Estranhei
hoje o silêncio de uma certa imprensa, precisamente no dia que nos tirou do cabo do mundo e
nos alcandorou ao pódio dos “assinalados barões” europeus. Foi o sonho de Robert
Shuman e Jean Monet. Foram estes, entre outros, os visionários de um horizonte
até então inalcançável, construtores de pontes sobre os escombros de guerras
fratricidas dentro do Velho Continente. Embora só mais tarde tivéssemos
apanhado o comboio em andamento, o facto indesmentível é o nosso sentimento de
pertença a um universo infinitamente superior ao mini-rectângulo dobrado sobre
si mesmo, “orgulhosamente só”.
Para
saudar o Dia da Europa (e é só este o
desígnio deste Dia Ímpar) recorro a um outro visionário - este, nosso, muito
nosso, Fernando Pessoa - quando esculpiu a Europa, logo no frontispício da sua Mensagem, personificando Portugal como “o
rosto que fita o Ocidente, futuro do passado”. É este olhar longínquo que nos
torna maiores e nos faz ultrapassar as falésias mesquinhas, pontiagudas com que
tantas vezes nos dilaceramos na prosa dos dias estéreis.
É
ainda Fernando Pessoa quem nos desassossega do nosso confortável desconforto:
Triste de quem vive em casa
Contente
com o seu lar,
Sem
que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da
lareira a abandonar!
Não obstante os escolhos da viagem e os
confrontos de interesses nacionais, valeu a pena entrar no grande
navio-cruzeiro da Europa e aí lutar, mano-a-mano e por igual, na conquista do
nosso lugar dentro desta Casa Comum, de pleno direito Cidadãos do Mundo.
Afinal, já vem de longe, de muito longe este apelo; “Faz-te ao largo”!
09.Mai.18
Martins Júnior
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