domingo, 15 de dezembro de 2019

MADEIRA PARTURIENTE… “ATÉ O BISPO AJUDOU”!


                                                               


Tudo tinha de convergir para a foz deste grande rio: a alegria pré-solar (antes que o sol nasça, ela já está) condimentada com a especiaria da descontracção e a noz-moscada dos badalos, chocalhos, búzios madrugadores e madrugadeiros. Enfim, a catarse colectiva – o elixir endémico de que tanto precisamos após doze meses de  canseiras ilhoas.
Pelo mesmo diapasão afinam as ‘barraquinhas do povo’, o circo, o Papai Noel e a Mãe-Natal, bombinhas, foguetinhos, caminhando tudo “100/à hora”,  para a super-paranóia pirotécnica, a maior do mundo.
 A religião tinha de marcar lugar. Ficar de fora seria pecado de mortal anti-patriotismo. Assim nasceu a Madeira Parturiente, com 800 horas grávidas de festa prazenteira, a que os licores típicos emprestam combustível q.b. O altar desce ao adro e os ‘ministros’ sacam foles dos acordeões e unhas dos rajões, tudo, em letra, para cantar o Parto. E onde antes se dizia, na gíria  dos arraiais, “Até o padre ajudou”,  passou-se a subir o nível e prestigiar a boda com um “Até o bispo ajudou”…
Faz bem à saúde física e mental tudo aquilo que une as pessoas, tudo o que as liberta e abraça. Mas há um mote, talvez um ponto de ordem que urge não esquecer, uma partitura regente de todo este bulício das gentes. É o Parto! Seria sumamente reconfortante ver e saborear o ritmo dos passos dessa jovem grávida (teria 16/17 anos) calcorreando os longos caminhos de Nazaré para Belém. É o que, da nossa parte, vamos tentar fazer: vê-la passar, senti-la chegar junto da nossa vizinhança, da nossa casa, oferecer-lhe até um berço onde reclinar o Menino. “Como se Ele nascesse aqui!”…
Tentaremos, ainda, abrir o nosso olhar, acompanhar com veneração e simpatia cada mulher grávida que circula em nossa terra e ver nela essa donzela judia que, após nove meses de gestação, deu ao mundo a hipótese fagueira de um Novo Mundo.
Assim será completa a nossa alegria. Porque o Parto – o histórico, o autêntico -  estará em construção até ao fim dos tempos!
Assim será completa a nossa alegria!

15.Dez.19
Martins Júnior     

1 comentário:

  1. Pois, aqui está, o essencial das novenas a MARIA, as missas do Parto. Seguir os passos e as legítimas interpelações daquela Jovem Judeia será, com certeza, um luar novo para atravessar a ponte do Natal da comunidade da Ribeira Seca. Decerto que, será interessante seguir com afinco, mais esta viagem esclarecedora do Pe. Martins Júnior.

    ResponderEliminar