sexta-feira, 29 de junho de 2018

EM 2018, ENTRE JUNHO E JULHO, MACHICO RENASCE DUAS VEZES !


                                                                     
               
       Ao descer a montanha dos chamados Santos Populares, é no São Pedro que todos se juntam e a multidão ávida de folgas fervilha no sopé de cada aldeia. Com santinho ou sem santinho (as mais das vezes, ele é o mais ausente) o que ‘faz falta’ é baptizar com nome de um São qualquer a barraca, o vinho, a espetada, o despique, enfim, a folgança que diverte e, não raro, aliena…
         Em Machico, porém, o final de Junho às portas de Julho nascente é a ponte que traz algo maior: o seu lugar primeiro na História da Ilha. Por isso é que tudo se orienta para a aclamação da renascença, em cada ano, daquela ditosa data que se tornou a ribalta do Grande Teatro de seis séculos de vivências, tantas quantas tem a Nau Catrineta por contar.
Por feliz coincidência, várias iniciativas autónomas  das organizações locais enchem o ambiente de um tonalidade garbosamente evocativa da Descoberta ou Achamento de Machico e da Madeira, como o já famoso “Mercado Quinhentista”, no início de Junho, da responsabilidade da Escola Secundária, com a colaboração da Câmara Municipal. Por seu lado, a Junta comemora oficialmente o Dia da Freguesia de Machico, com episódios marcantes, abrilhantados pelo “ARTE & PESCAS”, na faixa do Desembarcadouro de Tristão Vaz Teixeira e Gonçalves Zargo.
Dois aspectos, porém, tocam, este ano, a sensibilidade dos machiquenses e visitantes. Além da evocação do primeiro nascimento para a História, 2 de Julho de 1419, “em um domingo, Dia da Visitação de Santa Isabel” (Gaspar Frutuoso), outro nascimento segundo e, talvez maior no contexto sociológico dos nossos tempos, sobressairá neste fim de Junho, dealbar de Julho estival: é a presença em Machico de um dos cantores de Abril, Paulo de Carvalho, amanhã, dia 30, no Forum. Trata-se de uma iniciativa autónoma, da exclusiva responsabilidade do “Atlantic Culture”, plenamente coincidente com a afirmação de um novo Portugal pela voz e pela coragem dos militares e segurada por todos os portugueses em 1974. Machico foi o território insular que maior testemunho marcou na implantação da Liberdade acorrentada durante 48 anos de ditadura.
A presença do mensageiro do E depois do Adeus transpõe-nos para a Grândola, Vila Morena, cantado pelo próprio Zeca Afonso em 1976 no Largo de Machico; traz-nos à memória José Mário Branco, Sérgio Godinho, “Os Trovante”, Vitorino e Janita Salomé, Fausto, Francisco Fanhais, Joana Muge, Tino Flores e tantos outros cantautores que são hoje a memória inapagável dos Cantares da Revolução dos Cravos, os quais encheram a nossa, então, vila de Machico, ecoando as suas vozes quentes pelas encostas do majestoso vale.
Machico navega nas mesmas águas que inspiraram as canções de Paulo Carvalho. Traz os genes de um Francisco Álvares de >Nóbrega, o poeta da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, preso nas masmorras do Limoeiro, em Lisboa, para onde foi deportado, após julgado e condenado pelo Tribunal da Inquisição.
A breve crónica que hoje trago pretende captar num só olhar a singularidade deste arco patriótico que abraça na mesma efeméride o duplo nascimento de Machico para a História: o berço infante do 2 de Julho de 1419 e o trono libertador do 25 de Abril de 1974.
Sejamos dignos desta herança!

29.Jun.18
Martins Júnior

 


quarta-feira, 27 de junho de 2018

COM JUIZES DESTES NÃO PRECISO DE CARRASCOS!


                                                                   

             É ela o último hasteio das nações – a Justiça. Quando tudo falha, quando já não resta sequer lenho verde a que se agarrar no meio das ondas revoltas, os olhos do indefeso náufrago da vida viram-se apenas para o rochedo firme onde habitam os “homens da lei”. Nem reis nem presidentes nem executivos nem mesmo hierarcas das religiões detêm um capital de confiança securitária como os juízes.
         Mas quando são eles – os guardiões do Templo da Justiça – a desvirtuar o seu próprio estatuto de fiéis julgadores, então cai-se na anarquia: é o poder na rua, é o suicídio dos povos!
         Aconteceu ontem mesmo: o Supremo Tribunal da América decidiu, a favor de Trump,  a proibição de entrada em solo americano dos cidadãos provenientes do Irão, Somália, Líbia, Síria,  Chade e Coreia do Norte. Após uma porfiada luta que dura há mais de um ano junto de tribunais de primeira e segunda instância, que indeferiram a pretensão do Presidente, surge agora o ‘Carrasco’ Supremo premiando a fúria xenófobo de Trump. Como disse a juíza  Sonia Sottomayor (que votou “vencida”) a decisão do Supremo configura uma atitude “abertamente discriminatória contra uma minoria religiosa”, numa frontal contradição à Constituição Americana.
         Acresce que não há paralelo entre a gravidade da sentença e a fragilidade da votação: foram cinco juízes contra quatro. Por um só voto destruiu-se uma ingente “batalha legal”,  todo um caminho de esperança e justiça humanitária. Prevaleceu o partido político  (o republicano) contra os direitos humanos! Mísera e esfarrapada foi a declaração do juiz presidente John G. Roberts Jr, quando recorreu ao aleatório argumento da “Autoridade Presidencial” ( a de Donald Trump) para justificar a decisão. Não se fez esperar a reacção da população americana em diversos estados, até à porta do Supremo Tribunal, em Washington. A própria American Civic Liberties Union, pela boca de um dos seus juristas, Omar Jadwat, não hesitou em classificar a sentença como  “um dos maiores falhanços do Supremo Tribunal dos EUA”, idêntico às decisões de outrora sobre escravatura, segregação nas escolas e encarceramento dos cidadãos americanos de ascendência japonesa.
         Transpondo este tremendo cenário para outros quadrantes da vida das sociedades, a nossa incluída, solta-se-nos do fundo do consciente este grito: “Para onde vamos, a quem iremos, quem nos socorre”?... Quando a Justiça se corrompe e quando os julgadores ficam a soldo da “Autoridade Presidencial” – e do capital – ninguém está seguro. É o regresso à lei da selva.
         Sinto hoje percorrer-me o corpo e o espírito o travo amargo de um pessimismo visceral perante as vítimas de sentenças injustas, de direitos denegados na barra dos tribunais e nos atalhos da vida. Mas, ao mesmo tempo, agiganta-se-me um sentimento de indignação contra os maus julgadores e, pior que eles, os maus legisladores com assento nos parlamentos. O Povo tem de provar publicamente a legisladores e julgadores que, precisamente por ser destinatário directo da Justiça, a sua voz sobrepõe-se à força gratuita dos poderosos. Exemplos não faltam por esse mundo fora, como recentemente aconteceu em Espanha.  Mais importante, porém, e eficaz serão os eleitores que, quando votarem, saibam escolher quem lhes dê garantias de independência e humanismo.

27.Jun.18
         Martins Júnior
        

segunda-feira, 25 de junho de 2018

“CÉU” E “INFERNO” LADO A LADO…


                                                  
É a sina de quem teve a (boa ou má) sorte de um dia cair neste planeta: balouçar entre dois postes, dependurado ora num ora noutro ou, quase sempre, nos dois, dependendo inelutavelmente dos donos disto tudo, os que detêm dinheiro e poder. É o chamado “Desconcerto do Mundo”.
Estamos nessa. Basta olhar a paisagem dos hemisférios – os grandes, os médios e os mínimos – para percebermos que habitamos um labirinto de antípodas, tais as contradições que percorrem o corpo social, como larvas que não pedem licença para entrar, com a agravante de nos contaminarem e anestesiarem.
Deixo apenas as duas faces deste binómio feito de gente como nós:
O Mundial de Futebol realiza a ‘impossível’ miscigenação de povos, culturas, idiossincrasias, enfim, o mundo sem fronteiras. Ali, reincarna-se o espírito helénico que une os hemisférios e os corações no pódio da universalidade ou na ara do deus-futebol. Brancos, negros, amarelos, todos desenham no relvado o arco-íris da humanidade. Europeus, africanos, asiáticos, todos têm assento por igual no areópago das nações. Não obstante o espírito de emulação e competição que domina o “Mundial”, o panorama global que sobressai atinge as proporções de uma verdadeira Sociedade das Nações.
                                                     

Do outro lado, nos antípodas de ‘outro’ planeta, uma jaula enorme, descomunal e fétida comprime indefesas crianças que estendem os frágeis bracinhos para os pais que se despedem, forçadamente, dos filhos. Ali, mata-se a infância desvalida retirando-lhe o amor e a dedicação dos seus progenitores. O poder absoluto e o dinheiro afogam gerações, levantam monstruosos muros de desumanidade. E o cinismo americano atinge o paroxismo quando a primeira dama visita aquele poço de gritos e horrores para agradecer aos ‘cuidadores’ oficiais tanta generosidade e empenho em ‘zelar’ pelas crianças…
Que mundo é este que somos forçados a habitar?!
Quando virá o dia novo de abrir as portas da nossa “Casa Comum”?! Não pelo futebol, mas pelo desafio maior do direito a Vida!

25.Jun.18
Martins Júnior    


sábado, 23 de junho de 2018

A DESEJADA IMPLOSÃO DO PRÉDIO!


                                                  

Talvez não valha a pena ler isto que tem sido a náusea das últimas semanas lisboetas, dos últimos meses deste país. Não vale a pena ler, mas vale escrever. Para fixar o clímax de um delírio que tem servido o “almoço-jantar-e-ceia” da mesa dos portugueses. E. ao fixar esse estertor, desejar-lhe a imediata implosão, em nome da saúde mental e cívica do cidadão comum.
Dois ou três parágrafos chegam para abrir a ribalta de um palco onde um teatrinho de marionetes demonstra o antro, a pocilga, o manicómio – tudo a céu aberto – que um tiranete de cordel é capaz de transformar o mundo.
Qualquer observador de rua que passasse,  aí pela hora da digestão do almoço, perguntaria se se tratava de uma “faena” taurina ou de um combate entre duas potências beligerante: alta segurança, armadura policial, uns ostensivamente vestidos, outros oficialmente despidos, separadores em baias, enfim, um aparato de prevenção e quase sufoco. Todo o dia o badalo noticioso não parou de tinir por tudo quanto é canal de ver e ouvir. Podia o Presidente Marcelo cair duas ou três vezes estatelado no chão do Bom-Jesus de Braga, que ninguém dava por ele. Podia até a selecção de Fernando Santos ter perdido com o Irão, que os olhos e as orelhas do mundo português deixavam a Rússia e jogavam-se para o “Altice Arena”.
Mas que “levante” era esse e que medonha guerra irrompia nessa arena?... Não eram continentes em fúria nem monstruosos boxeurs coreanos vs americanos, nem sequer equipas rivais. Era uma assembleia de família, irmãos do mesmo útero, enfim, ombros do mesmo traje às riscas verde-claras. Com polícia na estrada, no terreiro, na grande sala de jantar. À entrada e, na mesma porta, à saída.
Nem me rala saber resultados, o filme-fantasma já dá para ver e concluir. Ao ponto a que isto chegou!!!... Até aonde leva este futebol de corrupção, ditadura, raivas familiares, guerras fratricidas, facas longas na mesma alcova. Se o fora nas arenas políticas e nas lutas sociais… mas dentro do desporto que se quer saudável, optimista, amistoso e libertador?! Incrível, asqueroso. Perante o imprevisível ditadorzinho-tuga, “com mais olhos que barriga”, qualquer Trump ou Kim Jong-un não passam de básicos aprendizes-de-feiticeiro. E o próprio sargento Adolfo dos fornos crematórios daria voltas na tumba com ciúmes do rapaz de topete.
É o que acontece quando Esopo nos conta a história da rã que teimava em inchar até chegar a boi!  Ou quando os chefes  querem  substituir os relvados por assembleias e barras de tribunal.
O mísero espectáculo que nos tem sido apresentado (nenhum dos outros fica longe deste, como demonstra a foto)  fará, de certeza, com que muitos simpatizantes do desporto-rei se afastem dos rectângulos e dos televisores. O melhor que se pode augurar, em terramotos domésticos deste teor, é aguardar a implosão do prédio. O escândalo mal-cheiroso que tresanda e a detestável deseducação que se dá a crianças, jovens e adultos deste país só merecem um voto: que se danem! E em seu lugar desponte e floresça o verdadeiro desporto de raiz, que constrói “alma sã em corpo são”.

23.Jun.18
Martins Júnior    

quinta-feira, 21 de junho de 2018

TOADA DE UM VERÃO QUE NÃO NASCEU


                                                

Antes que daqui se despeça o 21 de Junho, vou lançar à tela, confidente dos  dias ímpares, aquela pergunta que talvez não haverá razão para fazê-la noutro futuro solstício de Verão. Pergunta, disse, mas melhor fora elegia ou desencanto, como se tem perante um fruto peco ou um nado-morto inesperado.
 Verão…Hoje começa o Verão! – proclamam os calendários e alardeiam os oficiais do tempo.
E eu começo por perguntar: Alguém o viu por aí, o Verão que havia de vir?... Eu verei, tu verás, ele verá, nós, vós, eles verão. Mas a verdade é que ninguém o viu, o Verão.  Pelo contrário: nas ilhas e, pior, no continente, se é que  ele chegou, embrulhou-se na espuma negreira do nevoeiro mais rasteiro, sacudiu bátegas de chuva, mais a norte, vomitou flocos de neve e cascalho de granizo, enfim, o manganão carregou-se de inverno e espojou-o em cima de nós, pobres mortais expectantes das dádivas astrais.
Frustrou as legítimas expectativas destes impotentes dependentes que, à pala dele, Verão, nos avantajamos fogosos delirantes omnipotentes. O prometido “dia mais longo do ano”, afinal, não passou de um prematuro mensageiro da noite. Herdades inteiras escalavradas pela intempestiva e sorrateira quanto bárbara  investida das águas, esperançosos frutos da época completamente aniquilados, investimentos  de capital e trabalho irremediavelmente destruídos.
Quem cantará o sol de Junho, os pomares, as sensuais cerejas vermelhas, ardendo de desejo para a boca dos viandantes?...Ninguém. Porque Verão Maior, ninguém o viu cá fora.
Verão integral, imutável e seguro, só dentro de nós! Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles verão o Verão que em nós habita. Somos todos  aquela galáxia que enche o espaço e cada um de nós uma mega-estrela de onde nasce o Sol de todos os dias!
E para não ficarmos sonâmbulos na elegia e desencanto deste solstício magoado, vou desfolhar as páginas dos POEMAS IGUAIS AOS DIAS  DESIGUAIS  (pág.151) e transformar este 21 de Junho em cântico identitário do optimismo a toda hora renascido dentro de nós:
A cor do sol é a cor
Com que o pintas
E não há verde no mundo
Sem que o cries e  sintas   
         Vestir-te por inteiro
        Da cabeça aos pés
        Nem acharás verso nem rima
        Senão escritos em cima
        Do livro que tu és

21Jun18
Martins Júnior

terça-feira, 19 de junho de 2018

Talvez não saiba que… HOJE É O DIA: “CONTRA OS CANHÕES MARCHAR, MARCHAR”


                                                             

          Vamos sair hoje deste emaranhado ensopado, infestado – já cansa – das intrigas ‘alcocheteiras’ e afins, dos não-natos (mas já empertigados) despiques eleiçoandos, das tramp-trumpes ameaças comerciais, enfim, saiamos à rua para respirar outras aragens. E as de hoje até têm a ver connosco, é dentro delas que todos nós, portugueses, nos movimentamos.
         Então, sabia que… faz hoje precisamente 107 anos que o nosso Hino Nacional foi proclamado oficialmente o Hino de Portugal, sob a designação genérica de A Portuguesa?!
         Nem mais! Com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de   Alfredo Cristiano Keil (português, filho de pais alemães),  foi composta em 1890 e correspondeu a um impulso nacional contra a prepotência britânica sobre os territórios colonizados por Portugal em África. É por isso que, nalgumas versões, embora contraditas por certos autores, a expressão Contra os canhões tinha outra tradução inicial: Contra os Bretões, Marchar, Marchar.
         Faz hoje anos o Hino Nacional, como ícone representativo da Nação. Até 19 de Junho de 1911, era considerada  a canção exclusiva do Partido Republicano. Passou por diversas vicissitudes e versões, até que em 16 de Julho de 1957, após o minucioso estudo de uma comissão especializada, o Conselho de Ministros de então fixou definitivamente o texto que ainda hoje se mantém.
         Não será despiciendo, muito menos excedentário, aproveitar esta efeméride para fazer uma reflexão temática - cultural e sociológica – sobre a legítima representatividade e actualidade do seu conteúdo, isto é,  se a letra e a música  conferem ou não com a idiossincrasia do Povo Português. Porque um hino, queiramos quer não, é a identidade sonora que sintetiza a alma de uma Colectividade, de uma Freguesia, de uma Região ou de um País.
Muito longe levar-nos-ia uma incursão nesta área. Em primeiro lugar, saber se o hino reflecte a totalidade histórico-cultural e social da Nação. Temerária e ambiciosa é a tarefa de condensar em poucos versos a mansagem dos nossos valorosos  antepassados, o estro grandíloquo dos nossos poetas, a força criadora dos braços de gerações e gerações! Bem poderiam inscrever-se as primeiras oitavas dos nossos “Lusíadas” e arvorá-las em apoteótico Hino Nacional!
Assim não foi. Com Henrique Lopes de Almeida e Alfredo Cristiano Keil transportamos na voz e na alma todo um passado de que somos herdeiros. Chegados, porém, ao fim da picada obrigam-nos a pegar em armas. Pior ainda, incitam-nos a abrir o peito às balas assassinas, como fazem os obtusos crentes jhiadistas do Alcorão,  Marchar, Marchar contra os canhões! … Fico-me a  imaginar no que pensam o Presidente da República e seus comparsas quando, em bicos de pés, soltam a voz para proclamar cantando em cerimónias protocolares a fatídica ordem de marcha Contra os Canhões Marchar!... Mas o mais certo é não pensarem coisa nenhuma, como em muitos  rituais religiosos, os crentes nem sabem o que dizem.
Canhões, quais canhões? … São outros, muito maiores e mais sofisticados os canhões que, em nossos dias, temos de enfrentar e esconjurar: os atentados à dignidade humana, a precariedade laboral, as insuficiências no SNS, os problemas escolares, as crianças desvalidas, a corrupção, a desertificação, os sem-terra e sem abrigo, todo o estendal do sofrimento humano, quer endógeno, quer exógeno.
Com a homenagem ao Hino Pátrio e seus autores, aqui fica o voto, talvez longínquo, mas necessário, de que. um dia, cedo ou tarde, haja coragem suficiente num coração português para ultrapassar a “marcha dos canhões” e actualizar o epílogo do Hino Nacional em ordem ao vértice da Vida e da Felicidade, à semelhança do hino de outros países civilizados. Mesmo que não chegue a vê-lo, assim o creio!

19.Jun.19
Martins Júnior  


domingo, 17 de junho de 2018

COINCIDÊNCIAS…DISSIDENTES!

                                                      









Domingo findo, o que dele fica é o olhar do observador atento à paisagem circundante. Hoje entrou-nos abertamente em casa e na rua onde moramos o acento forte do contraste. De um lado, a irrespirável intoxicação esférica que sai dos rectângulos verdes e toma conta dos ecrãs televisivos. Do outro, as labaredas gritantes que devoraram vidas: 66 - contam as folhas impressas deste domingo. Desde logo, o contraste entre o áudio-visual e a imprensa escrita.

17 de Junho 2017-2018 – a coincidência. A asfixia da bola – a dissidência.
Na euforia estupefaciente da bola, alteiam-se os televisores até ao limite estelar, com o estardalhar pirotécnico das praças russas, repercutidas em tudo quento é nesga de Portugal. Acrescentem-se-lhe as piruetas e os delírios infanto-maníacos de um moço abusivamente pintado de verde-branco, enchendo palcos, puxando saliva da língua dos comentadores, entretendo plateias, numa requentada comédia de enfados que já nem conseguem divertir-nos.
Que estranha sensibilidade a nossa, que se deixa prender pelo efémero, pelo ridículo, pelos ‘idiotas-úteis’ e, em repugnante contraste, passa ao largo da tragédia que vitimou corpos e almas, gente como nós?!
Não se trata de apagar com lágrimas de hoje o fogo devorador de há um ano. Trata-se, isso sim, de construir mentalidades, adoptar critérios de valor e estabelecer prioridades no pensamento e na acção. Para ajudar a clarificar os contornos mais incisivos da contradição de valores, reflicto em três quesitos fundamentais:
Qual a diferença de orçamentos entre os faraónicos privilégios da bola mundial no que concerne a Portugal  e os prejuízos de pessoas e bens de Pedrógão Grande?...
Quanto dão por um par de chuteiras? E quanto custa uma vida, quanto pesam dezenas de vítimas tragicamente ceifadas?...
Quanto aos efeitos - directos, indirectos, colaterais – ponhamos na balança de julgamento e notemos os que mais pesam no tempo e no espaço: se os da vitória/derrota no mundial, se os do sucesso/prejuízo  do 17 de Junho de 2017?...
         Na resposta a estas três questões fundamentais reside a escala de valores que nos faz observar e avaliar, primeiramente, a estratégia dos órgãos informativos que nos batem à porta e, na mesma linha, medir a sensibilidade dos portugueses perante os acontecimentos ocorridos ou comemorados neste domingo. Aí revelar-se-ão evidentes, comprometedoras e motivadoras  as “coincidências…dissidentes”  da vida de uma aldeia ou de um país.

17.Jun.18
Martins Júnior                                                                                                                                                                                                 

sexta-feira, 15 de junho de 2018

CUMPLICIDADE E GRATIDÃO



Deixem-me só ficar no ramo verde
Lira lâmina tuba ou flauta
À espera que ele passe, o Vento,
À espera que ela fique, a Poesia.
                 DEDICATÓRIA  in  “Poemas Iguais aos Dias Desiguais”

Desta vez, o ramo verde foi Lisboa, Palácio Baldaya, Estrada de Benfica. O Vento foi a brisa que subia do Tejo sereno. E a Poesia, essa perpassou em todos os amigos presentes na Sala “O Desembargador”, nas vozes que cantaram a solo e no ritmo intenso e ajustado dos  homens e mulheres que declamaram perante  uma plateia de primeira água, que muito me surpreendeu pela quantidade e, sobretudo, pela qualidade.

Jamais esquecerei – e, pela amostra, quem ali esteve – estes momentos vividos numa tarde de Junho cadenciada pelos “Poemas Iguais aos Dias Desiguais”, introduzidos pela sonora profundidade analítica da historiadora Raquel Varela, a quem renovo os meus agradecimentos.
Uma palavra de reconhecimento e apreço à Administração do Palácio Baldaya e aos amigos que, na capital do país, organizaram o evento.
15.Jun.18
Martins Júnior