Não foram esquecidos os ‘Dias
ímpares´ de Outubro/Novembro, foram simplesmente adiados, em virtude de
compromissos entretanto assumidos. Voltaremos a encontrar-nos neste miradouro
virtual para olharmos a paisagem que é nossa, porque a habitamos e porque a construímos.
Nesta ponte que nos separou do penúltimo
mês de 2023, Machico fez renascer das cinzas um jovem, filho amado seu, de 250
anos de saudosa e honrosa memória. Ele nasceu em 30 de Novembro de 1773.
Talentoso, criativo, corajoso, coube-lhe viver numa época tumultuosa, mas
libertadora: literariamente entre o Classicismo e o Romantismo, ideologicamente
entre a Igreja e a Maçonaria, politicamente entre o Absolutismo do ancien régime
e a Revolução Francesa.
De
seu nome próprio, FRANCISCO ÁLVARES DE NÓBREGA, o nosso conterrâneo, incentivado
pelo Padre Dr. João Francisco Lopes
Rocha (Professor Régio de Retórica no Seminário do Funchal e Deão da Sé
Catedral), tomou a vanguarda das ideias emergentes, sobressaindo o seu estro
poético, com tal sucesso que lhe foi atribuída a antonomásia de “Camões Pequeno”, um enorme
elogio, porque é de identidade superior ser considerado ‘Pequeno’ numa galeria
de Gigantes. Na Ilha era “O Nosso Camões”. No entanto, a par da altitude do seu
talento contrasta a profundidade do seu sofrimento, vítima de um vil processo
no Tribunal da Inquisição, desde a
prisão no Aljube e no Limoeiro até à morte, aos 33 anos, em casa de um amigo,
em Lisboa, o livreiro Manuel José Moreira Pinto Baptista.
Trago hoje a notícia da
histórica efeméride do 250º aniversário do seu nascimento no Forum Machico, solenemente
comemorada com a distinta presença do Prof. Dr. José Eduardo Franco e do maior
investigador de Barbosa du Bocage, contemporâneo do nosso “Camões Pequeno”, o Dr. Daniel Pires,
presidente da Associação Bocageana de Setúbal. Foram estes dois intelectuais
que se abalançaram ao grande desafio de preparar e apresentar a edição completa
das obras de Francisco Álvares de Nóbrega, um volume memorável que reúne sonetos,
éclogas, odes e sátiras dispersas e, algo de inédito e preciosa referência: A autodefesa do poeta no Processo 15.754, da
Inquisição de Lisboa.
Prestação indissociável das
comemorações foi a divulgação dos vencedores do “Concurso Literário Francisco Álvares de
Nóbrega”, uma iniciativa da Junta de Freguesia de Machico, que já na sua XVI
edição, da responsabilidade de um júri independente presidido pela Prof.ª Dr.ª
Teresa do Nascimento, da Universidade da Madeira. Completou o evento a
recitação de sonetos por membros da associação EFAN – Estudos Nobricenses, Alexandre
Aveiro e Henriques Fernandes. E a actuação do grupo musical “Vértice” coroou a
emotiva comemoração, interpretando o soneto “À Pátria do Autor”, instituído como
Hino Oficial da Freguesia, seguido de composições poéticas de consagrados autores
portugueses, musicadas pelos “Vértice”.
Duas notas, uma de congratulação
à Câmara Municipal, na pessoa do seu Presidente Ricardo Franco, que presidiu à
sessão, por ter custeado a edição: as iniciativas culturais são também
autoestradas civilizacionais para o Município. A outra nota é o nosso conterrâneo que a deixa aos jovens e a
todas as gerações vindouras: “Não permitam que mais nenhum ditador vos faça o que
me fizeram a mim, seja ele do poder político, seja da Inquisição eclesiástica”!
E eu respondo; “Mas fizeram! Na ditadura salazarista do século XX. E aqui, na
Madeira no pós-25 de Abril de 1974!
Homenagem e Saudade ao jovem de
Machico| Ele andou por aqui, há 250 anos. Hoje, andamos nós. Honremos a sua memória!
01-03.Dez.23
Martins Júnior
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarFeliz Ano Novo
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