Impossível
ficar indiferente. Quem vai ao aeroporto já deixou de perguntar ao placard informativo quantos aviões terão
ficado em terra. São tantos e tão repetidos que o mais acertado será perguntar
quantos descolaram ou vão descolar. Serão mais fácil contar os aparelhos
operacionais que os faltosos.
Se
o caso se resumisse apenas aos equipamentos técnicos, tudo compor-se-ia, a
nível operacional. O mais grave, insuportável mesmo, é o cenário degradante que
ali se vê. Mais parece um hospital de campanha: o chão coalhado de ‘vítimas’,
uns a escorrer pelos degraus das escadas, gente aos punhados até nos acessos às
casas de banho. Povo dentro, povo fora da aerogare, malas espalhadas por quanto
é canto. E sobretudo o semblante das pessoas. Pode a comunicação social ‘dourar
a pílula’ em termos publicitários, mas
não é preciso curvar-se para ouvir, de nacionais e estrangeiros, os mais
díspares comentários, uns aparentemente conformados, mas outros, muitos,
angustiados, desesperados. “Não volto mais à Madeira”.
Tudo
por causa do grevista-mór, implacável, inelutável: o vento. Por mais refinada
que esteja a tecnologia, caímos sempre na mesma sentença: O homem põe, mas o
tempo é que dispõe.
Serve
este meu desabafo, colhido por experiência directa, para manifestar a minha
preocupação por tudo quanto se passa aqui, às portas da nossa casa, Machico.
Idêntica indignação perpassa pelos governantes, suponho. E contra o tempo
meteorológico nada (ou quase nada) há a fazer. Mas o que ninguém ousará negar é
o problema – já não é mera coincidência – é mesmo problema o que agora começa a desenhar-se, a nível regional,
local e internacional.
A
tornar-se viral estes fenómenos (e parece que os tempos mais recentes estão
a comprová-lo) não será despropositado atirar
para a tômbola das soluções a hipótese de uma outra pista de transfert na ilha. O Porto Santo já não
resolve. Nem o ‘Lobo Marinho’. Regressam agora, pela mão de terceiros, as
velhas opções do histórico hidroavião da
velha ‘Áquila Airways’ que enchiam os olhos da minha infância. Seja como for, a
Madeira e os seus governantes estão forçosamente confrontados com mais um magno
problema. Já não é só o ferry, já não
é o hospital ou o subsídio de mobilidade.
É a morte da “galinha dos ovos de ouro”, o turismo, a nossa maior indústria
exportadora. Sem querer imiscuir-me em áreas tecnicamente tão sofisticadas, cada
vez mais chego à conclusão de que as soluções, por vezes aparentes fogos-fátuos
de crânios ditos brilhantes, apresentam-se fenomenais, milagrosas, em
determinada fracção da história, mas mais tarde é que lhes descortinamos o
vazio, o logro, o embuste populista. E a Madeira é pródiga nessa semeadura.
O
amanhã já começou. E as novas gerações esperam soluções bem fundamentadas e
seguras. Está em causa a Madeira – para lá dos 600 anos!
E
enquanto vivo sou, poupem-me os ventos aos já habituais cenários degradantes do
nosso aeroporto.
23.Abr.18
Martins Júnior
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