Tirai
daqui esse calçado fino de cristal
Que
esconde os pés abutres de cem anos pesados
Em
cima dos nossos corpos
Despi
essa grotesca armadura
Medalhada
brasonada acetinada
Que
pariu o monstro escravatura
E
reduziu a nada
Um
povo e a geração que foi a nossa
Porque
a vossa proa
É
o porão onde apodrecem os nossos ossos
E
palmas e discursos guturais
Só
nos lembram guias de marcha coronhadas
Dos
vossos pares ancestrais
Anda mancebo marcha rapaz
Ou vais à guerra ou daqui já não
sais
Os
galões e as estrelas que ostentais
São
dos mesmos que outrora
Se
sentaram no trono que hoje ocupais
Ide
embora
Porque
já não estamos aqui
Nem
nunca foi este o verde da nossa bandeira
Ficámos
lá na última trincheira
De
La Lys
Em
jaulas de lama
Proscritos
amortalhados
Cobertores
de gelo e abandono a nossa cama
Calai
essas trombetas triunfais
Sarcasmo
e afronta à carne pra canhão
Em
que tornastes e tornais
O
corpo jovem da nação
Já
não estamos aqui
Somos
o Mar Vermelho
Do
sangue que corre mundo além
Sem
que ninguém
Estenda
a mão para estancar
Ide
Quebrar
ar armas que produzis
E
as ogivas sem freio
Amarrai
as mãos aos assassinos do país
Deixai
a pele macia das víboras da corte
E
afrontai os carrocéis da morte
Que
estrangulam o planeta
E
em vez das honras que fazeis
Ridículas
máscaras dos vossos orgulhos secretos
Promulgai
viçosas leis
Assinai
justos decretos
Mais
cem anos e voltaremos aqui
Os
sempre-vivos mortos de La Lys
Não mais pompa não mais arraial
Mostrem-nos então um mundo novo
E
um Novo Portugal
09.Abr.18
Martins Júnior
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