quarta-feira, 9 de maio de 2018

MAIS QUE JANGADA: NAVIO-CRUZEIRO DE PEDRA!


                                                         

Estranhei hoje o silêncio de uma certa imprensa, precisamente  no dia que nos tirou do cabo do mundo e nos alcandorou ao pódio dos “assinalados barões” europeus. Foi o sonho de Robert Shuman e Jean Monet. Foram estes, entre outros, os visionários de um horizonte até então inalcançável, construtores de pontes sobre os escombros de guerras fratricidas dentro do Velho Continente. Embora só mais tarde tivéssemos apanhado o comboio em andamento, o facto indesmentível é o nosso sentimento de pertença a um universo infinitamente superior ao mini-rectângulo dobrado sobre si mesmo, “orgulhosamente só”.
Para saudar o Dia da Europa  (e é só este o desígnio deste Dia Ímpar) recorro a um outro visionário - este, nosso, muito nosso, Fernando Pessoa - quando esculpiu a Europa, logo no frontispício da sua Mensagem, personificando Portugal como “o rosto que fita o Ocidente, futuro do passado”. É este olhar longínquo que nos torna maiores e nos faz ultrapassar as falésias mesquinhas, pontiagudas com que tantas vezes nos dilaceramos na prosa dos dias estéreis.
É ainda Fernando Pessoa quem nos desassossega do nosso confortável desconforto:
                    Triste de quem vive em casa
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
    
         Não obstante os escolhos da viagem e os confrontos de interesses nacionais, valeu a pena entrar no grande navio-cruzeiro da Europa e aí lutar, mano-a-mano e por igual, na conquista do nosso lugar dentro desta Casa Comum, de pleno direito Cidadãos do Mundo. Afinal, já vem de longe, de muito longe este apelo; “Faz-te ao largo”!

         09.Mai.18
         Martins Júnior

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