sábado, 9 de junho de 2018

APOLOGIA DO “CONTRA” … OU EXPLOSÃO DO “VERO” ?!


                                                                   

Fim de semana, Sábado, o dia recolector dos seis que passaram. E, em estrita simbiose, a mão semeadora dos dias vindouros! Não desejaria nunca perder as espigas e os pães que nos são servidos à mesa de cada princípio e fim das semanas por onde viajo.
         Refiro-me à literatura bíblica hebdomadária que, bem assumida e interpretada, rasga clareiras de fogo fértil diante dos nossos passos.
         Toda a semana ficou iluminada com aquele curto-circuito provocado pelo Mestre Nazareno na pútrida instalação dos códigos moisaicos, onde se assentavam dominadores os doutores da lei, os fariseus e os soberanos pontífices da Templo de Jerusalém. “Hás-de guardar o Sábado: por isso, estás proibido de fazer seja o que for” . Era implacável a polícia político-religiosa, que espreitava o proletário Jesus num daqueles seus habituais  gestos de ajudar quem dele precisasse. E aconteceu. Num ímpeto de premeditada provocação, Ele observa um homem, doente de hidropisia congénita e, alto e bom som, diante dos próprios juízes e intérpretes do Livro, exclama: “Ó homem, chega-te à frente, aí no meio onde todos te possam ver”. Depois, ainda mais atrevido, imponente: “Ó senhores da Lei e do Templo, achais que posso fazer um bem a este pobre padecente”?... 
Era Dia de Sábado. O Mestre sabia bem a que se expunha. Mas, sem mais delongas ou pias justificações,  aproxima-se do homem e cura-o, restitui-lhe a saúde. Os “pides” de então não tardaram em processá-lo, como réu de lesa-divindade. Mas Ele, com mais veemência, atira-lhes este estranho e ‘blasfemo’ normativo: “O Homem não foi feito para o Sábado. O Sábado é que foi feito para o Homem”. Hermenêutica jurídica, sem apelo nem agravo: Em caso de conflito de interesses, o direito do Homem tem prioridade sobre o dever do Sábado!
Por esta e por todas as atitudes libertadores do nosso Mestre, os supremos poderes do Templo e do Sinédrio (os dogmáticos da religião) chamaram-lhe Belzebú, Satanás, demónio vivo no meio do povo! Só lhe restava a única e fatal sentença: a pena capital.
A Pessoa e a sua dignidade na centralidade de toda a construção humana, seja ela jurídica, económica, religiosa, administrativa, deliberativa ou executiva! Como foi possível que o nome do Mestre tivesse atravessado a história sem que trouxesse consigo o primado do espírito da Lei “que dá vida”  em confronto com a “letra que mata”???
É a prova nua e crua de que Ele não veio. Amarraram-nO ao patíbulo do Gólgota e em seu lugar fizeram um trono, um palácio, uma pirâmide inacessível, onde voltaram a impor-se os mesmos que O assassinaram. A Ele e a tantos outros que tiveram a ousadia de opor-se ao tráfico da mentira  manipuladora e fraudulenta. Eles aí andam à solta, anafados e cortejados, exibindo códigos canónicos em vez da Boa Nova do Espírito. No Vaticano há um Homem, Pastor da Cristandade, ao qual certos cardiais tentam instaurar um processo-crime por heresia. É caso para repetir e interpelar: “Ao ponto a que isto chegou! Só falta armar a fogueira da Inquisição e queimar o Homem de Branco”!
Numa época de fáceis derivas oposicionistas, não se trata de fazer a apologia do “contra”, mas de pugnar pela força da Verdade, ainda que se torne explosão iluminante e regeneradora. Como no episódio do Sábado.

09.Jun.18
Martins Júnior

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