O
último parágrafo desta noite dirá a motivação deste texto: Hoje é dia de falar
de lideranças. Aliás, deverá ter sido este o drama de todos os tempos e de
todas as gerações. De como achar – e mais que achar – construir um líder depende
o ritmo da história e o futuro dos milénios vencidos e vincendos.
Recorri
à capa do livro de Pierre Accoce e
Pierre Tentchnick para sintetizar o pensamento do dia. “Estes doentes que nos
governam”. Diríamos hoje “esses doentes
que governaram os nossos pais e avós” E porque a história também é uma sucessão
genético-mecânica de episódios passados, pode cada um de nós substituir os ‘cromos’
expostos colocando outros de igual teor anímico, precisamente os que nos
governam, aqui e agora.
Nesta
dissecação cirúrgica, para além dos muitos contornos que a realidade comporta,
peço apenas a compreensão de quem me lê para dois ‘item’s’ fundamentais do
problema “liderança”. Com efeito, duas colunas paralelas deverão ser tidas em
conta: a substância e o processo. A substância
aqui entende-se como a personalidade do líder, os seus atributos e convicções. Processo é toda a propedêutica, a
logística, enfim, os meandros da sua ascensão à liderança. Sendo decisiva a
primeira coordenada (o potencial criador do líder), interpreto mais importante,
mais esclarecedor, mais incisivo o processo. Porque é este segundo factor (que
passa então a primeiro) aquele que
definirá o perfil identificativo do líder e de toda a sua actuação futura. Quem sobe ao pódio do poder por estratagemas autoritários
ou fraudulentos pautará, sem sombra de dúvida, toda a sua governança por
critérios de ditadura, afrontamento e
suborno. Ao contrário quem ascende ao temão do navio por processos de
transparência, talento e coerência dará aos seus constituintes – a população –
um código de conduta justo, alicerçado em critérios de segurança, equidade e
igualdade.
Aqui,
pode com toda a justeza repetir-se o humor negro da propalada denúncia: ”Não há
almoços grátis”. Não há líderes grátis. Como não há justiça gratuita nem despachos
graciosos. “Paga-se tudo” – lá dizia a “Velha Senhora” criada pelo dramaturgo
suíço F. Durrematt. Uma liderança gerada na podridão do imediatismo e do compadrio
está ferida de morte anunciada. Para o próprio titular e, mais trágico, para a
sociedade envolvente.
Tanto
basta para aquilatarmos das governanças que dominam o mundo. O de longe e o de
perto. Olhando para os processos internos e externos que levaram ao trono
conhecidas figuras da nossa praça – regional, nacional e internacional – ficamos
informados se os devemos ou não adicionar aos loucos e “doentes” de que fala o
livro de Pierre Accoce e Pierre Tentchnick. Séria questão para todos aqueles – todos aqueles
somos todos nós! – que levámos nos braços os detentores do poder e mais tarde
queixamo-nos deles.
Hoje
e amanhã, mais que as flores e o vento e a chuva, povoa-me o cérebro esta
incógnita: Em que processo te integraste e seguiste para escolher os que
puseste no pódio…do governo, do partido, da autarquia, do clube? Mas, ainda
mais tocante e perturbadora é estoutra interpelação: Tu também exerces, de
certeza, uma parcela de liderança, em casa, na rua, no trabalho. Com que critérios
a conduzes?
A
motivação do presente SENSO&CONSENSO
advém dos textos bíblicos que neste domingo serão transmitidos em todos os templos
cristãos que há sobre a terra: é a parábola do Bom Pastor. Do bom Líder. “O que
dá a vida pelas suas ovelhas”! ((Jo, 10,
1-10).
“Lições
de abismo” para quem tem a missão lê-las à multidão!
21.Abr.18
Martins Júnior
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