domingo, 27 de outubro de 2019

FARISEUS E PUBLICANOS – É SÓ ABRIR OS OLHOS!

                                                  

        Nada tem de poético, muito menos de romântico. Nem está no carunchoso baú de passadas velharias.  É tudo muito fresco, muito vivo, embora repugnante e detestável, mas tudo do presente. E do futuro. Enfim, é a mísera condição da corcunda curvatura da sociedade ou parte dela (parte grande!) que se apresenta emproada e opada à custa do vácuo interior de que é feita.
Vamos à casuística. É o trabalhador, indiferenciado ou não, mas incompetente e dobre que se põe em bicos de pés diante do patrão que lhe passa perto, diante do chefe, do director, em hora premeditada, oportunista, na mira de obter benesses de circunstância ou subida de posto, É a raposa astuta que se amocha no pântano do partido, mexe e remexe, enrola-se e desenrola-se, agacha-se e empina-se com o mesmo anti-pudor, só para saltar às costas do companheiro e camarada e ser promovido pelo presidente. É, ainda, o devoto beato, o clérigo calculista, o que nunca se compromete em causas prementes e decisivas para o bem comum, só porque a  meta final é trepar o topo hierárquico, a mitra, o barrete e, se possível, a tiara.
Ei-los todos em fila super-indiana, super-alinhados, erectos, impecáveis de trato e táctica, ostentando opados papos-de-vento inútil e falacioso. Eles por aí desfilam em cortejos, procissões, de vistosos círios na mão, como estátuas ambulantes de cera mórbida.
Nos antípodas, estão os verdadeiros operários, os oficiais subalternos, os cumpridores de enraizada consciência profissional, os que mesmo longe do chefe ou do capataz realizam o conteúdo oficinal que lhes compete.
Quem ganha e quem perde neste combate silencioso, mas gritante, que se repete no quotidiano das diversas sociedades?... O mais desconcertante é que, no critério corrupto das nações, são os primeiros – os emproados, os malabaristas ventríloquios, os oportunistas – são eles que comandando a sociedade corrompem-na até à medula dos ossos.
Vem de longe esta notícia. Trágica notícia. O Nosso líder e Mestre de Nazaré fez ouvir hoje a sua voz, precisamente, quando invectivou as classes dominantes, os intocáveis da sociedade israelita. Vem no capítulo 18 do evangelista Lucas. Vale a pena consultar e reler a narrativa dos dois homens que subiram ao Templo de Jerusalém, o fariseu e o publicano. A arrogância do fariseu, auto-elogiando-se e ufanando-se dos seus atributos mereceu  o  repúdio da sua prece face ao Supremo Juiz. Em contraste, o publicano viu a sua lealdade e o reconhecimento da sua frágil condição aceites e compensados pelas instâncias superiores .
Para o dia de hoje, para toda a semana, para todo o ano, para toda a vida há-de ficar em nossa memória o veredicto do Mestre que tem perfeita e adequada tradução no sapientíssimo provérbio árabe: “A primeira e maior recompensa do dever cumprido é ter cumprido esse dever”!

27.Out.19
        Martins Júnior \                                                                              

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