De
Festa foi toda a semana que agora chega ao fim, mesmo no turbilhão dissonante
do planeta que nos comprime. Porque somos aquilo que somos mais a circunstância
que nos é dada. É assim que Ortega y Gasset
fazia o relatório dos lugares,
desde os altos himalaias das urbes aos inóspitos tugúrios da Amazónia.
A nós, coube-nos o ‘jogo da glória’ e
nele uma festa – para nós, a Festa – que reúne terra, água, pão e vinho, a
chamada Festa do Senhor. Direi que é uma Festa Biológica, pois que o Nazareno
assim optou naquela Quinta-Feira, véspera da sua morte.
Cedo-me, curvo-me e assimilo-me
no corpo e no espírito que este povo deu ao seu dia histórico-tradicional da
sua Festa. Quem aqui passar, naturalmente concluirá que esta não é uma festa de
plástico nem de cheques passados em branco. É a entronização do verde em todo o
perímetro do acto. Cada passo, cada pegada, cada centímetro do que ali está tem
a marca, o dedo, a mão, numa palavra, o corpo e o talento criativo da população
local.
Por isso é que, hoje e amanhã, haja o
que houver, Festa é Festa!
Recorro ao LIVRO (Marcos 2,
18 e sgs.) numa época em que os puristas da tradição judaica interpelaram o
Mestre porque os Doze não observavam o jejum e os sacrifícios impostos pela
ortodoxia do Templo. Era uma questão de lesa-sacralidade, cominada com penas
severas. Mas o Mestre não perdeu tempo com eloquentes teses teológicas, tão
gosto dos fariseus opositores: carregou no acelerador festivo e respondeu-lhes
com nova provocação: “Então achais bem que, numa festa de casamento, os
convidados se auto-flagelem com jejuns e sacrifícios na presença dos noivos?”.
Ninguém contestou. E mais: Ele, o “noivo” da alegoria provocatória, ainda
jovem, põe em confronto a natural antinomia juventude-festa e
velhice-decrepitude, através das metáforas remendo novo em tecido velho ou
vinho novo em barris velhos, estragados. É desconcertante, sublime, o Galileu
sem Fronteiras. Há até exegetas de renome que definem a vida pública de Jesus
como uma sucessão de festas, banquetes com fariseus, refeições com os
publicanos, convívios com os pecadores e pescadores. Era aí que Ele transmitia
o melhor das suas mensagens.
Depende
de nós que a vida seja uma Festa Verde ou uma mísera tragédia.
Por
isso, acreditamos que o Deus cósmico perpassa e diverte-se na Sua e nossa Festa
Biológica. Viva !!!
23.Jul.22
Martins Júnior
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