sábado, 11 de dezembro de 2021

PRESÉPIOS VIVOS E MUSEUS DE CERA – OS VALORES!

                                                                                   


Quando entramos no natal damos o primeiro passo para a embriaguez do museu de cera, quer sejam gesso, barro ou porcelana os – sempre os mesmos – figurantes de cena: os ‘meninos-jesus’, os josés, as marias, as ovelhas, os camelos, os reis e os pastores. E com que havemos de encher os olhos senão com o mini ou macro-jardim zoológico à volta da gruta, desde a maior à mais modesta. A barafunda ambiente, desde as praças aos mercados e às igrejas, aos crismas, às missas do parto – tudo ajuda a mascarar o covid anunciado ou escondido que trazemos no rosto.

         Poucos são, decerto, os que perscrutam os presépios vivos, tanto o que trazem dentro de si como os da perdida paisagem à sua volta.  Porque é no íntimo desses presépios vivos que nascem e crescem os natais que nunca acabam. Por muitas e boas loas que se cantem, por mais ‘lapinhas’ que se apinhem à lareira ou fora dela, tudo passa tão volátil e fugaz que começamos já a pensar no natal do ano que vem.

         Mas onde estão, afinal, os valores perenes que fazem do Natal o chão que pisamos, o ar que respiramos, o abraço com que amamos?... Precisamente nos presépios vivos, aqueles que deixamos diluir e desaparecer no espectáculo dos presépios mortos, museus de cera à nossa beira.

         O LIVRO traz-nos  hoje e amanhã algumas amostras, que são outras tantas receitas, para nos assumirmos participantes activos, permanentes, desses presépios vivos.

         João, o Precursor, deambulava pelo deserto com a utopia de um mundo novo cravejada dentro do cérebro. E com tal entrega que  as multidões começaram a partilhar desse mesmo sonho tornado anseio colectivo. “Que havemos de fazer?, diz-nos João” – assim clamava a multidão.!

         “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem… E os que têm comida façam o mesmo… Os fiscais dos impostos não explorem o povo, não lhe roubem mais do que já está taxado… Os soldados não façam violência, não denunciem ninguém diante dos poderosos… Eu baptizo-vos em água, mas o que vale é o espírito”… (Lucas, 3, 10-17.).

         Numa sociedade de simulacros ou num anfiteatro de símbolos, nada mais devia interessa que os valores. Esses que o Precursor semeou no deserto: a justiça distributiva, (que não apenas caridade de supermercado) um imperativo interior do espírito (chamado consciência social) a abolição da violência (individual, doméstica, tribal ou transnacional), a liberdade de expressão sem receio de que haja represálias surdas ou manifestas.

         Se entrasse no templo de Jerusalém, o Precursor anteciparia “as imagens verdadeiras do presépio vivo” que o Nazereno viria a proclamar mais tarde.  De nada valem as burocracias sacramentais, vistosas e efémeras, baptismos, crismas, eucaristias, etc., sem os valores estruturais a criá-las e a consolidá-las!... Os valores humanos é que incarnam as virtualidades divinas!

         “A carne não serve para nada, o que conta é o espírito que dá vida” – bem explicitou o Mestre. Por isso, votos de Presépios Vivos, para sublimar os museus de cera “com que se o povo néscio se engana” e se diverte.

 

         11.Dez.21

         Martins Júnior

           

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