sábado, 29 de fevereiro de 2020

MADEIRA EM BELÉM

                                                       
       
          É fim de Fevereiro. Desta vez um fim quadriplicado, porque o dia 29 só faz sua aparição de quatro em quatro anos. É ano bissexto e na gíria da superstição popular ano bissexto é ano de mau agoiro. Hoje, porém, o prenúncio agoirento transmutou-se em boa estreia de primavera antecipada.
        Aconteceu em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, na emblemática e inspiradora Sala Sophia de Melo Breyner.
   Parcelas da Ilha desceram à Capital Lusíada. Cenas inéditas da narrativa insular perpassaram no prestigiado anfiteatro lisboeta – o CCB – perante um vasto auditório que seguiu entusiasticamente  a partilha de ideias, emoções e perspectivas sobre Igreja e Revolução de Abril, o papel do Povo nas lutas pela extinção do “leonino contrato da colonia” - uma variante da antiga enfiteuse que reduzia os colonos camponeses à condição de servos da gleba e que vigorou na Madeira desde o início do século XVI até Abril de 1974. Questões bíblicas, entre as quais o posicionamento de subalternidade da Mulher nos textos, ditos sagrados, os mitos inconscientemente aceites pelos crentes como preceitos divinos e, ainda, a participação da Igreja, via capelães militares, na ignominiosa guerra colonial. Lugar relevante ocupou o esforço do Papa Francisco na libertação holística da Igreja Vaticana, sendo desejável, (embora não passe de uma utopia!), que o Chefe da Igreja Católica renunciasse oficialmente ao estatuto de Chefe de Estado, expurgando-a assim da incestuosa promiscuidade em que actualmente se retorce.
                                               
        Mais que a praxe costumeira, cumpre-me o dever e o prazer de congratular-me e agradecer à Prof. Doutora Raquel Varela, autora das “Conversas com história, quinzenalmente aos sábados no CCB” e moderadora do encontro, à Administração do mesmo CCB e a todos quantos partilharam comigo a serenidade dinâmica de uma tarde do 29 de Fevereiro em terro continental,  expressão de contributo mútuo, não só no âmbito da portugalidade, mas sobretudo no horizonte e na vivência da mais pura Humanidade.

29.Fev./01.Mar.20
Martins Júnior 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

ENTRE O DOBRAR E O REPICAR DOS SINOS: 35 ANOS!


                                                       

Entre o luto e a Vida!… Entre a luta e a Glória… Entre a derrota e a Vitória!... Entre o pranto e o Canto!... Entre a escravidão e a Liberdade!...
         Estes e todos os títulos sinónimos seriam as luvas brancas para fazer brilhar as mãos doloridas de um Povo. Todos caberiam no alçado frontal deste dia: 27 de Fevereiro – a manhã sombria de 1985, aquela que abriu o livro para que o Povo sofrido pudesse escrever a breve-longa odisseia de uma história que, sendo sua, merece compartilhá-la ao mundo, de boca em boca.
         PARA QUE O MUNDO NÃO ESQUEÇA!!!
         E NUNCA MAIS SE REPITA!
                                                                 

         Esta amálgama de manchetes dos jornais da época, todos de Portugal Continental, faz retumbar o silêncio dos congéneres do Portugal Insular, aqui na ilha. Razão pela qual levantei a voz em plena Assembleia Regional da Madeira, denunciando o colaboracionismo entre os órgãos informativos e os órgãos do poder executivo madeirense, conluiado com o poder religioso regional.
Todos os anos está viva esta data no coração desta comunidade. Quase sempre, anos de luto, de humilhação pública, de ostracismo por parte dos poderes oficiais. Este ano, porém, (o primeiro em liberdade plena) o novo carrilhão dos sinos da Ribeira Seca já não dobrou a finados, mas repicou em todo o vale o glorioso Hino da Alegria. A Liberdade que o Povo conquistou a pulso viu a sua confirmação formal, “Urbi et Orbi”,  mercê da justíssima decisão do novo bispo Nuno Brás: 35 anos depois!
Vivos estão também - e andam por aí com um despudor de fazer corar -  os assaltantes, titulares então do poder político e do poder religioso católico. Chamo assaltantes sem lei porque tudo fizeram sem mandato judicial: foi a barbárie urbana caída em cima de um povo rural e humilde, por isso mesmo, indefeso: 70 agentes policiais durante 18 dias e 18 noites a tomar conta de um templo modesto!
         Na reflexão desta manhã, leu-se o discurso de Gamaliel no Sinédrio de Jerusalém quando, após sucessivas sentenças de prisão,  os juízes e sumos sacerdotes pretendiam matar os Apóstolos mensageiros da Nova Notícia do Nazareno. Dizia  Gamaliel aos seus pares: “Não vos meteis com essa gente. Se essa campanha (apostólica) for obra dos homens, depressa vai cair por terra. Mas se vem de Deus, não conseguireis destruí-la, jamais. Tomai cuidado”! (Act.5, 25 sgs).
E o resultado foi patente: caíram eles, os juízes e sumos sacerdotes, mas a Boa Notícia ou “Boa Nova” ficou de pé, sempre de pé! Aqui, no Portugal Insular, os assaltantes oficiais já caíram do trono, mas o Povo e o templo da Ribeira Seca ficaram e estão sempre de pé! Alleluia!!!

27.Fev.20
Martins Júnior

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

LENGA-LENGA EM JEITO DE "RAPPER" PARA UM FIM DE CARNAVAL – O CIRCO AMBULANTE


                                                           
       
“Se em Roma, deves ser romano”, no carnaval terás de ser carnavaleiro, batuqueiro, folião e ‘folieiro’. Foi o que fiz hoje, como há quatro anos. Meti-me no blog  das trupes, não daqueles estereotipados manequins mal tirados dos sambódromos cariocas, mas dos portuguesíssimos e apimentadíssimos circos ambulantes tipo Torres Vedras, Mealhada e afins. E porque na ilha, devo ser ilhéu, optei pelo nosso típico “Trapalhão”, o genuíno e libérrimo rinchar do povo madeirense, onde entram os títeres do ano inteiro, enfatuados e/ou embalsamados nos gabinetes, mas hoje despidos e/ou travestidos de palhaços sem vergonha. Ei-los:   

Abram as grades da rua
O circo vai  arrancar
Este é o circo circulante

E o carrossel ambulante
Já começou a rodar

No circo dos mascarados
Toda a gente tem lugar
E quer queiram quer não queiram
Todos  aqui vão entrar

Já chegámos à rotunda                   
E a seguir ao cruzamento
No meio da barafunda
Quem há-de ser o primeiro
A entrar em andamento
No carrossel  ligeiro
Do carnaval embusteiro

Olha ali um sinaleiro
Boa máscara apresenta
Agarra-lhe pelo traseiro
E trá-lo p’rá nossa tenda

Roda roda  carrocel
Passa perto do quartel
Agarra-me  o coronel
Mais aquele general
Eles ’stão mesmo a calhar
Para entrar no redondel
Deste nosso carnaval
A máscara vamos tirá-la
Ninguém mais lhes bate a pala
Nem o mais reles magala
Deste circo saltimbanco

E depois dum solavanco
A carroça entra no banco
Do divino Espír’to Santo
Deixa a pombinha divina
E agarra-se à garganta
Dos gordos e dos Salgados
Puxa-lhes  pela gravata
E lá vêm arrastados
Deitar o ouro e a prata
Por eles sempre roubados
E toda a vida guardados
No paiol que a todos mata.
Deixa-os entrar
E dá-lhes um bom lugar

Sem saber onde passava
O circo do carnaval
Deu com a roda da frente
Na barra do tribunal
Era mesmo o que faltava
Ter a ponta do nariz 
Na mão do doutor juiz
Mas quem ali deu a sentença
Foi o chaufeur do “horário”
Destemido e temerário
Trouxe o juiz pela toga
E quase que o afoga
Mais o ruim secretário
Ambos dentro do armário
Dos processos arquivados
E a seguir os meirinhos
Com os doutos advogados
Forrados de calhamaços
Mas lá dentro encadernados
Com notas e cheques falsos
Que  a Justiça não se engana
Quando os trata por palhaços.
Todos bem assentadinhos
Nas poltronas lá do fundo
Mudos como pintainhos
Que mais justinhos não há
Na carcaça deste  mundo

Feita a prisão do juiz
O empresário do circo
Passou-se dos seus carris
Sem travões nem guarda-freios
E sem saber com que meios
Atirou-se aos ministérios
Espojados nos terreiros
Dos Paços de Portugal
Começou o arraial
Entre touros e toureiros
Com D. José cavaleiro
A olhar do seu cavalo
A saída dos ministros
Todos sisudos sinistros
Para a carreta-mistério
Que tanto dá p’rá cadeia
Como dá  p’rao cemitério
Adeus máscara-sereia
Sempre de carteira cheia
Que deixei no ministério

E da Praça do Comércio
Como da Quinta Vigia
Chegou ao adro da Sé
Onde a missa de água-pé
Do Bispo e do Cardeal
Lhes dava aquele ar solene
Do mais sacro lausperene
Em dia pontifical

Lá foi o nosso empresário
Do circo extraordinário
Interrompeu o ritual
Das mitras e solidéus
Meteu Bispo e Cardeal
No carrocel dos réus
Deste estranho carnaval

Lembrou-se de ir até Roma
Mas a viagem era cara
Para arrancar a tiara
Da cabeça que usara
O Papa da cristandade
Porque tão crua  vaidade
Só cheirava a falsidade

Mas lembrou-se de outro homem
Homem chamado Francisco
Que afrontou este risco
De mostrar à humanidade
Que o Vaticano era cisco.
Então o trem carnaval
Poupou a veste  papal
Transparente e natural
Como a flor da humildade
E a brancura da verdade

Faltava no carrocel
O longo e negro tropel
Dos que trazem no turbante
Em nome de Maomé
A bomba  a que chamam fé
 Essa máscara fulminante
Pior no mundo não há
Que mata no mesmo instante
O velhinho e o infante
E sempre em nome de Alá

E muitos outros faltavam
Na carreta circulante
Deste circo ambulante
Mas tão depressa se encheu
Como no tempo da crise
Que todo o público restante
Ficou para outra reprise
Quem não foi neste momento
Aguarde o desdobramento

Então o chefe Circão
Já dentro do carroção
Ergueu a voz de trovão
E disse: Tudo em sentido!
E logo tudo seguido:
Tirem roupas e roupão
E mandem tudo p’rao chão
Seja obeso ou marreco
Aqui dentro fica tudo
Como na praia do Meco

O sinaleiro despido
Caíu-lhe o coração
O general abatido
Nuzinho como um anão
O cardeal e o bispo
Mais murchos que um sacristão
Juízes e advogados
Arguidos sem perdão
Salgados e Banifados
Sujeitos a água e pão
E os ministros então
Acabaram na prisão.

E sempre o grande Circão:
Acabou-se o carnaval
Das máscaras da ilusão
Com que enganastes o mundo:
Vós de bíblia e de sermão
Vós de leis de papelão
Vós de cheques ao balcão
Vós de G3 e canhão
Aprendei esta lição:
Só tereis a remissão
Em outra reincarnação
Começai a penitência
Com jejum e abstinência
Na Quarta-feira das Cinzas
Cinzas do vosso caixão

Tirem já todo o disfarce
Saibam despir-se e amar-se
Despir-se das lantejoulas
Das malas-artes e tolas
Para amar-se  noutra esfera
Onde vos chama e espera
A Marcha da Primavera

25.Fev.20
Martins Júnior




domingo, 23 de fevereiro de 2020

HOJE OS EXTREMOS TOCAM-SE: UM OUTRO CARNAVAL


                                                       
 
    O vento ligeiro, quase atrevido, deste fim-de-semana baralhou serpentinas e lantejoulas dos corsos carnavalescos, arrastou-as noite dentro e  por aí andam  no torvelinho batuqueiro, sustentado pela simiesca pobreza de só imitar os sambódromos cariocas. O costumeiro tapume de que “É carnaval, ninguém leva a mal”, não chega para esconder a falta de imaginação criativa na concepção de cenários  e na  execução de músicas originais e coreografias “marca Madeira”, mais nossas que abrasileiradas.
         Machico também viveu o “seu” carnaval. Digo “seu”, porque a par das manifestações estrangeiradas, importadas da capital madeirense, assistiu-se a um desfile diversificado, pitoresco, nalguns casos com mensagens positivas, artisticamente pinceladas daquele “piripiri” saudável, na linha do velho ditado Ridendo castigo mores. Parabéns aos seus promotores e participantes.
         Mas hoje, 23 de Fevereiro, a euforia ensurdecedora do cortejo não conseguiu abafar uma voz e uma personalidade que permanecem vivas, sobretudo nesta estância nascente da ilha. Refiro-me a José Afonso que todos os anos é recordado em Machico. Neste ano, pela coincidência de datas, a evocação de Zeca Afonso realizou-se em ambiente mais intimista, fora do bulício carnavalesco. Por isso, aqui deixo assinalado o nosso reconhecimento por aquele que, passados 33 anos sobre a sua morte, continua presente nos nossos ideais e nos nossos feitos. Impossível findar este dia sem lembrá-lo, “vê-lo”, ali no centro da nossa cidade, abraçado à estátua de Tristão Vaz Teixeira e a cantar na sua voz inconfundível o pregão mensageiro da libertação de Portugal: “Grândola, Vila Morena”. Foi aqui, em Machico, 1976!
         Chegando a casa, puxei da estante um dos volumes da obra de Zeca Afonso, li, reli e, de um salto, ocorreu-me esta quase paradoxal conclusão: afinal, ninguém (ou muito poucos) como ele, seria capaz de criar um extraordinário corso carnavalesco, em que entrariam todos os tipos sociais, uma galeria completa dos,  vulgo dictu, crómos da nossa praça, num contraste singular  que teria tanto de divertido como de cáustico e galvanizador. Convido a quem tiver oportunidade  percorra os títulos das suas composições e há-de aí encontrar a confirmação deste meu palpite.
         De entre todos, porém, escolheria o persuasivo “librete” denominado Os Vampiros. Oh grande Zeca! Estou a ver o solene cortejo desse “bando, com pés de veludo, vestidos de mordomos (do mais fino smoking),agachados, de cócoras até, chupando o sangue fresco da manada”. Vê-los-íamos, os senhores “mandadores sem lei, batendo as asas pela noite calada (como fantasmas assaltantes) poisam nos prédio, poisam nas calçadas, enchem as tulhas, bebem vinho novo, dançando a ronda no pinhal do rei”, no palácio de governantes”. Soberbamente divertido, embora provocatório, seria  vê-los entrar nas casas particulares e, sem pedir licença, ouvir Zeca Afonso a denunciar: “Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”.
         Desculpar-me-á o Grande Cantor da Liberdade esta colagem cirúrgica à sua obra. Mas, tudo bem interpretado, o que ele habilmente realizou foi  interpretar (e nalguns casos desmascarar) o carnaval da vida numa sociedade hipócrita, falsa, demagógica – tão envernizada e fictícia como os três dias do carnaval de rua.   
         Dentro ou fora de carnavais, Zeca Afonso sempre connosco, cantando juntos o alvor de novos dias, porque nós todos “Somos os Filhos da Madrugada!”.
        
         23.Fev.20
Martins Júnior

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

CONTRA A NEUROSE GLOBAL – A JUVETERAPIA MUSICAL


                                                                    

        Será este, talvez,  o maior preito de gratidão que posso endereçar ao Concerto comemorativo das Bodas de Prata do Conservatório em Machico. Quando me preparava para identificar a “personalidade neurótica do nosso tempo” (tantas e tão depressivas têm sido as convulsões sociais que ultimamente nos batem à porta) eis que sinto os passos correr para a zona ribeirinha deste vale, onde as mãos mágicas de seis dezenas de crianças e jovens afastam todo o negrume que paira sob o firmamento envolvente de cada dia e de cada noite.
         São os 25 anos de vida da, inicialmente, denominada “Extensão do Conservatório-Escola das Artes da Madeira”  no concelho de Machico.
         Porque o que é Belo, mais que para descrevê-lo, existe para contemplá-lo e assimilá-lo na mais inefável intimidade do ser, aqui deixo e partilho generosamente os eflúvios sonoros saídos dos dedos e da alma dos artistas, escassos de dorso, mas amplos de talento, nesta noite de sonho consciente.
Sem destacar nenhum, porque destacáveis todos serão, direi que ali abriu-se a enciclopédia dos sons, desde os metais, ao arco e à percussão, culminando na grande apoteose que tornou irmãos gémeos os instrumentos e as vozes, naquela osmose esvoaçante que roçou os olhos e ouvidos, até penetrar plenamente o coração dos espectadores, como um banho de inocência e primavera antecipada. Enfim, foi um banho de saúde mental e emocional que, mesmo àqueles que já ultrapassaram décadas, lustros e quase um século, nos transfigurou nas crianças e nos jovens executantes em palco.
Parabéns aos mestres, aos pais, à sociedade que estimula e alimenta o espírito da Arte nos seus mais delicados rebentos, promessas de ouro para os tempos futuros. Parabéns também a tantos outros obreiros que, na silenciosa modéstia dos seu meio ambiente e longe das luzes da ribalta, promovem a  “Divina Arte” no espírito e na raiz do povo chão, quer através da música popular, quer no conhecimento dos grandes clássicos, como Beethoven, Mozart, Bizet.
Todos – mestres, alunos, espectadores – contribuem para o bem-estar social, contrariando e curando a “personalidade neurótica do nosso tempo”, como o definiu Karen Horney.
Bem Haja a Musicoterapia! E Maior e Melhor a JUVETERAPIA!!!
21.Fev.20
         Martins Júnior

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

“DEZ ANOS É MUITO TEMPO” – TEMPO QUE NÃO ENVELHECE


                                                               

Passando a ponte do 19 para o 20 de Fevereiro, batem as badaladas na rua e a rebate estalam trovões, fustigados por relâmpagos nos corações. No meu também. E por mais dramáticos que se apresentem os alicerces do mundo aqui e além, não é possível esquecer esta noite que culminou na tragédia – nas muitas tragédias -  de 2010, aqui no coração da ilha. Por isso, revejo e ressinto a elegia que então curti no mais íntimo de mim mesmo. Fico-me, assim enrodilhado no manto de luto das vítimas inocentes, mas protestando contra os responsáveis que, em termos de prevenção, chegam sempre tarde. Acima de tudo, porém, hoje como ontem, espero que em cada um de nós, todos os dias,  renasça o espírito do   “Infante de Sagres e do velho Marquês p’ra levantar dos escombros,  de Lisboa ou do Funchal,  um Povo que é português, a força que é Portugal”!

     TRAGÉDIA  RODAVANTE

Furor
Das águas bravas
Onde estavas
Ou dormias
Oh Velho Adamastor
Das illhas mansas,
Sadias.

Donde vieste
De qual cerro ou cume
Tume batume tume
Tumescente agreste
Desterrando o velho
Enterrando o menino
Oh belo horrível
Loucura e desatino
Oh caixa de Pandora!

Não chamem Deus
Nem a Senhora
Nem Júpiter nem Zeus
Que o mar e o trovão
Planetário em turbilhão
São amados filhos seus.

Velha matrona, ilha bendita
Tiveste a dita
De voltar à ilha virgem
Do seio furibundo
Da criação do mundo

E … oh  prole maldita
Estirpe mole  e cobarde
Que chega sempre tarde
Ao tormentoso cabo da vida

Madeirense mareante
Que mesmo gemendo mão teme
Faz-te ao largo agarra o leme
Gente firme  Povo atlante,
Rodavante  rodavante !

E Machico tem
Machico sabe
Que o Cristo dos Milagres
Não quer que o mar adormeça
Nem quer que o fogo se acabe

Venha um Infante de Sagres
Renasça o velho Marquês
Pra levantar dos escombros
De Lisboa ou do Funchal
Um Povo que é português
A força que é Portugal !


20.Fev.2010 – 19/20.Fev.2020