sábado, 7 de dezembro de 2019

O SONHO DE UMA NOITE DE NATAL E A FRUSTRAÇÃO DE TODOS OS DIAS SEM NATAL


                                                            

        O Natal virou folhetim. Novela e folclore. Já ninguém passa sem ele. Até mesmo aqueles cujo credo passeia-se por outros valores – budistas, maometanos, agnósticos – até esses engrossam a manada festivaleira do folclore, dito natalício, embalados e anestesiados que vão na embriaguez multicolor do lampadário que toma conta das praças e rotundas. das avenidas e dos becos, onde sempre se aninha um simulacro de presépio para ilusão e surpresa do incauto transeunte,
         Por esta entrada, logo se adivinha que não é de novela nem de queima-foguetes a minha reflexão de hoje, inspirada nos textos do II Domingo preparatório do Natal. Muito ao contrário, é de inquietação e, mais que inquietação, é de frontal repúdio de todo o ‘feérico’ mural com que se pinta o Natal. É a abissal diferença que existe entre o sonho e a realidade.
         Vamos ao sonho. Houve, entre outros, um visionário de olhar penetrante, apanágio do espírito profético, que “viu” assim (e tornou público) o perfil do Líder criador do Natal futuro:
         Alguém, nascido da geração de Jessé, dotado de sabedoria e conhecimento, de conselho e  fortaleza, de ciência e justiça.  Será Juiz seguro, que não julgará pela aparência mas pela verdade de factos e pessoas. Afrontará e ferirá os tiranos e orgulhosos da terra, até implantar o reino da Justiça e do Direito”.
         Mas “viu” mais o Visionário Profeta  e não teve dúvidas ao anunciar que o Líder instauraria a apoteose inimaginável de uma “Nova Ordem” mundial, não só entre os homens, mas também no reino animal. Oiçamos:
         “O lobo habitará pacificamente com o cordeiro, o leopardo dormirá ao lado do cabrito, o leão e o vitelo comerão juntos, sem se agredirem. As próprias serpentes serão tão mansas que até uma criança desmamada poderá entrar nas suas cavernas, brincar com elas sem perigo de ser mordida”
Como analista da sociedade e conhecedor da dialéctica das relações humanas, o Vidente passa da linguagem metafórica ou da antevisão virtual para a realidade factual :
“Os habitantes do planeta não mais farão dano nem destruição entre si, nenhuma nação organizará treinos ou paradas de guerra, porque a Terra inteira ficará cheia da verdadeira ciência. Sob o estandarte do Líder (Ele será a bandeira dos povos) voltarão os exilados em paz às suas pátrias, todos os povos serão resgatados e acabar-se-ão todos os rancores e toda a inveja que destrói as nações”.
Eis o Natal – sonhado, inventado, programado por Isaías, 240 anos antes de chegar à Palestina o Desejado, o tal Líder anunciado!  Chegados que estamos ao Terceiro Milénio, alguém viu sombra desse sonho sobre este planeta que habitamos e conduzimos?...
O vaticínio de Isaías contava com o Deus Iahveh e o seu Messias para materializar a visão idílica do Profeta. Debalde. Impotentes, direi, alheios à arena dos mortais, eles não fizeram nada por isso. Nem farão. Os projectos humanos só braços humanos poderão realizá-los. A história o demonstra. Se o Mundo deu um passo em frentes fê-lo sob os pés calejados de homens e mulheres que nele se empenharam. E sofreram. Aí está o Nazareno, na sua vida existencial, concreta, a definir as linhas programáticas de acção. Ele cumpriu. E, para isso, pagou com a própria vida.
Hoje, aqui e agora, estão tantos braços erguidos, no trabalho, na ciência, na arte, nas praças públicas, lutando para que surja o Natal suspirado há milénios, desde que os humanos povoam a terra. Aí está Greta Thunberg e todos aqueles que em Madrid têm protestado, nestes dias, contra os ‘gigantes-monstros’ que matam o verdadeiro Natal dos povos. Aqui e agora, estamos nós, tentando tornar o sonho em realidade, ainda que saibamos que o Mundo continuará sempre em 24 de Dezembro…até ao fim dos tempos!
Apressemos o advento do Único, Autêntico 25 de Dezembro

07.Dez.19
Martins Júnior

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