Ao
abrir o verão, quem resiste ao turbilhão imparável que rodeia de sonoridades toda a Ilha, tão pleno e diverso como as ondas
atlânticas à nossa beira?... De todas, porém,
desde 1990 ficou-me a canção de todos os dias e todas as horas, uma criação
talentosa de Miguel Ângelo e Fernando Cunha, perpetuada pelos “Delfins” e pelos
“Resistência”.
Trago-a hoje para ilustrar um
pensamento maduro, de raízes genéticas incontornáveis, uma cosmovidência inata
e pura, mas que, como já antevia Jean Jacques Rousseau, a “sociedade corrompeu”,
anestesiou e engoliu na voragem dos poderes instituídos. Enquanto assim a
interpreto, outros olharão a mesma canção como um incontrolado revivalismo do “Maio-68”
ou um apelo aos movimentos anarquistas, tendentes a soluções niilistas,
destruidoras…
QUANDO
ALGUÉM NASCE…
Gosto
de ouvir a melodia, forte e austera, mas muito mais me delicio com a letra.
Porque ela é um grito emergente da força telúrica a que pertencemos. É uma
afirmação do maior bem que assiste a quem vem a este mundo: a sua personalidade
ímpar, intransmissível e, ainda maior, a liberdade de a exprimir, sem recorrer
à trituradora institucionalização dos poderosos, sejam eles clubes, partidos políticos,
etnias, sexos, facções ou religiões. “NÃO ÉS DE NINGUÉM” constitui um decisivo ‘xeque-mate’ aos rasteiros instintos
gregários, aos favoritismos, amiguismos, nacionalismos, racismos, enfim à
massificação colectiva de que enferma cada vez mais a sociedade contemporânea.
Não se trata de um regresso à barbárie
da selva nem muito menos à denegação dos valores construtivos do associativismo
saudável em ordem ao bem comum. “SELVAGEM”
aqui ganha uma força semântica inigualável, querendo significar o que de mais
puro e belo regurgita dentro de cada um de nós, em tudo contrário a uma
sociedade – essa, sim, cruenta e selvagem!
- que arrebanha os mais fortes contra os mais fracos, os da manada, os do club,
os do partido ou religião contra os que trabalham e cantam por conta própria.
A quem me acompanha nestas lides
bloguistas, deixo campo aberto para sinalizar indícios, casos consumados, por
vezes assassinatos de personalidades, de talentos, de funções, empregos, cargos
públicos e privados, onde se afunda a qualidade e se premeia a
mediocridade. Onde se entroniza a
instituição e se anula o indivíduo! Estranha vertigem esta dos humanos para a
institucionalização, gosto bizarro de serem institucionalizados!
Da minha parte, propus-me continuar
hoje a reflexão de anteontem, em que o Mestre da Galileia dizia que a bênção da
paz não advém do funcionário institucional que a administra, mas da
predisposição do destinatário e do exercício que dela faz, mesmo antes de a
receber. (Luc.10,6). O culto
genesíaco do indivíduo versus
idolatria da máquina que o deforma e desumaniza!
Embora
pareça contraditório, enquanto vou ouvindo os “Delfins” formulo o voto de que os “Bons Selvagens” de todo o mundo se unam e penetrem nos simpósios
internacionais, nas embaixadas imperialistas, nos paraísos fiscais, nos
parlamentos, nos templos e façam-lhes a desinfestação urgente, Vós (seja qual a
vossa idade) que eu considero os
precursores de um Mundo Novo!
E se ele não se ofender, direi que
actualmente o Papa Francisco é um desses
precursores, dos tais “Bons Selvagens, puro sangue, bandeirantes de uma Nova
Ordem Mundial! Bem haja e Melhor viva!
05.Jul.22
Martins
Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário