Congressos,
cimeiras, simpósios, eles por aí grassam a granel: regionais, nacionais,
intercontinentais. Requintadamente servidos de câmaras, holofotes e canais
publicitários de toda a gama. Mas, tal como os homens, também essas, as magnas
assembleias, não se medem a metro de repórter ou a peso de som. Outras há,
modestas de figurino, mas plenas e brilhantes de intimidade, de história, de lealdade
e fraternidade. Foi assim, neste fim de semana, o encontro de amigos de há mais de quatro
décadas, E em local adequado, AS terras de Viriato, distrito de Viseu. Os
outrora jovens combatentes de Cabo Delgado, Moçambique, hoje septuagenários,
voltaram ao seu convívio anual. Só que a Companhia crescera: são pais, avós,
filhos e netos, com as respectivas famílias reunidas em amistosa
confraternização.
Recordou-se
o guião dessa malfadada mobilização; as emboscadas, as minas e armadilhas, as
vítimas, os que lá ficaram e os que regressaram, marcados pela deficiência e
muitos pela depressão. À distância, vemos mais nítida a injustiça daquela
guerra criminosa: pegar em jovens da província, sem culpa alguma, metê-los no
porão do velho “Niassa” e depois jogá-los para o meio da mata como carne para
canhão! Lágrimas vi-as eu correr do rosto enrugado daqueles homens, hoje de
cabelos brancos, enquanto se evocavam, na hora da eucaristia e depois à mesa do
almoço, os cenários da guerra colonial, sobretudo os mortos em combate. Um
combate injusto, inútil, contraproducente! De consequências fatais para todos,
colonizadores e colonizados!
Algo
ficou, porém, intacto e puro: a camaradagem, a entre-ajuda e os valores
solidários que fazem parte indissociável das Companhias operacionais, porque viveram em comum as angústias e os
perigos. Como a flor virgem, silvestre,
que emerge por entre as pedras do chão árido, assim também floresce, cada ano mais
viçosa, a amizade fraterna que nos faz juntar de norte a sul de Portugal e das
Ilhas, todos aqueles que há mais de quarenta anos conhecemos o medo e a saudade
em terras africanas.
Uma
saudação especial ao ex-Capitão Miliciano Alexandre Aveiro, amigo e conterrâneo,
pela pedagogia humanista e profundamente solidária com que soube comandar e promover
os seus homens.
Um
abraço a todas as famílias presentes e um, de novo, até ao ano de 2019. Este é o nosso congresso: belo,
sincero, positivamente reprodutivo!
“Estamos
Juntos”!
03.Jun.18
Martins Júnior
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