terça-feira, 5 de julho de 2022

…”NASCES SELVAGEM… NÃO ÉS DE NINGUÉM”…

                                                                            


Ao abrir o verão, quem resiste ao turbilhão imparável que rodeia de sonoridades  toda a Ilha, tão pleno e diverso como as ondas atlânticas à nossa beira?...  De todas, porém, desde 1990 ficou-me a canção de todos os dias e todas as horas, uma criação talentosa de Miguel Ângelo e Fernando Cunha, perpetuada pelos “Delfins” e pelos “Resistência”.

         Trago-a hoje para ilustrar um pensamento maduro, de raízes genéticas incontornáveis, uma cosmovidência inata e pura, mas que, como já antevia Jean Jacques Rousseau, a “sociedade corrompeu”, anestesiou e engoliu na voragem dos poderes instituídos. Enquanto assim a interpreto, outros olharão a mesma canção como um incontrolado revivalismo do “Maio-68” ou um apelo aos movimentos anarquistas, tendentes a soluções niilistas, destruidoras…

         QUANDO ALGUÉM NASCE…

          Gosto de ouvir a melodia, forte e austera, mas muito mais me delicio com a letra. Porque ela é um grito emergente da força telúrica a que pertencemos. É uma afirmação do maior bem que assiste a quem vem a este mundo: a sua personalidade ímpar, intransmissível e, ainda maior, a liberdade de a exprimir, sem recorrer à trituradora institucionalização dos poderosos, sejam eles clubes, partidos políticos, etnias, sexos, facções ou religiões. “NÃO ÉS DE NINGUÉM” constitui um  decisivo ‘xeque-mate’ aos rasteiros instintos gregários, aos favoritismos, amiguismos, nacionalismos, racismos, enfim à massificação colectiva de que enferma cada vez mais a sociedade contemporânea.

         Não se trata de um regresso à barbárie da selva nem muito menos à denegação dos valores construtivos do associativismo saudável em ordem ao bem comum.  “SELVAGEM” aqui ganha uma força semântica inigualável, querendo significar o que de mais puro e belo regurgita dentro de cada um de nós, em tudo contrário a uma sociedade – essa, sim,  cruenta e selvagem! - que arrebanha os mais fortes contra os mais fracos, os da manada, os do club, os do partido ou religião contra os que trabalham e cantam por conta própria.

         A quem me acompanha nestas lides bloguistas, deixo campo aberto para sinalizar indícios, casos consumados, por vezes assassinatos de personalidades, de talentos, de funções, empregos, cargos públicos e privados, onde se afunda a qualidade e se premeia a mediocridade.  Onde se entroniza a instituição e se anula o indivíduo! Estranha vertigem esta dos humanos para a institucionalização, gosto bizarro de serem institucionalizados!

         Da minha parte, propus-me continuar hoje a reflexão de anteontem, em que o Mestre da Galileia dizia que a bênção da paz não advém do funcionário institucional que a administra, mas da predisposição do destinatário e do exercício que dela faz, mesmo antes de a receber. (Luc.10,6). O culto genesíaco do indivíduo versus idolatria da máquina que o deforma e desumaniza!

         Embora pareça contraditório, enquanto vou ouvindo os “Delfins” formulo o voto de que os “Bons Selvagens” de todo o mundo se unam e penetrem nos simpósios internacionais, nas embaixadas imperialistas, nos paraísos fiscais, nos parlamentos, nos templos e façam-lhes a desinfestação urgente, Vós (seja qual a vossa idade)  que eu considero os precursores de um Mundo Novo!

         E se ele não se ofender, direi que actualmente  o Papa Francisco é um desses precursores, dos tais “Bons Selvagens, puro sangue, bandeirantes de uma Nova Ordem Mundial!  Bem haja e Melhor viva!

   

         05.Jul.22

         Martins Júnior

Sem comentários:

Enviar um comentário