Vamos
sair hoje deste emaranhado ensopado, infestado – já cansa – das intrigas
‘alcocheteiras’ e afins, dos não-natos (mas já empertigados) despiques
eleiçoandos, das tramp-trumpes ameaças comerciais, enfim, saiamos à rua para
respirar outras aragens. E as de hoje até têm a ver connosco, é dentro delas
que todos nós, portugueses, nos movimentamos.
Então,
sabia que… faz hoje precisamente 107 anos que o nosso Hino Nacional foi
proclamado oficialmente o Hino de Portugal, sob a designação genérica de A Portuguesa?!
Nem mais! Com letra de Henrique Lopes
de Mendonça e música de Alfredo
Cristiano Keil (português, filho de pais alemães), foi composta em 1890 e correspondeu a um
impulso nacional contra a prepotência britânica sobre os territórios colonizados por Portugal em África. É por
isso que, nalgumas versões, embora contraditas por certos autores, a expressão Contra os canhões tinha outra tradução
inicial: Contra os Bretões, Marchar,
Marchar.
Faz hoje anos o Hino Nacional, como
ícone representativo da Nação. Até 19 de Junho de 1911, era considerada a canção exclusiva do Partido Republicano.
Passou por diversas vicissitudes e versões, até que em 16 de Julho de 1957,
após o minucioso estudo de uma comissão especializada, o Conselho de Ministros
de então fixou definitivamente o texto que ainda hoje se mantém.
Não será despiciendo, muito menos
excedentário, aproveitar esta efeméride para fazer uma reflexão temática -
cultural e sociológica – sobre a legítima representatividade e actualidade do
seu conteúdo, isto é, se a letra e a
música conferem ou não com a
idiossincrasia do Povo Português. Porque um hino, queiramos quer não, é a
identidade sonora que sintetiza a alma de uma Colectividade, de uma Freguesia,
de uma Região ou de um País.
Muito
longe levar-nos-ia uma incursão nesta área. Em primeiro lugar, saber se o hino
reflecte a totalidade histórico-cultural e social da Nação. Temerária e
ambiciosa é a tarefa de condensar em poucos versos a mansagem dos nossos
valorosos antepassados, o estro
grandíloquo dos nossos poetas, a força criadora dos braços de gerações e
gerações! Bem poderiam inscrever-se as primeiras oitavas dos nossos “Lusíadas”
e arvorá-las em apoteótico Hino Nacional!
Assim
não foi. Com Henrique Lopes de Almeida e Alfredo Cristiano Keil transportamos
na voz e na alma todo um passado de que somos herdeiros. Chegados, porém, ao fim
da picada obrigam-nos a pegar em armas. Pior ainda, incitam-nos a abrir o peito
às balas assassinas, como fazem os obtusos crentes jhiadistas do Alcorão, Marchar,
Marchar contra os canhões! … Fico-me a imaginar no que pensam o Presidente da
República e seus comparsas quando, em bicos de pés, soltam a voz para proclamar
cantando em cerimónias protocolares a fatídica ordem de marcha Contra os Canhões Marchar!... Mas o mais
certo é não pensarem coisa nenhuma, como em muitos rituais religiosos, os crentes nem sabem o que
dizem.
Canhões,
quais canhões? … São outros, muito maiores e mais sofisticados os canhões que,
em nossos dias, temos de enfrentar e
esconjurar: os atentados à dignidade humana, a precariedade laboral, as insuficiências
no SNS, os problemas escolares, as crianças desvalidas, a corrupção, a desertificação, os
sem-terra e sem abrigo, todo o estendal do sofrimento humano, quer endógeno,
quer exógeno.
Com
a homenagem ao Hino Pátrio e seus autores, aqui fica o voto, talvez longínquo,
mas necessário, de que. um dia, cedo ou tarde, haja coragem suficiente num
coração português para ultrapassar a “marcha dos canhões” e actualizar o
epílogo do Hino Nacional em ordem ao vértice da Vida e da Felicidade, à
semelhança do hino de outros países civilizados. Mesmo que não chegue a vê-lo,
assim o creio!
19.Jun.19
Martins Júnior
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