Que
desmesurado armazém tem o “Sr. Seiscentos” para arrecadar tanto entulho que,
parecendo novo, não passa de remendadas velharias, retalhos de vaidadezinhas
saloias “com que se o povo néscio engana”! Já não há nada, seja mato ou seja
oregão, alfinete ou frigorífico, que não traga a marca industrial do “seis-zero-zero”.
Como nos tempos da Velha Senhora, emboneca-se
o velho, entroniza-se-o no templo e no altar da ilha-mátria, tocam-se a rebate
os carrilhões da pátria e, vai daí, arrotam-se balonas e foguetes em terra, mar
e ar. Porque já chegou Sua Alteza Real o “Sr, Seiscentos”… Comissões
Especializadas, Assembleias Patrióticas, Discursos poderosos, que nem Sansão
quando fez cair as colunas do Palácio do Rei. Tudo solene, tudo soberbo, tudo
soberano! Mas tudo tão campanudo e volátil como a tarde de um só dia.
Pensar
e sentir que esta foi a casa onde viveram os nossos antepassados – é isso o que
mais importa. Revisitar gerações e megagerações de inquilinos que aqui deixaram
a sua pegada, encontrar a seiva original desta secular árvore genealógica à
sombra da qual vivemos e respiramos! E, no pico mais alto dessa árvore, ouvir o
grito de alarme que mexe connosco: “Que marca vais deixar no chão que hoje é
teu”?
A
maior homenagem aos Seiscentos Anos da nossa História Insular só pode advir das
raízes das suas gentes, da chamada sociedade civil, a necessária construtora
dos alicerces do futuro. Se em pequenos e médios ambientes, em que a “Família”
seja a grande moderadora, realizarmos esta operação de pesquiza e este
exercício de catarse colectiva, então aí desaparece a farsa do “Sr. Seiscentos”
e surgirá como uma galáxia a Ilha-Mãe em todo o seu esplendor, mesmo quando, intermitentemente,
os filhos a transformaram em ilha-madrasta.
Não serão as cúpulas a segurar o prédio, por mais salomónico que ele se
apresente. É nos caboucos anónimos que mora a robustez (e, paradoxalmente, a
fragilidade) deste imenso condomínio.
Foi
assim que interpretei a iniciativa do matutino regional “JM”, ao lançar a sonda
analítica por todos os concelhos da Madeira e Porto Santo, juntando os actuais
inquilinos deste território. Na próxima quinta-feira, 28, caberá à “Primeira
Capitania da Ilha” a nobre e corajosa empresa de reencontrar-se com a História
e clarificar a sua identidade face aos tempos que correm. Imagino que será um
tempo novo, de impressiva marca patriótica, se os herdeiros do primeiro capitão
da Ilha se irmanarem em redor do mesmo objectivo comum, qual seja o de conhecer
sem preconceitos os contornos da sua terra para fidelizar-se à sua matriz de
antanho e, daí, projectá-la cada vez mais para o grande oceano que a abraça e
seduz.
Este
é o nosso tempo. Esta é a nossa hora. Lá estaremos.
E
um Bem-Haja aos seus promotores!
25.Fev.19
Martins Júnior
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