Hoje,
o dia todo foi de exaltação à terra! Desde a alva, as espigas encheram de ouro
fino as encostas e as promessas de vinho novo pintaram de escarlate os castelos
das nuvens madrugadoras.
Hoje,
todo o dia é a Festa do Pão e do Vinho. Por isso, peço aos contendores da
eutanásia que me deixem ficar só, extasiado e feliz, perante a proclamação da ‘divina’
ruralidade. A população rural tem hoje o
seu pódio, por direito próprio e por dádiva eucarística. Nunca ninguém na
História – doutrinador, poeta ou místico – alcandorou tão alto o estatuto do
trabalhador rural como Aquele que escolheu a pureza telúrica do planeta, o Pão e
o Vinho, para prefigurar a Sua presença no mundo. Nem raio de sol, nem estrela
polar, nem o mármore mais puro, nem o diamante mais lapidado tiveram tamanha
distinção: só o que de mais singelo e usual
a terra dá, como quem gera gémeos perfeitos: o Pão e o Vinho.
Era
esse o cortejo que mais desejara no dia de hoje. Não os ricos ornamentos
litúrgicos nem a lingerie de
paramentos da corte, muito menos a requintada baixela do protocolo, com pálios, custódias
raiadas de vicentinas línguas flamejantes
com que o devocionário oficial rodeou a entronizada hóstia (artificiosamente redonda), mas
com isso escondeu o realismo original do Pão dos nossos campos.
Preferia, mil vezes, o cortejo dos homens que cavam a terra, das mulheres que
ceifam o trigo, dos jovens e crianças transportando na preciosa salva das suas
mãos o Pão que o Mestre privilegiou na
Ceia que foi a Última. E o cortejo seria então uma grande mesa ambulante a que
todos poderiam aceder e partilhar do mesmo fruto da espiga da terra. E todos
irromperiam em cânticos apoteóticos, como aquele que nesta comunidade cantamos
há quase décadas:
Canta
coração em festa
A
canção da terra-mãe
Canta
o Pão da Eucaristia
Que
a nossa terra contém
Eu
sei que não passa de uma miragem impossível nos tempos que correm. As tradições
monárquicas, espectaculares a que nos habituaram acharão romântica (dirão até,
ridícula) esta visão. Mas “o Povo é quem mais ordena”. Como a nossa comunidade
que, desde 1973, continua a cantar:
O Povo trabalha tanto
Pra
dar pão ao mundo
Que
é o Pão do Senhor
Mas
hoje é a festa do campo
Viva
o homem lavrador
E
desde a estrela d’alva até ao fechar do dia, vale a pena proclamar a Festa da
Mãe-Terra e a glória de quem a trabalha, Afinal, somos todos lavradores, cada
qual no seu campo biológico. Tal como à Criança do Futuro, todos nós plantamos,
regamos e fazemos produzir a seara imensa do Mundo de Amanhã!
31.Mai.18,
Dia do “Corpus Christi” – 01.Jun.18, Dia da Criança
Martins
Júnior
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