sexta-feira, 27 de abril de 2018

O CANTAR DOS PÁSSAROS ANIQUILA O TRIUNFO DOS PORCOS


                                                       
É um encadeamento de metáforas a alegoria do título. Metáforas os substantivos, metáforas os verbos. De verdade, o dia 27 de Abril de 2018 merecia um poema retumbante de avassalar o mundo! Os pássaros são pessoas, mensageiros da esperança. Os porcos são-no também, mas fantasmas repelentes que chafurdam nas pocilgas do poder e nos arsenais da guerra. Para traduzir a semântica do texto poderia colori-la de outras vestes, tais como: o entendimento dos fracos desarma os poderosos, a soma dos pequenos destrona os ditadores, o exército dos escravos derruba as muralhas do império. Sempre assim foi na construção e na reconstrução da história.
         O aperto de mão, precisamente no trágico separador do paralelo “38”, seguido do abraço entre dois corpos e duas nações irmãs gémeas – desavindas há 65 anos - condensa e proclama para todo o planeta aquilo que, para Portugal. significou a alvorada de Abril, nessa gloriosa manhã de 1974. Aqui, em 74, eliminou-se o fascismo adamastor, enterraram-se os machados de guerra entre povos irmãos de aquém e além-mar, enfim, reduziu-se à ínfima espécie o terror exterminador da ‘pide’ e, com ele,  a tortura das masmorras do regime.
         Hoje, com um singelo gesto humano – passo de gigante para a humanidade – eliminaram-se os malfadados esqueletos assassinos que pairavam sobre as nossas cabeças. Hoje, sem um dedo mínimo apontado aos magnatas do mundo, ficaram a falar sozinhos os dois impérios ameaçadores do planeta: América e Rússia. Hoje Putin e Trump já são cartas fora do baralho. Já não são chamados, implorados, a intervir naquela faixa territorial. E não mais alguém precisaria da sua armada, dos mísseis e dos porta-aviões russo-americanos: se os xiitas se entendessem com os sunitas, os israelitas com os palestinianos, enfim, todos os povos fronteiriços entre si. Cairiam do trono, nus como farrapos, os Natanaiu’s, os Erdogan’s, os ayatolah’s de todas as idades e lugares.
São misteriosos, inalcançáveis os caminhos da Paz, tais como os antros da guerra. É sumamente reconfortante pensar que o primeiro passo entre as duas Coreias foi obra – magia ou milagre – dos Jogos Olímpicos de inverno da Coreia do Sul. Escrevi na altura um caloroso voto de confiança sobre o gelo das pistas olímpicas. E continuo a confiar. E a reflectir na lição dos tempos: o divisionismo dos pequenos é que sustenta o império dos grandes!
Mais uma vez, a luz vem do Oriente. Na madrugada de 27 de Abril ouviu-se um novo cantar dos pássaros. Pensemos positivo!

27.Abr.18
Martins Júnior


quarta-feira, 25 de abril de 2018

MACHICO – TERRA DE ABRIL!


                                          

25 de Abril na Madeira.
44 anos!
Enfim, a maturidade conquistada.
Após uma infância dolorosa, uma adolescência atribulada, uma juventude contrariada pelos herdeiros da ditadura! Pode afirmar-se que o 25 de Abril levou quatro décadas para ver a luz do dia nesta ilha. Só agora começa a florir a Revolução dos Cravos na Madeira, mercê da força do Povo. Mais respeito democrático, outra respiração saudável, um novo olhar sobre a Autonomia!
Agora, viver Abril significa fazer melhor!
Agora, manter Abril é estar acordado, vigilante e actuante!
Machico Presente e Vivo. Sempre. Desde a Primeira Hora!

25.Abr.18
Martins Júnior

segunda-feira, 23 de abril de 2018

S.O.S. AEROPORTO! A ILHA EM ESTADO DE SÍTIO


                                                    
Impossível ficar indiferente. Quem vai ao aeroporto já deixou de perguntar ao placard informativo quantos aviões terão ficado em terra. São tantos e tão repetidos que o mais acertado será perguntar quantos descolaram ou vão descolar. Serão mais fácil contar os aparelhos operacionais que os faltosos.
Se o caso se resumisse apenas aos equipamentos técnicos, tudo compor-se-ia, a nível operacional. O mais grave, insuportável mesmo, é o cenário degradante que ali se vê. Mais parece um hospital de campanha: o chão coalhado de ‘vítimas’, uns a escorrer pelos degraus das escadas, gente aos punhados até nos acessos às casas de banho. Povo dentro, povo fora da aerogare, malas espalhadas por quanto é canto. E sobretudo o semblante das pessoas. Pode a comunicação social ‘dourar a pílula’  em termos publicitários, mas não é preciso curvar-se para ouvir, de nacionais e estrangeiros, os mais díspares comentários, uns aparentemente conformados, mas outros, muitos, angustiados, desesperados. “Não volto mais à Madeira”.
Tudo por causa do grevista-mór, implacável, inelutável: o vento. Por mais refinada que esteja a tecnologia, caímos sempre na mesma sentença: O homem põe, mas o tempo é que dispõe.
Serve este meu desabafo, colhido por experiência directa, para manifestar a minha preocupação por tudo quanto se passa aqui, às portas da nossa casa, Machico. Idêntica indignação perpassa pelos governantes, suponho. E contra o tempo meteorológico nada (ou quase nada) há a fazer. Mas o que ninguém ousará negar é o problema – já não é mera coincidência – é mesmo problema  o que agora começa a desenhar-se, a nível regional, local e internacional.
A tornar-se viral estes fenómenos (e parece que os tempos mais recentes estão a  comprová-lo) não será despropositado atirar para a tômbola das soluções a hipótese de uma outra pista de transfert na ilha. O Porto Santo já não resolve. Nem o ‘Lobo Marinho’. Regressam agora, pela mão de terceiros, as velhas opções do histórico  hidroavião da velha ‘Áquila Airways’ que enchiam os olhos da minha infância. Seja como for, a Madeira e os seus governantes estão forçosamente confrontados com mais um magno problema. Já não é só o ferry, já não é o hospital ou o subsídio de mobilidade. É a morte da “galinha dos ovos de ouro”, o turismo, a nossa maior indústria exportadora. Sem querer imiscuir-me em áreas tecnicamente tão sofisticadas, cada vez mais chego à conclusão de que as soluções, por vezes aparentes fogos-fátuos de crânios ditos brilhantes, apresentam-se fenomenais, milagrosas, em determinada fracção da história, mas mais tarde é que lhes descortinamos o vazio, o logro, o embuste populista. E a Madeira é pródiga nessa semeadura.
O amanhã já começou. E as novas gerações esperam soluções bem fundamentadas e seguras. Está em causa a Madeira – para lá dos 600 anos!
E enquanto vivo sou, poupem-me os ventos aos já habituais cenários degradantes do nosso aeroporto.

23.Abr.18
Martins Júnior

sábado, 21 de abril de 2018

ESTES, ESSES, AQUELES...


                                                       

O último parágrafo desta noite dirá a motivação deste texto: Hoje é dia de falar de lideranças. Aliás, deverá ter sido este o drama de todos os tempos e de todas as gerações. De como achar – e mais que achar – construir um líder depende o ritmo da história e o futuro dos milénios vencidos e vincendos.
Recorri à capa do livro de  Pierre Accoce e Pierre Tentchnick para sintetizar o pensamento do dia. “Estes doentes que nos governam”. Diríamos hoje  “esses doentes que governaram os nossos pais e avós” E porque a história também é uma sucessão genético-mecânica de episódios passados, pode cada um de nós substituir os ‘cromos’ expostos colocando outros de igual teor anímico, precisamente os que nos governam, aqui e agora.
Nesta dissecação cirúrgica, para além dos muitos contornos que a realidade comporta, peço apenas a compreensão de quem me lê para dois ‘item’s’ fundamentais do problema “liderança”. Com efeito, duas colunas paralelas deverão ser tidas em conta: a substância e o processo. A substância aqui entende-se como a personalidade do líder, os seus atributos e convicções. Processo é toda a propedêutica, a logística, enfim, os meandros da sua ascensão à liderança. Sendo decisiva a primeira coordenada (o potencial criador do líder), interpreto mais importante, mais esclarecedor, mais incisivo o processo. Porque é este segundo factor (que passa então a primeiro)  aquele que definirá o perfil identificativo do líder e de toda a sua actuação futura.  Quem sobe ao pódio do poder por estratagemas autoritários ou fraudulentos pautará, sem sombra de dúvida, toda a sua governança por critérios de ditadura, afrontamento e  suborno. Ao contrário quem ascende ao temão do navio por processos de transparência, talento e coerência dará aos seus constituintes – a população – um código de conduta justo, alicerçado em critérios de segurança, equidade e igualdade.
Aqui, pode com toda a justeza repetir-se o humor negro da propalada denúncia: ”Não há almoços grátis”. Não há líderes grátis. Como não há justiça gratuita nem despachos graciosos. “Paga-se tudo” – lá dizia a “Velha Senhora” criada pelo dramaturgo suíço F. Durrematt. Uma liderança gerada na podridão do imediatismo e do compadrio está ferida de morte anunciada. Para o próprio titular e, mais trágico, para a sociedade envolvente.
Tanto basta para aquilatarmos das governanças que dominam o mundo. O de longe e o de perto. Olhando para os processos internos e externos que levaram ao trono conhecidas figuras da nossa praça – regional, nacional e internacional – ficamos informados se os devemos ou não adicionar aos loucos e “doentes” de que fala o livro de Pierre Accoce e Pierre Tentchnick.  Séria questão para todos aqueles – todos aqueles somos todos nós! – que levámos nos braços os detentores do poder e mais tarde queixamo-nos deles.
Hoje e amanhã, mais que as flores e o vento e a chuva, povoa-me o cérebro esta incógnita: Em que processo te integraste e seguiste para escolher os que puseste no pódio…do governo, do partido, da autarquia, do clube? Mas, ainda mais tocante e perturbadora é estoutra interpelação: Tu também exerces, de certeza, uma parcela de liderança, em casa, na rua, no trabalho. Com que critérios a conduzes?
A motivação do presente SENSO&CONSENSO advém dos textos bíblicos que neste domingo  serão transmitidos em todos os templos cristãos que há sobre a terra: é a parábola do Bom Pastor. Do bom Líder. “O que dá a vida pelas suas ovelhas”! ((Jo, 10, 1-10).
“Lições de abismo” para quem tem a missão lê-las à multidão!
21.Abr.18
Martins Júnior        

quinta-feira, 19 de abril de 2018

UM PRÉMIO QUE PODE SER NOSSO!


                                                 

 “Ai de quem ousa tocar nas prateleiras do sistema! Nem mesmo para limpar-lhes o pó arquivado pelo tempo. Tem cautela. Fica quieto, porque no quieto é que está o ganho!. Os sobas do prédio matam-te se o teu espanador acordar os cadáveres que dormem nos armários”.

         São estes os anátemas e as ameaças que os regimes totalitários – e os outros travestidos de democráticos – exibem como gorilas implacáveis  diante do cidadão comum quando este obedece ao impulso interior da procura da verdade. Por mais ampla e justa que seja a constituição virtual - a escrita - de qualquer organização, ninguém duvida de como funciona a constituição real - a factual, a tangível, a quotidiana - dos vários sistemas, sejam eles financeiros, políticos, religiosos. Daí nascem os garrotes ao indivíduo e à família, as retaliações, os tarrafais de maior ou menor dimensão.
Mas “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Refiro-me aos mais recentes Prémios Pulitzer atribuídos aos autores que ousaram publicar recentemente dois casos de investigação pura e dura: um na revista The New Yorker e o outro nos dois importantes jornais The New York Times e Washington Post. O primeiro sobre os desmandos do assédio sexual em Hollywooud, sobretudo contra o magnata da produção cinematográfica Harvey Weinstein; o segundo contra o conluio Putim-Trump, que fraudulentamente levou Donald ao poder.
Mergulhados e asfixiados que andamos em assuntos do imediato, ainda não nos demos conta do abalo do mundo que este prémio condensa. Ele constitui um padrão de aço por sobre a arrogância esmagadora do poder financeiro e do super-poder político americano reinante. Se grande, enorme foi a coragem dos jornalistas que denunciaram a fraude, maior foi a nobre ‘ousadia’ do colégio eleitoral da Universidade Columbia, EUA, depositária dos Prémios Pulitzer,  em rubricar com a sua chancela o desassombro dos investigadores.
“Grande passo para a Humanidade” – pode aqui repetir-se a histórica aclamação – sublinhando que, na escala do verdadeiro serviço ao Homem em sociedade, este Prémio é mais decisivo do que a chegada à esfera lunar. Porque liberta a condição humana da escravatura do pensamento único, das falsas notícias, enfim, da mordaça que traz amarrados indivíduos e gerações. Doravante, quem porfia na luta consciente e coerente pela descoberta da Verdade já não tem de recorrer à clandestinidade, para fugir ao medo e à repressão. Pelo contrário, será agraciado pelo seu denodo e transparência.
Grande lição para o nosso acanhado e, tantas vezes, manietado cubículo insular. Para os jornais locais, para os media em geral, capitaneados, alguns, por autênticos gendarmes do “status quo” de onde tiram o menu diário de estupefacientes e ansiolíticos que servem à população. É visível, a olho nu, a plêiade de excelentes colunistas que abandonaram a folha à qual tinham dado muito do seu talento.

Lição também – e severo réspice – aos escribas ‘cabeças-de turco’ que irrompem desabridamente, sem fundamento nem coerência, contra tudo e contra nada, em troca dos fogos fátuos do populismo rasteiro. 

  Na antecâmara de mais uma comemoração do “25 de Aril”, os Prémios Pulitzer são as mãos belas pinhas de cravos vermelhos. Para o Mundo. Para Portugal e, por consequência, para a Madeira.

19.Abr.18

Martins Júnior          

terça-feira, 17 de abril de 2018

CHARADA CHORUDA – Adivinhe, se é capaz…



Poderá haver mensageiro sem mensagem?
Poderá haver estafeta  sem senha?
Poderá haver carteiro sem carta a Garcia?
Ou cavaleiro sem cavalo, ou cargueiro sem carga, ou cauteleiro sem cautela, ou romeiro sem círio?...

No entanto,
Sem mensagem, sem senha, sem carta, sem cavalo, sem carga, sem cautela nem círio,
Nunca se viu tanto mensageiro moageiro, tanto estafeta estafado, tanto carteiro encartado, tanto cavaleiro encavalado, tanto cargueiro, tanto cauteleiro, tanto romeiro sem rumo certo e cautela perdida.

Poupem-nos, fantoches, a esta mísera parada!!!

17.Abr.18
Martins Júnior


domingo, 15 de abril de 2018

DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS


Observe as gravuras abaixo descritas. Faça um ‘puzzle’ adicionando outras de idêntico teor. Se só encontrar  diferenças entre elas, inutilize a conclusão final. Mas se as semelhanças ultrapassarem as diferenças, então confirme o provérbio contido na conclusão.







                                                       


                                                                  



E a conclusão final é:

HOMO HOMINI LUPUS
O homem é o lobo do homem
Quem o diz é o dramaturgo romano Titus Plautus que viveu nos anos 254-184,AC. “O homem lobo de outro homem”, sempre o mais forte a esmagar e a vingar-se no mais fraco. Seja fora dos estádios de futebol, seja nas guerras, no êxodo dos refugiados, nos regimes de  escravatura, na violência doméstica, na exploração da velhice, nos políticos alucinados e nos políticos saltimbancos da feira, enfim, sempre o homem lobo do outro.
Se continuarmos a colecção dos “cromos” humanos (anti-humanos!) teremos de dar razão ao trimilenar Titus Plautos. 
Até quando?...

15.Abr-18
Martins Júnior  

         





   

sexta-feira, 13 de abril de 2018

SEXTA-FEIRA, DIA 13 – QUEM EXORCIZA ESSES DEMÓNIOS ?


                                                    
“Sexta-feira era o dia fatal e aziago”…”Ai, aquela sexta-feira, 13”!
      Quem se não lembra do nosso Almeida Garrett – quer nas “Viagens na Minha Terra”, quer no “Frei Luís de Sousa”, pela voz angustiada de Madalena – repercutindo as lendas e superstições populares sobre a “sexta-feira, dia 13”, povoada de demónios, bruxedos, remorsos, terrores e sobressaltos?
         Mesmo que tenhamos ultrapassado o obscurantismo medieval, a verdade é que “sexta-feira, 13” acontece todos os dias, “desde que o homem queira”, E torne  cada dia “fatal e aziago”, carregado de traumas, tremores e neuroses. E não é que, para castigo desta minha atrevida ironia, cai-nos precisamente hoje  em cima do crânio e em todas as placas tectónicas da condição humana o terror generalizado, engendrado por uma turma de tresloucados, cínicos, autistas imprevisíveis?! Nomes de gente, mas estirpe de qualquer diabólico ADN que o povo escolheu para governar!
         Será preciso descrevê-los? Ei-los, de peito aberto e olhos faiscantes, no trono das TV’s,  vomitando ameaças de fogo devorador, com o mesmo digital de Bush, em 2003, pronto a premir o disjuntor da morte! Anteontem, era Trump  a vociferar que “avançava já o ataque à Síria”. Ontem, “afinal, não afirmei nada disso”, mas “o ataque poderá ser já… ou nunca”! E foi preciso chegar ao século XXI para assistir (e tremer!) como pintos diante de actuais monstros das cavernas pré-históricas?!.., Depois, junta-se o sósia de Moscovo, comparsa formal e executor material do mesmo plano de destruição maciça, sobe à cátedra e, como víbora  sábia das estepes, arvora-se em douta conselheira de soluções pacíficas. Do outro lado, até o gárrulo ditador turco, herdeiro sequaz do criminoso império otomano, aproveita a maré da paranóia americana e admoesta os ‘putos’ a não armarem “brigas de rua”. Quem aguenta tamanho cinismo e hipocrisia, sabendo que têm na ponta dos dedos os paióis abastecidos?!... E na sombra, lá se arregimentam Israel, Irão, Arábia Saudita. Quem nos livra, quem exorciza estes demónios vivos?

         13.Abr.18
         Martins Júnior
        

quarta-feira, 11 de abril de 2018

A FORÇA DA JUSTIÇA OU A JUSTIÇA DA FORÇA ?


                                                      

Posso  começar também com outra expressão sinónima: A Justiça – quem a julga?!
Desta ou daquela  forma, a causa e ao mesmo tempo o efeito que motivam a presente questão radicam num estado pessoal de quem pergunta e não acha resposta, de quem procura mas não encontra, de quem bate desesperadamente à porta e não há uma mão amiga que lha abra. É o estado de necessidade do náufrago no alto mar ou do moribundo ligado às máquinas, sem hipótese de sobreviver.
Na sociedade líquida – talvez gasosa ou pantanosa – em que vivemos, o único hasteio em que nos procuramos apoiar ainda é a Justiça, enquanto recurso último perante a desorientação generalizada que torna insegura a terra que habitamos. Mas, para nossa desilusão e desespero, aí mesmo, onde ansiosamente esperaríamos encontrar a bóia da sobrevivência, deparamo-nos com um mar cavado de traições, quando não um abismo devorador de todas as nossas expectativas. Afinal, a Justiça já não é nem bússola nem tábua de salvação. Ela própria não tem lastro, pelo contrário afunda-se e afunda-nos a nós todos.
A nível internacional, tomemos os dois casos paradigmáticos mais recentes: o do ex-presidente brasileiro Lula e o exílio forçado do catalão presidente eleito Puigdemont. No primeiro caso, a Justiça foi super-célere em condenar o arguido, sem ter esgotado todas fases da tramitação processual, enquanto noutros casos os crimes de corrupção alastram a olho nu. No segundo caso, a Justiça espanhola escancara atrevida e despudoradamente a sua sede de sorver o “sangue político” contra um cidadão e um povo,  mas esbarrou com outra congénere de outro ‘habitat’, a Justiça alemã. Em que ficamos?... A quem recorreremos?... Justiça, onde moras?
Consabido já é que o ordenamento jurídico de um país reflecte o corpus ético-social e cultural do seu povo, o que se traduz naquele brocardo latino: Leges propter homines, non homines propter leges – as leis são feitas para e por causa dos homens, não os homens para e por causa das leis. Só que, de imediato, estacamos diante deste inapelável anátema : são os homens que fazem a Justiça! E mais que a contradição dita e escrita, ela está patente, derramada diante dos nossos olhos. Nisto, já não é preciso sair do país, para vermos, a nu e cru, a fealdade da mais vil traição em juízes, procuradores e administradores da Justiça em Portugal. A quem iremos?...
No entanto, o que torna mais revoltante o desespero é constatar que, em última instância, o Legislador é o Povo, quando exerce o direito de voto e escolhe os fazedores das suas próprias leis. Ao fim de contas, o Povo é legislador e vítima. Só tem de queixar-se de si mesmo!
Daí, este amargo travo a frustração, igual à do náufrago em alto mar ou à do tecno-dependente na sala dos ‘cuidados intensivos’. Escrevo na véspera de um dia incógnito para a paz no mundo. As Nações Unidas, pela voz e pela acção do seu-nosso Secretário Geral, já secou a fala, de tanto bradar pelo cessar-fogo nos selváticos paióis da Síria. Em vão. O que entre hoje e amanhã sobressalta o planeta é o monstro bipartido – EUA e Rússia – que  assentam ambos no terreno os respectivos arsenais de guerra. Quem os pára? Quem os desarma?... Impotentes que nós somos!
Enfim, condenados a ver e a sofrer os estilhaços deste ‘bunker’ armadilhado em que nos meteram, continuamos a interrogar o que queremos: A Força da Justiça ou a Justiça da Força?!
E, mais angustiante, alguém como nós,  perto ou  longe  aperta os filhos ao peito e lança o grito lancinante: Amanhã, estaremos vivos ou mortos?... 

11.Abr.18
Martins Júnior
   

segunda-feira, 9 de abril de 2018

NÃO FAÇAM DE LA LYS UM ARRAIAL – FALA DOS MORTOS ABANDONADOS NAS TRINCHEIRAS



Tirai daqui esse calçado fino de cristal
Que esconde os pés abutres de cem anos pesados
Em cima dos nossos corpos
Despi essa grotesca armadura
Medalhada brasonada acetinada
Que pariu o monstro escravatura
E reduziu a nada
Um povo e a geração que foi a nossa

Porque a vossa proa
É o porão onde  apodrecem os nossos ossos
E palmas e discursos guturais
Só nos lembram guias de marcha coronhadas
Dos vossos pares ancestrais
Anda mancebo marcha rapaz
Ou vais à guerra ou daqui já não sais

Os galões e as estrelas que ostentais
São dos mesmos que outrora
Se sentaram no trono que hoje ocupais


Ide embora
Porque já não estamos aqui
Nem nunca foi este o verde da nossa bandeira
Ficámos lá na última trincheira
De La Lys
Em jaulas de lama
Proscritos  amortalhados
Cobertores de gelo e abandono a nossa cama

Calai essas trombetas triunfais
Sarcasmo e afronta à carne pra canhão
Em que tornastes e tornais
O corpo jovem da nação

Já não estamos aqui
Somos o Mar Vermelho
Do sangue que corre mundo além
Sem que  ninguém
Estenda a mão para estancar

Ide
Quebrar ar armas que produzis
E as ogivas sem freio
Amarrai as mãos  aos assassinos do país
Deixai a pele macia das víboras da corte
E afrontai os carrocéis da morte
Que estrangulam o planeta

E em vez das honras que fazeis
Ridículas máscaras dos vossos orgulhos secretos
Promulgai  viçosas leis
Assinai justos decretos

Mais cem anos e voltaremos aqui
Os sempre-vivos mortos de La Lys

 Não mais pompa não mais arraial
Mostrem-nos então um mundo novo
E um Novo Portugal

09.Abr.18
Martins Júnior





sábado, 7 de abril de 2018

METAMORFOSE – RESSURREIÇÃO - INCORRUPÇÃO



Não te queiras estátua torre ou mausoléu
Nem ossos luzidios encadernados
De mármore e verniz

Serás feliz
Serás ressuscitado
Se das tuas parcas cinzas
Fumo branco migrante no espaço aberto
Voarem estrelas gratuitas sem dono
E sem destinatário certo

07.Abr.18
Martins Júnior

quinta-feira, 5 de abril de 2018

UM DINOSSAURO DE FOGO


                                               

Fogo é paixão. E é ternura. É caminho aberto. É alvorada nascente. É dádiva do presente e promessa do amanhã,
E tudo isto é Machico,
Por isso, a dedicatória de hoje vai toda para o brilho ímpar do fogo nascido na palma da mão das gentes locais, que a objectiva de “Eduardo Costa Produções” registou e mostrou ontem no ‘Forum’ Machico.
A apoteose das chamas descrevendo volutas de sonho e rotas longínquas nos veleiros da noite por todo o anfiteatro de Machico basta para compor a ode triunfal que ecoa por entre a sucessão de vales das terras de Tristão Vaz.
                                                      

Parabéns a Eduardo Costa e a todos os seus colaboradores. Louvor maior aos artífices de Machico, quase todos jovens, que todos os anos perpetuam a presença anímica dos seus antepassados. Aproveito também para agradecer as saudações que me foram enviadas, a propósito da letra e música, compostas há 50 anos e então exibidas ‘ao vivo’ e coreografadas nas festas locais.
Faço votos para que um dia possamos ver acesos os fachos em todo o perímetro do vale, tal como se faziam desde tempos imemoriais.
A minha homenagem a todos os obreiros deste precioso documentário expressa-se neste  caloroso convite: “A NÃO PERDER”.

05,Abr.18
Martins Júnior
  

terça-feira, 3 de abril de 2018

DIA ÍMPAR - O 4 DE ABRIL !





Manda a sucessão numérica dos dias – e assim marca o calendário – que hoje, dia 3, se lhe atribua a designação de ímpar.  Mas a vida é mais que o calendário. E é nessa onda que navego para anunciar que não é hoje o Grande Dia Ímpar da primavera nascente de Abril. É amanhã. Porque quem determina o vértice da história não é a rotativa do planeta.. São as pessoas.
Assim como não é o trono que faz o rei nem é o altar que cria os deuses (há muitos e poderosos reis sem trono e há deuses maiores sem ara) assim também os heróis construtores de “novos mundos” não têm tempo nem lugar marcados nos estádios pré-fabricados pelos humanos burocratas. Eles surgem onde menos se os espera. Quem os guia é o Espírito Universal que, ao passar  à sua porta, logo eles se lhe abrem de par em par.
Pois o dia 4 de Abril é o primeiro Dia Ímpar desta primavera. Porque nele confluem três acontecimentos gigantes: a morte de Martin Luther King, em Memphis, EUA, há precisamente 50 anos, 1968; a Revolta da Madeira, em 1931: e o recente adeus ao intrépido sindicalista e promotor da classe trabalhadora, entre as populações de Machico, Manuel Mendonça Viveiros. Tão distantes uns dos outros no tempo e no espaço, mas todos irmanados no mesmo Espírito Libertador!
Luther King, o sonhador da igualdade racial, enquanto fonte originária dos mesmos direitos e oportunidades entre negros e brancos! Não obstante as mais de 30 prisões a que foi sujeito, as tentativas  de bomba em sua própria casa e na rua, os insultos, as desilusões, Luther King nunca deixou de denunciar publicamente: “Como pode a América chamar-se de ‘democracia esclarecida’, quando se vêem os Negros sem acesso ao ensino e sem poder comprar seja o que for”?  Homem talentoso, orador eloquente, estratega e pedagogo das multidões, foi o próprio semanário Time que, em 18 de Fevereiro de 1957, exaltava o seu génio criativo, afirmando que “a batalha por um lugar igual para brancos e negros no mesmo autocarro, King soube transformá-la numa guerra contra todo o sistema de segregação racial”. Factor impressivo das suas mensagens públicas foram os textos evangélicos: onde outros iam buscar argumentos de subjugação e escravatura, ele encontrava sementes de “revolução pacifista”. O assassinato em Memphis no dia 4 de Abril de 1968 foi o troféu que logrou alcançar. Mas o sonho ficou como inspiração e garante de futura realidade.
O mesmo ideal democrático alimentou o general Adalberto Sousa Dias e seus camaradas de armas, deportados em grande parte na Madeira, às ordens de Oliveira Salazar. Foi em 4 de Abril de 1931. Tal como Luther King, o sonho dos revoltosos consistia em barrar o caminho da ditadura que dava então os primeiros e já galopantes passos em Portugal. Repor a democracia ameaçada em todo o país era o seu programa político e não, como décadas mais tarde, se aproveitaram os pseudo-autonomistas, herdeiros do fascismo nacional, deposto na revolução de Abril, que abusivamente chamavam os oficiais de 1931 como precursores de uma Autonomia musculada e falsa, controlada e manietada pelo novo ditador reinante pós-Revolução dos Cravos. Tal como Luther King, que soube canalizar a luta dos negros por um tratamento igualitário nos transportes públicos, assim os corajosos militares tentaram transformar em luta democrática a revolta popular contra o monopólio da farinha, publicado nessa data. A Revolução foi abafada, assassinada pelo regime salazarista. O degredo, as prisões, a desgraça social e financeira arrasaram os seus heróis e respectivas famílias.
Em 4 de Abril de 2018, sétimo dia da partida definitiva de Manuel Mendonça Viveiros, 89 anos plenos,  motorista de profissão e homem do Povo, nascido da ruralidade mais profunda da área de Machico, deixou no chão do campo e da cidade a marca indelével dos seus passos esclarecidos e decididos na história local. Afrontou a já citada falsa autonomia da Madeira, lutou pela verdadeira Autonomia do Povo, no poder autárquico, no processo económico-social e cultural das suas gentes, com particular acento no combate ao “leonino contrato de colonia” que oprimiu durante séculos o campesinato madeirense. Inapagável a oposição porfiada, mas pacífica, ao conluio Diocese-Governo quando foi sitiada e devassada por 70 polícias a igreja da Ribeira Seca, em 1985. De assinalar, enquanto sindicalista exemplar,  a defesa da classe dos motoristas da SAM, o que lhe acarretou dissabores e retaliações de vária espécie. Honra e louvor à sua obra!
Três coerentes obreiros de um “mundo novo” – três almas gémeas, embora separadas no tempo e no espaço, mas tocadas pelo mesmo Espírito! São estes que tornam verdadeiramente  Ímpar o Dia 4 de Abril! Por isso, dedicamos-lhes – a todos eles! - a mesma eloquente e emotiva  mensagem musical que acompanhou, à saída do templo, o cortejo, a um tempo fúnebre e triunfal, do inesquecível companheiro de estrada, Manuel Mendonça Viveiros:
                   Grândola, vila morena…
                   O Povo é quem mais ordena”
E a canção de Machico, cuja vivência serviu de inspiração:
                   Ó Terra Nova, raiz de um mundo novo
                   Gente de luta mas formosa e gentil
                   Tu serás sempre a voz do nosso Povo
                   Machico sempre – sempre Terra de Abril!
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03,Abr.18
Martins J+unior