “BARRIOS” DO MUNDO!


                                                       

Onde teria ido parar  José quando a sua jovem companheira sentiu iminentes as dores do parto? Seria possível que Maria desse à luz em terras da Madeira?... Em terras de Machico?... Em Água de Pena e no bairro da Bemposta?...
É o que vamos descobrir nestas comemorações do Parto de Maria.
Começamos a viagem na madrugada de amanhã, E lá estarão os Anjos com um solene pré-aviso aos Magos do Oriente:
        
Parai, parai, ó Reis Magos,
Sei que sois gente real
É no Bairro da Bemposta
Que Deus faz o seu Natal

Ali tendes uma gruta
Bem pintadinha por fora
Mas tirando as aparências
Muita pobreza ali mora

Abri os vossos tesouros
Dai-lhe da vossa riqueza
Prao coração dai amor
Prá boca ponde-lhe a mesa


Eis a grande revelação para os Reis – e para todo o planeta: na singeleza dos bairros pode o Menino fazer o seu berço.
Água de Pena, terra polícroma, de sol e mar, de azul e verde. Ali chega o mundo inteiro pela porta do aeroporto. E por ali se soltam para muito longe milhares de madeirenses em busca de um pão menos duro!
Em ali nascendo o Libertador da Humanidade, com que olhar e coração enfrentaria o submundo inevitável que persegue as “ilhas” dentro de uma Ilha?... Que respostas públicas, assertivas e incisivas daria Ele aos seus ‘novos’ conterrâneos?... E os confrontos com os poderosos que fomentam a exclusão e a xenofobia  no mundo de hoje?...
É o que descobriremos daqui a poucas horas – 6 da madrugada – no templo e no adro da Ribeira Seca, com inspiração no nascimento de Jesus em Água de Pena. (foto)-

17.Dez.19
Martins Júnior

domingo, 15 de dezembro de 2019

MADEIRA PARTURIENTE… “ATÉ O BISPO AJUDOU”!


                                                               


Tudo tinha de convergir para a foz deste grande rio: a alegria pré-solar (antes que o sol nasça, ela já está) condimentada com a especiaria da descontracção e a noz-moscada dos badalos, chocalhos, búzios madrugadores e madrugadeiros. Enfim, a catarse colectiva – o elixir endémico de que tanto precisamos após doze meses de  canseiras ilhoas.
Pelo mesmo diapasão afinam as ‘barraquinhas do povo’, o circo, o Papai Noel e a Mãe-Natal, bombinhas, foguetinhos, caminhando tudo “100/à hora”,  para a super-paranóia pirotécnica, a maior do mundo.
 A religião tinha de marcar lugar. Ficar de fora seria pecado de mortal anti-patriotismo. Assim nasceu a Madeira Parturiente, com 800 horas grávidas de festa prazenteira, a que os licores típicos emprestam combustível q.b. O altar desce ao adro e os ‘ministros’ sacam foles dos acordeões e unhas dos rajões, tudo, em letra, para cantar o Parto. E onde antes se dizia, na gíria  dos arraiais, “Até o padre ajudou”,  passou-se a subir o nível e prestigiar a boda com um “Até o bispo ajudou”…
Faz bem à saúde física e mental tudo aquilo que une as pessoas, tudo o que as liberta e abraça. Mas há um mote, talvez um ponto de ordem que urge não esquecer, uma partitura regente de todo este bulício das gentes. É o Parto! Seria sumamente reconfortante ver e saborear o ritmo dos passos dessa jovem grávida (teria 16/17 anos) calcorreando os longos caminhos de Nazaré para Belém. É o que, da nossa parte, vamos tentar fazer: vê-la passar, senti-la chegar junto da nossa vizinhança, da nossa casa, oferecer-lhe até um berço onde reclinar o Menino. “Como se Ele nascesse aqui!”…
Tentaremos, ainda, abrir o nosso olhar, acompanhar com veneração e simpatia cada mulher grávida que circula em nossa terra e ver nela essa donzela judia que, após nove meses de gestação, deu ao mundo a hipótese fagueira de um Novo Mundo.
Assim será completa a nossa alegria. Porque o Parto – o histórico, o autêntico -  estará em construção até ao fim dos tempos!
Assim será completa a nossa alegria!

15.Dez.19
Martins Júnior     

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

QUE NATAL PARA OS JOVENS?


                                              

Foi animada e, sobretudo, elucidativa a reunião do arciprestado de Machico/Santa Cruz, realizada no templo e biblioteca da Ribeira Seca.
         Duas temáticas em confronto. De um lado, as preocupações dos párocos mais experientes, digamos que veteranos: “Quem é que vê  jovens interessados no ensino da religião nas escolas? Quem os vê na igreja? E quem os ensina?”… De outro lado, os clérigos menos rodados: “”É preciso usar bem os óleos do baptismo, marcar as confissões do Advento e da Quaresma, publicitar atempadamente os horários das missas do parto, organizar as procissões das velas no mês de Maio”. Os veteranos, “com um saber de experiência feito”, voltam à carga: “Mas o que mais se ‘vê’ é a sua ausência, o desinteresse dos jovens”.  Acede um outro, também veterano, entra no debate e sugere: “Há um outro dilema a montante. E é este: o que é que a Igreja tem para dar aos jovens de hoje?”.
         Embora transversal e omnipresente em todo o ano e em toda a vida, a questão formulada entre os colegas párocos suscitou-me, nesta quadra natalícia, a mesma incógnita: “Que tem o Natal a dizer aos jovens de hoje?... E que motivações lhes propõe a Igreja, enquanto mensageira e, de certo modo, delegada oficial do magno acontecimento?”…
         Se recorrermos às fontes inspiradoras e prenunciadoras da Grande Notícia, confrontamo-nos com dois cenários apelativos à juventude: primeiro, a beleza transbordante de um horizonte futuro, pleno de pujança e fertilidade, onde o amor e o fulgor brilham no cimo de cada montanha e abraçam toda a amplitude do globo terrestre. Um segundo projecto, vigoroso e libertador, sustenta o primeiro, apresentando-se como a factura pagante desse Mundo Novo: a fortaleza, a persistência, o arrojo e a entrega incondicional do Ser Humano na construção dessa nova era, incarnada no Natal de sempre. É em Isaías, Poeta e Profeta, que descobrimos a varanda de onde se avista o sonho antigo. E é em João, o Baptista, que se revela o lutador sem medo, austero, quer nos princípios quer no teor logístico quotidiano, no traje, na disciplina espartana dos costumes, quer ainda no intrépido afrontamento face ao corrupto poder instituído do governador Herodes. Os de ontem e os de hoje!
         Eis duas foças motrizes capazes de galvanizar a juventude! Há nelas um brilho mágico que agita o coração de um jovem garboso e decidido, nimbado “pela ânsia de subir, cobiça de transpor” (Goethe) até alcançar a estrela cimeira dos seus ideais. Há credos e há ideologias, portadoras desta dupla energia e de tal potência que atrai jovens generosos capazes de entregar a própria vida em prol de uma causa maior. Em contrapartida, a Igreja pouco mais oferece que o folclore paisagístico da ‘lapinha’, a opulência multicolor que sobredoura as avenidas, as missas do parto, cuja principal atracção nos adros não difere muito das ‘barraquinhas da (des)ordem’ e da poncha, nas praças do povo.
         Bem sei que o dia de aniversário não é palco de dramatização do aniversariante. Mas esquecê-lo e imobilizá-lo ao tronco de gráceis estatuetas ou de figurantes gigantões redundará em desprestígio da grande efeméride. Mais: é deixar de rastos pelo chão a nobre armadura dos heróis candidatos à vitória. O Natal não é só uma Criança!   
           
         13.12.19
         Martins Júnior

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

COMO SE ELE NASCESSE AQUI…



         Natais há muitos… Como os chapéus da feira.
         Há o Natal do das escadinhas, muito típico e muito nosso. Há o Natal do musgo e das ‘cabrinhas’ que cheiram a campo. Há o Natal da cidade, das barraquinhas, o Natal da poncha (Ah, que na cidade Natal sem poncha não é Natal), há o do bolo de mel e da ‘macia’. Ficam todos abraçados no Natal do Mercado. E na Consoada, onde o peru é rei e réu. Há ainda o pinheirinho que entrelaça o campo e a cidade. Há o Pai Natal, da chaminé, das prendas e do sapatinho. Que mais Natais navegam por esse mar fora?... Sim, há os das ‘missas do parto’, tão alienantes e anestésicos como os já ditos.
         Avança-se e entra-se numa dessas grutas mais sensíveis e temos o Natal do 25 de Dezembro, improvável porque convencional, o Natal de Belém, da Palestina, o de Maria e seu casto esposo José, o Natal dos pastores e das ovelhinhas, da vaca e do burrinho. E, no topo, o Natal das palhinhas e do Menino, de massa ou de pinho pintado, olhinhos ternos, rechonchudinho, (não há encanto maior!) fixando os anjinhos que lhe cantam por cima da cabeça como revoadas de chilreios em manhã de primavera.
         Tudo muito belo e divertido, a que a embriaguez das ‘mangueiras’ e dos néon´s emprestam a ‘pica’ que adormece as multidões!
         Mas haverá alguém por aí, com olhos de ver e ouvidos de entender, que sintonize o seu auto-receptor e capte a mensagem que vagueia no ar desde milénios à espera de quem a aceite e interprete: “Que veio fazer essa Criança a este planeta?”.
         Depois, para completar a resposta, confrontar-se-á com outra magna questão: “Poderia Ele, essa Criança, ter nascido na tua terra, na tua cidade, na tua aldeia?”.
         Será esse o mote para o nosso presépio, plasmado em relevo, luz e som:  “COMO SE ELE NASCESSE AQUI”…

         11.Dez.19
Martins Júnior

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

QUANDO O FIM JÁ É O PRINCÍPIO… BEM-VINDOS!


                                                        

Tal como os homens, também os factos não se medem aos palmos. Nem a sua real grandeza terá a medida da sua magnitude sísmica. Valem tão-só pelo muito ou pelo pouco que trazem dentro. Factos, pessoas, datas e coisas – em tudo – tudo está no invisível. E quanto maior a força do invisível mais bela e poderosa será a luminosidade da sua presença.
O ano de 2019, o último desta década, marcou o primeiro de uma renascença das mentalidades. Sobretudo, a nível ilhéu. Porque a mão de alguém desfez em pó o espesso negrume que ocultava aos madeirenses de boa-fé a luz que irradiava num pequeno vale dentro do grande vale de Machico. Alguém soprou o montão de cinzas que cobria o braseiro caloroso e fértil de um povo suburbano, quase rural.
Dezembro, terça-feira, dia 10!
O derradeiro mês do ano velho “virou Janeiro de Ano Novo, aliás, confirmou a viragem histórica já efectuada a meio de 2019. Amanhã, ao abrir da madrugada, o pequeno rincão da Ribeira Seca abrirá as portas da sua sala de visitas para receber o Arciprestado de Santa Cruz e Machico, isto é, todos os sacerdotes párocos das freguesias entre Caniço e Machico. Aparentemente e administrativamente, um acto rotativo e rotineiro que mensalmente passa por todas as circunscrições paroquiais desta área geográfica.
Nada de retumbante e espectacular aos olhos que apenas captam o visível e o aparente. São os que “olham e não vêem”. Mas para quem tem o cuidado de demorar-se um pouco (“o poeta em tudo se demora”) e mesmo não sendo poeta, há-de ler nas entrelinhas do invisível a Saudação que dirijo aos caros colegas visitantes que amanhã farão a sua recolecção mensal em terras da Ribeira Seca, coração dentro do coração de Machico:  
BEM-VINDOS, irmãos de missão e acção, a este vosso templo-presépio que, certamente nunca visitastes, por imposição injusta dos exclusores oficiais,
BEM-VINDOS às portas sempre abertas desta Casa-Comum, morada simbólica da Mãe, Senhora do Amparo, à qual os exclusores e-méritos não deixaram entrar a sua imagem. Entrai sem temor. Entrai pela mão de todo o Amor,
BEM-VINDOS a este “Chão Sagrado, Onde cantámos Vitória” , apesar da ocupação dos agentes da autoridade, durante 18 dias e 18 noites. Entrai. Respirai o ar puro da montanha e a força anímica da Liberdade,
 BEM-VINDOS porque ajudais a quebrar as grades da prisão onde os exclusores sacros nos quiseram manietar, sem o conseguir, pois nos sentimos sempre livres e como tais agimos, enquanto humanos e enquanto cristãos,
…………
Da minha parte, saúdo o Povo da Madeira e Porto Santo, os que olham o invisível, porque sei ser este o seu desejo – a pacificação das comunidades insulares, a libertação das mentalidades e o conforto de caminharmos juntos, em concórdia e júbilo, ao encontro da Felicidade Plena.
Aos dois amigos madeirenses, Padre Tavares Figueira e Padre José Luis Rodrigues (a que junto com toda a ternura o veterano professor, já falecido, Padre Alfredo Vieira de Freitas) eles, pedras de alicerce da nossa comunidade pelo apoio  e pela corajosa presença que nunca negaram ao Povo da Ribeira Seca.
Ao Senhor Bispo do Funchal – BEM-VINDO! – permita-me, em síntese, citar Paulo de Tarso, ressalvadas as legítimas assimetrias: “Por um só homem entrou a condenação no mundo. E por um só Homem entrou a salvação no mundo”!
Não fora o Segundo homem e a condenação do mundo pairava sobre esta comunidade… Só que a condenação dos homens significava para nós a Salvação de Deus!

09.Dez.19
Martins Júnior