quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

PADRE ANTÓNIO VIEIRA E A RÁDIO SOB O SIGNO DA PALAVRA


                                                       

       E hoje a Palavra – corpo mágico da Ideia – vai inteira e ímpar para a Escola Secundária de Machico, cujos professores de Literatura reuniram os alunos de três turmas do 11º Ano para reflectirem sobre a vida e obra do “Imperador da Língua Portuguesa”, o Padre António Vieira, na sequência dos conhecimentos adquiridos nas aulas da especialidade.
Foram momentos de cordial intercâmbio com quatrocentos anos de permanência no solo pátrio, pleno de verdade histórica e de uma acuidade palpitante no Portugal e no mundo do século XXI. António Vieira não será mais visto como o clérigo hermeticamente formatado numa sotaina sacrista, mas como um gigante que sobressai acima das nuvens do firmamento luso, pela palavra e pela acção no domínio da cultura, do magistério, da teologia, da política e da defesa inquebrável da liberdade e da justiça social. Um génio! E mais que um génio, um Santo – no alcance semântico que ao qualificativo lhe deu Antero de Quental: “na grande marcha da  História, o Santo é aquele que vai sempre na vanguarda”. Já o afirmei mais de uma vez: o Padre António Vieira tem todas as credenciais para ser canonizado! Ele foi e continua a ser o bandeirante do Império Futuro, não o português, mas do Homem Universal.
Nele, a Palavra transfigurou-se em ouro fino e, nas horas da Verdade, atingiu a veemência do diamante cortante. Comparáveis, só Lacordaire, Bossuet e, talvez, Cícero na antiga Roma e Demóstenes na acrópole ateniense. Confesso abertamente esta paixão: eu daria um quarto  das minhas oito décadas de vida só para poder ouvir um discurso, um sermão, da boca e do gesto do Padre António Vieira.
Por coincidência, hoje também o Dia da Rádio. É a Palavra a alma da Rádio, a seiva hertziana que sobe às montanhas, sobrevoa os rios, mergulha os oceanos, percorre as intermináveis auto-estradas e penetra mansamente no recôndito das casas, em redor da nossa mesa ou no aconchego da nossa cama. Pela Rádio, a Palavra não tem grades nem fronteiras.
A Palavra dita, sonora, heróica, como a de Vieira. A Palavra escrita, como a de Camões, o Grande, a de Pessoa e a do outro Camões, “O Pequeno”, o Nosso de Machico.  A Palavra gestual, como a de todos aqueles e aquelas que tão graciosamente sabem transmiti-la. E a Palavra cantada, a deusa do reino da oralidade, reservada à “ínclita geração”  de Orfeu. Falta ainda a Palavra-Silêncio, tão indizível e bela e poderosa, como as pausas de uma partitura de Beethoven ou Mozart.
Amemos a Palavra como quem ama a mãe que temos ou o filho que somos. Tratemos a Palavra como quem acarinha a namorada, a noiva ou a mulher amada. Poupemos a Palavra como a um pecúlio precioso, capital em caixa para a economia da nossa vida futura. E, acima de tudo, larguemos aos quatro ventos, a Palavra  oportuna, segura, optimista, como a bandeira planetária que a todos acolhe e abraça.
No Dia da Palavra, oxalá que nunca saia da nossa boca nem sequer do nosso silêncio o amargor conclusivo de Eugénio de Andrade quando disse: ”Gastámos as palavras, meu amor”! Que nunca seja mal gasta nenhuma das nossas palavras. Tão difícil…  
No Dia da Rádio, uma saudação a todos os profissionais, para que façam do microfone o seu melhor confidente e, ao mesmo tempo, o mais severo juiz das suas palavras!
À Escola Secundária de Machico, na pessoa dos Docentes. Paula Gois, promotora  deste encontro,  João Luis Freire, introdutor do tema proposto, ao Director Dr. José Maria Dias e a todos os Professores os votos de que continuem a alimentar  a chama da mensagem de Vieira  e dos exemplares cultores da Palavra na formação dos jovens alunos, futuros construtores da nossa história.

   13.Fev.20
Martins Júnior
  

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