Mais
parecia o Jamor em final da Taça : ora marco eu, ora marcas tu, até ver quem
levantava o “caneco”. E foi pela tangente: 115-110. Como se a vida e a morte
dependessem de uma quina de paus…, nalguns casos, paus mandados!
Em
vez da arquitectura virtual ensaiada nos “salões dourados” do Parlamento, vou
descer ao chão da vida, sentar-me à beira da cama dos doentes terminais e
escutar os vagidos lancinantes de quem quer partir consciente e lúcido, com a serena
convicção de deixar em paz e conforto aqueles que amou. Já o fiz no penúltimo texto, evocando o sorriso de Monique, 84 anos, antes de embarcar para a Suiça
e, dali, para a viagem sem retorno.
Hoje,
acompanho Hélène, uma jovem mãe, de 29 anos, atacada pela doença de Charcot que
a vai paralisando de dia para dia, com o prognóstico médico de que o desfecho
seria a morte por insuficiência respiratória incurável. Não vou morrer afogada, jamais – jura perante si mesma. E
porque em França lhe é vedada essa opção em nome da ética, decide rumar até à
Bélgica, depois de enfrentar os moralistas opositores: Quem sofre sou eu, é o meu
corpo. E ainda vêm dizer-me: ‘Sofre até ao fim, é mais ético’. Mas eu respondo-lhes:
Não, não vejo aí onde está a ética.
A reportagem do jornalista Moustapha Kessous
reflecte o conteúdo do corajoso documentário francês, no canal 5, a que os
autores Aude Rouaux e Marie Garreau deram
o eloquente título: Fim de vida, o
último exílio. Desconheço se os deputados que votaram “contra” a eutanásia
tiveram a sensação do que significa viver amarrado aos ferros em brasa de um
exílio forçado. Parece que não, pelo menos a avaliar pelo arraial de palmas e ‘foguetório’
pré-fabricado para a ‘festa’… Ter-se-ão visto ao espelho, em jeito de memória
futura, que um dia, uns e outros, estarão eles exilados não só do Parlamento
mas da própria vida numa enxerga de hospital?!
É aqui que me apraz reviver Gilbert
Cesbron, no seu romance histórico – Les Saints
vont en enfer, “Os Santos (os padres-operários) vão para o inferno (das
minas) – em que um pobre mineiro, roído dos pulmões e da miséria da mulher e
filhos, prostra-se em oração no fundo subterrâneo e exclama exausto: Irmão Cristo, não aguento mais. Quero ir
contigo. E, como o Nazareno no alto do Calvário, por sua conta “entregou definitivamente o espírito”.
Escrevi acima e titulei esta reflexão como
um percurso “Entre a Emir e a Morgue” para significar que este tema não é para
ser gritado nem brandido com espadas-argumentos numa arena de gladiadores, mas,
bem ao contrário, deve ser vivido, sentido e decidido no supremo interesse do “exilado”.
Sê-lo-á
sempre, enquanto houver um vivente mortal sobre a terra.
29.Mai.18
Martins Júnior
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