“Ai
de quem ousa tocar nas prateleiras do sistema! Nem mesmo para limpar-lhes o pó
arquivado pelo tempo. Tem cautela. Fica quieto, porque no quieto é que está o
ganho!. Os sobas do prédio matam-te se o teu espanador acordar os cadáveres que
dormem nos armários”.
São estes os anátemas e as ameaças que
os regimes totalitários – e os outros travestidos de democráticos – exibem como
gorilas implacáveis diante do cidadão
comum quando este obedece ao impulso interior da procura da verdade. Por mais
ampla e justa que seja a constituição virtual - a escrita - de qualquer
organização, ninguém duvida de como funciona a constituição real - a factual, a
tangível, a quotidiana - dos vários sistemas, sejam eles financeiros, políticos,
religiosos. Daí nascem os garrotes ao indivíduo e à família, as retaliações, os
tarrafais de maior ou menor dimensão.
Mas
“há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”. Refiro-me aos
mais recentes Prémios Pulitzer atribuídos aos autores que ousaram publicar recentemente
dois casos de investigação pura e dura: um na revista The New Yorker e o outro nos dois importantes jornais The New York Times e Washington Post. O primeiro sobre os
desmandos do assédio sexual em Hollywooud, sobretudo contra o magnata da
produção cinematográfica Harvey Weinstein; o segundo contra o conluio
Putim-Trump, que fraudulentamente levou Donald ao poder.
Mergulhados
e asfixiados que andamos em assuntos do imediato, ainda não nos demos conta do
abalo do mundo que este prémio condensa. Ele constitui um padrão de aço por
sobre a arrogância esmagadora do poder financeiro e do super-poder político americano
reinante. Se grande, enorme foi a coragem dos jornalistas que denunciaram a
fraude, maior foi a nobre ‘ousadia’ do colégio eleitoral da Universidade Columbia, EUA, depositária dos Prémios Pulitzer, em rubricar com a sua chancela o desassombro dos investigadores.
“Grande
passo para a Humanidade” – pode aqui repetir-se a histórica aclamação –
sublinhando que, na escala do verdadeiro serviço ao Homem em sociedade, este
Prémio é mais decisivo do que a chegada à esfera lunar. Porque liberta a
condição humana da escravatura do pensamento único, das falsas notícias, enfim,
da mordaça que traz amarrados indivíduos e gerações. Doravante, quem porfia na
luta consciente e coerente pela descoberta da Verdade já não tem de recorrer à
clandestinidade, para fugir ao medo e à repressão. Pelo contrário, será
agraciado pelo seu denodo e transparência.
Grande
lição para o nosso acanhado e, tantas vezes, manietado cubículo insular. Para
os jornais locais, para os media em geral, capitaneados, alguns, por autênticos
gendarmes do “status quo” de onde
tiram o menu diário de estupefacientes e ansiolíticos que servem à população. É
visível, a olho nu, a plêiade de excelentes colunistas que abandonaram a folha
à qual tinham dado muito do seu talento.
Lição
também – e severo réspice – aos escribas
‘cabeças-de turco’ que irrompem desabridamente, sem fundamento nem coerência,
contra tudo e contra nada, em troca dos fogos fátuos do populismo rasteiro.
Na
antecâmara de mais uma comemoração do “25 de Aril”, os Prémios Pulitzer são as mãos
belas pinhas de cravos vermelhos. Para o Mundo. Para Portugal e, por consequência, para a Madeira.
19.Abr.18
Martins Júnior
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