“Ânsias
de subir, cobiças de transpor” !
Era assim que Goethe, na sua mais
famosa obra, “Doutor Fausto”, proclamava a nobre ambição inata no coração
humano. E hoje é esse dia: de subir, de desbravar, de voar, até atingir as raias do Infinito. Mesmo que
essa meta esteja reduzida em termos modestos, em traços mínimos da existência. Tal
como o valor de alguém, também o sabor do pódio não se mede aos palmos. E é o
que se tem visto por estes dias: no campo desportivo (tanto canta “campeão” o
da I Liga, como canta o “campeão” da última divisão do torneio), o mesmo
passando-se noutros escalões da vida socio-cultural de um Povo, seja a nível
musical, atlético, sénior. Infantil ou júnior.
Por
mais um outro factor, porém, hoje é dia de ascender. Porque é o Domingo da
Ascensão. Quão difícil é subir, como
dizia José Régio:
escorregar nos becos lamacentos,
redemoinhar aos ventos,
como farrapos arrastar
os pé sangrentos.
No
decurso do texto bíblico, refere o escritor sacro que ”enquanto o Mestre subia
ao alto e os seus apóstolos permaneciam extasiados, seguindo-O ansiosamente,
apareceram dois homens vestidos de branco e exclamaram: ‘Que fazeis aqui embasbacados
a olhar o céu? Ide embora anunciar a Boa Nova que Ele vos ensinou” !
Em breve reflexão estão consignados
numa só linha todos os conteúdos programáticos de todas as religiões. De todas
as constituições. De todas as iniciativas: A motivação (chamemos-lhe código de
ideias, introspecção, meditação) e a Acção, ou seja, a dinâmica, o esforço, ”as
mãos na massa”. Longe vão os tempos da exclusividade privilegiada, focalizada num
estilo de vida contemplativa. Esse foi o módulo dos cenobitas, habitantes do
deserto, “longe das tentações do mundo”. Após dolorosas tentativas de mudança
de paradigma do verdadeiro crente, alterou-se substancialmente o cartão
identitário do homo religiosus. Dessa
plêiade de crentes destaca-se em França a experiência dos “padres operários”, lado a
lado com os mineiros, que inspiraram o
histórico romance de Gilbert Cesbron Les
Saints vont en enfer – “Os santos vão para o inferno”…das minas, onde sofriam
e morriam milhares de operários nas profundezas da terra.
Quer
isto dizer que o mito de uma vida exclusivamente contemplativa perdeu o genuíno
conceito de religião, É preciso juntar-lhe o incontornável sinete da acção, o carácter
operativo da crença. Sabemos, porém, que quando algum elemento da Igreja tenta
irmanar-se com os que sofrem e lutam, sem rodeios nem complexos, nas reivindicações
sociais, sindicais, culturais, são logo catalogados, senão mesmo excluídos e
suspensos… Mas lá está Francisco Papa, vigoroso e destemido: “A Igreja tem de
deixar o conforto do interior e sair para a rua. Os pastores nunca se devem
envergonhar de trazer consigo o cheiro das ovelhas”
Hoje
Dia de ascender, elevar-se com o apoio das duas asas: contemplação e acção.
Estudo e energia prospectiva. Enfim, sala de ensaio e terreno de operações,
tendo como bandeira militante o pensamento de Madame Leseur: “Uma alma que se
eleva – eleva o mundo”.
Em todos os segmentos da actividade
humana, o segrego está em ascender, elevar-se, para que tudo à nossa volta
ascenda e se transcenda!
Ontem , hoje, amanhã - todos os dias são Dias de Ascender.
13.Mai.18
Martins
Júnior
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