Na
escassa fatia dos dias e das horas saltam migalhas e borbotões que surpreendem
qualquer observador minimamente atento à fenomenologia circundante, deixando-nos imobilizados e até divertidos
perante o formigueiro humano que desvaira em todas as direcções.
Hoje,
estou nessa. Como o “olho mágico” de uma câmara oculta, dei comigo no alto da
colina a olhar – hoje basta-me só olhar – os desvios, os desafios e desvarios dos
atletas-actores neste circo ambulante do quotidiano. Se eu tivesse o aparo de
Balzac descreveria, não em oitenta volumes, mas em menos de um dia, aquilo que ele chamou La Comédie Humaine. Com uma variante:
daquilo que a vista alcança, preferiria a designação mais acertada: “A tragicomédia dos
homens-toupeira”. E tentaria esquadrinhar o balanço e a velocidade do pêndulo
que os agita. É inimaginável, em quantidade e em qualidade, a diversidade de tensões e motivações que
fazem correr os humanos, elegendo cada qual o seu móbil como o essencial, o verdadeiro e único sobre o
planeta.
Começando
pela bola, daqui vejo as “Aves”, doidas e repimpadas, correndo todo o dia e toda
a noite, em Santo Tirso, todas a beber do mesmo ‘caneco’ nacional, como se nada
mais alto houvesse para eles. Mais abaixo, os ‘leões’ botam lágrimas de
madalenas perdidas dentro de casa, como se o mundo desabasse sob as lavas do
vulcão das ilhas Hawai. Ao lado, há quem não enxergue mais nada senão os
caçadores, de capuz e bastão, capitaneados pelo ‘drácula de palmo e meio’.
Aqui
na ilha, as “Magníficas Oito Ninfas” pulverizam a paisagem arquipelágica” com o
merecido triunfo de Portugal. E, para quem vê tudo pelo monóculo empresário-capitalista,
nada mais interessa senão o monumento de pedra dura chamado “baixa do IRC”. À roda da mesma mesa, os talheres tocam outra
música para os políticos oportunistas, dependurados no trapézio chamado Costa e
os “rodriguinhos” infantis que lhes dão ‘cama, mesa e roupa lavada’. Para eles,
mais nada sobra sobre e sob o solo.
À
distância, vejo (e com isso tremo)
míseros países sul-americanos entregues ao régulo norte-americano que os
arrasta para a embaixada em Jerusalém. Lá vão, pagando e rindo, ‘levados,
levados sim’ para o campo do extermínio dos pobres palestinianos. E, ainda
pelas mesmas bandas, a arena boliveriana, onde milhares se digladiam encarniçadamente,
fazendo desse ‘poço da morte’ o centro do mundo.
E
até em Roma, o Vaticano também corre e atira-se aos bispos chilenos,
encobridores da pedofilia eclesiástica. Entre a sacralidade e a hipocrisia
confina-se o seu ‘mapa-mundi´.
Voltando
outra vez à ilha, a terra move-se pelo preto-branco nacionalista que subiu (com
o pavor de descer) e pelo ‘furacão dany’ que não se sabe se vai ou fica. E tudo
quanto é papel, tinta, antena e mostrador só falam todos do mesmo ‘fim-do-mundo’:
o ferry, o hospital, os juros, o subsídio e a pista.
Experimentem,
meus amigos, subir ao pico mais alto e olhar os desvios e desvarios desta
Comédia (por vezes trágica) de que fazemos parte. E interroguemo-nos: Para onde
corre o meu coração?... Onde é que se situa o “meu” mundo?... E será só meu o “meu”
mundo?... Ou será nosso, o meu e o dos outros?...
Indissociável
este enigma “absoluto-relativo”! O absoluto mata. O relativo gera a vida plena.
Descobrirmo-nos relativos: eis a grande ciência, Estamos todos em relação até
ao fim dos tempos.
21.Mai.19
Martins Júnior
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