terça-feira, 29 de outubro de 2019

DOS MORTOS PARA OS VIVOS


                                                       

São os mortos os protagonistas deste acontecimentos. Mas não é para os mortos, não, o grito que sai dos túmulos. É para os vivos!
Vem de Espanha a notícia, para uns macabra, para outros gloriosa e necessária. Mas não é só para a Espanha o pré-aviso que dela vem. É para todo o mundo, para a nação, para a região, para o pequeno cantão que nós habitamos.
O acontecimento e a notícia dão conta da exumação (eu direi expulsão) do Caudillo Castelhano, Francisco Franco, o Generalíssimo, do Valle de los Caidos, o cemitério que ele próprio mandou construir para enterrar os milhares de vítimas da guerra civil espanhola (1936-1939) e muitos outros milhares de homens e mulheres assassinados durante a ditadura franquista (1939-1945). O mais repugnante e hediondo é o facto de ser ele mesmo a reservar, antes de morrer, um sumptuoso mausoléu encimado pelo mais alto cruzeiro, para servir de sepultura própria. Isto é: não satisfeito de massacrar e matar multidões de seres humanos, quis ele continuar a dominá-los, como carrasco soberano, até nas campas do cemitério! Abjecto. Imundo.
Já referi o acontecimento, no mesmo dia da exumação, saudando a decisão dos três poderes da Democracia – o executivo, o legislativo e o judicial – em mandar retirar do meio das vítimas o sádico ditador que as sepultou. Era  afronta demais  à dignidade humana consentir tamanho despudor! Foram precisos 44 anos para cumprir um imperativo básico da ética e da consciência político-moral de qualquer povo. Quem se opôs? Os herdeiros do fascismo espanhol, a direita e a extrema-direita e – pasme-se, mas é o costume – a Igreja Católica, com o falecido cardeal (sempre os cardeais) Rouco Varela, arcebispo de Madrid, a liderar o movimento pró-franquismo no Valle de los Caidos. Não admira. Foi a própria Igreja que cognominou o ditador Francisco Franco com o título Missus a Deo, o enviado de Deus às terras castelhanas.
O mesmo se passou com outros tantos magnatas do terror, torcionários incorrigíveis, endeusados pelos poderes temporais e pseudo-espirituais, os quais, após a morte, continuavam ‘canonizados’ nos altares do neo-fascismo. Nem todos os povos, porém, caíram na cegueira mais grosseira de perpetuar-lhes a memória. Pelo contrário, apagaram as pegadas criminosas dos facínoras autoritários, caso da Alemanha, que se empenhou em desnazificar o seu país. Em Portugal, tudo tem sido mais pacífico, inclusive a polémica sobre o eventual Museu em Santa-Comba-Dão.
O mais importante, nesta reflexão vai para os vivos. Para nós, individual e colectivamente. Não esperemos pela tumba dos ditadores para procedermos ao enorme dispêndio de forças e orçamentos destinados a retirá-los do meio das vítimas que eles ajudaram a matar. É preciso retirá-los, enquanto vivos. Expulsá-los do poder, se o não souberem exercer. O silêncio das vítimas engrossa o furacão dos poderosos incompetentes e, por isso, exigitivamente descartáveis. Nos governos, nas assembleias, nos municípios e, se possível, nos santuários.
Não esqueçamos que o mal, quando enraizado, lança os tentáculos muito mais longe que imaginamos. Subrepticiamente rasteja, enrola-se nos troncos futuros e injecta-lhes o vírus da prepotência e da intolerância, ambas caldeadas no verme da indiferença face ao seus serventuários. A geração de hoje será ré no tribunal da história se não estiver vigilante aos tiques de líderes de circunstância, encapuzados de salvadores, populistas, alarmistas de fantasmas imaginários em noites do Helloween!
Os espanhóis levaram 44 anos para, entre os mortos, separar o joio do trigo. Culpadas foram as gerações que os precederam. Deveriam tê-lo feito no tempo oportuno. É este o nosso tempo, é  esta a nossa Hora!
Esteja sempre inscrita em cada folha do nosso calendário a agenda (o que deve ser feito) sintetizada no princípio sócio-filosófico sobejamente conhecido: “o pequeno desvio de hoje resultará no fatal naufrágio de amanhã”.

29.Out.19
Martins Júnior

  

domingo, 27 de outubro de 2019

FARISEUS E PUBLICANOS – É SÓ ABRIR OS OLHOS!

                                                  

        Nada tem de poético, muito menos de romântico. Nem está no carunchoso baú de passadas velharias.  É tudo muito fresco, muito vivo, embora repugnante e detestável, mas tudo do presente. E do futuro. Enfim, é a mísera condição da corcunda curvatura da sociedade ou parte dela (parte grande!) que se apresenta emproada e opada à custa do vácuo interior de que é feita.
Vamos à casuística. É o trabalhador, indiferenciado ou não, mas incompetente e dobre que se põe em bicos de pés diante do patrão que lhe passa perto, diante do chefe, do director, em hora premeditada, oportunista, na mira de obter benesses de circunstância ou subida de posto, É a raposa astuta que se amocha no pântano do partido, mexe e remexe, enrola-se e desenrola-se, agacha-se e empina-se com o mesmo anti-pudor, só para saltar às costas do companheiro e camarada e ser promovido pelo presidente. É, ainda, o devoto beato, o clérigo calculista, o que nunca se compromete em causas prementes e decisivas para o bem comum, só porque a  meta final é trepar o topo hierárquico, a mitra, o barrete e, se possível, a tiara.
Ei-los todos em fila super-indiana, super-alinhados, erectos, impecáveis de trato e táctica, ostentando opados papos-de-vento inútil e falacioso. Eles por aí desfilam em cortejos, procissões, de vistosos círios na mão, como estátuas ambulantes de cera mórbida.
Nos antípodas, estão os verdadeiros operários, os oficiais subalternos, os cumpridores de enraizada consciência profissional, os que mesmo longe do chefe ou do capataz realizam o conteúdo oficinal que lhes compete.
Quem ganha e quem perde neste combate silencioso, mas gritante, que se repete no quotidiano das diversas sociedades?... O mais desconcertante é que, no critério corrupto das nações, são os primeiros – os emproados, os malabaristas ventríloquios, os oportunistas – são eles que comandando a sociedade corrompem-na até à medula dos ossos.
Vem de longe esta notícia. Trágica notícia. O Nosso líder e Mestre de Nazaré fez ouvir hoje a sua voz, precisamente, quando invectivou as classes dominantes, os intocáveis da sociedade israelita. Vem no capítulo 18 do evangelista Lucas. Vale a pena consultar e reler a narrativa dos dois homens que subiram ao Templo de Jerusalém, o fariseu e o publicano. A arrogância do fariseu, auto-elogiando-se e ufanando-se dos seus atributos mereceu  o  repúdio da sua prece face ao Supremo Juiz. Em contraste, o publicano viu a sua lealdade e o reconhecimento da sua frágil condição aceites e compensados pelas instâncias superiores .
Para o dia de hoje, para toda a semana, para todo o ano, para toda a vida há-de ficar em nossa memória o veredicto do Mestre que tem perfeita e adequada tradução no sapientíssimo provérbio árabe: “A primeira e maior recompensa do dever cumprido é ter cumprido esse dever”!

27.Out.19
        Martins Júnior \                                                                              

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

CAMPO REDIVIVO DAS MANHÃS DE PÁSCOA



Os subterrâneos da morte ergueram-se em fúria e arrancaram do seu meio o facínora assassino de milhares de corpos ali soterrados. O carrasco não tem o direito de habitar o mesmo bairro onde moram as vítimas que ele próprio matou. Agora no “Valle de los Caídos” não há vencidos, só há vencedores!
Doravante, é sempre Sábado de Alleluia, será sempre Manhã  de Páscoa!

         25.Out.19
         Martins Júnior

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

“O PAPA JOGADO AO RIO”



Decididamente o Papa é o elo mais fraco.
Quem o faz assim, frágil, isolado, alvo fácil, bradando aos quatro ventos, qual náufrago erguendo o poema heróico no meio das ondas revoltas? Não são os agnósticos, não são os homens da ciência e da arte, nem mesmo os ateus. Quem o difama, então,  quem o chama de herege, quem o ataca tão ferozmente que nem a centenária guarda suíça do Vaticano consegue defendê-lo?... São os seus próprios fâmulos, os da sua casa, sucedâneos dos intolerantes “Familiares da Santa Inquisição”. Eles são cardeais e bispos, eles são “funcionários de Deus”,  amanuenses  clericais e, na base e em força, os fundamentalistas da fé, também chamados de “ultraconservadores católicos” .
”Vimos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar” – apetece cantar, gritar a plenos pulmões a canção que fez renascer o autêntico animus evangelicus, uma alma nova para a Igreja e para o mundo, aquando da proclamação do Concílio Vaticano II, entre 1962-1965. Pois, hoje também  vimos, ouvimos e lemos o que acaba de acontecer em Roma: Católicos ultraconservadores roubaram de uma igreja e deitaram ao rio Tibre  cinco imagens oriundas da Amazónia, as quais representavam a gestação e a exaltação da vida.
Porquê?
Porque  no Sínodo que ora decorre em Roma até 27 de Outubro, o Papa  recebeu com honras oficiais um grupo de  representantes dos povos indígenas da Amazónia… Porque aos que criticavam a sua indumentária nativa, inclusive as vistosas penas ornamentais, o Papa fez saber que elas ali  não eram menos dignas que os barretes cardinalícios… Porque tomou a defesa da ecologia e do respeito pela floresta da Amazónia, contra aqueles que queriam ver o Papa amarrado à sacristia e ao palácio “apostólico”… Porque o Papa censurou e emendou a passividade dos que tornam obrigatória a práxis dogmática do “Sempre foi assim e nada se pode mudar”… Por tudo isto e pela abertura à verdade, à ciência, à natureza, à nossa “Casa Comum”, levantam-se agora os ultraconservadores (nome demasiado pomposo para designar os atrasados costumeiros, paralíticos do espírito) fariseus autocráticos, ditadores intolerantes (como veremos no próximo domingo) que se arrogam ter Deus preso no congelador dos seus crânios e a Religião embalsamada na naftalina do velho baú dos defuntos ignorantes.
A essa “estirpe” de brâmanes intocáveis, o Mestre da Galileia se hoje cá voltasse repetiria com a mesma veemência: ”Raça de víboras, sepulcros caiados por fora e podres por dentro. Vós  não entrais no reino e não deixais ninguém entrar”!
Por isso, repito o que deixei incluso no texto de anteontem: o Papa é o elo mais fraco. “Coitado do Papa Francisco – dizia-me um amigo teólogo -  não o deixam fazer nada, logo lhe caem em cima os corvos e os abutres do Vaticano”. Ao atirarem ao Tibre as cinco imagens que ele acolheu com carinho, foi a ele próprio que os católicos “exemplares”, os ultraconservadores  deitaram ao rio! Temos que resgatá-lo, dar-lhe força e apoio, não apenas recebendo com entusiasmo as suas instruções, mas antecipando-nos na descoberta da verdade, mesmo que isso cause fissuras no castelo de marfim, carunchoso e insalubre de velhos preconceitos com que a ignorância e a deformação do tempo nos marcaram. Tal como o servo ou o subalterno, em qualquer segmento produtivo, adivinha e pressente a vontade última do seu senhor, assim seremos nós, vigilantes e criativos na demanda da verdade, à luz da ciência, da história, do esclarecimento global.
Até em ambientes restritos da nossa quotidiana vivência colectiva, podemos abrir clareiras na paisagem anímica dos nossos “Compagnons de route”. Lendo, estudando, esclarecendo. Connosco, os ultraconservadores (que os há no meio da gente, sobretudo ignorantes) nunca se atreverão a deitar ao mar o Papa Francisco!

23.Out.19
Martins Júnior  

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

DEPOIS DE UM POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE… AGORA


                               

Agora que os silêncios são a cinza
De um chão que nunca foi
Agora que a saudade já não dói
E o nada
Nada  mais é  que a campa rasa a nossos pés
É aí  que nascem  as palavras infinitas
Soltas aladas e  nunca ditas
Mas prenhes de loucura desmedida
Daquela que não cansa nem acaba
Porque nunca foi ao cais da Despedida

Agora as palavras são janelas
Por onde entra e sai o mar
Por onde as manhãs casam com o luar
E o sol estende toda a noite as cortinas do desejo

Agora as janelas reabertas
São nómadas ubíquas sem  paredes certas
E todo o mundo é o seu lugar
…………..
Janelas de par em par
Nunca mais hão-de fechar !

21.Out.19
Martins Júnior


sábado, 19 de outubro de 2019

HÁ MAIS VIDA ALÉM DA RELIGIÃO


                                           

Os recentes atentados do Daesh contra os Kurdos na faixa nordeste da Síria trazem de novo o pesadelo atávico de um passado tribal, onde à barbárie dos homens se junta a bênção de Alá. Esta tenebrosa relação entre guerra e religião é o deformado produto da condição primária do ser humano - contingente, frágil e impotente perante os comportamentos estranhos com que a natureza lhe amedrontava o normal quotidiano.  Era, na escala de Augusto Comte, o “estádio teológico”, por força do qual a divindade era a única explicação de todos os imprevistos, sobretudo as calamidades ocorridas à sua volta. O nosso épico imortal, em plena época renascentista, interpretando a ingénua crença dos marinheiros lusos, atribui ao santo tutelar os fenómenos atmosféricos que os assolavam nos oceanos, chegando a nomear os relâmpagos como o “fogo de Santelmo” – São Pedro Gonçalves Telmo, o guardador das gentes do mar.
A ignorância, o medo, a impotência perante o desconhecido tomaram conta dos mortais, tolheram-lhes os anseios de desvendar os “segredos da natura”. Esqueceram o mandato do Criador – “ Crescei e dominai a terra que vos dou”  (Génesis, 1, 28) – para apenas submeter-se ao estranho veredicto do Juiz Supremo – “Não toqueis na árvore da ciência, porque no dia em que comerdes do seu fruto, morrereis” (Génesis,2, 17).
Por inércia e comodismo, alimentados por outros tantos aprendizes de feiticeiro e/ou auto-proclamados  mensageiros do divino, o homem acomodou-se à crédula almofada das religiões e deixou-se ficar por aí, remetendo todas as suas referências para a superestrutura de um deus-à-sua-maneira. Até que, mercê do esforço de homens e mulheres, tocados pela intuição genesíaca – “Dominai a Terra” – ultrapassaram a fase transitória do “estádio teleológico” e implantaram no terreno da história a idade áurea do pensamento científico, o “estádio positivo”, em virtude do qual o homem assumiu a condução do seu destino, naquilo que lhe foi dado pelo Criador, penetrando nos caminhos da ciência e assim “dando novos mundos ao mundo”. Abandonou-se o império fatalista dos fantasmas ocultos, subiu-se a pedregosa  montanha da investigação e do saber e, dali, viu desdobrar-se diante dos nossos olhos um horizonte de perspectivas e poderes nunca antes alcançados.
É este a paisagem onde felizmente se movimenta o tempo que nos foi dado viver e que os nossos avós não tiveram a dita de atingir. Sabemos que os valores religiosos não são nem a exclusividade nem a totalidade da condição humana. Parafraseando um axioma do recente património português, diremos que há vida, mais vida para além dos padrões religiosos. Pelo menos, há vivências paralelas que não podem ser engolidas, apagadas ou esmagadas sob o jugo gratuito de epifenómenos episódicos, por mais piedosos que se afigurem, mas que serão sempre acidentais no percurso essencial de um povo.   Há os valores científicos, há as referências históricas, há a  nascença e a identidade de cada pátria, de cada burgo ou região.
Na época que é a nossa, da procura científica da verdade histórica, sobretudo no que concerne às raízes ancestrais que nos definem como cidadãos herdeiros de um passado, seria extrema e paupérrima veleidade ceder às tentações populistas de tempos obscurantistas, sob pena de trairmos a história  e sacrificarmos a verdade no cepo da mais crassa ignorância.
Já lá vão, bem distantes, os defuntos modelos do sincretismo religioso que retardou a marcha da história. Somos adultos. Somos esclarecidos. Longe de nós  a obsessão da falsa fé e do fanatismo islâmico que hoje perseguem o mundo civilizado.

19.Out.19
Martins Júnior

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

CONTRA O PUNHO CERRADO - O GRITO DAS MÃOS VAZIAS


No dia mundial da erradicação da pobreza



Punho cerrado enorme indiferente
Em cada dedo sufoca mudo um continente
Punho e polvo em toda a latitude
Que se alimenta do que tem dentro:
Mãos vazias esguias enguias em talude
Aos milhões
Com o sangue que lhes falece
Engordam e seguram o globo de ouro cerrado
Enorme indiferente ao grito e à prece
De quem pena e apodrece



Quando virá a manhã
Em que as mãos esquálidas fechar-se-ão
E serão o murro e o vulcão
A abrir o mundo novo como o sabor e a cor de uma romã?!

17.Out.19
Martins Júnior

terça-feira, 15 de outubro de 2019

CARAMBOLAS E TACADAS DA VIDA: DE ONTEM, DE HOJE, DE SEMPRE


                                                  

Que mãos estranhas se escondem  por aí fora,  nos escaninhos da mais soturna estratosfera, mãos invisíveis que jogam os fios da história e mexem os mortais como marionetes desmioladas, ao sabor de alterações sem nexo nem rumo?!... Mesmo que  Chesterton não tivesse escrito o “Desconcerto do Mundo”, estaríamos hoje em claras condições de presenciar, a olho-nu e para desgraça nossa impotentes,   este circo  de esquizofrenia colectiva, em que palhaços e monos saltam para os tronos, traidores de cara calçada ascendem a fiéis amantes da coroa e até os algozes assassinos são canonizados  na praça pública ou na ara das urnas como salvadores da pátria!
É só abrir os olhos – mesmo que seja para fechá-los depressa – e constatar o nauseabundo espectáculo que vai desde os ‘tesourinhos deprimentes’ aos monstros  (des)humanos que destroem o ambiente temporal  em que se movimenta a nossa história individual e colectiva. Em marcha acelerada (para não enjoarmos na viagem) percorro o agora, o antes e o depois. A hipocrisia de um Trump que diz combater os extremistas islâmicos do  Daesh, mas deixa-lhes caminho aberto, no norte da Síria com a retirada das tropas americanas, permitindo assim a invasão turca contra os curdos. No mesmo enclave, agiganta-se agora, como arcanjo redentor, aquela figura sinistra e pálida de  Bashar al-Assad, o mesmo que em 2011, com as forças colaboracionistas da Rússia e do Irão, esmagou brutalmente a vontade democrática do população  síria.
Sempre foi assim. Recolho aqui, por ser mais impressivo, o elogio de Eugénio Pacelli, mais tarde Papa Pio XII, aquando da proclamação de Adolf Hitler como líder supremo do  Reichstag, em 1933. Elucidativo é o livro de Henri Fabre, L’Èglise Catholique face au fascisme et au nazisme” Já antes, Pio XI alcandorava encomiasticamente o fundador do fascismo italiano, cognominando-o de “O Incomparável Benito Mussolini”.
As voltas que o mundo dá! Mais desconcertantes e vertiginosas que as rotações do planeta! Desentranho-o. o planeta, e aos meus olhos desenha-se, não um círculo achatado, mas um extenso rectângulo,  esverdeado e todo chato, de uma planura virgem, onde os humanos são bolas roliças, multicolores, que se cruzam e entrecruzam, de modo tão tresloucado que  até nos interrogamos: “Que mãos estranhas estão a mexer neste jogo?”.
E não é preciso ir muito longe para ‘apreciar’ estas tacadas, carambolas, truques e trapaças, nas mãos de feirantes de circo que da lama fazem ouro e vendem chita por seda. Às vezes é o tempo, outras vezes a maré e quase sempre é o “olho no burro”  (leia-se, do oportunismo insaciável) que lhes faz cair nas mãos o bolo fácil do sucesso.
Também não será precisaremos rapar as escamas da vista para assistirmos a esta degradante tômbola da vida pública e publicada, em que o “Zé pelintra”, com apenas três moedas que pôs na máquina,  vê cair-lhe nas mãos uma estrondosa chuva metálica. E o nosso “Zé” atrevido, se a tômbola não der, ele não hesita nem teme: estica a voz grossa de tabaco velho e exige, ameaça… depois, no galho verde,  canta como um herói! Noutros casos, mas por veredas idênticas, é a mediocridade que campeia, trepa em passo de lagarto e “la politique du chat”  (a astúcia de gato) e assenta a calosa cauda na cátedra dos sábios e competentes. Mas nisto, se é grande a vantagem do “feirante”, maior, muito maior é o prejuízo para a sociedade.
Por aqui se vai à degradação e ao entulho, onde os sapos se vestem de reis.  Por aqui,  se desmotivam e se auto-excluem os autênticos valores da grei. Por aqui, depressam os populistas, os ditadores. E em vez de um povo sábio, temos um povo miúdo, uma geração de medíocres.

15.Out.19
Martins Júnior

domingo, 13 de outubro de 2019

UM GENERAL, UM MILAGREIRO, UM OPOTUNISTA E UM DEUS JUSTICEIRO – E UMA ARMA CHAMADA LEPRA



Drama histórico em três Actos – Esboço
Em plena apoteose de romarias peregrinantes e milhares de pavios de cera ateando o incêndio da fé, trocada pelo tilintar pesado de brilhantes moedas, trago este simples mas tremendo guião para futuros realizadores de um filme improvável, porque impossível de vê-lo e ouvi-lo.
I ACTO
GENERAL
         Chefe de Estado-Maior do Exército. Poderoso, estimado pelo rei e pela grei. Mas leproso, sem hipótese de cura no seu país. Aconselham-no a procurar alguém no estrangeiro. Relutante embora, aceita e sai com uma imponente  comitiva. Leva consigo 350  Kg de prata, 68 Kg de ouro e, segundo o protocolo da época, 10 túnicas de festa. Tudo isto para oferecer a quem o curasse da lepra assassina. Bate à porta do Milagreira e clama para dentro:
Aqui estou, aqui me apresento, enviado pelo rei do meu país.
O MILAGREIRO
Não sai de casa, apenas dirige-se ao ajudante:
 Vai lá fora e diz a esse general o seguinte: “O meu senhor manda o senhor general tomar banho ao rio. Dê sete mergulhos e ele garante que ficará curado.
O GENERAL
Contrariado pela humilhação da receita, reage em tom arrogante e hostil:
Não vou. Tenho no meu país rios e águas muito superiores a esse rio que tu dizes.
Entretanto, vieram os conselheiros do rei e convenceram-no a aceitar o repto. E aconteceu que, após o sétimo mergulho, achou-se curado, a pele  fresca e macia como a de uma criança recém-nascida. Corre depressa, com toda a comitiva, à casa do Milagreiro. Prostra-se diante dele e. sem conter a emoção, diz:
Graças te dou! A ti e ao teu Deus. Nem sei como agradecer-te trago aqui 1  quilos de prata, 8 quilos de ouro e 10 ricas túnicas de festa. Tudo para ti e para o teu Deus.
MILAGREIRO
Indignado e  sentidamente ofendido, responde:
Juro pelo Deus Vivo: Não aceitarei nada disso! Estás curado. Pronto, vai em paz para a tua terra… E não insistas mais. Vai embora.
O General retira-se com a mesma comitiva.
II ACTO
O Ajudante do Milagreiro (depois revelou-se  um oportunista sem escrúpulos) ouviu a recusa do patrão, deixou o General afastar-se uma certa distância e, acto contínuo, correu atrás da comitiva. Foi o próprio General que de longe o avistou. Desce do carro e conversa com o rapaz.
O GENERAL
Então, que aconteceu? Está tudo bem? Algum problema?
O AJUDANTE
Está tudo bem. Apenas um pequeno caso. É um recado que o Milagreiro, o meu patrão, mandou-me dar ao meu General.
O GENERAL
Vá, diz depressa, estou ansioso. Alguma coisa que ele precisa?
AJUDANTE
Isso mesmo, adivinhou. O recado é este: “Diz ao tal senhor general que chegaram-me aqui a casa, imprevistamente, dois colegas meus, vindos lá de um monte distante. E eu, neste momento,  não tenho nada que lhes ofereça. Será que podia dar uns 35 Kg de moedas de prata e…”
O GENERAL
Não digas mais. Vais levar o dobro. Venham daí dois ordenanças, deitem em duas sacolas 70 Kg de prata e mais duas túnicas solenes. Carreguem tudo isso e sigam esse Ajudante do Milagreiro que me restituiu a saúde. Graças ao Deus desse homem!
III ACTO
Chegados ao lugar, o Ajudante mandou descarregar as sacolas na sua própria casa. Mais tarde apresenta-se, disfarçado e sereno, ao Milagreiro.
MILAGREIRO
Ó Rapaz, anda cá. Onde é que andaste até agora?
AJUDANTE
Em lugar nenhum, meu amo e senhor.
MILAGREIRO
Tens a certeza?
AJUDANTE
Tenho. Eu juro por Deus
MILAGREIRO
Indignado
Com quem estás a falar? Tu pensas que não sei o que se passou? O meu espírito viu tudo. Aquele senhor que desceu do carro e te entregou aqueles presentes todos!
AJUDANTE
Arrependido
Não me castigue, meu amo e senhor. Já vou buscar tudo a casa e entrego-lhe tudo, rudo.
MILAGREIRO
Quero lá saber disso. Fica com tudo. Estás rico com o dinheiro que ele te deu. Agora, já podes comprar terras, vinhedos, olivais, rebanhos, ovelhas, bois e tudo o mais. Até podes comprar escravos e escravas ao teu serviço. Ficaste com o dinheiro do General, certo. Mas vais ficar com ~mais alguma coisa. A partir deste instante, a lepra do General  caia toda em cima de ti. Para sempre!
E naquele preciso momento, a pele do Ajudante tomou a cor pálida da lepra.
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Não é esboço de drama, nem argumento de filme. Faz parte do texto bíblico (2º Livro dos Reis, cap.5), proposto para este Domingo, 13 de Outubro/2019. Trata-se de um facto concreto. Datado: século VII a-C. Identificado: o nome do General é Naamã, comandante da Síria. O Milagreiro é o Profeta Eliseu. O Ajudante é Giézi. E Deus?... Deus será o mesmo, enquanto promotor da saúde e da felicidade do ser humano. Mas, enquanto promotor da Justiça, já não será o Deus de outrora. Se o fosse, muita e ‘boa’ gente ficaria leprosa, há já muito tempo,  os simoníacos, os que vendem o sagrado, os que são tocados pela lepra do vil metal. Felizmente para eles… Infelizmente para nós e para o povo crédulo, que nunca vê a luz no “túnel da vida”!  
  
13.Out.19
         Martins Júnior



sexta-feira, 11 de outubro de 2019

PARA QUE SERVEM SÍNODOS E CONCÍLIOS?


                                         

É uma luva na mão dos dias aquilo que hoje me trouxe ao teclado ‘bloger’. Pelas razões que abaixo direi.
O Sínodo, ora em curso no Vaticano até 27 de Outubro, tem preenchido páginas, ‘écrans’, redes e capilares sem conta da informação global. E bem as merece o epicentro do magno acontecimento. Desde os bastidores até à ribalta do palco, é tudo um deslumbramento feérico, quase esotérico, extraterrestre, celestial: as vestes brilhantes, de um verde moço matinal nos ombros de septua-octogenários, as delicadas rendas agarradas ao escarlate das mangas, as mitras flamejantes, a plenitude salomónica dos coros que se misturam à mística do incenso oriental… Assim se abre e assim se há-de fechar um debate que, entre outros temas, tem a ver com as alterações climatéricas, o aquecimento global e os atentados ambientais, mais intensamente, os crimes do governo Bolsonaro na grande Amazónia.
Grandioso, belíssimo, laudabilíssimo o projecto pontifício que reúne a fina flor dos príncipes da Igreja, com destaque ascensional para bispos, arcebispos e cardeais. Da parte de Francisco Papa não duvido do seu empenho – repetidamente investido em incontáveis lições públicas -  sempre solícito em levar ao mundo a urgência inadiável do seu brado apocalíptico, consignado na encíclica Laudato Si: o respeito pela nossa “Casa Comum”, o Planeta.
No entanto, ouso colar-me à dúvida - se das centenas de antístites e purpurados ali reunidos em assembleia poderá surgir a nova seiva que irrigará e purificará a terra e o ambiente que habitamos. Para  amar a Terra – “ Irmãos, Amai a Terra”. já proclamava  Nietzsche – é preciso mergulhar dentro dela, “trazer o cheiro das ovelhas”, como disse Francisco, lutar frontalmente, ao lado daqueles que as defendem dos lobos devoradores. Não me parece que o cheiro das ovelhas e a transpiração do húmus  criador se acomodem à sumptuosidade das faustosas basílicas. Do mesmo modo, as reformas emanadas dos vértices altaneiros levam décadas e séculos a descer até ao chão onde assentam as bases das pirâmides. Outras vezes, nunca chegam. Não me sai da retina aquela cena (sempre religiosamente aceite) de ver uma grada e bem identificada sotaina vermelha na tomada de posse de Bolsonaro. A diplomacia palaciana não se dá bem ( e nunca deveria dar-se) com a verticalidade pura da Verdade!
Onde quero chegar  com esta minha reflexão?
Por mais sublimes e proclamatórias que sejam as grandes assembleias, os sínodos e as encendradas conclusões aí redigidas, tudo corre o risco de esfumar-se como incenso fútil se não for o povo, os cristãos de base, os pastores nas aldeias, os habitantes da terra a tomarem nas suas próprias mãos a vanguarda das operações. É nas raízes da árvore que reside a garantia de uma boa produção. Não é na ponta dos galhos ou na fronde da ramagem. Tenho para mim que o grande contributo, o maior, que a Igreja poderá dar à civilização é respeitar a identidade dos povos, a sua idiossincrasia, educando-os para assumir eles próprios o amor às causas justas e deixando-os, ampliando se for preciso, conduzir com dignidade e consistência o rumo dos acontecimentos. De pouco ou nada serve sobredourar excelentes citações bíblicas. Não esqueçamos que no Brasil foram, incrivelmente, os “Evangélicos” que deram o poder ao ditador destruidor do pulmão do mundo, a Amazónia.
É preciso que, neste e noutros segmentos da vida em sociedade, as hierarquias não matem a iniciativa dos cristãos de base. Antes pelo contrário, deverão dar livre curso às suas justas reivindicações e estratégias de acção. Foi neste registo positivo que católicos brasileiros, reunidos em Belém do Pará, prepararam o documento reivindicativo que os seus bispos levaram ao Sínodo vaticano. Por isso, no penúltimo ‘blog’ referi-me a uma “Igreja incendiária, anti-bolsonária, revolucionária”! E interrogava-me: Que termos – sinónimos ou antónimos – usaremos para a Igreja europeia, romana, portuguesa, madeirense?
Termino, retomando a ‘luva’ dos dias, com que comecei. É que hoje, precisamente hoje,  comemora-se o dia do Papa João XXIII. Foi ele o Grande Promotor do Concílio Vaticano II. Constituiu o maior acontecimento da Igreja do século XX, a que deram inestimáveis contributos os grandes pensadores e reformadores, de dentro e fora da hierarquia romana. A todos João XXIII recebeu-os e transpôs muitas das suas sábias conclusões para os textos oficiais do Concílio. Na altura, falou-se numa verdadeira revolução de uma Igreja caduca, desencarnada do mundo e da vida. Disse-se mais: Que estávamos perante um Novo Pentecostes.
Era-o, de verdade. Mas, que é que fizeram dele? Alguém o vê por aí?
Os analistas, teólogos, liturgistas, filósofos são unânimes, pelo menos no tocante a Portugal, em afirmar que o Concílio Vaticano II ainda não chegou à Igreja Portuguesa. Ficou-se pelos titulares hierárquicos que o meteram nos arcanos das sacristias. Dizem que só com este Papa Francisco começam a florir as raízes conciliares. Passado mais de meio século!!!
O Concílio Vaticano II  iniciou-se em 1962 e encerrou-se em 1965.       
Sem bases, jamais haverá  vértice. As bases somos nós!    

         11.Out.19
         Martins Júnior

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

SENHOR DOS MILAGRES DE MACHICO – SENHOR BOM JESUS DA PONTA DELGADA – SANTO CRISTO DOS MILAGRES DOS AÇORES – CRISTO REDENTOR DO CORCOVADO…



A Quem cantarei?

                                 

A Quem agradecerei?


E Como agradecerei?


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“Que não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita” (Mt..6,3).
“Senhor, fazei que veja” (Lc. 18, 41).
Senhor esclarece e “aumenta a minha fé” (Lc. 17,5).

09.Out.19
Martins Júnior

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

TRADIÇÕES E CONTRADIÇÕES: NA AMAZÓNIA BRASILEIRA E NA ROMA VATICANA


                                       
 Uma Igreja incendiária?... Uma Igreja anti-Bolsonária?... Uma Igreja revolucionária?

Mais que as curriculares e monocórdicas eleições de cada lugar irrompem as denúncias da Igreja do Brasil contra os crimes perpetrados todos os dias na Amazónia. A gravura mostra a reunião magna dos bispos e  leigos católicos brasileiros em Belém do Pará, encontro preparatório do Sínodo que ora decorre em Roma.
As corajosas decisões aí tomadas trazem-me à memória heróis de outrora, como o Padre António Vieira. Perseguido pela Inquisição e proscrito de Portugal por defender a dignidade dos judeus e dos chamados “cristãos-novos”, voltou-se para o Brasil, onde percorreu a vastidão da Amazónia em condições de extrema pobreza e salubridade, pugnando sempre na palavra e na acção pelos direitos dos índios brasileiros e daí sofrendo as arremetidas dos senhores das terras. Há 400 anos!
Na linha de uma tradição que vem de longe, é indesmentível o empenho intemerato da Igreja na luta pela justiça social e pela liberdade política, sobretudo no tremendo período da ditadura militar, o que motivou processos, prisões e martírios de padres e bispos. Recordo o bispo Duarte Calheiros, de Volta Redonda, arredores do Rio de Janeiro. Ao receber-me na sua humilde casa (não era palácio) confidenciou-me que já tivera três processos judiciais movidos pela ditadura. Vi chegar, nesse momento, um padre que acabava de sair da pesada prisão da Praia Grande de Santos, vítima do poder político. Jamais esquecerei a resposta que deu à minha pergunta: “Passei pela cidade e não vi a Sé Catedral da sua diocese. Onde fica?”. Trouxe-me à rua de onde se avistava a cidade – um vasto aglomerado com todas as características de um ambiente fabril – e disse-me: “Vocè, padre madeirense, vê acolá aquela fábrica com cobertura de zinco? Essa é uma das minhas catedrais. E ali, mais abaixo, aquele  quarteirão de grandes armazéns, onde trabalham milhares de operários? É também mais uma, duas, três catedrais da minha diocese”.  Percebi a lição. Isto há 47 anos. Quem me dera voltar a vê-lo, esse autêntico obreiro de um mundo novo. Tal como o bispo nordestino António Fragoso. Tal como o bispo de Goiás, falecido há um ano: simples, dinâmico, sem púrpuras nem cruzes peitorais, quando o cumprimentei ali, no meio dos camponeses. Um pastor que, como diz Francisco Papa, traz consigo o cheiro das ovelhas.
Tantos e muitos outros poderia juntar nesta mesa de memórias. Mais recentemente, Frei Beto e o grande intelectual e sociólogo Leonardo Boff que muitos de nós gostaríamos de vê-lo e ouvi-lo cá na Madeira.
É nesta positiva tradição que assenta a herança de uma Igreja que não tem medo, muito menos a falsa diplomacia, para enfrentar a tacanhez primária, quase tribal, de um Bolsonaro arrasador.
Mas não posso terminar sem chamar à nossa companhia HELDER DA CÂMARA. Ele, sem mais apresentações. Supérfluas. Lembro-me bem – e foi em Olinda e Recife, 7 de Setembro de 1972, dia maior da Independência do Brasil. Foi num palácio, de majestoso estilo colonial. O palácio era a sede-residência do arcebispo Hélder. Mas ele não residia lá. Cedeu todas as instalações aos movimentos diocesanos de acção pastoral, cultural e social. Foi viver para uma humilde casa rasteira, nos arredores do Paço Episcopal.
Mas nesse 7 de Setembro veio festejar o Dia Nacional com uma multidão de crianças, jovens, adultos, gente idosa. Música, dança, confraternização, alegria sertaneja nos logradouros do edifício colonial   O já ancião arcebispo Hélder circulava por entre a multidão, abraçando, beijando, cantando. Chegada a hora, sobe os degraus do recinto, a palavra saída daquele corpo franzino ecoava nas paredes exteriores do palácio, espalhava-se pela rua fora. De tudo quanto disse, recortei com maior incisão estas palavras que, em plena ditadura militar, constituíam matéria provocatória aos poderes públicos: “Eles dizem por aí que eu sou contra o Brasil, que não sou patriota. Mas não. Eu sou patriota. E mais do que eles. Eu amo o meu Brasil. Sou pelo Brasil. Com uma grande diferença: O que eu quero é um Brasil com os brasileiros, pelos brasileiros e para os brasileiros”!
Lapidar, tumultuosa condenação da ditadura!
Eloquente definição do regime democrático!
Aconteceu no Brasil de 1972. Onde é que tal se ouviu da cátedra dos bispos, arcebispos e cardeais deste “Jardim à beira-mar plantado”?
Por isso, tem toda a lógica a interpelação inicial: “Uma Igreja incendiária, anti-bolsonária?!… Uma Igreja revolucionária”?!
E por cá?... Será abusivo  fazer esta proposta: Procurem os antónimos? Veremos.

07.Out.19
Martins Júnior