quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

1985-2019…ENTRE AS DUAS DATAS, BEM NO MEIO, PODEM ESCREVER: “O POVO É QUEM MAIS ORDENA”!


                                                   

Passadas quase três décadas e meia, um pensamento antigo torna-se presente: Per angusta ad augusta – “através dos desfiladeiros alcançarás as  alturas”. É a verdadeira face da vida – particular, familiar ou social: Pela Cruz, alcançarás a Luz. Pela angústia e sofrimento, ganharás a vitória.
Não obstante a invasão de 70 policiais, as ameaças, as bastonadas e as prisões sofridas em 27 de Fevereiro, o Povo cantou vitória no Domingo, 18 de Março de 1985.
Se a luta acabou, a Vitória continua!

27.Fev.19
Martins Júnior
        

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

E DE SEISCENTOS ANOS…QUE FICOU, EM MACHICO E NA MADEIRA?


                                                           

Que desmesurado armazém tem o “Sr. Seiscentos” para arrecadar tanto entulho que, parecendo novo, não passa de remendadas velharias, retalhos de vaidadezinhas saloias “com que se o povo néscio engana”! Já não há nada, seja mato ou seja oregão, alfinete ou frigorífico, que não traga a marca industrial do “seis-zero-zero”.  Como nos tempos da Velha Senhora, emboneca-se o velho, entroniza-se-o no templo e no altar da ilha-mátria, tocam-se a rebate os carrilhões da pátria e, vai daí, arrotam-se balonas e foguetes em terra, mar e ar. Porque já chegou Sua Alteza Real o “Sr, Seiscentos”… Comissões Especializadas, Assembleias Patrióticas, Discursos poderosos, que nem Sansão quando fez cair as colunas do Palácio do Rei. Tudo solene, tudo soberbo, tudo soberano! Mas tudo tão campanudo e volátil como a tarde de um só dia.
Pensar e sentir que esta foi a casa onde viveram os nossos antepassados – é isso o que mais importa. Revisitar gerações e megagerações de inquilinos que aqui deixaram a sua pegada, encontrar a seiva original desta secular árvore genealógica à sombra da qual vivemos e respiramos! E, no pico mais alto dessa árvore, ouvir o grito de alarme que mexe connosco: “Que marca vais deixar no chão que hoje é teu”?
A maior homenagem aos Seiscentos Anos da nossa História Insular só pode advir das raízes das suas gentes, da chamada sociedade civil, a necessária construtora dos alicerces do futuro. Se em pequenos e médios ambientes, em que a “Família” seja a grande moderadora, realizarmos esta operação de pesquiza e este exercício de catarse colectiva, então aí desaparece a farsa do “Sr. Seiscentos” e surgirá como uma galáxia a Ilha-Mãe em todo o seu esplendor, mesmo quando, intermitentemente,  os filhos a transformaram em ilha-madrasta. Não serão as cúpulas a segurar o prédio, por mais salomónico que ele se apresente. É nos caboucos anónimos que mora a robustez (e, paradoxalmente, a fragilidade) deste imenso condomínio.
Foi assim que interpretei a iniciativa do matutino regional “JM”, ao lançar a sonda analítica por todos os concelhos da Madeira e Porto Santo, juntando os actuais inquilinos deste território. Na próxima quinta-feira, 28, caberá à “Primeira Capitania da Ilha” a nobre e corajosa empresa de reencontrar-se com a História e clarificar a sua identidade face aos tempos que correm. Imagino que será um tempo novo, de impressiva marca patriótica, se os herdeiros do primeiro capitão da Ilha se irmanarem em redor do mesmo objectivo comum, qual seja o de conhecer sem preconceitos os contornos da sua terra para fidelizar-se à sua matriz de antanho e, daí, projectá-la cada vez mais para o grande oceano que a abraça e seduz.
Este é o nosso tempo. Esta é a nossa hora. Lá estaremos.
E um Bem-Haja aos seus promotores!

25.Fev.19
Martins Júnior    

sábado, 23 de fevereiro de 2019

O LEGADO QUE TUDO QUEIMA E TUDO ABRAÇA


                                                                

      Ele podia deixar reinos e impérios. Ele podia erguer muralhas de aço e estátuas de bronze. Ele podia até fazer do Sinai a pedra mármore com dez, mil ou milhões de códices ultra-soberanos. Mas nada quis que lhe marcasse ao mundo as pegadas extra-terrestres.
Enterrem Bíblias, Corões e Manifestos. Rasguem os Códigos Civis, Comerciais, Penais, Nacionais e Internacionais. Portarias, Decretos Canónicos e Profanos.  Fechem os tribunais, destruam as cadeias e deixem sem chaves as portas das vossas casas, os ferrolhos dos vossos cofres.
Porque um Legado – “O Legado” – nos foi dado. Está em Lucas, 6, 27-38. “Amai, estimai, respeitai todos, mesmo o vosso inimigo e concorrente…Não julgueis para não serdes julgados… A medida com que medirdes os outros é precisamente com essa que sereis vós medidos e avaliados”! … Perdeis  tempo  e saúde em projectos de vingança. O mundo é de todos, dá para todos e a chuva não escolhe onde cair. Cai para todos, bons e maus terrenos…
“O Legado” nos foi dado. Abaixem os montes altos, preencham-se os abismos e tudo será plano, será recto. Rasgai essas vestes de ouro, fundi no lume essas tiaras papais, essas coroas imperiais, essas borlas doutorais, Porque “O Legado” nos foi dado!
Diante dele, tudo cai, tudo se esfuma como estopa vil.  Só ele ficará de pé! E o Amor de quem sabe lê-lo e amá-lo!

23.Fev.19
Martins Júnior  

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

”QUO VADIS”, VATICANO?


                                     
I

O PAPA FRANCISCO ACABA DE ASSINAR A SUA SENTENÇA DE MORTE NA INQUISIÇÃO ROMANA


II
UM PEQUENO PASSO A CAMINHO DAS FONTES OU O REGRESSO ÀS ORIGENS

III
UM GRANDE PASSO PARA A IDENTIDADE DO PADRE OU BISPO MILITANTES DE JESUS CRISTO

Três títulos para quem quiser definir e discorrer sobre a Cimeira Vaticana que o Papa Francisco convocou em Roma durante esta semana. Qual deles assentará melhor às motivações e aos objectivos em causa?... Mais que uma manifestação compulsiva apresenta-se como um Magno Congresso de Auto-Crítica em direcção à Luz que ilumina toda a História do Cristianismo. Pelo meio, “um homem terá de morrer” (Jo.18,14). Outrora, foi o Nazareno. hoje, o argentino Francisco-Papa.

21.Fev.19
Martins Júnior

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

AUTOTERAPIA NO 20 DE FEVEREIRO


                                                          

Como aquele irreprimível tropismo que ao dia sucede a noite e uma estação inelutavelmente  dá lugar à outra, assim a  vertigem entre 19 e 20 de Fevereiro toma conta de mim em cada ano que passa e só lhe encontro antídoto num assumido esforço de autoterapia, rememorando a “Tragédia Rodavante”, sobretudo a imprecação à “Estirpe mole e cobarde/Que chega sempre tarde” e à força reconstrutiva do “Madeirense mareante, Gente firme, Povo atlante”.   


TRAGÉDIA  RODAVANTE



Furor
Das águas bravas
Onde estavas
Ou dormias
Oh Velho Adamastor
Das illhas mansas,
Sadias.

Donde vieste
De qual cerro ou cume
Tume batume tume
Tumescente agreste
Desterrando o velho
Enterrando o menino
Oh belo horrível
Loucura e desatino
Oh caixa de Pandora!

Não chamem Deus
Nem a Senhora
Nem Júpiter nem Zeus
Que o mar e o trovão
Planetário em turbilhão
São amados filhos seus.

Velha matrona, ilha bendita
Tiveste a dita
De voltar à ilha virgem
Do seio furibundo
Da criação do mundo

E … oh  prole maldita
Estirpe mole  e cobarde
Que chega sempre tarde
Ao tormentoso cabo da vida

Madeirense mareante
Que mesmo gemendo mão teme
Faz-te ao largo agarra o leme
Gente firme  Povo atlante,
Rodavante  rodavante !

E Machico tem
Machico sabe
Que o Cristo dos Milagres
Não quer que o mar adormeça
Nem quer que o fogo se acabe

Venha um Infante de Sagres
Renasça o velho Marquês
Pra levantar dos escombros
De Lisboa ou do Funchal
Um povo que é português
A força que é Portugal !


20.Fev.2010 – 19/20.Fev.2019
Martins Júnior

domingo, 17 de fevereiro de 2019

SERMÃO DA MONTANHA OU TOQUE A REBATE ?


                                                         

É este o “cantinho do domingo”, a ponte pênsil entre uma semana e outra. Como a chuva miudinha – a  verdadeira chuva fértil -  que durante todo o dia irrigou as terras neste 17 de Fevereiro, assim um pensamento luminoso inundou todas as folhas deste “Livro de Horas” que em nós habita, mesmo que nem sempre demos por ele. Há quem lhe chame o Discurso das Bem-Aventuranças ou o Sermão da Montanha. Melhor seria, após uma visão mais objectiva, traduzi-lo como um outro “Discurso do Método” ou um autêntico “Observatório Social”, que põe a nu as contradições e o desconcerto do mundo, ao mesmo tempo que condena ou absolve os conteúdos comportamentais das sociedades. É o Direito Penal Natural em acção.
Uns são pobres (no caso vertente, em espírito), outros transpiram riqueza. Uns choram, outros riem, Uns são os famintos perpétuos, outros os sardanapalos arrotando fartura nos divãs. Uns são os que vivem para o espectáculo público e granjeiam os aplausos de toda a cidade, outros ficam sempre na sombra, invectivados, apedrejados pelos donos da opinião pública. Eis o cenário do “Grande Teatro do Mundo”. Quem o descreve?... Será surpresa para alguns, mas não é o grande dramaturgo Calderón de la Barca. O autor deste atlas social é, precisamente, o Nazareno, o histórico líder da Galileia. (Lc.6,17.20-26).  Mas não se satisfez com o mero estatuto de líder histórico. Passou a ocupar a tribuna de juiz revolucionário e aplica as mais rigorosas sentenças aos causos em apreço.
Aos primeiros – os pobres, os famintos, os humilhados e ofendidos chama-lhes “felizes”, na perspectiva futura de um dia voltarem o mundo do avesso e alcançarem o que lhes foi negado. Aos segundos, os anafados exploradores dos pobres, os adulados e aduladores, “os vampiros que chupam o sangue fresco da manada, os que comem tudo e não deixam nada”, a esses o Legislador, “filho de carpinteiro”, comina-os, sem apelo nem agravo, com a pena máxima da maldição. “Ai de vós, que agora rides, lá chegará o dia de chorardes; Ai de vós, que  agora vos fartais na opulência,  também conhecereis o tempo da miséria e da fome. Ai de vós”!...
Na interpretação claudicada e mole dos textos citados (e que hoje foram lidos em quase todo o mundo) costumam os pregadores oficiais dar uma visão suave, romântica, imobilista do chamado Sermão da Montanha, esquecendo ou propositadamente obliterando os consequentes efeitos, imperativos e musculados, destas gritantes desigualdades sociais: uns serão sobejamente ressarcidos, os outros severamente punidos. Aliás, é o mesmo narrador Lucas que transcreve, em discurso directo, a saudação proclamatória que a jovem Maria espontaneamente soltou quando um dia foi visitar a, então grávida, prima Isabel que habitava nas montanhas de Judá: “Viva o Senhor, Viva! Porque derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes da terra. Viva! Porque encheu de bens os famintos e aos ricos despediu-os sem nada”! (Lc.1,52-53).
    Não é esta uma citação avulsa de qualquer “Livro Vermelho” ou de um clássico Manual de luta de classes. É do Livro, por excelência, a Bíblia. Lamentável e, até mesmo, condenável a manipulação que os autoproclamados anunciadores da Boa-Notícia fazem da mensagem original, essa capciosa tentação de reduzir a personalidade de Cristo à delicada imagem do “Doce Nazareno, de olhos ternos, azuis”, na sequela estilística  de Ernest Renan. Não é mais possível uma tão redutora e apoucada interpretação do nosso Libertador. Ele veio “renovar a face da terra”. E não foi  nem será com altares-baús cheirando a naftalina nem com crepes efeminados em punhos de renda. Haverá, por certo, quem não elogie e até condene esta linguagem. Mas aí, Ele já nos deixou o pré-aviso que tem toda a força de um salvo-conduto: “Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem”!
Numa época em que a vaga dos populismos invade os próprios templos e delírios triunfalistas tomam conta das cascas de noz de muitos corações, faz bem regressar a um outro “Discurso do Método” de pensar e agir que nos é dado pelo meticuloso “Observatório Social” do eterno Sermão da Montanha.

17.Fev.19
Martins Júnior    

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

FREI BENTO DOMINGUES E PROF. LABORINHO LÚCIO NA TRIBUNA DOS MAIORES



                                         
           
Memorável o dia 15 de Fevereiro de 2019!
Correndo o risco de parecer unilateral, ouso confessar publicamente que todos os temas previamente agendados para hoje teriam de aguardar e dar lugar à boa  notícia desta sexta-feira. Descreve-se-a em poucas palavras, tal como assim se desenham os grandes fenómenos.
O “Largo do Paço”, em Braga, vestiu-se de gala para fazer escolta de honra à passagem do colégio de doutores da Universidade do Minho. Por sua vez, o desfile solene de tão distinto elenco perfilou-se para aclamar e receber no seu “Olimpo”  dois novos doutorados. Honoris Causa-  Quem? …  Precisamente Álvaro Laborinho Lúcio, jurista, consultor, Professor de Direito e antigo Ministro de Portugal. O outro laureado foi Bento Domingues, dominicano, teólogo, Professor, biblista, investigador, colunista. Mensageiro e Doador da mais alta distinção foi o “Magnífico Reitor”, Prof. Rui Vieira de Castro.
A ampla e vetusta “Aula Magna” da Reitoria Bracarense ressumou no granito secular das suas paredes fragrâncias de juventude, revérberos de lucidez, ciência, filosofia, teologia, entrelaçados com a poesia esvoaçante dos sons haendelianos que a Orquestra de Câmara e o Orfeão da Universidade do Minho projectaram sobre os incontáveis participantes de tão nobre evento.
Se notável foi a Laudatio introdutória dos respectivos “Padrinhos” - os  Catedráticos Licínio C. Lima e Moisés de Lemos Martins – não menos imponente e reconfortante foi o Agradecimento dos novos Doutorados, duas peças de preciosos testemunhos históricos e, sobretudo, de agulhas brilhantes perfurando os nebulosos tempos futuros. Vale a pena ler e interiorizar a mensagem dos dois oradores, pelo que trazem de conhecimento, investigação, saber experiencial e perspectiva no domínio da educação holística do indivíduo, a começar pelos bancos da escola.
Sensibilizado pela quase magia sonora e literária do estilo do Doutor Laborinho Lúcio (a que já de há muito me habituei, especialmente nas suas deslocações à Madeira) permito-me, no entanto, trazer à ribalta da ilha o discurso coloquial e comovente, mas ao mesmo tempo corajoso e dinâmico de Doutor Frei Bento Domingues. Primeiro, pelo agradecimento que dirigiu “a todas as pessoas e instituições que o desassossegaram ao longo da vida”. É poderosa e decisiva (daí, merecedora da nossa maior gratidão) a mão que nos desperta da letargia acomodatícia e pantanosa em que somos tentados a resvalar. Segundo motivo desta referência: a simplicidade chã de Bento Domingues que não faz diferença entre o palco de uma cátedra académica e a mesa de uma aula suburbana ou o altar de uma aldeia fortemente marcada pela ruralidade profunda.
Testemunhas desta transparente agilidade dispositiva somos nós, madeirenses: o Padre José Luís Rodrigues que já  levou Frei Bento Domingues às suas paróquias no Funchal e, na mesma linha, o humilde povo trabalhador da Ribeira Seca, Machico, que foi já várias vezes privilegiado pelo ensino e pela pedagogia cívica e teológica do ilustre homenageado. No mesmo agradecimento e pela mesma disponibilidade amiga e sincera  envolvemos um outro Professor da Universidade de Coimbra, o Prof. Doutor Padre Anselmo Borges, que também marcou hoje  distinta presença na cerimónia de Braga.
Pela minha parte, valeu a pena ter dedicado toda esta sexta-feira ao “Largo do Paço”, por tudo e, ainda mais, pela sedução anímica e transformadora que nos incutiram no espírito os novos Doutores da Universidade do Minho. Está escrito no chão da vida:  só crescemos na mesma medida em que nos distribuímos aos outros. Inteiramente. Desinteressadamente!

15.Fev.19
Martins Júnior    


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

SABEIS QUEM É ESTE HOMEM?… CERTEZA?...


                                                              

Outros títulos e outras legendas achei para esta imagem. Muitas. Intermináveis. Mas todas – legendas e títulos – iriam dar à mesma incógnita: EM QUEM ACREDITAR?... Na história ou nas estórias?...
Enquanto vos deixo tempo e espaço para opinar, fico preso no labirinto da dúvida cartesiana, após o que vi e ouvi no Colégio dos Jesuítas.
Compartilhar convosco significa optar por uma das faces do dilema: ou evadir-me da prisão ou mergulhar na noite, definitivamente.
Estamos juntos até ao próximo dia ímpar.

13.Fev.19
Martins Júnior

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

VIAGEM TRIANGULAR AO REDOR DE UM DIA


                                                   

Quem, por simpática deferência, me acompanha no trilho dos dias ímpares não esperará certamente contínuas doses compactas ou esboços de teses pré-elaboradas. Por isso, hoje preferi deambular à volta do 11 de Fevereiro, com o mesmo  à-vontade com que Xavier de Maistre, em 1794,  escreveu a Viagem à Volta do Meu Quarto.
         Cada dia traz a sua graça e sua estatura singular. Preciso é vê-las à nossa beira, na palma da nossa mão, embutidas dentro do mais íntimo de nós mesmos. Como a poesia que nos veste a toda a hora e nem sempre damos por ela.
Talvez levado pela reminiscência do eminente filósofo René Descartes que antes de morrer, precisamente em 11 de Fevereiro de 1650, nos deixou em testamento o famoso legado Cogito ergo Sum (Penso, logo Existo), talvez por isso encontrei neste 11 de Fevereiro o triângulo existencial em que todo o ser humano se movimenta. Nós também.
É hoje que em todo o mundo se presta atenção a quem está privado do precioso bem da saúde. É o Dia Mundial do Doente. Hoje, também,  a crença mariana, a partir da gruta de Lourdes, em França, desde 11 de Fevereiro de 1858, conhece a apoteose de um acontecimento cultuado e revisitado anualmente por 5 milhões de crentes de 140 países. Finalmente, é hoje que no Irão foi derrubado o regime de Reza Palevi e instaurada a República Islâmica, palco de tumultos e desavenças. Foi  em 11 de Fevereiro de 1979. Há 40 anos.
Doença. Crença. Desavença.
Basta assentar a cabeça no tripé cartesiano e logo concluímos que ‘todo o homem que vem a este mundo’ nasce num berço triangular onde infalivelmente cabem aquelas três dimensões. O segredo do sucesso está em, primeiro aceitá-las; depois transformá-las e, por fim, sublimá-las. Portadores natos da saúde (descontado o deficiente património hereditário) somos candidatos directamente eleitos à Doença. Encará-la frontalmente e acreditar na superação da mesma, pela ciência, pela motivação, pelo optimismo! Este é, a meu ver, o conteúdo mais eficaz de toda a Crença. Há quem prefira lançar-se no abismo a que chamamos fé, endossando para factores supraterrestres expectativas que, com esforço, por vezes titânico, dependeriam de nós. Será, porventura, uma opção in extremis, mas que na sua raiz terá de contar sempre com um suplemento volitivo inexcedível da nossa parte, ou seja, “esperar contra toda a esperança”.   
    Se a Doença é um conflito orgânico connosco próprios, outros embates mais densos advêm e arregimentam-se fora de nós. É então o reino da Desavença. Por muito que se a queira evitar, ela tentará infiltrar-se, per faz et per nefas, em tradução popular, por ter cão e por não ter cão. Nesta arena, só ganha quem enfrenta o obstáculo com a mesma perícia do hábil velejador que até sabe captar  o vento contrário para alcançar a meta vitoriosa. Tão difícil a arte de marear, quão sábia e generosa a ciência de dirimir conflitos! Referindo-se ao Irão, o jornalista de Le Monde, Louis Imbert, fala em caso de “revolução interminável” e conclui, em jeito de lamento: “Em 11 de Fevereiro, o país celebra os 40 anos da revolução que lhe outorgou a República Islâmica, mas devido às sanções americanas, o Irão não tem o coração na festa”. Até um dia!
                                                    

Dia esse que surgiu para Nelson Mandela. Foi também em 11 de Fevereiro. Ano 1990. Após 27 anos preso na cadeia de Victor Verser, província do Cabo, o Grande Lutador-Pacificador sai em liberdade para transformar a Doença em Saúde Social, a Crença em Certeza ganha a pulso e a Desavença em Abraço de povos e gerações.
   E com este Abraço final, termina também aqui a Viagem global à volta do 11 de Fevereiro de 2019. Todos os dias têm a sua graça e a sua estatura singular. Como a Poesia!
11.Fev.19
Martins Júnior

sábado, 9 de fevereiro de 2019

JESUS E A SUA “LISTA”


                                                            

Ai, o nosso juízo! – diz o povo na análise empírica, mas meticulosamente cirúrgica, de certas linhas desviantes do pensamento. E não se enganou o filósofo Montaigne quando, já no século XVI, classificou a nossa cabeça como a louca da casa, “la folle de la maison”.
Foi o que me aconteceu hoje. Estando eu em dia de sábado excogitando os textos que habitualmente se lêem aos crentes para daí extrair feixes de luz perene, eis que me achei caído, como Daniel profeta, na “cova dos leões” ou, como Ulisses, nas ondas revoltas “entre Cila e Caribdes”, em risco de ser devorado em terra ou engolido no mar, sem saber como escapar. No fim, ver-se-á o logro em que naturalmente tudo isto vai dar.
O texto a que me refiro tem a chancela de Lucas (5, 1-11) e de Mateus ($, 18-21, ambos testemunhas presenciais dos acontecimentos. O cenário é o mais aberto que se possa imaginar, transparente e sugestivo: uma praia, gente apinhada no ‘calhau’, canoas ancoradas perto da costa. Entre a multidão está um homem meão, rosto tisnado do sol da Palestina, trinta anos de idade.  Conversa com os conterrâneos (todos o conhecem) e, de seguida, tocado por um palpite que encontra eco em seu redor, pede aos pescadores que lhe dêem ‘boleia’ numa canoa. Já dentro dela, afasta-se um pouco, o suficiente para que o seu olhar abarque todo aquele maravilhoso anfiteatro humano. E começa a falar à multidão. Que fascínio e que beleza! Mais que romântico, ecológico, quase irreal: a catedral – a natureza; a abóbada – o céu azul: o alicerce – a terra e o mar num abraço aquático sem fim; o púlpito – uma canoa pobre, pão de pobres, balouçando suavemente à beira-lago. Entendam, pregadores purpurados, mitrados, rubicundos dos barrocos púlpitos, entendam e aprendam o poder e eficácia da verdadeira Oratória Sacra!... Por mim, juro que daria toda a minha vida só para estar  no meio daquela gente, sentado naquelas pedras como se fora o ‘calhau’ da minha baía, vendo e ouvindo o Irmão, o Doce Nazareno, “que seduzia as multidões”,  no dizer de Diego Fabri.
Estou quase a perder-me pelo caminho. Porque o “caso” de hoje é outro. Trata-se de acompanhar o espinhoso processo que o Nazareno utilizou para escolher  colaboradores. Tudo na sua vida são episódios singulares de um projecto maior: “transformar a face da terra”, purificar as mentalidades, corrigir as leis, sublimar os costumes, enfim, recolocar o Homem no seu legítimo pedestal primeiro. Numa palavra, dignificá-lo, o mesmo que dizer, salvá-lo. Plano utópico, gesta intangível, épica, diríamos que megalómana, se não fosse esse o maior sonho que a humanidade possa conceber!
Maiores, porém, que o sonho foram os obstáculos pré-determinados. À época, criar um movimento de âmbito sócio-religioso significava aquilo que hoje se chama partido político. Ao tentar fazê-lo, o líder Nazareno estava atentando contra os “partidos-seitas” vigentes: os fariseus, os saduceus, os zelotes, os herodianos, os samaritanos e, acima destes,  os todo-poderosos Sumos-Sacerdotes do Templo Judaico de Jerusalém, símbolo e sede da dinastia de David, sacerdote, profeta e rei. A quanto se atrevia o “filho do carpinteiro” de Nazaré!
Tarefa árdua, a inicial: pesquisar e descobrir gente credível, límpida de costumes, aceite pelos contemporâneos,  inquebrável diante dos adversários já organizados. Quantas as noites de insónia, de avanços e recuos, de esperanças mortas à nascença, de altas e baixas expectativas, teve o Mestre para formar (diríamos hoje) a “sua lista”. Para cúmulo, não tinha lugares, benesses ou prebendas para lhes prometer em troca da aceitação.
Como fazê-lo? Passou à acção. Foi ao terreno, acompanhou operários, camponeses e pescadores, vizinhos seus, amigos e novos simpatizantes. Os convites, fazia-os pessoalmente, cara-a-cara com os eventuais apoiantes. Mateus e Lucas não referem se levou alguma nega, mas é muito provável que tal tenha acontecido. Uma nota impressiva: os possíveis aderentes, surpreendia-os  quase sempre no próprio local de trabalho. Foi, precisamente, o caso de hoje. Depois de falar â multidão, sugeriu aos donos ou companheiros da lancha uma pesca no “Mar da Galileia”. Durante essa noite deve ter testado mais de perto a personalidade de cada um deles e, chegados a terra, endereçou-lhes directamente o desafio: “Vou fazer de vós pescadores de homens”. E logo viu o fruto gostoso de toda essa tarefa pessoal de análise e prospecção: “Eles imediatamente deixaram o barco e as redes e seguiram a Jesus”.
      Muito mais havia que aditar para compor o episódio de hoje e o quanto de autêntico e profundo nele se subentende. Deixo à livre interpretação de quem lê. Até porque não quero cair em covas de leões nem nas costas de Cilas ou Caribdes. Estão a aproximar-se, segundo a meteorogia sócio-política, as agitadas alterações climáticas que normalmente produzem as cobiçadas “listas” . E feitas as contas, os textos de Lucas e Mateus talvez possam proporcionar lições de excelente propedêutica, para bem dos responsáveis e de toda a sociedade.
Afinal, tinha razão Montaigne: “Notre tête – la folle de la maison”. Sem aviso prévio, o discorrer livremente levou-me até onde não contava chegar.

09.Fev.19
Martins Júnior



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

“MATEM O MENSAGEIRO”


                                                         

Hoje não estou em paz. E quem poderá estar?... Talvez os inquilinos da mansão dos mortos. Mas nem todos. Aqueles que doaram os verdes anos e os frutos maduros de uma vida  em prol de uma renovada primavera para o mundo de amanhã, esses também não têm paz, ao olhar o mundo com que sonharam e não viram. Ameaças entre os povos, convulsões territoriais, contorções fratricidas, corrupções premiadas, mensagens cifradas e mensageiros abatidos.
Quem poderá estar em paz?!... Até no silêncio acolhedor das alcovas domésticas rebentam furacões devoradores, cuja proporção ultrapassa o trágico furor dos esquadrões da morte. Segurança e paz, onde morais?
Remeto-me à solidão interior, onde o pensamento marulha inquieto como o mar que abala a falésia e traz-me vagas rolantes, redemoinhos de contradições que custam a engolir. Com elas, vem a jovem Serafita, do romance de Geoge Bernanos (Jounal dún Curé de campagne), figura de uma candura e sensibilidade supra-humanas, de uma virtude subtil, parca em palavras, mas impressiva nas atitudes, que o romancista resume nestes termos: Quando ela aparecia era como a luz da manhã que põe a nu os contornos que a noite esconde. A bondade da sua presença servia para reflectir-se nela o negrume das nossas maldades.
Há pessoas, na vida real, irmãs gémeas da jovem Serafita, de Bernanos. Uma palavra, um gesto bastam para, em contraste,  reflectir-se nelas a oculta imundície adjacente, tal a força anímica da sua mensagem.
Mensagem e mensageiro, duas ondas potestativas que batem na margem do meu solilóquio. E trazem aquela “frase batida”, que vem de muito longe – “Matem o Mensageiro” – desde os combates da barbárie até aos tempos de agora, como o demonstrou o jornalista Gary Webb, soberbamente interpretado pelo actor Jeremy Renner (2014). Estava então no fio da navalha o tráfico da droga de altos políticos americanos que, perante a divulgação na imprensa, elegeram o jornalista denunciante como único alvo a abater.
Em tempos que já lá vão,  João - o Baptista - denunciou Herodes. A João, sacaram-lhe a língua, degolaram-no. A Herodes, a corte manteve-o no trono. Até que caíram a corte, o trono e o entronizado.
Mas a vibrante língua de João, essa  ficou para sempre cada vez mais alta, eloquente, imaculada. E com isto, tento recuperar  a paz e a esperança nas futuras madrugadas.

07.Fev.19
Martins Júnior


terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

TODOS OS DIAS SÃO DELE… HÁ 411 ANOS !


                                                            

Fosse ele jesuíta ou franciscano, agnóstico ou ateu…Fosse diplomata   ou pária,  embaixador ou refugiado…Fosse ele “Imperador da Língua Portuguesa” ou escravo dela – pouco me interessaria nesta hora. Só sei  que vou ficar de vigília até que o sol rompa, na próxima madrugada, porque outro Sol Maior há-de abrir as cortinas daquele dia extenso que mede mais de quatrocentos anos!
Impossível voltar a folha do 5 para  o 6 de Fevereiro e  ficar indiferente. Impossível  esquecer Alguém que ilumina todo o mendo, mais intensamente  Portugal e Brasil, desde esse instante em que  pela mão de Maria de Azevedo, lisboeta, e de Cristóvão Vieira Ravasco, filho de pai alentejano e de mãe mulata, pisou chão português  um infante-gigante , de nome António.
Mais que todos os altos predicados com que possa colorir o seu dia, importa-me vê-lo hoje, global e  inteiro: a Torre de menagem do passado, o Referencial do presente, o Profeta do futuro! Quero vê-lo, afrontando de rosto aberto os abutres jesuítas da Inquisição. Vê-lo diante de reis e delatores, defendendo a liberdade religiosa (há quatro séculos!) contra a perseguição aos judeus e “cristãos novos” sentenciados e expulsos de Portugal. Quero vê-lo, ainda, no escaldante e mísero Nordeste do Brasil, bradando vigorosamente pelos direitos do índios e  negros brasileiros. E vê-lo, também, ele mesmo, atravessando numa piroga o rio Amazonas para valer aos pobres indígenas e, por via disso, ser expulso do Maranhão pelos senhorios fazendeiros, todos portugueses,  que escravizavam as populações.
Ele, “O Imperador da Língua Portuguesa” (digo-o agora com Fernando Pessoa) percorrendo o sertão, matando a sede em águas insalubres, deitado numa enxerga de capim, trincando a mandioca e as  tâmaras silvestres, veste picada esfarrapada pelos atritos da selva, enfim, um ‘índio” feito entre os índios nordestinos. E, mais que tudo, a Voz, aquela voz que na mata imensa brilhava e soava mais alto que nos púlpitos da Capela Real  da capital do Império, onde fora pregador régio. Apetece-me deixar de lado o teclado e ficar assim, absorto, contemplativo (eu que já experimentei a mesma geografia agreste da floresta moçambicana) e  imaginar, fazer repercutir dentro de mim o timbre metálico e doce dos indígenas quando se lhe dirigiam, em dialecto tupi,  com a expressão Paíaçu – “Grande Pai ou Grande Padre”.
Enquanto aguardo a manhã, recorto e memorizo, em síntese, dois rasgos de eloquência e coragem:
Contra a realeza e a nobreza brasonada, o “Sermão do Bom Ladrão”, na famosa igreja da Misericórdia, em Lisboa, em que o Pregador Régio equipara aos ladrões os próprios  monarcas, príncipes e ministros: “Antigamente eram os ladrões que pendiam do alto das cruzes.  Hoje, são as cruzes que pendem do peito dos ladrões”.
Contra os titulares das “Misericórdias”, em São Luís do Maranhão. que só serviam para mandar enterrar os mortos, pois não havia nem hospital nem enfermaria: “Bom seria não haver igreja e haver hospital. Mas se não houver outro modo, converta-se esta igreja em hospital, que Deus ficará mui contente disso”.
Chamo aqui Eça de Queirós, quando se referia ao seu colega do “Grupo dos Cinco”, Antero de Quental,  e cognominava-o de “Santo Antero”, porque este tinha já afirmado que “na grande marcha da história, o Santo é aquele que vai à frente”.  Na perspectiva de Antero, o conceito de “Santo” ultrapassava a visão pietista vigente e envolvia o universo da perfeição omnímoda do ser humano.
Na mesma altitude de pensamento, o Padre António Vieira merece, com absoluto mérito, o título de “Santo”. Ainda ninguém propôs ao Vaticano tal iniciativa. No entanto – espantoso! - a Igreja Anglicana Brasileira estabeleceu o dia 18 de Julho (data da sua morte, em 1497) como a Festa Litúrgica do Santo Padre António Vieira”! Belo e justo testemunho, sobretudo vindo de onde veio.
Em contraste, imensa, inconsolável será a mágoa do Grande Missionário do sertão nordestino, ao constatar  que todos os seus esforços, os seus confrontos, o seu martírio de há 400 anos encontraram no século XXI  a total negação nos programas e leis draconianas de exclusão e racismo produzidos em solo brasileiro. Oh, se voltasses de novo!...

   05.Fev.19
Martins Júnior



domingo, 3 de fevereiro de 2019

CONTRA POPULISMOS E SEBASTIANISMOS – O FILHO DO CARPINTEIRO


                                                               

Aos domingos, passo por entre as bancas e os mercados das ocorrências de toda a espécie. Passo-os e ultrapasso-os, para apenas debruçar-me na barra de um miradouro alto que me traz no horizonte paisagens milenares de ontem, de hoje e de amanhã. Fica esse miradouro no dentro mais dentro de mim mesmo e a linha desse horizonte tem o tamanho desse Livro sem medida que dá pelo nome de Biografia do Nazareno, vulgo dicto, Evangelho.  Lido e treslido em todo o mundo, nem sempre se lhe absorvemos a largueza e a altitude.
Hoje, porém, cortei as amarras que me prendem ao rotineiro corrico das horas e voei até onde  nos é dado abarcar o formigueiro humanizado (e tantas vezes inumano) que reveste o planeta. E aí descubro a inexorável sentença do escritor bíblico, de há milhares de anos: Nihil sub sole novi – nada de novo acontece debaixo do sol, diverso do que já antes acontecera.
O caso passou-se numa sinagoga de Judá. O jovem Cristo toma assento na assembleia da sua cidade, Nazaré, pede a palavra, esclarece os presentes, discorre com realismo, pertinência e elegância do verbo, de tal forma que os seus conterrâneos ficam extasiados e tributam-lhe manifestamente concordância e simpatia. Os  “donos do Templo”, os fariseus, escribas, enfim, os detentores do poder ideológico e financeiro, furiosos com os conteúdos da mensagem transmitida ao povo - e à falta de argumentos credíveis – lançam a peçonha deste repto: “Então, não sabem quem é esse sujeito? Ele é o filho do José, o carpinteiro. E ainda vão dar-lhe crédito? Olhem para a família dele: o pai, a mãe, os irmãos,  as irmãs”… A raiva rompeu todos os limites, ao ponto de arrastarem o Jovem até ao alto de um pináculo para o atirarem de lá abaixo. Sem sucesso, porém.
É evidente, aqui, o confronto entre duas lideranças e respectivos perfis. De um lado, um jovem operário, filho de operário, vizinho dos seus conterrâneos, com os quais mantém laços de proximidade diária, transparente no trato, companheiro indiferenciado no traje,  na rua, na praia, na ementa familiar, enfim, um nazareno entre os nazarenos. Mas arrasta multidões. Com que armas? Pela força do espírito, pela integridade do carácter, pela firmeza das convicções e, acima de tudo, pelo Amor à sua terra e ao seu Povo. Este o perfil do líder Cristo.
Do outro lado, o líder vem do obscuro, invisível, numa manhã de nevoeiro, enigmático, torna-se rei, presidente, rico, nobre, devoto e crente, fala sempre em Deus, jura em nome de Deus. Ostenta bondade e democracia, que depressa substitui por ameaças, armas, arrogância, prisões. Assim se apresentam os líderes, logo transformados em ditadores. Qualquer cidadão conhece os seus nomes: os do passado e os do presente.
Tal como há milhares de anos, o confronto é o mesmo e é a mesma  a escolha: entre o líder natural ou o líder pré-fabricado pela classe dominante, pelo exército, pelo capital, pela ganância, pelos interesses  e pela exclusão?... O líder do Povo ou o líder populista?... O educador popular, transparente,  desprendido e livre ou o príncipe sebastianista, impostor, de sorrisos-fantasmas e promessas delirantes?...
O líder, nascido no mesmo berço do Povo, é o “pastor cujo traje tem o cheiro às ovelhas do estábulo”. Sem pretender sacralizar-se carismático, possui nos cromossomas o carisma nato, sem disfarce. O líder fantasma é o ‘robot’ mecanizado, estereotipado, “pele de cordeiro e goela  de lobo devorador”. Ele infiltra-se e nutre-se dos subterrâneos imundos das instituições, das máfias, dos bancos, dos paióis e, em grande cotação, das religiões.
Só o Povo soberano e esclarecido é que poderá expurgar do seu seio as lideranças populisto-sebastianistas e, em seu lugar, colocar aqueles e aquelas que conhece, que sabe terem calcorreado e rasgado os pés nos mesmos caminhos pedregosos e que comeram do “mesmo pão que o diabo massou”. Os que trazem no ADN os genes do “Filho do carpinteiro”!

03.Fev.19
Martins Júnior