quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

FEVEREIRO BISSEXTO: TREVAS E LUZ – o 27º JAMAIS SERÁ ESQUECIDO!

                                                                       




 

        Superstição ou crença sempre tatuaram o ano bissexto e, com maior negrume, o mês que lhe deu o ser e o nome: Fevereiro!

            E não se enganou o povo-adivinho, sobretudo na segunda década do ‘malfadado’ mês bissexto: 20, 23, 24, 27, a sequência fatídica dos dias que o coração perdoa, mas a memória não esquece. Cada qual em seu lugar, cada qual com o seu peso, o seu drama e a sua tragédia. E todos convergem neste bissexto 2024!

Em 2010, foi o 20º dia que arrastou terras, casas, haveres e pessoas, ribeira abaixo, para o mar: contaram-se 42 vítimas mortais. Em 1987, finou-se no 23º dia o Cantor da Liberdade, José Afonso. Em 2022,  ficaram marcadas a sangue as nuvens da manhã do 24º dia no sul da Ucrânia pelas garras assassinas de Moscovo. E, à cabeça da fila, em 1985, o 27º dia foi testemunha ocular, às 7 horas da manhã, do assalto de 70 polícias a uma pacata igreja, na Ribeira Seca de Machico, ocupando-a  durante 18 dias e 18 noites. Houve ameaças e agressões, prisões de pessoas arrastadas para os carros da PSP. Tudo, sem mandado judicial. A mando do presidente do Governo Regional e do bispo de então da Diocese do Funchal. Têm nome e os dois estão vivos, aqui na Madeira.

Mas, ao fim do cerco, a população triunfou. Em 17 de Março, o forçado piquete policial abandonou o local. Secretamente e antes que o sol nascesse.

Para que o mundo não esqueça, transcrevo aqui as quadras que o povo de então compôs - e cantou até hoje e sempre - em legado das dores e dos fulgores que a história jamais apagará:

 

                                                    Povo da Ribeira Seca

Gente firme e verdadeira

De lutar pela Verdade

Não se cansa a vida inteira

 

Seu nome será lembrado

Ele tem a sua história

Este chão é um chão sagrado

Onde cantámos vitória

 

 

É dia de Acção de Graças     O nosso Povo estremece

Assim podemos dizer            Cheio de felicidade

Em o Povo estar em festa       De sermos os lutadores

Depois de tanto sofrer            Pelo direito à verdade

                             

                              -------------------                      

 

“27 de Fevereiro”                    O governo mais o bispo

Deve ficar bem lembrado        Mandaram a igreja fechar

Que veio tanta polícia              Mas o Povo resistiu

Ocupar o nosso adro                Até a vitória alcançar

 

                             -----------------

 

Aqui nesta nossa igreja             Ninguém pode destruir

O Povo é quem tem poder            A força desta união

Que custou tanto suor                Nós ganhámos esta luta

Para a igreja se fazer                  Que o Povo tinha razão

 

 

27-28.Fev.24

Martins Júnior

sábado, 24 de fevereiro de 2024

“O HERÓI SERVE-SE MORTO”… ATÉ QUANDO?!

 

                                                             


        Acompanharam-me todo o dia as nuvens sombrias do dia 23, sexta-feira (“aquele dia aziago, sexta-feira” das Viagens na Minha Terra) e não me deixaram quieto até à última das vinte e quatro horas. Pegaram-me nas mãos e obrigaram –

-me a transcrever aqui a inquietação, a angústia deste desabafo, que se estenderam até ao dia seguinte, à espera de um novo nascer do sol.

            A Inquietação – mais dramática que a de José Mário Branco – vem de mais longe, das terras moçambicanas e de Reinaldo Ferreira, quando o poema dedicado aos heróis fecha, como urna funerária, neste trágico epitáfio:

“O HERÓI SERVE-SE MORTO”

Que outra dor maior  e maior ignomínia à grandeza humana poderia ocorrer--nos quando os gélidos carrilhões do Kremlin emudeceram os quatro ventos do planeta:  

“NAVALDY MORREU. TINHA 47 ANOS” ???!!!

É sina que vem dos confins da História: desde o inocente Abel até Àquele que pagou no corpo a factura ditada pelo incestuoso código romano-israelita Pretório-

-Sinédrio: “É preciso que morra um homem para salvar todo o povo”. Assim o Nazareno, os seus colaboradores directos e indirectos. Assim Joana dÁrc. Assim  Luther King. Assim as vítimas da Pide salazarista. Assim Navalny.

Até quando?...

Até que um povo inteiro – cada homem, cada mulher, cada jovem – recuse ceder um palmo de terra, de culto, de poder ao ditador: primeiro conhecê-lo, desconstruir o seu discurso, pô-lo à prova, por mais doces que sejam as suas palavras. O ‘superavit’ de doçura verbal transformar-se-á em outro tanto de fel armazenado e pronto a intoxicar até à morte o mesmo incauto povo que deu vida ao mesmo ditador. Assim  com Hitler, assim com Mussolini, assim com Salazar, assim com Putin.

Como se não bastasse  lançar na masmorra o corpo vivo de Navalny, o sadismo putinista ceva agora o estertor do seu ódio mantendo preso o corpo morto do Herói, perante o pedido angustiante da família. É urgente  acordar, denunciar e cortar o passo à passagem dos ditadores, desde os maiores nas grandes superfícies aos mais pequenos no estreito burgo onde emergem como ‘salvadores do povo’, enquanto não lhes cair a máscara e revelarem o que são: “vampiros nocturnos”. 


Chamo José Afonso, nesta sua canção e neste aniversário da sua morte, em 23 de Fevereiro de 1987.

Em Navalny assassinado e em José Afonso consumido na luta contra a ditadura está cada um de nós. Está a sua morte, mas está também a sua ‘reincarnação’, erguendo o braço e a voz, ressuscitando o ânimo redivivo de todos aqueles que deram a vida para que brilhasse o sol da paz e da liberdade para os vindouros. Sejamos dignos dos nossos antepassados!

Connosco, o herói nunca será servido morto!

 

23-24.Fev.24

Martins Júnior

 

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

“SMALL IS POWERFUL”… O ABRAÇO DO URSÃO E O BEIJO DA URSINHA… JÁ CHEGÁMOS À MADEIRA’?!

                                                                            


Dizem que há por aí maremotos, dormentes de cinco décadas, agitando aquilo que, segundo alguns, nunca passou de mais uma “Baía dos Porcos”. Contam coisas das arábias, de um Mega contentor, marca Al-Bu Kék, atrelado a um submarino de invisível mas poderoso calado, ambos carregados de farinha branca com destino à Rua Gomes Freire sob custódia ‘cubana’.

Devo dizer que nada disso me diverte, nem move nem comove, não me aquenta nem arrefenta. Estou farto disso até à náusea, raça de corsários novos (travestidos de oportunistas cristãos não menos novos)  que passaram quase cinquenta anos a perseguir, vilipendiar e esmagar quem na hora certa denunciou que ‘o rei vai nu’ por fora, mas couraçado de ouro por dentro. Mantenho que era aí, há trinta e  quarenta anos que  deveria haver justiça - tão musculada quanto a ‘Super musculada Madeira Nova’ – para desnudar e punir os andrajosos de alma feitos milionários de corpo. Foi esse o ventre ‘imaculado’, a escola matriz, que ‘pariu’ os monstrinhos deprimentes, dispersos como filhos de pai incógnito por essas furnas adentro!...

Hoje, o que me conforta é o milagre da pequenez, desde o das fábulas de Esopo e La Fontaine, em que uma rã engoliu um boi, até à heroica gesta bíblica em que o pastorinho David fulminou o gigante Golias. E se Ernst Friedrich Shumacher  viesse a conhecer o milagroso ‘caso Madeira’, após ter escrito Small is Beautiful (‘A beleza de ser Pequeno’ ou  ‘O que é Pequeno é Belo’) daria ao mundo a espantosa novela Small is Powerful (‘O Poder de Quem é Pequeno’ ou ‘O que é Pequeno é muito Poderoso’). E certamente escolheria  para  introdução-chave  a profecia de Isaías: “Tu, Belém, não te julgues a mais pequena das principais cidades de Judá, porque de ti sairá o Chefe, Pastor e Líder do Meu Povo”.

E não seria desmentido. Bem, pelo contrário.

Vislumbro até que os “Quatro e Meia”, num lampejo de prognose

divinatória, inspiraram-se nela para compor aquela inimitável canção:

                                   Se algo existe nesta vida

                                   Que algum  saber requer

                                   É a ciência de saber

                                   Como pensa uma mulher    

Seja como for, o que está feito – já está feito. Sem remédio. “Em que é o que me meti… e com quem me meti?!”. Estará a mascar agora o rei posto. “Onde é que eu tinha a cabeça quando fiz orelhas de mercador a quem me segredou  a sábia prosa dos meus bisavós: “Quem dorme com crianças amanhece………”!

Verdade da história: Agora, ela tem tudo na mão: é rei quem ela quiser. Para a vida ou para a morte deste ou de outro governo da Região Autónoma, ela é que é, neste momento,  o  Presidente da República, a Procuradora Geral da República,  o Presidente da Comissão Nacional-Regional das Eleições, a Representante da República, a Presidente da Assembleia Legislativa, enfim, a Presidente do Tribunal Constitucional. Quem aguenta tamanha carga em cima dos ombros? Como vencer o pesadelo das e as noites de insónia?... E, mais do que isso, enfrentar a legião dos 254 milhares de eleitores da Madeira e Porto Santo!

Mas fez o tremendo assalto, portento jamais visto ou escrito em 50 anos de vida ilhoa: com escassos 3.046 sufrágios  abateu a cordilheira laranja de 58.399 Votos Grandes! Digam lá sábios da Escritura/ Que segredos são estes da Natura – bem poderia comentar e apostrofar o nosso Épico: 43.13% do gigante adamastor caem nas mãos e vão ao fundo dos magros 2,25% da  mareante anã que talvez  nem saiba nadar !!!

Moral da história: Primeiro - Nunca sabe a força que tem quem vota num partido pequeno! Segundo – a beleza e o perigo do Abraço do Urso Maior quando se encontra com  o Beijo da Ursa Menor, direi mesmo, da Ursa Mínima!

Desculpem: ‘Qualquer semelhança (não) é pura coincidência’. Originalidades da moderna ‘madeirensidade’ e, por estas e por outras, nasceu o castiço aforismo regional: “Já chegámos à Madeira?!”. Boas sortes!

ÚLTIMA HORA: Se ainda não exerceu o seu poder coercivo cá na ilha, já causou uma escandalosa ‘baixa’ em Lisboa, dentro da própria casa-mãe, leia-se, dentro do próprio partido. É obra!

03-05.Fev.2024

Martins Júnior