Fim
de semana, Sábado, o dia recolector dos seis que passaram. E, em estrita
simbiose, a mão semeadora dos dias vindouros! Não desejaria nunca perder as
espigas e os pães que nos são servidos à mesa de cada princípio e fim das semanas
por onde viajo.
Refiro-me à literatura bíblica
hebdomadária que, bem assumida e interpretada, rasga clareiras de fogo fértil
diante dos nossos passos.
Toda a semana ficou iluminada com
aquele curto-circuito provocado pelo Mestre Nazareno na pútrida instalação dos códigos
moisaicos, onde se assentavam dominadores os doutores da lei, os fariseus e os
soberanos pontífices da Templo de Jerusalém. “Hás-de guardar o Sábado: por isso,
estás proibido de fazer seja o que for” . Era implacável a polícia
político-religiosa, que espreitava o proletário Jesus num daqueles seus
habituais gestos de ajudar quem dele
precisasse. E aconteceu. Num ímpeto de premeditada provocação, Ele observa um
homem, doente de hidropisia congénita e, alto e bom som, diante dos próprios
juízes e intérpretes do Livro, exclama: “Ó homem, chega-te à frente, aí no meio
onde todos te possam ver”. Depois, ainda mais atrevido, imponente: “Ó senhores
da Lei e do Templo, achais que posso fazer um bem a este pobre padecente”?...
Era
Dia de Sábado. O Mestre sabia bem a que se expunha. Mas, sem mais delongas ou
pias justificações, aproxima-se do homem
e cura-o, restitui-lhe a saúde. Os “pides” de então não tardaram em
processá-lo, como réu de lesa-divindade. Mas Ele, com mais veemência,
atira-lhes este estranho e ‘blasfemo’ normativo: “O Homem não foi feito para o
Sábado. O Sábado é que foi feito para o Homem”. Hermenêutica jurídica, sem
apelo nem agravo: Em caso de conflito de interesses, o direito do Homem tem prioridade
sobre o dever do Sábado!
Por
esta e por todas as atitudes libertadores do nosso Mestre, os supremos poderes
do Templo e do Sinédrio (os dogmáticos da religião) chamaram-lhe Belzebú,
Satanás, demónio vivo no meio do povo! Só lhe restava a única e fatal sentença:
a pena capital.
A
Pessoa e a sua dignidade na centralidade de toda a construção humana, seja ela
jurídica, económica, religiosa, administrativa, deliberativa ou executiva! Como
foi possível que o nome do Mestre tivesse atravessado a história sem que
trouxesse consigo o primado do espírito da Lei “que dá vida” em confronto com a “letra que mata”???
É
a prova nua e crua de que Ele não veio. Amarraram-nO ao patíbulo do Gólgota e
em seu lugar fizeram um trono, um palácio, uma pirâmide inacessível, onde
voltaram a impor-se os mesmos que O assassinaram. A Ele e a tantos outros que
tiveram a ousadia de opor-se ao tráfico da mentira manipuladora e fraudulenta. Eles aí andam à
solta, anafados e cortejados, exibindo códigos canónicos em vez da Boa Nova do
Espírito. No Vaticano há um Homem, Pastor da Cristandade, ao qual certos cardiais
tentam instaurar um processo-crime por heresia. É caso para repetir e interpelar:
“Ao ponto a que isto chegou! Só falta armar a fogueira da Inquisição e queimar
o Homem de Branco”!
Numa
época de fáceis derivas oposicionistas, não se trata de fazer a apologia do “contra”,
mas de pugnar pela força da Verdade, ainda que se torne explosão iluminante e
regeneradora. Como no episódio do Sábado.
09.Jun.18
Martins Júnior
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