Na
portagem da ponte movediça dos três dias colados - segunda, terça e quarta –
poderia içar-se, glorioso e esbelto, o arco do triunfo destas três
personalidades com o título alargado que dissesse assim: “O TRÍPTICO DOS
IMORREDOIROS”. António Arnaud, 82 anos.
Philip Roth, 85 anos. Júlio Pomar, 92 anos.
E,
no topo mais alto, Eduardo Lourenço, 95 anos, feitos hoje mesmo!
Digo
no topo mais alto, porque, precisamente Eduardo Lourenço, o mais idoso, vem
iluminar e transfigurar o tríptico daqueles três heróis que “da lei da morte se
libertaram”. Os que foram a sepultar não estão menos vivos que o autor do LABITINTO DA SAUDADE.
Acabo
de ver o documentário televisivo com este mesmo título, que Miguel Gonçalves
Mendes realizou e definiu neste expressivo comentário: “Eduardo Lourenço
filmado a passear na sua própria cabeça”. Nele me inspiro para tecer silenciosa
homenagem ao criador do Serviço Nacional de Saúde, ao laureado escritor
americano e ao velho-sempre-jovem mago das cores.
Silenciosa
homenagem! Porque não me comovem nem me entusiasmam os elogios fúnebres, “orações
de sapiência” e teatrais exéquias. Aliás, parafraseando Fernando Pessoa – Todas as Cartas de Amor são ridículas – acho
extemporâneos e, por isso mesmo, ridículos, todos os rituais espectaculares,
discursos encomiásticos, entoados em cima da tumba mortuária. Prostro-me,
infinitamente agradecido, diante das suas cinzas, mas mantenho que a maior homenagem deveria ter
sido outra: apoiar claramente, em vida, a sua luta, partilhar os seus sofrimentos e
embates sob o regime das ditaduras, enfim, alistar-me no seu pelotão de justiça
igualitária em prol da comunidade. É dessa homenagem que eles precisaram,
enquanto construtores de m Mundo Melhor!
Que ficará aqui – se algo
vai ficar – quando partirmos
definitivamente de férias?...
A
pergunta que o barman-arquitecto Siza Vieira, no documentário citado, formula a
Eduardo Lourenço ilustra bem a dimensão da verdadeira homenagem a ser prestada.
E é o próprio Siza que antecipa a resposta: Para
mim, a única coisa em que penso às vezes é que há uma continuidade de vida e
quando algum de nós morre há filhos, netos, músicos, arte, escrita, literatura…Não
desaparecemos completamente. O mundo continua, A História tem esse papel de
sugerir ou fazer real uma continuidade.
Responder
à vossa chamada e pegar no facho olímpico que transportastes em vida – eis a
nossa homenagem. Daqui a mil anos Vós ainda estareis aqui… pela força e pelo
estímulo que Vós, TRÍPTICO IMORREDOIRO, transmitistes aos que cá estiverem!
23.Mai.18
Martins Júnior
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