Ao dobrar a curva ímpar do dia 13 de
Junho de cada ano, impossível
seguir
viagem sem prestar vassalagem aos dois gigantes que se erguem diante dos nossos olhos –
os olhos do mundo inteiro. Separa-os um largo oceano de oito séculos, mas maior e
mais forte une-os aquele fogo invisível que purifica as grandes almas: o génio
criador! Como um romeiro crente que vem de longe, curvo-me, ajoelhado, diante
dos dois Fernandos – Fernando de Bulhões e Fernando Pessoa – e ao pé do seu ‘altar’,
hoje em Lisboa, peço-lhes a bênção e a
permissão para saudá-los com a mesma prece que, desde o ano transacto, lhes
dedico com paixão e gratidão:
De uma milenária noite estulta?
E quem te travestiu
De usurário agente da turbamulta
Em velórios mortiços
Mitos bentos óleos e feitiços?
Que mão rasteira
Te enfardou e apalhaçou
Entre os varridos balões da feira?
Grandíloquo helénico Demóstenes
Da era medieva
Precursor de Vieira a haver
Esconjurando a treva
Dos tempos
Náufrago migrante
Pelo mundo esparso
Foste ‘Fogo de Santelmo’
Foste Paulo de Tarso
Ulisses bandeirante
Da tua urbe primeira
‘Por mares nunca dantes navegados’
Onde as lusas quilhas não lavravam
Já os teus pés de Assis
Lassos mendigos exilados
Deixavam rasto visionário
De sábio lutador missionário
Em cada areia ou cabo ou frágua
Em tudo vias a amurada de Pádua
Com homens-peixes lá defronte
Oh verbo-fogo que arpava os tubarões
Flameja de novo a afiada espada
Da Justiça agrilhoada
Como outrora os tribunais
Ainda hoje esperam as togas naturais
Que não se prostituam nem fraquejem.
Pessoa com o estro de Fernando
António transmutado de Pessoa
Filhos do mesmo sol de Junho
Amamentados no mesmo berço-Lisboa
Voltai de novo ao seio capital
Génios do Bem
Fernandos da mesma Mãe
E será grande Portugal
13.Jun.18
Martins Júnior
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