quinta-feira, 21 de junho de 2018

TOADA DE UM VERÃO QUE NÃO NASCEU


                                                

Antes que daqui se despeça o 21 de Junho, vou lançar à tela, confidente dos  dias ímpares, aquela pergunta que talvez não haverá razão para fazê-la noutro futuro solstício de Verão. Pergunta, disse, mas melhor fora elegia ou desencanto, como se tem perante um fruto peco ou um nado-morto inesperado.
 Verão…Hoje começa o Verão! – proclamam os calendários e alardeiam os oficiais do tempo.
E eu começo por perguntar: Alguém o viu por aí, o Verão que havia de vir?... Eu verei, tu verás, ele verá, nós, vós, eles verão. Mas a verdade é que ninguém o viu, o Verão.  Pelo contrário: nas ilhas e, pior, no continente, se é que  ele chegou, embrulhou-se na espuma negreira do nevoeiro mais rasteiro, sacudiu bátegas de chuva, mais a norte, vomitou flocos de neve e cascalho de granizo, enfim, o manganão carregou-se de inverno e espojou-o em cima de nós, pobres mortais expectantes das dádivas astrais.
Frustrou as legítimas expectativas destes impotentes dependentes que, à pala dele, Verão, nos avantajamos fogosos delirantes omnipotentes. O prometido “dia mais longo do ano”, afinal, não passou de um prematuro mensageiro da noite. Herdades inteiras escalavradas pela intempestiva e sorrateira quanto bárbara  investida das águas, esperançosos frutos da época completamente aniquilados, investimentos  de capital e trabalho irremediavelmente destruídos.
Quem cantará o sol de Junho, os pomares, as sensuais cerejas vermelhas, ardendo de desejo para a boca dos viandantes?...Ninguém. Porque Verão Maior, ninguém o viu cá fora.
Verão integral, imutável e seguro, só dentro de nós! Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles verão o Verão que em nós habita. Somos todos  aquela galáxia que enche o espaço e cada um de nós uma mega-estrela de onde nasce o Sol de todos os dias!
E para não ficarmos sonâmbulos na elegia e desencanto deste solstício magoado, vou desfolhar as páginas dos POEMAS IGUAIS AOS DIAS  DESIGUAIS  (pág.151) e transformar este 21 de Junho em cântico identitário do optimismo a toda hora renascido dentro de nós:
A cor do sol é a cor
Com que o pintas
E não há verde no mundo
Sem que o cries e  sintas   
         Vestir-te por inteiro
        Da cabeça aos pés
        Nem acharás verso nem rima
        Senão escritos em cima
        Do livro que tu és

21Jun18
Martins Júnior

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