domingo, 13 de maio de 2018

HOJE É DIA DE ASCENDER !


                                                                      

           “Ânsias de subir, cobiças de transpor” !
         Era assim que Goethe, na sua mais famosa obra, “Doutor Fausto”, proclamava a nobre ambição inata no coração humano. E hoje é esse dia: de subir, de desbravar, de voar,  até atingir as raias do Infinito. Mesmo que essa meta esteja reduzida em termos modestos, em traços mínimos da existência. Tal como o valor de alguém, também o sabor do pódio não se mede aos palmos. E é o que se tem visto por estes dias: no campo desportivo (tanto canta “campeão” o da I Liga, como  canta o “campeão” da última divisão do torneio),  o mesmo passando-se noutros escalões da vida socio-cultural de um Povo, seja a nível musical, atlético, sénior. Infantil ou júnior.
Por mais um outro factor, porém, hoje é dia de ascender. Porque é o Domingo da Ascensão. Quão difícil é  subir, como dizia José Régio:
         escorregar nos becos lamacentos,
redemoinhar aos ventos,
como farrapos arrastar os pé sangrentos.
No decurso do texto bíblico, refere o escritor sacro que ”enquanto o Mestre subia ao alto e os seus apóstolos permaneciam extasiados, seguindo-O ansiosamente, apareceram dois homens vestidos de branco e exclamaram: ‘Que fazeis aqui embasbacados a olhar o céu? Ide embora anunciar a Boa Nova que Ele vos ensinou” !
         Em breve reflexão estão consignados numa só linha todos os conteúdos programáticos de todas as religiões. De todas as constituições. De todas as iniciativas: A motivação (chamemos-lhe código de ideias, introspecção, meditação) e a Acção, ou seja, a dinâmica, o esforço, ”as mãos na massa”. Longe vão os tempos da exclusividade privilegiada, focalizada num estilo de vida contemplativa. Esse foi o módulo dos cenobitas, habitantes do deserto, “longe das tentações do mundo”. Após dolorosas tentativas de mudança de paradigma do verdadeiro crente, alterou-se substancialmente o cartão identitário do homo religiosus. Dessa plêiade de crentes destaca-se em França  a experiência dos “padres operários”, lado a lado com os mineiros,  que inspiraram o histórico romance de Gilbert Cesbron Les Saints vont en enfer – “Os santos vão para o inferno”…das minas, onde sofriam e morriam milhares de operários nas profundezas da terra.
Quer isto dizer que o mito de uma vida exclusivamente contemplativa perdeu o genuíno conceito de religião, É preciso juntar-lhe o incontornável sinete da acção, o carácter operativo da crença. Sabemos, porém, que quando algum elemento da Igreja tenta irmanar-se com os que sofrem e lutam, sem rodeios nem complexos, nas reivindicações sociais, sindicais, culturais, são logo catalogados, senão mesmo excluídos e suspensos… Mas lá está Francisco Papa, vigoroso e destemido: “A Igreja tem de deixar o conforto do interior e sair para a rua. Os pastores nunca se devem envergonhar de trazer consigo o cheiro das ovelhas”
         Hoje Dia de ascender, elevar-se com o apoio das duas asas: contemplação e acção. Estudo e energia prospectiva. Enfim, sala de ensaio e terreno de operações, tendo como bandeira militante o pensamento de Madame Leseur: “Uma alma que se eleva – eleva o mundo”.
         Em todos os segmentos da actividade humana, o segrego está em ascender, elevar-se, para que tudo à nossa volta ascenda e se transcenda!
               Ontem , hoje, amanhã - todos os dias são Dias de Ascender.


         13.Mai.18
         Martins Júnior               

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