segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

75 ANOS DE PRISÃO PERPÉTUA – CASTIGO SEM CRIME!!!

                                                                        


        Prende-se a língua ao céu da boca quando a palavra assoma ao pensamento. A greve voluntária da fome iguala-se à greve forçada do verbo, do lamento, do queixume e da revolta!

             Enquanto na capital do Nobel brilha sereno e livre o ouro da Paz Universal, o corpo que o mereceu jaz acorrentado numa masmorra imunda do Irão.. O precioso Prémio não compra mais 30 anos de cadeia, a que foi condenada Narges Mohammadi, Prémio Nobel da Paz-2023.

             Em 10 do Mês da Paz – “OS DIREITOS HUMANOS”  sopram  75 velas!

             E no mesmo sopro os homens apagam a PAZ, OS DIREITOS HUMANOS!

             Há 75 anos foi alcançadas a dádiva da Paz, plantada a raiz dos dois territórios independentes, Israel e Palestina, mas os Humanos não quiseram. Ate hoje.

             Também, há mais de dois mil anos “a Luz brilhou no meio das trevas, mas os Humanos não quiseram recebê-la”. (João, I,5,10,11).Ate hoje.

             OS DIREITOS HUMANOS – condenados à prisão na mesma hora em que nasceram! Pelos próprios destinatários, os Humanos.

             Não incomodem mais o Menino, quando lhe rezam para trazer a PAZ e restaurar os DIREITOS HUMANOS. Isso significa que, indirectamente e por omissão,, Ele é o responsável das guerras e o discricionário  carcereiro da PAZ. Ele não a trouxe no seu tempo (foi vítima impotente às mâos dos ditadores religiosos)  nem nunca será capaz de trazê-la ao mundo.  Porque não está na sua mão.

             Batam às portas de Natanayu, aos túneis do Hamas, aos paóis de Putin  e gritem, até à exaustão: “Libertai Jerusalém já! Restaurai Belém já! Devolvei a Ucrânia já” !!!

             Os milhões de lâmpadas escorrendo por cidades e aldeias não conseguem ‘ofuscar’ a escuridão da cela de Narges Mohammadi onde nunca brilhará uma vela de Natal. Só de pensar nisto acaba-se o Natal. E morrem as palavras.

 

             09-11.Dez.23

             Martins Júnior

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

ACRÓPOLE DA ESTATUÁRIA MADEIRENSE!

                                                                 


Mas é preciso subir. Mais, mais acima. Quando subires o teu olhar e vires as árvores centenares, altaneiras e toda a terra a cheirar-te ao verde moço do Génesis, é aí a Fonte de Hipocrene, o lago das musas e dos cisnes. Mais uns passos ainda, e elas – as musas – as mãos, os mármores de todas as pedreiras e de todas as pátrias, lá estão,  olhando para ti e pedindo-te que as mandes falar. Porque elas falam e cantam, envoltas no lençol branco das longas paredes da sala, onde se entra e  não apetece sair.

É assim uma visita à casa-museu-atelier de Francisco Simões.

Ao abrir da porta, parece ouvirmos aquela voz premonitória do Monte Sinai: “Descalça as sandálias, porque o chão que pisas é um chão sagrado”.

E é-o, de verdade. Pela mão do Escultor, qual Virgílio de Dante, vamos percorrendo a floresta mágica, imensa, em que cada recanto, cada livro e cada tela nos fazem parar como num jardim edénico à beira-rio que nos inspira e  convida a ficar.

Aqui tens um Júlio Resende; ao lado, um Justino Alves e um Mário Cargaleiro. Acolá o jovem-veterano Nadir Afonso e o inalcançável Mário Cesariny. Mais adiante, encontras-te com a paleta onírica de Vieira da Silva e João Hogan. E – surpresa inimaginável! - aí tens, olhos nos olhos, Artur Boal e o supra-terrestre Pablo Picasso. Da mão directa do criador-poeta das cores, Francisco Simões, saíram redivivos na tela Fernando Pessoa, Mário Sá Carneiro, Edmundo Beetencout, Miguel Torga, Herberto Helder, Sophia de Melo, David Mourão Ferreira, eles e outros, habitantes de um mausoléu existencial implantado nas raízes seculares da montanha.

Atravessando o reino da floresta (os troncos transformados em livros) por entre paredes, feitas estantes preciosas, seguimos como peregrinos das catacumbas de outrora e ficamos extasiadas com a forma e o fundo das obras que marcaram épocas, edições prínceps, poesia, filosofia, ética e estética e até serões. “Vês aqui, os volumes do Padre António Vieira? – informa o nosso guia--anfitrião e enquanto acaricia um dos volumes do ‘Imperador da Língua Portuguesa, lamenta-se: “Ai, os jovens de hoje não lêem Vieira!.                                            


E é de Vieira que me traz a memória – arranca o estatuário uma pedra destas montanhas, tosca, bruta, dura, informe – quando Simões nos leva ao coração da terra, às  pedreiras, matéria prima das suas obras (‘Conheço-as todas, pessoalmente’, diz) e vai monitorizando: “Estes mármores branco e rosa são de Estremoz e Vila Viçosa; aqueles preto e branco, de Mem Martins; aqueloutro cinzento-escamas de peixe, de Trogaches.  Ainda o mármore Onix é da Turquia e, o exótico Travertino veio do Irão”.

Mas o  prazer mais intimista e, ao mesmo tempo, franco e aberto, igual ao sol que lhe entra pelas amplas janelas, é  a galeria do Parthenon, onde o novo Fidias entroniza o ‘eterno feminino’, desde a Venus de Milo até todas as deusas que povoam o Gineceu Global da História da Humanidade. É a sua paixão, transfigurar a Mulher na sua inocência-virgem, cujos traços e formas confluem no tronco dual erótico-mistico, tal qual saiu, não da costela de Adão, mas das mãos do Supremo Escultor da Natureza. Francisco Simões vive com elas, dorme com elas, morre por elas e, também com elas, ressurge todas as manhãs no esplendor do seu estro criador. Bem o traduziu Maria Teresa Horta no volume que o próprio titulou de “ANJAS”:

                              Anjos de espinhos

                              Vorazes

                              Em torno do sobressalto

Ou do Discurso Amoroso de Maria Aurora. Ou da Soror Mariana Alcoforado: La plus douce erreur, uma edição tão primorosa quanto afrontosa dos anquilosados paradigmas canónicos vigentes.

   Uma volta  ao mundo, um périplo pela História, naquela colina denominada da ‘Alegria’, dotada de Capela desde 1608. Pelo secreto  fascínio intra-muros e pelo vigoroso halo intemporal que Francisco Simões insuflou em todo o perímetro habitado, não acho nenhuma outra identidade definidora senão a de inscrever no pórtico de entrada: “ACRÓPOLE DA ESTATUÁRIA MDEIRENSE”.

O maior encanto da Colina da Alegria será o de ver essa ‘Alegria’ transportada por todos os estudantes de Belas-Artes e por todos os madeirenses quando descobrirem presencialmente a nossa ACRÒPOLE.. Enquanto ali permanecer.

Com a reconhecida gratidão ao Francisco Simões, permita-se-me transcrever aqui o eloquente panegírico desse gigante etário, pedagogo e sábio Edgar Morin, na colectânea LIAISONS

“Francisco Simões revoluciona a escultura portuguesa, legando às gerações futuras uma herança artística, mas também ideológica, muito importante. Aquele que, desde o inicio ou quase, centrou a sua obra criativa na ideia da Mulher, é hoje um artista cujas criações magistrais são observadas e aguardadas em todo o mundo”.

 

  05-07-23

Martins Júnior  

 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

ELE ANDOU POR AQUI, HÁ 250 ANOS!... E AINDA HOJE FALA PARA MACHICO E PARA O MUNDO!!!

                                                                               


Não foram esquecidos os ‘Dias ímpares´ de Outubro/Novembro, foram simplesmente adiados, em virtude de compromissos entretanto assumidos. Voltaremos a encontrar-nos neste miradouro virtual para olharmos a paisagem que é nossa, porque a habitamos e porque a construímos.

                 Nesta ponte que nos separou do penúltimo mês de 2023, Machico fez renascer das cinzas um jovem, filho amado seu, de 250 anos de saudosa e honrosa memória. Ele nasceu em 30 de Novembro de 1773. Talentoso, criativo, corajoso, coube-lhe viver numa época tumultuosa, mas libertadora: literariamente entre o Classicismo e o Romantismo, ideologicamente entre a Igreja e a Maçonaria, politicamente entre o Absolutismo do ancien régime e a Revolução Francesa.

                 De seu nome próprio, FRANCISCO ÁLVARES DE NÓBREGA, o nosso conterrâneo, incentivado pelo  Padre Dr. João Francisco Lopes Rocha (Professor Régio de Retórica no Seminário do Funchal e Deão da Sé Catedral), tomou a vanguarda das ideias emergentes, sobressaindo o seu estro poético, com tal sucesso que lhe foi atribuída  a antonomásia de “Camões Pequeno”, um enorme elogio, porque é de identidade superior ser considerado ‘Pequeno’ numa galeria de Gigantes. Na Ilha era “O Nosso Camões”. No entanto, a par da altitude do seu talento contrasta a profundidade do seu sofrimento, vítima de um vil processo no Tribunal da  Inquisição, desde a prisão no Aljube e no Limoeiro até à morte, aos 33 anos, em casa de um amigo, em Lisboa, o livreiro Manuel José Moreira Pinto Baptista.

                 Trago hoje a notícia da histórica efeméride do 250º aniversário do seu nascimento no Forum Machico, solenemente comemorada com a distinta presença do Prof. Dr. José Eduardo Franco e do maior investigador de Barbosa du Bocage, contemporâneo  do nosso “Camões Pequeno”, o Dr. Daniel Pires, presidente da Associação Bocageana de Setúbal. Foram estes dois intelectuais que se abalançaram ao grande desafio de preparar e apresentar a edição completa das obras de Francisco Álvares de Nóbrega, um volume memorável que reúne sonetos, éclogas, odes e sátiras dispersas e, algo de inédito e preciosa referência:    A autodefesa do poeta no Processo 15.754, da Inquisição de Lisboa.    

Prestação indissociável das comemorações foi a divulgação dos vencedores do  “Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega”, uma iniciativa da Junta de Freguesia de Machico, que já na sua XVI edição, da responsabilidade de um júri independente presidido pela Prof.ª Dr.ª Teresa do Nascimento, da Universidade da Madeira. Completou o evento a recitação de sonetos por membros da associação EFAN – Estudos Nobricenses, Alexandre Aveiro e Henriques Fernandes. E a actuação do grupo musical “Vértice” coroou a emotiva comemoração, interpretando o soneto “À Pátria do Autor”, instituído como Hino Oficial da Freguesia, seguido de composições poéticas de consagrados autores portugueses, musicadas pelos “Vértice”.

                                                                 


                 Duas notas, uma de congratulação à Câmara Municipal, na pessoa do seu Presidente Ricardo Franco, que presidiu à sessão, por ter custeado a edição: as iniciativas culturais são também autoestradas civilizacionais para o Município. A outra nota é  o nosso conterrâneo que a deixa aos jovens e a todas as gerações vindouras: “Não permitam que mais nenhum ditador vos faça o que me fizeram a mim, seja ele do poder político, seja da Inquisição eclesiástica”! E eu respondo; “Mas fizeram! Na ditadura salazarista do século XX. E aqui, na Madeira no pós-25 de Abril de 1974!

                 Homenagem e Saudade ao jovem de Machico| Ele andou por aqui, há 250 anos. Hoje, andamos nós. Honremos a sua memória!

 

                 01-03.Dez.23

                 Martins Júnior