Antes
que daqui se despeça o 21 de Junho, vou lançar à tela, confidente dos dias ímpares, aquela pergunta que talvez não
haverá razão para fazê-la noutro futuro solstício de Verão. Pergunta, disse,
mas melhor fora elegia ou desencanto, como se tem perante um fruto peco ou um
nado-morto inesperado.
Verão…Hoje começa o Verão! – proclamam os
calendários e alardeiam os oficiais do tempo.
E
eu começo por perguntar: Alguém o viu por aí, o Verão que havia de vir?... Eu verei, tu verás, ele verá, nós, vós,
eles verão. Mas a verdade é que ninguém o viu, o Verão. Pelo contrário: nas ilhas e, pior, no
continente, se é que ele chegou,
embrulhou-se na espuma negreira do nevoeiro mais rasteiro, sacudiu bátegas de
chuva, mais a norte, vomitou flocos de neve e cascalho de granizo, enfim, o
manganão carregou-se de inverno e espojou-o em cima de nós, pobres mortais
expectantes das dádivas astrais.
Frustrou
as legítimas expectativas destes impotentes dependentes que, à pala dele,
Verão, nos avantajamos fogosos delirantes omnipotentes. O prometido “dia mais
longo do ano”, afinal, não passou de um prematuro mensageiro da noite. Herdades
inteiras escalavradas pela intempestiva e sorrateira quanto bárbara investida das águas, esperançosos frutos da
época completamente aniquilados, investimentos
de capital e trabalho irremediavelmente destruídos.
Quem
cantará o sol de Junho, os pomares, as sensuais cerejas vermelhas, ardendo de
desejo para a boca dos viandantes?...Ninguém. Porque Verão Maior, ninguém o viu
cá fora.
Verão
integral, imutável e seguro, só dentro de nós! Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles
verão o Verão que em nós habita. Somos todos aquela galáxia que enche o espaço e cada um de
nós uma mega-estrela de onde nasce o Sol de todos os dias!
E
para não ficarmos sonâmbulos na elegia e desencanto deste solstício magoado,
vou desfolhar as páginas dos POEMAS IGUAIS
AOS DIAS DESIGUAIS (pág.151) e transformar este 21 de Junho em
cântico identitário do optimismo a toda hora renascido dentro de nós:
A cor do sol é a cor
Com que o pintas
E não há verde no mundo
Sem que o cries e sintas
Vestir-te
por inteiro
Da
cabeça aos pés
Nem
acharás verso nem rima
Senão
escritos em cima
Do
livro que tu és
21Jun18
Martins Júnior
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