Superstição ou crença sempre tatuaram o ano bissexto e, com maior negrume, o mês que lhe deu o ser e o nome: Fevereiro!
E
não se enganou o povo-adivinho, sobretudo na segunda década do ‘malfadado’ mês bissexto: 20, 23, 24, 27, a sequência fatídica dos dias que o coração perdoa,
mas a memória não esquece. Cada qual em seu lugar, cada qual com o seu peso, o
seu drama e a sua tragédia. E todos convergem neste bissexto 2024!
Em 2010, foi o 20º dia
que arrastou terras, casas, haveres e pessoas, ribeira abaixo, para o mar: contaram-se
42 vítimas mortais. Em 1987, finou-se no 23º dia o Cantor da Liberdade, José
Afonso. Em 2022, ficaram marcadas a
sangue as nuvens da manhã do 24º dia no sul da Ucrânia pelas garras assassinas
de Moscovo. E, à cabeça da fila, em 1985, o 27º dia foi testemunha ocular, às
7 horas da manhã, do assalto de 70 polícias a uma pacata igreja, na Ribeira Seca
de Machico, ocupando-a durante 18 dias e 18 noites. Houve ameaças
e agressões, prisões de pessoas arrastadas para os carros da PSP. Tudo, sem
mandado judicial. A mando do presidente do Governo Regional e do bispo de então da Diocese do Funchal.
Têm nome e os dois estão vivos, aqui na Madeira.
Mas, ao fim do cerco, a
população triunfou. Em 17 de Março, o forçado piquete policial abandonou o
local. Secretamente e antes que o sol nascesse.
Para que o mundo não
esqueça, transcrevo aqui as quadras que o povo de então compôs - e cantou até
hoje e sempre - em legado das dores e dos fulgores que a história jamais
apagará:
Povo da Ribeira Seca
Gente firme e
verdadeira
De lutar pela Verdade
Não se cansa a vida
inteira
Seu nome será lembrado
Ele tem a sua história
Este chão é um chão
sagrado
Onde cantámos vitória
É dia de
Acção de Graças O nosso Povo
estremece
Assim
podemos dizer Cheio de
felicidade
Em o Povo
estar em festa De sermos os
lutadores
Depois de
tanto sofrer Pelo direito à
verdade
-------------------
“27 de
Fevereiro” O governo
mais o bispo
Deve ficar
bem lembrado Mandaram a igreja
fechar
Que veio tanta
polícia Mas o Povo resistiu
Ocupar o
nosso adro Até a vitória
alcançar
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Aqui nesta
nossa igreja Ninguém pode
destruir
O Povo é
quem tem poder A força desta
união
Que custou
tanto suor Nós ganhámos
esta luta
Para a igreja se fazer Que o Povo tinha razão
27-28.Fev.24
Martins Júnior
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