quinta-feira, 3 de maio de 2018

MAIO PORTUGUÊS E MAIO FRANCÊS – DESCUBRA AS DIFERENÇAS


                
        












         Se “homem algum é uma ilha” – também nenhuma ilha, nenhuma nação,  nenhum continente  o são. Condenado à condição de sapo, o ser humano mergulha no charco com a mesma imponência como se estivesse a nadar no mais vasto oceano. Por isso, aproveito os Maios para saltar fora e ver que, afinal, eles – os Maios - estão em toda a parte, cada povo tem o seu e cada qual agarra-o como se fosse o único.
         Enquanto em Portugal, mormente na ilha, entretínhamo-nos em “saltar à laje” e espantar os espantalhos-palhaços-espelhos-nossos, nesse mesmo ano de “68”, em Paris, dezenas de milhares de cidadãos manifestavam-se, afrontando as leis vigentes. Enquanto nas Áfricas coloniais, por exemplo em Moçambique onde então me encontrava, os jovens portugueses (alguns deles universitários) seguiam como escravos em colunas pedestres pelo mato à espera de matar ou de ser mortos, em Paris, nesse mesmo ano de “68” os estudantes  ocupavam as duas principais universidades Nanterre e Sorbonne, contra o férreo regime do General De Gaulle. Nesse mesmo ano (4 de Abril) era assassinado o grande promotor da revolução pacífica, Martin Luther King, na defesa igualitária dos afro-americanos. No México, no Japão, no Vietnam do Sul lutava-se pelos mesmos ideais. E nós aqui, babados de ócio, felizes com a “apagada e vil tristeza” em que vivíamos.
         É por isso que saio hoje, num jacto de emulsão instintiva, e puxo com quantas ganas tenho o “MAIO 68” para cima da minha mesa de escrita, a nossa mesa de convívio dos dias ímpares. E fico atónito, como quem leva uma pedra na cabeça, ao pensar na diferença de vidas e estados de alma: Em França, a energia propulsora dos jovens parisienses erguendo a bandeira da liberdade e nós, cabisbaixos, carne para canhão em terras africanas, na mísera condição de “assassinos à força”!
         Tragam palmas de glória e louros de vitória, ergamos um trono ao jovem estudante líder fogoso Daniel Cohn-Bendit, por ter agregado e contagiado milhares e milhões de rapazes e raparigas, homens e mulheres e até idosos em todo o mundo na grande campanha da afirmação da personalidade do indivíduo e da sociedade contra a ditadura do governo e do pensamento único. Foi esse, afinal, o magnífico padrão constituinte do “MAIO 68”!  E não esqueçamos que foi o Maio francês que prognosticou e inspirou o “25 de Abril” português. O Abril e o Maio, intrinsecamente unidos!
         Como em todos os movimentos revolucionários, também o “MAIO 68” foi vítima das críticas mais virulentas, insidiosas e torpes, colando-o às ideologias marxistas-comunistas. Nada mais falso. Basta citar o testemunho da história: “O Partido Comunista esteve sempre contra o MAIO 68”. Motivo: porque os promotores do “MAIO 68” combatiam os regimes totalitários, viessem de onde viessem, o do De Gaulle ou o de Moscovo ou o de Máo Zédōng”. Era este o sentido último da palavra de ordem então largamente propalada: ”É proibido proibir”.
Na esteira de Edgar Morin, o analista mais isento do histórico acontecimento,  transcrevo o pensamento de Ruben Amon: “A marca de fundo do “MAIO 68”  aspirava tão-só a discutir a rigidez de uma sociedade vertical e hierarquizada, tanto nas fábricas como nas aulas e em todos os sectores sociais. Por isso, transformaram-se as relações de autoridade, descobriu-se a noção de juventude e do seu peso social e predispôs-se o ambiente para muitas outras conquistas que ganharam sucesso ao longo dos tempos, como o conceito feminista, a consciência das minorias, a concepção solidária da tolerância e a autonomia do indivíduo”.  Estes os parâmetros essencialmente identitários do “MAIO 68”.
Não admira, pois, a militância primária do presidente Nicolas Sarkozy, “ao pretender reconstruir a ordem e a religião anti-distúrbios”, classificando o “MAIO 68” como uma epidemia e decretando-lhe abertamente a morte total. Logro rotundo! Porque a Razão faz sempre o seu caminho! E a Verdade. E a Liberdade.
Viva o “MAIO” francês. O “25 de ABRIL” português. O MAIO UNIVERSAL!

03.Mai.18
Martins Júnior   

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