quinta-feira, 29 de abril de 2021

A MITRA, A SOTAINA, A MÁQUINA FOTOGRÁFICA E O ‘CASSE-TÊTE’ - CENAS DE UM ESTÁDIO CRISMAL

                                                                          


O título, em linguagem-cripto, toma a parte pelo todo ou o instrumento pelo utente, a figura de estilo chamada sinédoque/metonímia. Propositadamente, para não ferir os olhos do espectador/leitor com este quarteto tão bizarro: um Bispo, um Padre, um Fotógrafo e um Polícia. O “estádio crismal” designa o lugar do crisma, em contraponto com o estádio desportivo do Moreirense.

Pois, esta crónica vem mesmo a propósito do sucedido no referido recinto, após o jogo Moreirense vs Porto, precisamente aí, onde se consumou o escandaloso ataque de um tal Pedro Pinho ao operador de imagem da TVi. Acompanhei os comentários subsequentes, entre os quais, o de um ouvinte da ‘Antena 1’ – ao entrar no futebol, parece que as pessoas  ficam em estado de hipnose – e as adequadas extrapolações dos especialistas José Manuel Meirim e Manuel Queirós: casos destes passam-se noutros cenários e noutras circunstâncias.

O “Meu Caso” (diria José Régio) ou aquele que vou contar passou-se em 1977, num templo histórico e  espaçoso, repleto de adolescentes e adultos preparados para uma festa-espectáculo, denominado sacramento do crisma.

Entram em cena os quatro personagens supra-citados: um Bispo (a mitra), um Padre (a sotaina), um repórter foto-jornalista (a máquina fotográfica) e um Polícia (o “casse-tête”). A multidão (espectadores) inicialmente ficou no templo, mas depois também  envolveu-se  na trama. O epicentro da acção é a sacristia do referido templo. E foi assim:

O Padre, convidado para ser padrinho de um dos crismandos, foi impedido de assumir a função, apesar de estar munido do título comprovativo, passado pela entidade eclesiástica competente. Não te admito como padrinho. E não começo a cerimónia sem saíres da igreja, tens 5 minutos para abandonar a igreja – sentenciou o Bispo. E organizou, de imediato, um mini-tribunal popular, composto por dez homens que, para surpresa geral, não subscreveram a sentença. O Bispo, vencido, aproxima-se do Padre, aperta~lhe o pescoço com os dois punhos. Neste preciso momento entra o repórter fotográfico, em serviço de um jornal diário, e bate a chapa à agressão tentada. Acto contínuo, o Bispo ‘liberta’ o Padre e atira-se ao Foto-jornalista, puxa-lhe a máquina em repetidos soquetões e com tal violência, cujo resultado foi este: o Bispo fica com a máquina e o Fotógrafo com o estojo pendurado ao pescoço.

A cena continua. O Fotógrafo solta-se em altos brados: Quero a minha máquina, estou em serviço do diário, aqui está a minha credencial, quero a máquina, é o meu ganha-pão. Parte da população, impressionada, com o ruído dentro da sacristia, começa a invadir o recinto. Mas o Bispo, imperturbável, respondia pausadamente ao Fotógrafo: Não se preocupe, vou devolver-lhe a sua máquina, mas só depois de tirar o rolo. E se bem o disse, melhor o fez: extraiu o rolo. E aqui é que entra o Polícia, comandante do posto concelhio da PSP. Diz-lhe o Bispo: Senhor Sub-Chefe, pegue-me este rolo, fica à sua guarda.

O caso tem mais desenvolvimentos e contornos muito expressivos, até ao desfecho final, mas hoje ficamos assim. Vamos ao essencial, ou seja, o motivo desta crónica: dar razão aos comentários dos especialistas desportivos retro-mencionados quando referiram que não é só no calor do futebol que surgem idênticas reações comportamentais.

Analisemos sucintamente as semelhanças: um agressor, o Bispo (agredir não significa apenas e necessariamente esmurrar ou fazer sangrar); dois agredidos, o Padre e o operador de imagem, o Foto-jornalista; um instrumento de trabalho, a máquina fotográfica e (cereja em cima do bolo) um agente da ordem, o Polícia que, tal como o GNR, viu tudo e não interveio em nada.

Mas de onde teria surgido o Polícia?... Desde o princípio de tudo, lá estava ele, discreto, quase imperceptível, na periferia dos intervenientes. O público logo concluiu: Estava tudo combinado, ele estava ali ao serviço do Bispo. E tirou as mesmas ilações, há 44 anos, iguais ao jurista que ontem comentou na TV o incidente ‘moreirense’: A Justiça (neste caso, o agente da ordem pública) é forte com os fracos e fraca com os fortes.

Desconhecemos, por enquanto, o desenrolar dos eventuais processos criminais em curso. Quanto ao sucedido em 1977, sabe-se que o Foto-jornalista interpôs processo em tribunal. Entretanto o arguido Bispo morre, ficando extinta a causa. Esclarece-se, ainda, que os quatro intervenientes têm nome, sendo, porém, (e por assumido pudor) desnecessária a sua identificação, excepto a do cronista que, para memória presente e futura, é o mesmo que subscreve estas linhas.

 Finalmente, não pode passar desapercebida a diferença abissal em relação ao “lugar do crime”: de um lado, o profano recinto desportivo e, de outro, o sacro templo do crisma. Por onde se prova que, muito diferentes que nos queiramos parecer, somos todos iguais quando a hipnose do poder e a neurose da arrogância tomam conta do nosso Ser.

Quando mudaremos o Mundo?!

29.Abr.21

Martins Júnior

 

 

        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

             

 

terça-feira, 27 de abril de 2021

SEMENTES DE JUVENTUDE NA PLANÍCIE DO FUTURO !

                                                                              


Contei os milhares de cravos-actos – são  17.167 – que cada português terá plantado à sua porta desde 1974, se em cada dia tiver realizado um acto correspondente ao espírito do “25 de Abril”. Porque é só isso que importa: actualizar=pôr em accão, sob pena de ficar esse memorável acontecimento confinado às poltronas dos parlamentos ou às ‘promenades’ vistosas de uma tarde de domingo, 25.

.E se, para uns, murcharam os cravos passados, para outros há sempre  ‘alguém que resiste’ algures e há sempre quem semeia cravos ao vento que passa e que se reproduzem depois nos canteiros onde vegetam pomos de depressão social. Muitos heróis que desconhecemos, que nem chegam à ribalta da publicidade, mas que mantêm na pele e na alma a transfiguração que Abril trouxe a Portugal! Outros há que nos chegam através de protocolares actos oficiais que, desdizendo em parte a raiz genética do “25 de Abril” do Povo, no entanto servem para trazer ao mundo distraído valores e mensagens libertadoras.

A Madeira acaba de vê-los, esses bandeirantes da liberdade e da estética global, em duas personalidades cimeiras do pódio regional, nacional e internacional. Vêm de longe e por onde têm passado ficam as marcas indeléveis do seu talento, tocado pela magia da descoberta, da utopia sem a qual o mundo não sonha nem avança.

Lourdes Castro, um nome que se pronuncia como quem apela à divindade criadora da beleza. Desde 1955, a sua primeira exposição no Funchal, tem navegado pelos arcanos da arte, conquistado vários prémios, com exposições em galerias e museus, tais como Londres, Paris, Havana, Belgrado, Varsóvia, Gulbenkian, Serralves. O toque definidor da sua mão situa-se no reino das sombras, no mistério escondido que estas condensam, a partir do comum quotidiano, metamorfoseando os passos e os gestos que o olhar baço do vulgo não consegue decifrar. Alexandre Pomar define a sua arte como a “visão em acto - apenas ver sem mácula e sem medo”. É assim que a revejo em “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro E é assim que a pressinto em Sebastião da Gama: “O Poeta em tudo se demora”.

Assim Lourdes Castro, visionária das sombras no seu recanto de cenobita solitário. Quanto à comenda que lhe foi entregue, faço minhas as palavras do eminente  Professor Manuel Morais, no facebook. Quem lha outorgou não conhece de certeza a altitude soberana da arte de Lourdes Castro. Um dia, hão-de os poderes públicos emendar a mão e colocar no devido trono os 90 anos, férteis e mágicos,  desta nobre madeirense, cidadão do mundo.

  Trago no mesmo braçado de cravos vermelhos Alguém que tem semeado (por vezes incompreendido até na sua própria terra) notícias redivivas de “Abril” - o escritor polígrafo madeirense, Viale Moutinho, a quem acaba de ser atribuído o Prémio “D. Dinis” pelo livro “Cimentos da Noite“. Dos muitos cultores da escrita no nosso país, nenhum se aproxima da extensa versatilidade literária de Viale Moutinho, conjugando géneros e estilos de tão larga onda criativa, que vão desde o conto, o jornalismo interveniente, o ensaio, a historiografia, os rimances e lendas tradicionais, sobretudo da Madeira, até aos cumes da poesia e do romance. Quem fizer a história da literatura madeirense terá de reservar uma volumosa estante para assinalar a produção literária do incontornável, incansável trabalhador intelectual Viale Moutinho.

Felicito-o efusivamente pelo último sucesso. Há muito que não nos vemos e ainda hoje me pergunto por que esta ilha não aproveitou o filão dinamizador deste ilustre madeirense, enquanto cá residiu. A notícia do novo livro e o respectivo prémio  assumiram, para mim, a dimensão e o espírito de um Grande Cravo de Abril.

  É o que nos aguenta – e aguenta o ânimo nascido há 47 anos – ou seja, os actos e as pessoas que corporizam aqui e agora o feito heróico de há quase meio século! Poderia juntar aqui tantos outros passos na estrada, gente anónima, velhos e novos, que não deixam apagar a chama de um passado recente. Apontei estes dois exemplares, como protótipos de uma geração que promete continuar a marcha decidida, mais a mais numa altura em que os cadavéricos fantasmas de novos fascismos arquejam por abrir as fauces.

A terminar, melhor sopro de Abril não poderíamos ter do que a vitória judicial do professor Joaquim de Sousa, o intrépido docente da Escola do Curral das Freiras, saneado por um elenco de repressivos herdeiros do antigo regime. Ergamos a vitória do Professor-Lutador como o Cravo mais fresco da “Alvorada de Abril” !!!  

 

27.Abr.21

Martins Júnior

domingo, 25 de abril de 2021

17.167 !!!

                                                                               


Só haverá “25 de Abril” se em cada dia houver mais um cravo plantado pela nossa mão na terra onde vivemos. 

À semelhança dos alleluias da Páscoa, o “25 de Abril” está cansado de palavras. Ele quer actos, estatura, substância. Corpos e almas transubstanciados no húmus que alimenta os cravos e transforma as sociedades.

Se, desde 1974, plantámos um cravo em cada dia de vida, temos um imenso canteiro emoldurado de 17.167 cravos vermelhos que reproduzir-se-ão vitoriosos na planície do Futuro.

Cada acto – um cravo!

É o que tem feito o “Jardineiro” – nado e criado no Jardim da Serra – Padre José Luís Rodrigues, no Porto Santo, na Madeira e no mundo, através das redes sociais. E hoje homenageado num recanto de Abril: Machico e Ribeira Seca. Tal como fez o seu conterrâneo, o saudoso Padre Mário Tavares Figueira.

Serão úteis estas palavras se forem traduzidas em actos concretos. Sempre!!!

 

         25 de Abril de 2021

Martins Júnior                                            

sexta-feira, 23 de abril de 2021

PÉTALAS DO MEU LIVRO NAS FOLHAS DO MEU CRAVO ! – UMA CANÇÃO DE ABRIL

                                                                              


Porque  é o DIA MUNDIAL DO LIVRO, tudo me atira às nuvens para daí tecer as mais altissonantes loas em louvor do oceano cultural que nos trazem as páginas escritas, soletradas, desfolhadas. Mas estamos também na Semana dos Cravos – os cravos que nascem na terra e a ela nos prendem. E logo senti que livros e cravos, folhas e pétalas são água da mesma nascente, são húmus do mesmo chão que todos habitamos.

Mas será que os Livros nasceram na mesma manhã dos Cravos?

Eis a questão que se, por um lado, nos inspira poemas lunares, por outro obriga-nos a descer ao terro da vida – ou das vidas: a de antes e a de depois do “25 de Abril de 1974”.

E quando me preparava para sinalizar a diferença abissal entre  “o Antes e o Depois”, eis que um acontecimento, para mim fortuito, veio buscar-me de novo para a beleza poética e comovedora de uma exposição em pleno centro da cidade de Machico. Foi esse vasto friso que enchia de cor o chamado “Largo da Vila”, o toque de mestre inspirador do poema que queria dedicar à nova atmosfera que respiram hoje os portugueses, a começar pelas crianças – o ar puro e rico da Cultura, não obstante os ventos áridos desta pandemia.

As crianças das Escolas Primárias do concelho, acompanhadas pelas suas professoras, trouxeram ao espectáculo público uma Exposição eloquente, subordinada ao título: “Como vejo o “25 de Abril”?.

Podia esta pergunta ser endereçada a cada um de nós, adultos. Que resposta a nossa?...

Da minha parte, faltar-me-iam as palavras para descrever o que meus olhos viam naqueles painéis abertos. Porque? E era por aqui que ia começar hoje esta crónica.

Sinteticamente: Nós, os do “Antes”, bem nos lembramos da escassez de instalações escolares, das dificuldades extremas em frequentar a escola e da total impossibilidade que condenava o filho de um trabalhador do campo ou do mar a ficar sem acesso ao ensino superior. Quem podia entrar numa Universidade? Só os afortunados do poder e do dinheiro, os filhos dos senhorios, dos ‘proprietários’, dos capitalistas e de alguns comerciantes. O regime vedava os olhos ao Povo, retirando-lhe os livros e as hipóteses de lê-los. Consideravam os donos  do regime um perigo público aprender a ler. Por isso, os mais velhos, que não puderam ter escola diziam: “O caderno e a caneta que meus pais me deram foi uma corda e uma foice para ir à serra apanhar lenha ou roçar erva comida para o gado”.

Assim se deseducou um povo a andar de cerviz curvada ao chão, como escravos do século XX! Os poderes públicos e a própria religião tiravam opulentos dividendos do obscurantismo popular. Mísera sorte, a dos nossos antepassados!

                                                          


Com “Abril/74”, porém, varreram-se as trevas da ignorância e do analfabetismo. Todos tiveram caminha aberto para a sua escola, para a sua Faculdade, enfim, para a Cultura. Merece um hino triunfal quando vemos o filho de um operário fabril, agricultor ou pescador, franquear as portas da Universidade e um dia ocupar a cátedra de Mestre, de Juiz ou  Cirurgião.       

         No Dia Mundial do Livro, vi diante de mim os Livros abrindo em pétalas de beleza infantil, vi também os Cravos vermelhos abertos como as páginas de uma imensa enciclopédia – a Enciclopédia da Vida.

Parabéns às docentes de todas essas crianças, artistas do “25 de Abril”. E que magnífica lição ali nos dão com a sua exposição!... Enquanto muitos tentam abafar e secar os Cravos da verdadeira Liberdade, os alunos do Ensino Básico do concelho de Machico ergueram bem alto a bandeira vitoriosa da Revolução dos Cravos! Viva!

 

23.Abr.21

Martins Júnior

quarta-feira, 21 de abril de 2021

O CRAVO QUE MATOU O MEDO – E os medos QUE MATAM os cravos

                                                                           


Com o mesmo entusiasmo com que vivemos a Semana Azul do Mar, a Semana perfumada da Flor, a Semana universal de Tudo, assim também quero respirar a plenos pulmões a Semana Vermelha de Abril. E é esta que me domina de domingo a domingo, tal qual a Semana da Páscoa libertadora, desde Domingo de Ramos ao Domingo da Vida reconquistada.

         Porque se os dias compõem as semanas, as semanas preenchem os meses e estes enfeixam os longos anos de uma vida, tudo somado só tem nome e identidade se em cada parcela constitutiva nascer e reverdecer  a energia vital que lhes deu o ser. Numa palavra, o Abril histórico só existe se ele habitar os momentos do quotidiano, como os cravos revividos nos canteiros da nossa casa.

         Por isso, iniciei anteontem este revérbero aprilino, evocando o enterro do machado da guerra em 1974, quando se estancou a hemorragia a que estavam condenados os jovens portugueses em território africano, ao serviço da ditadura colonialista. Hoje, quero  reaver o estrebuchar de outro monstro que torturava gerações e gerações de homens e mulheres, à sombra da bandeira verde rubra de Portugal: o MEDO !!!

         Reescrevo o monstro com maiúscula, como no título, porque tratava-se de um MEDO estrutural, trepidante vírus genético que serpeava no ventre das mães, grávidas de um Ser Vivo e grávidas desse monstro que se preparava para engolir a criança logo à nascença. Nascíamos todos sob o signo do MEDO. E mais flagrante e deprimente era o rebanho anónimo que nem dava por isso… A mudez perfeita sob o perfeito terror regimental! Medo de falar, de escrever, de sair à rua, de manifestar a sua dor, numa palavra, medo de respirar! A polícia política, disseminada por praças e becos, umas vezes fardada e espingardada, outras cavalgada, outras paramentada nas igrejas e confessionários, quase sempre, porém (a mais requintada e viperina) a polícia nua, sem armas, sem rosto e  sem ruído! Pode afirmar-se, sem nesga de erro, que a “PIDE” foi a implacável “COVID/Salazarista”. Invisível, feroz e fatal!

         Famosos e esplendorosos como os militares de Abril são todos os homens e mulheres, jovens, operários, intelectuais, que expiaram em lúgubres masmorras o crime de esconjurar esse MEDO visceral da nação portuguesa e devolveram ao Povo o direito de falar, de escrever, de manifestar os seus dramas, de proclamar as suas vitórias!

         E agora, volvidos 47 anos, 564 meses, 2.256 semanas, 15.792 dias (!!!) que fizemos nós do CRAVO que matou o MEDO???... “Perguntem ao vento que passa”... notícias dessa Alvorada que varreu a noite de 48 anos em que se perdeu Portugal!    

         Verdade seja dita: se hoje posso escrever esta crónica, é sinal que algo mudou. Mas, sem armar ao trágico, bastar tactear pelas ruas e esquinas da cidade, entrar nos domésticos corredores desta terra e verificar que, afinal, os medos têm tomado conta dos cravos, esfrangalhando-os, amputando-lhes pétalas e seiva. Os medos dos mandantes, dos chefes, dos despedimentos, da fome iminente, medos (com minúscula) de falar, de contestar, de gritar a própria dor, enfim, o regresso ao silêncio, à cobardia, ao sado-masoquismo de outros tempos. Até na comunicação social! Jamais esqueci o desabafo de um jornalista (já lá vão três décadas) que às minhas observações nada lisonjeiras sobre uma das suas peças pró-governamentais, responde-me ao ouvido: “O que é quer? Isto é o meu ganha-pão”! E mais não disse.  

         Ironia das ironias – maldição sobre maldição, digo eu – assentou arraiais à nossa porta Sua Insolência a COVID, para consolidar o império dos medos quotidianos, veículo prestimoso de anestesiar os cérebros, a pretexto da saúde, e passar a outros medos de maior gravame, os medos estruturais que tolhem a fala e o ânimo das gentes.

         Tempos de carestia, tempos de seca severa e austera!

         É a hora de não deixar que os medos matem os cravos, a hora de cultivar o CRAVO que mata o MEDO!

 

         21.Abr.21

         Martins Júnior

          

segunda-feira, 19 de abril de 2021

CABO’s DELGADO… CABO’s DE TORMENTAS… CABO’s DE ESPERANÇA !!!

                                                                        



Entrámos na Semana dos Cravos, do ano 47. Aqui estou eu no meio da multidão incontável que em todo o mundo não permite que, passado quase meio século, algum cravo murche e caia ao chão. Este será o meu posto de sentinela durante toda a semana.

Viver Abril – mais do que evocá-lo – é rebobinar o filme da vida e reentrar no porão do velho “Niassa” como quem estagia no mar a entrada na imensa, bela e tenebrosa selva africana, deixando de fora toda a esperança de lá sair. Assim subiram à amurada do navio, em 1967,  cerca de dois mil jovens, rumo a Cabo Delgado, com desembarque em Mocímboa da Praia.

Ai, misteriosa e sedutora Mocímboa! Ai, doce Palma, dos coqueiros debruçados sobre a areia dourada daquela praia das marés vivas! Ai, picadas que pisámos, onde numa manhã de Agosto, diante dos meus olhos  ficaram onze amigos meus, vítimas inocentes de um regime tirano sediado em São Bento!

Não fora a Alvorada dos Cravos, em 1974, ainda hoje estaria alguém no meu lugar no cemitério de Mocímboa da Praia enterrando jovens condenados a “carne-pra-canhão”!...  A gravura no topo desta página preferia nunca tê-la nem vivê-la. Por isso, ao mesmo tempo que exalto a Vitória da Vida, renego e abomino a traição que fizeram à juventude portuguesa durante a guerra colonial, entre 1961-1974. Não repitam mais a medonha hipocrisia de cobrirem a campa desses jovens com o sarcástico medalhão de ‘Heróis da Pátria’. De que Pátria estão a gargantear esses que nunca puseram os pés em campo de guerra? Se Pátria é a Nação, o Povo, os pais, as mães, os irmãos,  as esposas e as noivas de Portugal que ficaram em casa chorando a partida dos seus para as matas africanas, essa Pátria nunca os mandou para a guerra, nunca os obrigou às atrocidades que a tropa lá perpetrou, idênticas às dos actuais jiadhistas em Cabo Delgado.

Foi outra a pátria madrasta que manietou braços e pernas e coração da juventude e os atirou para o porão do navio-fantasma, sorvedouro de vidas futuras. Foi a pátria-antropófaga dos imperialistas exploradores das riquezas africanas, em cujo solo e subsolo moirejava gente sã, os moçambicanos, gente martirizada, nativos exilados, fugitivos dentro da sua própria casa! A pátria, (que nunca foi mátria nossa!) a dos diamantes, do ouro, do marfim, do açúcar, do chá, das bebidas capitosas, com que se banqueteavam os colonialistas à mesa lauta, nas capitais dos distritos ou na metrópole lisboeta, enquanto o zé-soldado comia a cadavérica ração de combate no meio do capim.

 E não me falem em heróis africanos, condecorados com a cruz-de-guerra, mercenários bem pagos, ao serviço do exército português. Conheci um deles, nosso guia por entre a floresta densa, conhecedor dos paióis da ‘Frelimo’. Verdade que ele era o escudo da nossa tropa, mas ao vê-lo dar táticas de guerrilha aos nossos oficiais e soldados, olhava-o com desdém e dizia no meu íntimo: “Traidor desprezível, traíste a tua classe, os teus irmãos, o teu povo maconde”!

Cabo Delgado, Cabo das Tormentas – repetidos, multiplicados durante catorze longos anos de combate inútil, destruidor da alegria, do pão, das finanças e do melhor que tinha o país, a sua juventude!

Cabo da Boa Esperança, iniciado em 1974, e que a todos nós cabe garantir, consolidar, ampliar neste mar de batalha, sugestivo e promissor, que é este caminhar com firmeza e resiliência em cada dia que nasce!

Com os 47 Cravos de Abril ergamos a alameda esperançosa do futuro, mesmo em tempo de pandemia hostil.

19.Abr.21

Martins Júnior

sábado, 17 de abril de 2021

DE WINDSOR PARA O MUNDO !

                                                   


             

O mundo todo num feixe de ossário

da nobre catedral:

ossadas ducais caídas no chão musical

ossadas de escravos erguidas

nas ogivas etéreas ressequidas

 

Breve bem breve serão umas

punhado de cinzas - frágil testemunho

 

De longe são e para longe serão outras

mármore intocável vergado ao punho

e ao sangue de gerações de antanho

 

Tanjam os sinos soem trombetas

bandeiras esvoacem sobre as anónimas ossadas

ruivas  calvas  brancas  pretas violetas

as que caem sem sentir, de si mesmo exiladas,

e as que sobem verticais pelas arcadas

deste mundo desigual

A minha e nossa tão diversa agenciada catedral

 

Seja Cohen, Haendel ou Bach

de todos os ossários saia hoje o inacabado alleluia pascal…

 

         17.Abr.21

         Martins Júnior

quinta-feira, 15 de abril de 2021

TODAS AS ARTES DENTRO DE TI

                                                             


 A Arte e o seu corpo só entram em ti se a alma dela morar dentro de ti. Porque, como a Justiça, a ARTE é cega, surda e muda enquanto não lhe emprestares os teus olhos, os teus ouvidos, a tua voz.

Por isso, no Dia Mundial de Todas as Artes,

se aceitares,

aqui deixo um ensaio de GPS – embora fraccionado e desconjuntado – para encontrar a ARTE e deixá-la entrar à tua porta.

Assim, podes e deves:

                                                                          


Olh-ARTE                

Am-ARTE

Escut-ARTE

Retalh-ARTE

Libert-ARTE                

Desert-ARTE

Exorciz-ARTE

Sublim-ARTE

Abandon-ARTE

Desorganiz-ARTE

Horizontaliz-ARTE

E Sempre Sempre Reencontr-ARTE

 

                15.Abr.21

            Martins Júnior

 

     

terça-feira, 13 de abril de 2021

JESUS CRISTO, COMUNISTA?!... “Eles punham tudo em comum”!!!

                                                                               


         O título nada tem a ver com as “manchetes” bombásticas que tomam conta dos telejornais e dos tablóides da ‘Última Hora’. Já tem mais de dois mil anos e é-nos oferecido para toda esta semana, através das leituras feitas oficialmente, anteontem, em todos os lugares de culto. Ei-las, em  discurso directo, Actos, 4, 32-35:

         “Os que tinham abraçado a fé eram perfeitamente unidos, tinham uma só alma e um só coração. Nenhum deles dizia que os seus bens eram apenas seus, mas punham tudo em comum. Entre eles, ninguém passava necessidade, porque os que possuíam campos, propriedades ou casas vendiam-nas e entregavam o dinheiro aos apóstolos e estes repartiam por cada um conforme as suas necessidades”.

         Teremos entendido bem estas palavras?... Lemo-las a frio, sem por um instante cortar a respiração?... Onde encontraremos – país, democracia, monarquia, patriarcado ou matriarcado, trono ou templo – onde encontraremos uma Constituição tão sumária e tão extensa, gigantesca, avassaladora, revolucionária?!... E, no entanto, ela é factual, verídica! Merecia bem  ser gravada em pedra, mármore, o mais puro, prata e oiro fino:

         Povo – Unido!

         Mentalidades e sensibilidades – um só tronco!

         Egoísmo – zero!

         Assimetrias – zero!

                  

Guerras – zero!

Recursos - os “meus” só valem enquanto função social!

 

Enfim, o melhor de todos os mundos! A utopia, o sonho, o Nirvana em corpo vivo, o Paraíso Terreal sob os nossos pés!

Quem o fez? O decreto do Imperador?... O arauto de Pilatos?... Caifás e o Torá?... Não, nenhum poder extrínseco, só a Voz do Nazareno e o eco da Consciência!

Mas, desde aqui até apodarmos Jesus Cristo de comunista vai tanto de distante como de tão perto. De tão perto, em termos de pragmatismo igualitário ou sociologicamente proporcional; e de tão distante, se considerarmos a orgânica interna, os métodos e os instrumentos usados para atingir os mesmos fins. É uma velha questão sob cuja ponte têm corrido rios de tinta. Nem será aqui autonomizada, muito menos dissecada. No entanto, é útil recorrer ao pensamento de alguns, entre tantos, analistas que se debruçaram, uns sobre a questão teórica, outros no chão prático da acção.

Começando por Roger Garaudy: “O nosso problema consiste em conceber um tipo de sociedade em que a liberdade da pessoa não degenere em individualismo de selva e onde o comunitário se não degrade em totalitário”. E Francfortois, citado por Eric Voegelin, em As religiões Políticas”, acentua: “Se a criatura se apropria de qualquer coisa de Bem, como são o ser, a vida, o conhecimento, o poder, e se pensa que isso é seu ou lhe pertence, ou vem dela, é frequentemente uma aversão (direi, aberração). Que fez o diabo, ou o que foi a sua queda, senão apropriar-se também de ser qualquer coisa, pensando que qualquer coisa era só sua ou só lhe pertencia? Esta apropriação, os seus “eu”… “me”…”a mim”…”meu”… foram a sua aversão e a sua queda”.

Alain Birou, em Luta Política e Fé em Cristo, passa ao campo da acção concreta e, referindo-se à revolução comunista, define: “A revolução como mito transforma a política em mística, em religião”. Para, logo de seguida, censurar os cristãos: “Pela sua passividade, pelos seus compromissos, a sua instalação no mundo, a sua confusão com os poderosos da terra, os cristãos são, em grande parte, responsáveis pelo aparecimento desta nova religião”. E quantas vezes tem o Papa Francisco direccionado a sua crítica no mesmo alvo?! É sobejamente conhecida a sua insistente recomendação (contra o luxo cardinalício da Cúria Vaticana) para que o crente não sinta vergonha de “sujar as mãos na lama social e que os pastores não fujam ao cheiro das ovelhas do seu rebanho”.

A este propósito não posso deixar de evocar essa grande personalidade, o Padre Abel Varzim, pároco da Encarnação, no Bairro Alto, Lisboa, onde, entre 1951 e 1964, liderou uma dolorosa campanha contra a prostituição e os lupanares daquela zona problemática. No livro-testemunho dramático da sua luta, Procissão dos Passos, Uma vivência no Bairro Alto, deixou-nos apelos angustiantes e contundentes, como os que se seguem, escritos na década de 50, do século passado:

“O comunismo surge na História como uma nova fonte de salvação. Importa, por isso, sair de nós próprios e dos nossos templos demasiadamente fechados, por mais abertos que pareçam, prestar atenção à Procissão invisível que passa cá fora… Deixar-se embalar e adormecer pelos cânticos religiosos ou embriagar-se com o perfume do incenso ou com o rendimento dos cofres dos altares, as mais das vezes cheios de moedas da superstição, não me pareceu coisa séria nem trabalho honesto”.  

Eloquente testemunho. E actualíssimo. Também aqui na Madeira.

Para fazer jus ao título deste bloco, passo a palavra ao próprio Abel Varzim:

“ Viu bem o problema um dirigente comunista que um dia me disse:

Li com profunda atenção os Evangelhos e as Cartas dos Apóstolos, estudei a fundo a vida dos cristãos dos primeiros séculos. Se vós pusésseis em prática o Evangelho e se fizésseis como eles fizeram, nós não seríamos precisos”.

 Tema este, apaixonante, longo, interminável, a merecer maior aprofundamento!

 

13.Abr21

Martins Júnior

domingo, 11 de abril de 2021

NA 25ª HORA DE UMA PÁSCOA SEM TERMO

                                                                            


Ao Pedagogo e Condutor de povos e mentalidades

Ao Combatente por um Mundo Novo, “Homem de um só rosto e de uma só fé, de antes quebrar que torcer” na defesa dos ideais humanistas, solidários,

Ao poeta das raízes milenares, telúricas, Arco-Íris feito de “Pedaços de Esperança” que pintam de eterno verde a paisagem de sombras,

Ao Povo – o de São Roque e São José - e aos milhares de “Peregrinos” andantes à luz das suas palavras dispersas pelas redes que povoam o mundo,

              As mais efusivas congratulações

                pelas 25 primaveras pastorais

                 e votos de intermináveis madrugadas pascais

 

                de um veterano “peregrino” das mesmas rotas

 

            11.Abr.21

            Martins Júnior

sexta-feira, 9 de abril de 2021

RESSURJA SALOMÃO E A SUA JUSTIÇA !

                                                                                     


         Embora há muito tempo aguardada, caiu hoje como uma bomba a decisão do Juiz de Instrução Criminal sobre a tristemente famosa “Operação Marquês”.

Impossível, quanto precipitado e insensato, seria captar em poucas linhas deste blog as mais de seis mil páginas das alegações e respectivas conclusões. No entanto, ninguém poderá ficar indiferente ao essencial que daí resulta, desde os seus fundamentos às implicações e perplexidades sobre o Estado de Direito e a sua aplicação na barra da Justiça.

Ai, a justiça dos homens!…Ai, os homens que vestem a Justiça!... Ai, a distância e as injustiças que medeiam entre a Justiça material e a Justiça formal!...

Se, na opinião de alguns juristas, o que hoje se passou serve de instrumento para educar o cidadão comum na apreciação e censura de decisões judiciais arbitrárias, fruto do impulso primário dos magistrados, por outro lado e na mesma medida, afirmam comentadores abalizados que no palco judicial desta tarde assistiu-se a uma peça de teatro temerário, a que podia dar-se o perigoso título de “Requiem pelos julgadores e um vitorioso Urra,Urra pela Justiça”.

“Não julgueis, para não serdes julgados” – vem de longe esta máxima, mas que não pertence às sebentas do Curso de Direito. Porque julgar é preciso. E porque é preciso julgar, devem os julgadores dotar-se, exigir-se a si próprios, uma escrupulosa consciência, a um tempo férrea mas humanista, sólida e cega mas sensível, tendo em vista não apenas a verdade formal, mas sobretudo a verdade material dos factos.

Mas, onde encontrar um módulo exemplar desta estirpe dentro de um corpo feito da mesma carne e dos mesmos ossos que o réu que tem à sua frente? Basta olhar para o abracadraba ocorrido no Brasil no processo Lula: o juiz que o condena e lhe veda a candidatura à presidência brasileira, surge como ministro da Justiça do novo presidente, demite-se pouco depois e – oh paradoxo dos paradoxos! – vem outro juiz absolver o mesmo réu… Como suportar a sentença da justiça russa que reduz à prisão o herói Navalny, só por contestar o poder político vigente? Ou como poderá julgar o presidente americano, quando o juiz supremo é nomeado pelo mesmo presidente?!...

Quanto criminoso absolvido e quanto inocente condenado?!... Em todo mundo, em todos os continentes, em todas as ilhas, nesta nossa ilha também?...

Uma tremenda chamada de atenção aos legisladores, aos políticos deputados e aos operários (oxalá assim se considerassem) operários operantes da Justiça! Reproduzo aqui o pensamento do jurista Miguel Poiares Maduro, citado em 2010 pelo saudoso Prof. Saldanha Sanches, no seu livro Justiça Fiscal: “O direito não deve tornar-se uma espécie de faroeste jurídico, em que praticamente todo o tipo de comportamento oportunista tem de ser tolerado desde que seja conforme com uma interpretação formalista estrita das disposições relevantes e que o legislador não tenha expressamente tomado medidas para impedir esse comportamento”.  

 Sem cair na veleidade, por vezes epidérmica e populista, das ‘bocas do mundo’ em julgamentos-opiniões populares, deve dizer-se que o cidadão tem um papel preponderante, decisivo, na feitura das leis, mormente quando nos parlamentos se lançam as bases e os trâmites de toda a acção cível ou penal. Mas, infelizmente, a voz do povo não chega lá!

Em conclusão, aspiremos  - e façamos por isso – a que nos nossos tribunais se assentem julgadores dotados da sabedoria e da perspicácia de um Rei Salomão, severo mas sensível, robusto mas humanista!

 

09.Abr.21

Martins Júnior

 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

RESSUSCITAR AOS 93 ANOS !

                                                                      


Se sempre se tem de morrer, que seja no berço de uma manhã de Páscoa! Porque nas manhãs de Páscoa há sempre o brilho e o tom dos amanhãs que cantam. Vale bem uma tamanha pena porque não é pequena a alma que fica.

         Quisera que assim foram todos os adeuses: vestidos de alleluias e orvalhados de uma saudade tão forte quanto a presença que torna tudo tangente e reprodutivo.

         A de HANS KUNG assim foi e assim é.

Várias vezes moribundo sob o ferrete da incompreensão dos que tinham mandato e dever de entender a mensagem, cedo conheceu uma outra morte, “a mais cruel”, (disse-o ele mesmo, entrevistado por António Marujo) quando o Papa João Paulo II o proibiu de ensinar nas universidade católicas de todo o mundo!...  Ele, o teólogo eminente, o Mestre de Tubinga, o co-arquitecto (com J. Ratzinger, o futuro Cefe da Igreja) do Concílio Vaticano II, na década de 60, do século XX, chamado por João XXIII para tão ingente tarefa!

         Incansável investigador e não menos corajoso caminheiro por entre a densa bruma da floresta obscurantista dos dogmas que exorcizou – como o da infalibilidade pontifícia e o monopólio salvífico da Igreja – a sua maior glória, transformada em legado imorredoiro, balizou entre dois polos saudáveis e seguros:

- o “Projecto de uma Ética Mundial”, com base em  “um consenso mínimo relativamente a determinados valores, normas e atitudes” que se sintetizam num claro princípio: “Sem um Ethos Mundial não haverá uma Ordem Mundial”.

- a mundividência ecuménica das religiões, enquanto denominador comum de todas as crenças e ideologias, expresso num segundo axioma: “Enquanto não houver Paz entre as Religiões nunca haverá Paz entre as Nações”.

         Dê o planeta as voltas que der, desçam os sábios às profundezas dos oceanos ou subam ao sétimo céu de Marte e Júpiter, há-de chegar aquela hora de alcançar o alfa e o ómega da História, quando do polo norte ao polo sul se avistarem essas duas bandeiras que nos deixou HANS KUNG.

         Por isso que dos ossos baixando à terra – deles falará Victor Hugo, o dos “Noventa e Três” – há-de ressurgir HANS KUNG eternamente ensinante!

 

         07.Abr.21

         Martins Júnior