segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O NATAL PROFÉTICO DE UM SÃO PATRIOTISMO



Após a longa viagem que os levou a Água de Pena, depois ao Santo da Serra e ao Porto da Cruz, os Três Reis atravessaram a perigosa rocha do Larano, tendo por guias os borracheiros do Norte carregadores de vinho, chegaram ao Caniçal e viram o Menino nascido numa canoa. Depois, depois… quem nos conta é o Narrador:

Vede a Estrela já em Machico
Caminhai sem medo algum
Lá está o desembarcadoro
Como esse não há nenhum

Acudiram logo os Anjos em pressurosa informação:
Abraçai essa baía
Atravessai-a com fé
Aqui jazem os amores
De Machim e Ana d’Arfet

E segui junto à Ribeira
Cantai-lhe as vossas canções
Como outrora já cantou
Álvares, o “Nosso Camões”

Catedral és tu, Machico,
Dentro de um vale outros vales
São arcos e são ogivas
Que curam os vossos males

Onde houver duas ribeiras
Numa ponte entrelaçadas
Guinai à vossa direita
Subi por essas calçadas

Não obstante o peso do cansaço, a custo subiram o velho empedrado do estreito caminho que os levou atá ao coração de Machico, a Ribeira Seca. E, à uma, exclamaram:
Agora, sim, aqui vemos
Na concha do vale enorme
O Imperador do mundo
Nas palhinhas sonha  e dorme

Ao som que vem da Ribeira
O Menino sonha e canta:
Dizem que a Ribeira é Seca
Mas p’ra Mim ela é a mais santa

Faz com que as forças do mal
Nunca nos matem nem vençam
A Machico e ao Mundo inteiro
Jesus, deita a tua bênção

Feita a adoração dos Magos e a sua profissão de fé no Menino renascido, os céus abriram.se e logo surgiram os Anjos Mensageiros, apostrofando os descrentes em alta voz:
Onde estais, padres de Roma,
Fugistes mesmo a sério?
Trazei o Papa e o Bispo
Venham ver este mistério

Deitem fora esse orgulho
Essas mitras, essas togas
Não sejais novos Caifás
Das antigas sinagogas

E vós, Reis do Oriente,
Ganhastes esta vitória
Jesus nasceu em Machico
In excelsis Glória Glória
Ide reencontrar Jesus
Noutra terra e noutra história

No epílogo deste longo percurso, fica-nos a lição de Machico, marco primeiro das Descobertas e, com isso, o brio patriótico de quem pertence a este solo mátrio, tal como o Nazareno nutriu pela sua cidade capital de Jerusalém. Excluindo liminarmente quaisquer resíduos de nacionalismos ou regionalismos exacerbados, impõe-se-nos a nós, herdeiros da Primeira Capitania da Madeira, uma inteira prestação de serviços à grei a que pertencemos, até merecermos dos nossos vindouros o mesmo justo panegírico que Luis Vaz de Camões dedicou aos “varões assinalados” da velha Lusitânia: “Ditosa Pátria que tais filhos teve”!
Que a trajectória das chamadas “Missas do Parto”, em que acompanhámos os Três Reis do Oriente na demanda do velho casebre em que nasceu o Libertador da Humanidade, nos transporte ao mundo da reconciliação, do amor e da construção do sonho infante. É o que rentaremos programar amanhã, 24 de Dezembro, pelas 6 horas da madrugada,  neste recanto bucólico em que Jesus também “nasce” em cada dia que passa.

23.Dez.19
Martins Júnior

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