sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

SUCESSÃO DE PONTES

                                                                


\Enquanto balonas e foguetões dinamitam de pólvora  e apoteose os céus da ilha, transporto a 83ª ponte, na minha conta pessoal.

Não esqueço, porém - porque sinto-as – as centenas, milhares, milhões, biliões de pontes que outros transportaram até chegar a minha vez.

Saberá cada um de nós que nos pilares da nossa ponte outros assentarão as suas, as pontes do futuro?...

Faço minhas as palavras do sábio epidemiologista: “Temos vivido num individualismo feroz, um individualismo suicida”.

Às quais junto o olhar de Francisco Papa: “Esta é a nossa Casa Comum”.

São os meus votos primeiros para 2022!

 

31.Dez.21-1.Jan22

Martins Júnior

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O VERDADEIRO PÓDIO DOS “DESMOND TUTU’S”

                                                                              


No hiper-mercado do Natal, há bancas para todos os gostos, todas elas  esmaltadas, engrinaldadas, super-estonteantes de volutas néon e lantejoulas pré-réveillon, adequadas como fatos-à-medida de cada cliente carente de hipnose efémera ou de alienação catártica. Todos têm direito a optar. Da minha parte, viajo ainda nas ondas do Mar Vermelho-Negro da vida e morte do Grande Líder sócio-evangélico da África do Sul.

Ficaria claudicado – e, mais que isso, seria de uma tremenda injustiça – o comentário final do último texto aqui reproduzido, tendo como pano de fundo o merecido preito de homenagem e gratidão ao Arcebispo anglicano Desmond Tutu, por ocasião da sua morte em 26 de Dezembrop.p..

Numa abstração-síntese da realidade, coloquei lado a lado quatro efígies ou modelos de Cristos, supostamente representativos daquela Criança atirada para um estábulo de animais, nas campinas de Belém. São eles: o Cristo Anglicano, Sul-Africano (protótipo de Desmond Tutu), o Cristo Romano e o Cristo Insulano, o da Ilha nossa, o Cristo regional, cada qual com a dimensão e a caracterização daqueles que se dizem seus representantes ou procuradores na terra.

Cheguei à conclusão (e mantenho-a) da ficção falaciosa que tem sido arvorada no “Capitólio Vaticano”, ao longo dos séculos, aliado dos poderosos e fautores dos colonialismos europeus face a outros continentes, sob o signo da missionação. A leonina legislação do malfadado “Padroado Português” foi bem o cutelo de morte de uma Igreja que, em vez de proteger os indígenas indefesos, pôs-se muda e comparsa ao serviço do Império Colonial, obrigando – cúmulo da desenvangelização! - os padres-capelães a alistar-se no Exército perseguidor e destruidor dos pobres africanos, desde 1961 a 1974. Também me coube essa vergonhosa desdita…

No entanto, cumpre-me fazer justiça e enaltecer a plêiade de bispos e padres que cumpriram, com dor e paixão, o mandato do Nazareno, quer em África, quer no Brasil, quer em Portugal. Recordo Sebastião Soares de Resende, na Beira, Manuel Vieira Pinto, em Nampula, dois homens na mira do regime salazarista. Manuel Vieira Pinto, idolatrado pela população moçambicana, foi expulso da sua diocese, antes de 1974, e só lá voltou após a independência de Moçambique, a pedido do presidente Samora Machel.

 No Brasil, eminentes vultos da Igreja (quase sempre olhados com desconfiança pelo Vaticano) deram corpo e alma pelas justas causas do povo, arrostando com perseguições, calúnias e prisões. Cito António Fragoso, do Nordeste, e aqueles que conheci pessoalmente: o bispo Calheiros, de Volta Redonda, a quem o governo da ditadura militar instaurou três processos judiciais. Em Olinda e Recife, ouvi eu da boca desse  “Novo Paulo Apóstolo”, Hélder da Câmara, desafiar o mesmo governo, em 1972, perante uma numerosa multidão que comemorava o “7 de Setembro”, Dia da Independência: “O governo diz que sou contra o progresso do Brasil, mas está enganado. Nós queremos o progresso do Brasil, mas nesta condição: Um Brasil pelos brasileiros, com os brasileiros e para os brasileiros”.

Poderia trazer à colação muitas outras figuras heróicas na defesa dos Direitos Humanos, tal como fez Desmond Tutu. Em Portugal cito, por todos, o bispo António Ferreira Gomes, do Porto, expulso de Portugal por ordem de Salazar, pelo facto de, em Carta Aberta, ter tomado a defesa dos camponeses da sua diocese. Só lá voltou após o 25 de Abril de 1974.

Gente firme e valorosa que obedeceu à Palavra do Jesus de Belém e não à Igreja dos homens, na esteira de Pedro e João diante do Sinédrio da religião judaica. Gente de “Um só Rosto e de uma só Fé”, mas que só encontrou indiferença e condenação por parte do “Capitólio Vaticano”!

Estes homens – e mulheres, também as houve – ultrapassam a Instituição e nada têm a ver com a duplicidade contraditória e a hipocrisia diplomática de que são formatados os núncios apostólicos, embaixadores de Roma. É outro o seu percurso, reflexo da Criança-protagonista do Natal, Aquele que um dia deu aos seus colaboradores este princípio constitucional: “Que a vossa linguagem seja esta: Sim, Sim – Não, Não”!

Ou como afirmou um dia, de forma lapidar, Desmond Tutu: “Quando você diz que é neutro em relação a uma injustiça ou a uma opressão, isso quer dizer que você já decidiu estar do lado do opressor”!

E eu permito-me interpelar os Códigos da (in)Civilidade político-social: Quando está em  causa a luta entre a Justiça e a injustiça, por que razão só entram nela as vítimas, os sindicatos, as organizações laicas?... Não deverá a Igreja perfilar-se na linha da frente?... Oiçam Francisco Papa!... Façamos Natal, o verdadeiro Natal!

 

29.Dez.21

Martins Júnior

 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

DESMOND TUTU E A QUADRATURA DOS CRISTOS: O SUL-AFRICANO, O ANGLICANO, O ROMANO E O INSULANO

                                                             


                        

            Se “morrer é só deixar de ser visto”, como afiançou Fernando Pessoa, pode então seguramente dizer-se que Desmond Tutu não morreu, Vemo-lo todos os dias no seu vigor energético e na transparência quase infantil da sua emotividade sempre que os Direitos Humanos lhe entregam a defesa dos seus princípios e exigências.

         Tal como a de Nelson Mandela, será inapagável a imagem daquele homem franzino, por vezes desajeitado na explosão da palavra e da alegria. Casado com Namoli Leah Senxane, a quem deu quatro filhos, lutou desde a  juventude, como professor, não só pela emancipação dos negros contra o ‘apartheid’ mas também pelo tratamento igualitário dos sul-africanos, a vários níveis. Entendeu o espírito da mensagem evangélica e aos que o acusavam de agitador político respondia: “Eu não pregoo um evangelho social, eu prego o Evangelho nas suas múltiplas dimensões. Quando as pessoas estavam com fome Jesus não pôs a questão se era política ou social. Deu-lhes de comer. Para uma pessoa com fome, a boa notícia ou boa nova chama-se pão”.

         Desmond Tutu encontrava no rasto de Jesus de Nazaré a força necessária para tomar posição perante os problemas que atormentavam os seus compatriotas, esmagados que estavam sob a férrea ditadura colonialista. E traduziu em acções concretas aquilo que a experiência lhe ensinou e ele próprio escreveu “Quando você diz que é neutro em relação a uma injustiça ou a uma opressão, isso quer dizer que você já decidiu estar do lado do opressor”.

         Palavras que caem como  estrelas para uns e como pedras contundentes para outros! Quem assim falou e fez nunca morre. Está presente em todos os dias e em todas as circunstâncias. Quando se refere ao proselitismo da missionação às populações africanas, Desmond Tutu é de uma agressividade igual ao realismo então vigente. Lembra a tenacidade do Nazareno, sem rodeios: “Quando os missionários chegaram à África, eles tinham a Bíblia e nós a terra. E disseram-nos:’Vamos rezar’. Fechámos os olhos. Mas quando os abrimos, verificámos que nós é que  ficámos com a Bíblia e eles com a terra”.

Desmond Tutu era um eclesiástico graduado em bispo ou arcebispo. À primeira vista, a Igreja Católica ficaria prestigiada com este tão exímio intérprete da doutrina do Mestre. Mas não. É protestante anglicano. E cristão. A sua vida e a sua morte remetem-nos para a práxis das muitas e variadas religiões oriundas do mesmo coração de Cristo.

O testemunho de Desmond Tutu interpela-nos para uma suposta quadratura dos Cristos. De entre os quatro, qual deles estará mais próximo do Original? … O Sul-africano anglicano corporizado em Desmond Tutu?... O romano, com o império e a opulência encriptadas no ‘Grande Capitólio’ do Vaticano, o qual, no caso português, esteve ao serviço do colonialismo inveterado durante séculos?... Ou o insulano (da Ilha nossa) cujos auto-classificados (e empoderados) representantes do mesmo Cristo foram despudoradamente subservientes aos poderes regionais, sobressaindo de vez em quandoo com a oferta de um anel à Virgem ou uma cruz de prata no ‘sapatinho’ do povo?...

 Grandes incógnitas – e decisivas – que Desmond Tutu nos deixa, como património espiritual  universal, intemporal!

Bem haja!...

 

27.Dez.21

Martins Júnior

sábado, 25 de dezembro de 2021

UM OUTRO NATAL…

                                                                              


Para nasceres inteiro e global

Só te faltou ser fruto puro natural

De um amor hebreu e uma paixão hebreia

E se eu fosse deus

Daria outra sentença de mão cheia:

“Só entrarei dentro de ti

Depois de consumado pleno sensual

O acto criador

Entre Maria plebeia e José davídico real…

À porta da alcova conjugal esperaria

Que a mãe saísse

Para vestir-te a carne os olhos os ossos

Diluir em ti  o Meu Espírito Total  

 

O mundo seria mais teu, sobre-humano,

E tu mais nosso, genuíno inteiro entre os nossos

 

Oh inaudita e perfeita hipostática união

Entre o aquém e o além

Milagre sempre vivo o do planeta-lago

Refletindo o Infinito sideral

Do Criador Divino Braço.

 

25.Dez.21

Martins Júnior

 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

AS PORTAS QUE DEZEMBRO ABRIU…

                                                                      


Vê-se logo a paridade semântica entre Dezembro e “As Portas que Abril abriu”, do estimado e malogrado José Carlos Ary dos Santos. A comprová-lo, cito as palavras de Paulo aos Gálatas: “Chegada a plenitude Deus mandou seu Filho, nascido de mulher e sujeito à Lei Judaica para dela libertar o seu Povo”.

O tempo estava suficientemente maduro e a seara pronta para a ceifa. Foi quando Ele apareceu. E reformulou os alicerces da sociedade. E libertou.

Dois hortos de introspeção séria e conclusiva:  O “Menino” Só na aparência poderia ser Criança, porque no seu mundo interior  - “já que era Deus” – possuía  o conhecimentos de todos os desenvolvimentos futuros acerca da sua pessoa e do mundo.

O outro meio ecológico da introspeção tem a ver com a afirmação do mesmo Apóstolo dos Gentios: “Jesus – igual a nós em tudo, menos no pecado”. Há, porém, uma grande incógnita no mais dentro da reflexão e tomo a liberdade de expressá-la: Preferiria que, em vez de uma entidade estranha a fecundar Maria, Jesus se apresentasse como fruto saboroso, porque natural, do amor pleno, partilhado entre Maria José. E no mais íntimo da gestação, o Deus Supremo viria insuflar o seu Espírito no novo ser. Esse seria o grande, incomensurável  milagre-mistério.

Mas já que assim não é, continuamos a marcha até Belém na JANGADA DE BASALTO, para ganharmos os revérberos do Espírito Global que povoou a Criança  recém-nascida e pretende encher da sua plenitude todos os  nascituros do planeta.

Pertençamos ao núcleo dos “Homens e Mulheres de Boa Vontade”!

 

23.Dez.21

Martins Júnior

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

NA INCERTEZA DAS VAGAS, VAI CONNOSCO O “CONSELHEIRO ADMIRÁVEL”…

                                                                       


A Nau vai de largada. Esta é já a sexta para a sétima lua de viagem. Ao ritmo das noites e ao som das canções de outrora, a JANGADA DE BASALTO ruma até à ‘Galileia dos Gentios’, ostentando no casco rochoso as marcas do Espírito – o Espírito do infante galileu adormecido na pele mas aceso e brilhante no seu íntimo.

Foi Isaías quem o predisse: “Ele terá o Espírito da Sabedoria e do Conhecimento, o Espírito da Fortaleza e do Conselho”.

Conselheiro Universal e Confidente singular, Ele é o protótipo de todos os Conselhos: desde as Nações Unidas aos Conselhos de Estado e aos Parlamentos concelhios! Penetra no Conselho da Família e faz-se Círculo de Luz nas sombrias estepes dos corações abatidos.

A Criança dorme apenas nas pálpebras, porque o seu olhar cativo e longínquo já está fora da gruta há muito tempo, E acompanha a marcha do tempo. Haja quem queira segui-lO e interiorizá-lO!

“Quem quiser venha connosco… até à lapa de Belém”.

É às seis horas da manhã, no recôndito coração do vale de Machico…

 

21.Dez.21

Martins Júnior  

domingo, 19 de dezembro de 2021

SEGURANÇA, FORTALEZA E AUTO-DEFESA ÀS PORTAS DE BELÉM

                                                                        


Se em tempo de guerra não se limpam armas, do mesmo jeito em tempo de Natal covidado não se tecem glosas. Bastar-nos-á olhar ‘com olhos de ver’ o contexto geo-sociográfico do acontecimento histórico para nos apercebermos da mundivisão e da estratégia comportamental que, no todo e na parte,  o “25 de Dezembro” tacitamente condensa.

Por isso, viajamos na JANGADA DE BASALTO rumo aos lugares, cujas pedras e areias servem de testemunhas oculares do grande feito do Nascimento. E assim em cada convés debruçamo-nos sobre o imenso oceano das mensagens que da caverna de Belém inundam os continentes e os silêncios em que vivemos. Ao ritmo das denominadas Missas do Parto, descobrimos o supremo valor da “Segurança”, em contraponto com a insegurança mundial, a instabilidade individual e colectiva que nos comprime no comum dias.

Apesar de inseguro fisicamente desde o primeiro instante de vida (ninguém lhe proporcionou um quarto, nem um desvão de escada sequer para nascer) até ao ultimo suspiro (expulso da terra para morrer), o Menino, o Nazareno ensinou-nos a cultura da Segurança interior, sólida e permanente, pronta a agir no momento oportuno.

Aliado a este alicerce basilar da personalidade, a Criança de Belém ganhou e persistiu no Espírito de Fortaleza que, não só educa para o estatuto de Auto-Defesa, como estimula a motivação consciente de abater a prepotência dos altos penhascos e preencher as graves lacunas de que enfermam vales e comunidades. Foi o próprio Percursor quem o proclamou no deserto e os ventos do norte trouxeram até aos dias de hoje.

Eis, sucintamente e apenas como pista de reflexão dinâmica, a bandeira que colocamos nesta quinta enseada estacionária (a quinta Missa do Parto) para fortalecermos esta viagem breve até Belém e, com ela, debruçados no quinto convés da Jangada, alcançarmos aquele potencial de resiliência capaz de afrontar ciladas e voragens de que estão cheios o mundo e  vida.

 

19.Dez.21

Martins Júnior

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

“NO MEIO DE VÓS ESTÁ ALGUÉM QUE NÃO CONHECEIS”…

                                                                       


Da baía onde aportaram Tristão e Zargo no século XV

está hoje de partida a JANGADA DE BASALTO

rumo ao Mar da Galileia.

                 *** *** ***

Nove socalcos até à montanha

Nove dias e nove noites de vigília aberta

Nove luas de gestação ao encontro do Sol

Nove estâncias de uma Epopeia Maior

                   *** *** ***                      

Dentro dela vão

as flores e o perfume da paz

os frutos e o sabor da vida

a verde seara da espera

a terra e o suor de quem nela trabalha

o astrolábio da aventura

e o olhar do marinheiro

em luta com as vagas do futuro

 

Tudo cabe na

JANGADA DE BASALTO

porque dentro dela vem

A magia de Belém

 

                    Ribeira Seca, Missas do Parto, Natal de 2021

 

Nas duas primeiras estações da viagem, o único importante e necessário é conhecer a Criança e a sua Mãe, os protagonistas da história. Fôssemos nós jornalistas e interrogá-los-íamos nestes termos: “Que fazeis aqui?... Porquê e para quê deitar ao mundo esse Menino?”…

Bem o disse João, o austero baptizador do rio Jordão: “No meio de vós há alguém que não conheceis”!

Lá vamos cantando e rindo em louvor ao Eterno Menino, sem O conhecermos.

Tenho para mim que, para conhecer o Sol Nascente, o Jesus de Nazaré, é preciso ultrapassar  (talvez, esquecer) os figurinos que d’Ele nos traçam os inertes ‘representantes seus’, candidatos ao palácio do Vaticano em nome da manjedoura de Bèlém. No convés da JANGADA DE BASALTO viaja o Conhecimento. Viva!

 

         17.Dez.21

         Martins Júnior

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

DO DEZASSEIS AO DIA DE REIS

                                                                          


Chegados ao dezasseis, os corredores estampam no sinal vermelho: Parar!

Mudar de pneus, mudar de velocidade e mudar de direcção.

A tradição é quem mais ordena, seja qual o ritmo, as formas, as variantes, desde o campo à cidade.

Aqui, a Ilha tem nove degraus até ao 25 de Dezembro. Nove dias, nove noites, nove meses de gestação.

É o Parto sempre repetido e sempre anunciado.

Vamos subir alegremente os nove ‘poios’ da Ilha em altitude e fazer dela a “JANGADA DE BASALTO” rumo ao Mar da Galileia.

Quem quiser venha connosco.

E se não vier, esteja também connosco.

 

15.Dez.21

Martins Júnior   

  

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

FILHAS DE UM PAI INCÓGNITO ?!...

                                                                               


Quem diria que para substituir os espectáculos cancelados pela pandemia em redor da ilha, apressou-se a Casa Magna das Leis em abrir a ribalta e proporcionar aos madeirenses um teatrinho de revista ilhéu, protagonizado pelos detentores de ‘uma-unha-negra’ do poder regional e que dá pelo pomposo nome de Debate do Plano e Orçamento.

Quem por lá andou durante décadas não pode ficar indiferente ao nauseabundo tapete betuminoso em que a maioria de ‘uma-unha-negra’ transformou as delicadas poltronas dos seus deputados. Escuso-me a quaisquer comentários sobre o caso. Apenas quero protestar (e lamento não conseguir conter-me como mero espectador) contra o desplante cadavérico de um governo que, tendo sido condenado em tribunal a entregar aos municípios os milhões que tem retidos, reage como um incapaz desmemoriado. Falo do governo, porque os secretários são impotentes marionetes nos dedos desregulados do chefe.

Refiro-me a uma questão pertinente que o Deputado Alberto Olim formulou, com a exacta dignidade parlamentar, ao Secretário das Finanças: “V.Ex., como pessoa de bem, quando é que pensa cumprir a sentença do Tribunal Administrativo que mandou entregar aos municípios as verbas resultantes do ‘Iva’, referentes a 2009 e 2010?”.

  Por mais incrível que pareça, o novel Secretário (outro falsete mas a mesma batuta do anterior) não responde, emite fonemas saídos de um estranho ‘robot’: “Isso não é com este governo. É com o governo da República. Quem tem a tutela das autarquias é o Governo da República”.

Mas quem tem os 9 milhões é o Senhor! Entregue o que não é seu, restitua-o aos munícipes, porque  eles é que são o dono do dinheiro que o Senhor tem empancado nos cofres da Quinta Vigia!

A verba é diminuta em numerários, mas a fraude substantiva é enorme. Esse dinheiro foram os contribuintes que descontaram para os municípios e o governo é que o açambarcou e continua com ele, há 11 anos!. Quem pode suportar um tão afrontoso atentado ao bolso de cada madeirense residente no respectivo concelho? Esse dinheiro clama e os secretários e seus corifeus não podem dormir descansados enquanto não devolverem o seu a seu dono. O poder judicial já se pronunciou. Que mais esperam? Recursos?… Já chega de ‘Rendeiros’…

Também tenho o direito – mais que o direito, tenho o dever – de reclamar o que a todos pertence e é retido por um possuidor de má-fé, infiel depositário dos dinheiros públicos.

Perante respostas daquelas (mais que alarves, cínicas, pastosas) nem dá para perder mais tempo a seguir esse labirinto de falácias que a maioria de “uma-unha-negra” está a fazer do Debate sobre o Plano e Orçamento para 2022. Mísera paternidade política insular que faz das suas próprias autarquias “filhas de um pai incógnito”, desnaturado, fossilizado, incapaz!

       Autarcas madeirenses, despertai! Seja qual  a cor política, uni-vos, levantai mais alto a bandeira e a dignidade do Poder Local. Basta de humilhações e usurpações! O voto que vos escolheu é igual ao que escolheu o Governo Regional, o Primeiro Ministro, o Presidente da República!

 

13,Dez.21

Martins Júnior

sábado, 11 de dezembro de 2021

PRESÉPIOS VIVOS E MUSEUS DE CERA – OS VALORES!

                                                                                   


Quando entramos no natal damos o primeiro passo para a embriaguez do museu de cera, quer sejam gesso, barro ou porcelana os – sempre os mesmos – figurantes de cena: os ‘meninos-jesus’, os josés, as marias, as ovelhas, os camelos, os reis e os pastores. E com que havemos de encher os olhos senão com o mini ou macro-jardim zoológico à volta da gruta, desde a maior à mais modesta. A barafunda ambiente, desde as praças aos mercados e às igrejas, aos crismas, às missas do parto – tudo ajuda a mascarar o covid anunciado ou escondido que trazemos no rosto.

         Poucos são, decerto, os que perscrutam os presépios vivos, tanto o que trazem dentro de si como os da perdida paisagem à sua volta.  Porque é no íntimo desses presépios vivos que nascem e crescem os natais que nunca acabam. Por muitas e boas loas que se cantem, por mais ‘lapinhas’ que se apinhem à lareira ou fora dela, tudo passa tão volátil e fugaz que começamos já a pensar no natal do ano que vem.

         Mas onde estão, afinal, os valores perenes que fazem do Natal o chão que pisamos, o ar que respiramos, o abraço com que amamos?... Precisamente nos presépios vivos, aqueles que deixamos diluir e desaparecer no espectáculo dos presépios mortos, museus de cera à nossa beira.

         O LIVRO traz-nos  hoje e amanhã algumas amostras, que são outras tantas receitas, para nos assumirmos participantes activos, permanentes, desses presépios vivos.

         João, o Precursor, deambulava pelo deserto com a utopia de um mundo novo cravejada dentro do cérebro. E com tal entrega que  as multidões começaram a partilhar desse mesmo sonho tornado anseio colectivo. “Que havemos de fazer?, diz-nos João” – assim clamava a multidão.!

         “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem… E os que têm comida façam o mesmo… Os fiscais dos impostos não explorem o povo, não lhe roubem mais do que já está taxado… Os soldados não façam violência, não denunciem ninguém diante dos poderosos… Eu baptizo-vos em água, mas o que vale é o espírito”… (Lucas, 3, 10-17.).

         Numa sociedade de simulacros ou num anfiteatro de símbolos, nada mais devia interessa que os valores. Esses que o Precursor semeou no deserto: a justiça distributiva, (que não apenas caridade de supermercado) um imperativo interior do espírito (chamado consciência social) a abolição da violência (individual, doméstica, tribal ou transnacional), a liberdade de expressão sem receio de que haja represálias surdas ou manifestas.

         Se entrasse no templo de Jerusalém, o Precursor anteciparia “as imagens verdadeiras do presépio vivo” que o Nazereno viria a proclamar mais tarde.  De nada valem as burocracias sacramentais, vistosas e efémeras, baptismos, crismas, eucaristias, etc., sem os valores estruturais a criá-las e a consolidá-las!... Os valores humanos é que incarnam as virtualidades divinas!

         “A carne não serve para nada, o que conta é o espírito que dá vida” – bem explicitou o Mestre. Por isso, votos de Presépios Vivos, para sublimar os museus de cera “com que se o povo néscio se engana” e se diverte.

 

         11.Dez.21

         Martins Júnior

           

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

S.O.S. DIOCESANO ~~ QUEM ACODE ?

                                                                          


Longe de mim estava o sentar-me à mesa do telónio canónico para apontar no rol o “deve e o haver” da Fé dos madeirenses. Até porque e apesar de todos os constrangimentos,  a euforia natalícia é aquela vistosa onda em que todos nós surfamos rumo à praia do Mar da Galileia, onde já nos espera o Menino.

Essa não foi, porém, a opção do Prelado Regional. Nesta atmosfera envolvente de optimismo e esperança, ‘eis senão quando’ o nosso Bispo surge na ogiva gótica da toda a arquitectura sacra madeirense – a Sé Catedral – e proclama o que nunca tinha sido dito: “O enfraquecimento da Fé”. E, não se sabe se por efeito da pandemia, se da fosforescência da muita luz que ilumina o Funchal, o líder diocesano qualifica (ou requalifica) o enfraquecimento antepondo-lhe o adjectivo “claro”. Claro enfraquecimento da Fé ! – ipsis verbis.

         Devo dizer que subscrevo a análise em causa e mais relevo a coragem de quem a proferiu sem rodeios diante de uma assembleia bem composta na Festa da Imaculada Conceição. E acrescento: Até que enfim, começo a vislumbrar ao fundo do túnel uma chama bruxuleante daquilo que deveria seriamente afirmar-se como “O estado da Religião (ou da Fé) na Madeira”.

         Não será difícil descortinar nas palavras do Antístite uma abordagem da Religião ou da Fé em todo o mundo. Com efeito, a Igreja Católica tem vindo a sofrer, parece que em paralelo com a chamada “Democracia Cristã”, sucessivos revezes e notória perda de activos em todos os continentes, mormente na Europa. Mas o desabafo inserido na Casa-Mãe dos crentes ilhéus, mais a mais feito presencialmente à comunidade participante no solene acto litúrgico, não pode ter destinatário mais directo do que a Religião na Madeira.

Dois anos após a sua chegada, o responsável da Diocese está a dar-se conta da verdadeira dimensão da realidade regional, nesta área. Volto a congratular-me pela  nova “Descoberta” da paisagem regional, no tocante à vivência cristã e seus valores. Muito mais congratular-me-ia se fosse convocada essa magna assembleia, não apenas clerical, mas de todos os quadrantes sociais, para debater “O estado da Fé (ou da Religião) entre nós”. Ousaria propor que, no prosseguimento desta época da Sinodalidade, seria o dealbar de uma nova estação primaveril a realização do, chamemos assim, Sínodo estrutural da Igreja Madeirense.

Se tal acontecer e se tal me for permitido, carrearia alguns vectores incontornáveis para o cabal esclarecimento do “claro enfraquecimento da Fé” neste arquipélago.

         Entretanto vou reflectindo sobre temas de um quotidiano não muito distante. Para isso, seria necessário “puxar para trás”, rebobinar o filme e ver a subserviência da Igreja regional ao poder político, fazedor de templos, capelas e casas paroquiais,  mas destruidor da identidade cristã dos praticantes. O domínio político foi ao ponto de açambarcar o único órgão diário de comunicação social da Igreja e fazer dele um pasquim de propaganda partidária. O devocionário popular madeirense esteve (ou estará) sobejas vezes misturado com a espectacularidade e o folclore, subalternizando o cerne interior do exercício ou das festas alegadamente litúrgicas. A sobrecarga de várias paróquias para um só sacerdote faz dos párocos (dizia-nos um colega) tarefeiros ou “bombeiros de serviço”, escasseando o tempo para a leitura e para a sustentabilidade cultural e espiritual dos próprios. Por outro lado, será de evitar uma certa exclusão latente de pastores, cuja experiência pastoral  constituiria ouro fino na pedagogia dos cristãos.

         Estas preocupações estarão decerto inclusas no SOS do Prelado Diocesano. Muitas outras poderiam acrescentar-se-lhes. Serve o presente escrito para assinalar a clarividência e a frontalidade dos seus conteudos, aguardando que, mediante o aprofundamento das causas a montante, venham a curar-se as feridas de um passado recente, de olhos postos num amanhã mais firme e transparente, em que para além do devocionismo folclórico, se fortaleçam os valores crísticos, esses que não são mensuráveis a olho nu, mas cujos efeitos transformam os indivíduos e as sociedades.  

                 

          09.Dez.21

         Martins Júnior

  

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

“PODEIS DEIXAR IR EM PAZ O VOSSO SERVO”!

                                                                         


O velho Simeão viu aquela criança entrar no Templo de Jerusalém. Arrastado por um misterioso impulso interior abeirou-se e, perante o espanto de todos os presentes, deu largas ao espanto maior que lhe ia na alma: “Senhor, agora podeis deixar ir definitivamente em paz este vosso velho aio. Os meus olhos contemplaram hoje aquilo que durante toda a vida esperavam contemplar. Esta criança será um sinal de contradição, sinal de luz para uns e treva para outros, salvação e perdição, modelo e escândalo, libertação e condenação”. Voltando-se para a mãe da criança, desabafou em tom trágico, ameaçador: “Fica sabendo que uma espada de dor atravessará o teu coração”.

O que vem escrito no capítulo II de Lucas perpassou na manhã de anteontem por todo o   sobrecéu da Ribeira Seca, enquanto se desenrolavam os ritos da Confirmação. Há 53 anos que tal não acontecia! E alguém – todo um povo proscrito mais que o povo hebreu no Egipto – aguardava o “Dia D”!

Tem um largo espectro este “Dia D”, revérberos de luz e espadas de dor. Serão de breves lampejos, por enquanto, como de um relâmpago fugitivo os impulsos e as palavras que – por enquanto! – acodem à boca deste octogenário, iguais às do velho Simeão de Jerusalém: “Agora, podeis deixar ir em paz este servo. Porque os meus olhos já viram o sinal de contradição, chamado Igreja, paradoxo humano ao vivo, misto de condenação e libertação, arena aberta na praça dos contrastes, capaz dos mais altos voos e dos mais vis cadafalsos… Os golpes de dor já os tínhamos ultrapassado: os ultrajes aleivosos, os medos da polícia trancando as portas da igreja, os processos sumários em tribunal contra os que defenderam a sua ‘casa-mãe’, os re-baptismos e os re-casamentos forçados, o ostracismo implacável em sua própria terra, enfim, os pesadelos descarregados em cima de uma população cristã indefesa, mas consciente do seu lugar.

Dia 5 de Dezembro de 2021: o Dia da descompressão global em que, de fronte erguida, o povo afastou os vagalhões de um mítico e assombrado mar negro e pôde reentrar feliz e sereno naquela pátria que lhe retiraram mas que nunca abandonara!

Da minha parte, apenas o conforto de uma coincidência histórica, mas de efeito contrário: Foi em dia de crismas que, em tempo longínquo, começou esta dolorosa saga, com a suspensão “a divinis” (sem processo formado!) e foi também em dia de crismas que se confirmou a libertação do jugo ingrato  que pesava sobre um povo”!

Por isso, terminado o círculo, junto-me ao velho Simeão para exclamar, convicto e sereno: “Agora, podeis deixar ir o vosso servo em paz”!

 

07.Dez.21

Martins Júnior         

domingo, 5 de dezembro de 2021

TRILHOS DO NATAL

                                                                    


Do LIVRO para o Domingo, 5 de Dezembro de 2021:

De Baruch, 5, 1-9:

“Jerusalém, despe essa veste de luto e toma o traje da Beleza… Cobre-te com o manto da Justiça… Levanta-te e olha para os teus filhos que vêm até ti, reunidos desde o Nascente ao Poente… Deus decidiu abater os altos montes e preencher todos os vales para se aplanar a terra e caminharmos em segurança”.

De Lucas, 3. 1-6::

“Voz do oráculo de Isaías: Sejam alteados todos os vales e abatidos todos os montes… Endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se todas as veredas escarpadas”

Porque Jerusalém está em todo o planeta, desde o palácio mais sumptuoso até ao mais humilde tugúrio, podemos congratular-nos, mutatis mutandis, e dizer sem orgulho mas com convicção:

NO DOMINGO, CINCO DE DEZEMBRO DE DOIS MIL E VINTE E UM, ACENDEU-SE A PRIMEIRA ESTRELA DE NATAL NO “PRESÉPIO VIVO” DA RIBEIRA SECA!!!  

05.Dez.21

Martins Júnior

 


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A NOTÍCIA QUE NUNCA DEVIA SER NOTÍCIA

                                                                                


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SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

CRISMA

O compromisso intelectual, espiritual e social do crismando

perante a comunidade

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                                IGREJA DA RIBEIRA SECA: 05.XII.21

Pelo Bispo do Funchal: D. Nuno Brás da Silva Martins

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A Notícia  - que nunca deveria sê-lo - terá a sua explicação às 11 horas do próximo Domingo, 5 de Dezembro. Gestos Falantes!

 

03.Dez.21

Martins Júnior

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

SEMPRE PRESENTE CONNOSCO: PORQUE NÓS É QUE PRECISAMOS DELE !

                                                                       


Não é - e nunca foi, desde tempos imemoriais – um beija-mão protocolar aquilo que  dá pelo nome de homenagem a Francisco Álvares de Nóbrega, o poeta-filósofo que acompanhou e intensamente viveu a turbulência libertadora da Revolução Francesa de 1789. O seu estro poético plasmado nos seus sonetos ombreou, em alguns excertos, com o de Camões e mais impressivamente com o de Manuel Maria Barbosa du Bocage, seu contemporâneo e companheiro de cela nas masmorras do Limoeiro, em Lisboa.

A vida e obra de Francisco Álvares de Nóbrega são o seu maior e único monumento que nos legou. Ninguém lhe guardou a efígie e nem nunca ninguém até hoje soube o local onde depositaram o caixão. E porque é o seu ‘genoma’ matricial a maior herança que nos deixou, Machico jamais esquecerá o seu lugar sempre presente connosco. Porque não é ele que precisa de nós – nós é que precisamos dele!

Foi esse o acontecimento de ontem na terra que lhe serviu de berço. A comunicação social madeirense obliterou liminarmente a comemoração do 248º aniversário natalício. Pouco lhe importou, porque para ele os fogos fátuos da publicidade passam-lhe ao largo. Do silêncio marmóreo da sua efeméride o que exclusivamente ele quer que se retenha é o seu espírito aceso e a sua integridade de carácter, “de antes quebrar que torcer”, na defesa sustentada dos ideais da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mesmo à custa do próprio sangue, da sua própria liberdade.

Excelente a programação que iniciou com o soneto dedicado “À Pátria do Autor” (Machico), interpretado pela Tuna de Câmara de Machico, a que se seguiu o ex-libris da sua personalidade, o soneto “DAS ALMAS GRANDES A NOBREZA É ESTA”, recitado por João Manuel Henriques Fernandes, cujo pai, vereador da Câmara Municipal de Machico em 1954, deu corpo à iniciativa de colocar o delicado  Monumento-Livro-Mármore implantado no Miradouro que hoje ostenta o nome do poeta pensador. Em tempos da ditadura salazarista, foi Obra!

A conferência do Professor João Luís Freire, baseada na sua tese de Mestrado – “Alma Padecente” – trouxe à ribalta dos nossos dias a personalidade caleidoscópica do grande sonetista. Momento alto da noite foi a proclamação dos vencedores do “XIV Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega”, iniciativa anual da Junta de Freguesia de Machico. O júri, presidido pela Profª. Drª. Maria  Teresa do Nascimento, da UMa, galardoou “ex-aequo”  os dois trabalhos (género conto), intitulados “O Mar é um Lençol de Seda” e “Plêiades”, respectivamente de Pedro Filipe Costa Gouveia e Nuno Rafael Silva Oliveira Costa, entre dois cenários aparentemente contraditórios, mas estruturalmente complementares. A não perder a sua leitura, no ‘sítio’ da autarquia promotora do concurso.                    


Mas a homenagem ao nosso Grande “Camões Pequeno’ atingiu o pleno quando apareceu em cena o vídeo da comemoração realizado pelos utentes idosos do Centro Cívico-Cultural e Social da Ribeira Seca. Não podendo deslocar-se ao centro da cidade, associaram-se à efeméride com a apresentação de quadras populares gravadas pelos próprios idosos, tendo como referência viva o legado de  Francisco Álvares de Nóbrega. E com que ênfase o fizeram! – o que veio demonstrar que a mensagem do nosso poeta encontrou eco na psicologia das gentes rurais.

Aliada a esta sensibilidade emergente da chamada “Terceira Idade”, foi notória e mui simpática a presença de duas turmas da Universidade da Madeira, que seguiram minuciosamente todas as intervenções produzidas, como que redescobrindo Alguém, cujo mistério estava ainda por desvendar.

 E foi precisamente esta osmose intergeracional que levou a Prof.ª Mónica Vieira, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Machico, responsável pelo evento, a pontuar a presença de Francisco Álvares de Nóbrega como polo aglutinador de mentalidades e sensibilidades múltiplas no seio da terra que o viu nascer “em pobre, sim, mas paternal morada”.                       


Bem haja quem promoveu o acontecimento e quem fez actual, no meio de nós, o nosso conterrâneo, talvez a maior alma que Machico produziu. Porque não é ele que precisa de nós. Nós é que precisamos dele!

 

01.Dez.21

Martins Júnior