quinta-feira, 31 de maio de 2018

EXALTAÇÃO DO PÃO E DO VINHO !


                                                      


Hoje, o dia todo foi de exaltação à terra! Desde a alva, as espigas encheram de ouro fino as encostas e as promessas de vinho novo pintaram de escarlate os castelos das nuvens madrugadoras.
Hoje, todo o dia é a Festa do Pão e do Vinho. Por isso, peço aos contendores da eutanásia que me deixem ficar só, extasiado e feliz, perante a proclamação da ‘divina’ ruralidade.  A população rural tem hoje o seu pódio, por direito próprio e por dádiva eucarística. Nunca ninguém na História – doutrinador, poeta ou místico – alcandorou tão alto o estatuto do trabalhador rural como Aquele que escolheu a pureza telúrica do planeta, o Pão e o Vinho, para prefigurar a Sua presença no mundo. Nem raio de sol, nem estrela polar, nem o mármore mais puro, nem o diamante mais lapidado tiveram tamanha distinção: só o que de mais  singelo e usual a terra dá, como quem gera gémeos perfeitos: o Pão e o Vinho.
Era esse o cortejo que mais desejara no dia de hoje. Não os ricos ornamentos litúrgicos nem a lingerie de paramentos da corte, muito menos a requintada  baixela do protocolo, com pálios, custódias raiadas de vicentinas  línguas flamejantes com que o devocionário oficial rodeou a entronizada hóstia (artificiosamente  redonda), mas  com isso escondeu o realismo original do Pão dos nossos campos. Preferia, mil vezes, o cortejo dos homens que cavam a terra, das mulheres que ceifam o trigo, dos jovens e crianças transportando na preciosa salva das suas mãos o Pão que o Mestre  privilegiou na Ceia que foi a Última. E o cortejo seria então uma grande mesa ambulante a que todos poderiam aceder e partilhar do mesmo fruto da espiga da terra. E todos irromperiam em cânticos apoteóticos, como aquele que nesta comunidade cantamos há quase décadas:
Canta coração em festa
A canção da terra-mãe
Canta o Pão da Eucaristia
Que a nossa terra contém
    
Eu sei que não passa de uma miragem impossível nos tempos que correm. As tradições monárquicas, espectaculares a que nos habituaram acharão romântica (dirão até, ridícula) esta visão. Mas “o Povo é quem mais ordena”. Como a nossa comunidade que, desde 1973, continua a cantar:
                                      O Povo trabalha tanto
                                      Pra dar pão ao mundo
                                      Que é o Pão do Senhor
                                      Mas hoje é a festa do campo
                                      Viva o homem lavrador

         E desde a estrela d’alva até ao fechar do dia, vale a pena proclamar a Festa da Mãe-Terra e a glória de quem a trabalha, Afinal, somos todos lavradores, cada qual no seu campo biológico. Tal como à Criança do Futuro, todos nós plantamos, regamos e fazemos produzir a seara imensa do Mundo de Amanhã!

         31.Mai.18, Dia do “Corpus Christi” – 01.Jun.18, Dia da Criança
         Martins Júnior

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