segunda-feira, 21 de maio de 2018

DESVIOS E DESVARIOS DA COMÉDIA HUMANA


                                                      

Na escassa fatia dos dias e das horas saltam migalhas e borbotões que surpreendem qualquer observador minimamente atento à fenomenologia circundante,  deixando-nos imobilizados e até divertidos perante o formigueiro humano que desvaira em todas as direcções.
Hoje, estou nessa. Como o “olho mágico” de uma câmara oculta, dei comigo no alto da colina a olhar – hoje basta-me só olhar – os desvios, os desafios e desvarios dos atletas-actores neste circo ambulante do quotidiano. Se eu tivesse o aparo de Balzac descreveria, não em oitenta volumes, mas em  menos de um dia, aquilo que ele chamou La Comédie Humaine. Com uma variante: daquilo que a vista alcança, preferiria a  designação mais acertada: “A tragicomédia dos homens-toupeira”. E tentaria esquadrinhar o balanço e a velocidade do pêndulo que os agita. É inimaginável, em quantidade e em qualidade,  a diversidade de tensões e motivações que fazem correr os humanos, elegendo cada qual o seu móbil como o  essencial, o verdadeiro e único sobre o planeta.
Começando pela bola, daqui vejo as “Aves”, doidas e repimpadas, correndo todo o dia e toda a noite, em Santo Tirso, todas a beber do mesmo ‘caneco’ nacional, como se nada mais alto houvesse para eles. Mais abaixo, os ‘leões’ botam lágrimas de madalenas perdidas dentro de casa, como se o mundo desabasse sob as lavas do vulcão das ilhas Hawai. Ao lado, há quem não enxergue mais nada senão os caçadores, de capuz e bastão, capitaneados pelo ‘drácula de palmo e meio’.
Aqui na ilha, as “Magníficas Oito Ninfas” pulverizam a paisagem arquipelágica” com o merecido triunfo de Portugal. E, para quem vê tudo pelo monóculo empresário-capitalista, nada mais interessa senão o monumento de pedra dura chamado “baixa do IRC”.  À roda da mesma mesa, os talheres tocam outra música para os políticos oportunistas, dependurados no trapézio chamado Costa e os “rodriguinhos” infantis que lhes dão ‘cama, mesa e roupa lavada’. Para eles, mais nada sobra sobre e sob o solo.
À distância, vejo  (e com isso tremo) míseros países sul-americanos entregues ao régulo norte-americano que os arrasta para a embaixada em Jerusalém. Lá vão, pagando e rindo, ‘levados, levados sim’ para o campo do extermínio dos pobres palestinianos. E, ainda pelas mesmas bandas, a arena boliveriana, onde milhares se digladiam encarniçadamente, fazendo desse ‘poço da morte’ o centro do mundo.
E até em Roma, o Vaticano também corre e atira-se aos bispos chilenos, encobridores da pedofilia eclesiástica. Entre a sacralidade e a hipocrisia confina-se o seu ‘mapa-mundi´.
Voltando outra vez à ilha, a terra move-se pelo preto-branco nacionalista que subiu (com o pavor de descer) e pelo ‘furacão dany’ que não se sabe se vai ou fica. E tudo quanto é papel, tinta, antena e mostrador só falam todos do mesmo ‘fim-do-mundo’: o ferry, o hospital, os juros, o subsídio e a pista.
Experimentem, meus amigos, subir ao pico mais alto e olhar os desvios e desvarios desta Comédia (por vezes trágica) de que fazemos parte. E interroguemo-nos: Para onde corre o meu coração?... Onde é que se situa o “meu” mundo?... E será só meu o “meu” mundo?... Ou será nosso, o meu e o dos outros?...
Indissociável este enigma “absoluto-relativo”! O absoluto mata. O relativo gera a vida plena. Descobrirmo-nos relativos: eis a grande ciência, Estamos todos em relação até ao fim dos tempos.

21.Mai.19
Martins Júnior
     

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