domingo, 3 de julho de 2022

GUERRA E PAZ NINGUÉM TAS DÁ, NINGUÉM AS TRAZ – SÓ TU !

                                                                               


Antes que o dia acabe e esmoreça o sol do primeiro domingo de Julho estival, quero ficar inebriado no clarão libertador que me advém daquele pré-aviso inscrito no texto do LIVRO, cujo excerto foi hoje divulgado urbi et orbi: “Se na tua casa houver gente de paz, a paz que te desejam ficará contigo e com a tua gente. Mas se não houver, a paz não entra, será devolvida à procedência”.

         É esta a tradução possível e inteligível das palavras do Mestre da Galileia aos 72 simpatizantes e militantes da sua Causa, as quais ficaram gravadas no testemunho de Lucas (10, 5-6). Em termos concretos, a saudação (voto ou bênção) que eles deviam lançar logo à entrada das casas só sortiria efeito se os residentes tivessem predisposição e guarida para usufruir de tão precioso activo dentro das quatro paredes da habitação. De contrário, o dom da Paz recusar-se-ia a transpor a soleira da porta, por mais votos pios, bênçãos e ladainhas que os discípulos encenassem publicamente.

         Chamo a isto “clarão libertador”, pleno de força anímica capaz de ‘transportar montanhas’, dissipar trevas interiores, vencer dependências exteriores, complexos e depressões. É deste fulgor psicológico que o mundo mais precisa, que nós todos precisamos. É fora de dúvida que nos torvelinhos, os mais emaranhados, de que é feito o quotidiano das gentes, proliferam as fugas, os refúgios, as boias líquidas presas por arames e, sobretudo, os modernos curandeiros, os magos feirantes que, em vez de libertarem as vítimas, ainda mais as sobrecarregam com o fardo angustiante das dependências de corpo e espírito. Nesses ‘oratórios’ ardilosamente programados, incluem-se as religiões. Está à mão de semear, direi mesmo de ensurdecer e ensandecer, o assédio excitante, de uma demagogia esventrada, para seduzir os incautos, os mais frágeis. É vê-los, os pregadores populistas acenar com receitas miraculosas, espasmódicas, adocicadas com citações bíblicas descontextualizadas. Ouros, com o delírio das velas, das procissões espectaculares, outros com águas-bentas e óleos ‘hebraicos’ da Quinta-Feira Santa… Outros ainda com  o Espírito Santo em bandeirinhas de seda-chita… Não há quem ponha cobro a esta alucinação colectiva?!... Não há quem restitua à pessoa a sua identidade holística, a visibilidade sustentável da sua condição, o auto-conhecimento das suas limitações mas também  do seu empoderamento perante as adversidades?!..

          Sendo certo que todas as sociedades precisam de sinais visíveis como significantes (mas não produtores exclusivos) de realidades invisíveis, não deveríamos ficar suspensos da pseudo-eficácia da nomenclatura teológica “ex opere operato”, isto é, que tudo depende do gesto automático ou que, por outras palavras, a função cria o órgão. Sem pretender censurar ou ofender os fanáticos das liturgias fabricadas pelos humanos, afigura-se-me deplorável que haja quem tenha mais fé na água benta do que no próprio Deus que habita no coração e na casa onde vive. Há quem tenha mais fé na vela acesa do que em Maria, Mãe de Jesus… Já o citei várias vezes: O Papa Francisco advertiu em Fátima: “Não façam dela uma Senhora que faz favores a baixo preço”. Apenas, digo eu, pelo módico preço de um círio…

         Só receberás a paz e a bênção se as tiveres já dentro de ti”!  

          A `Águia de Hipona’, Teólogo e Doutor da Igreja, desde o século V vem dizendo àqueles que procuram Deus no seu percurso iniciático: “Tu nunca me procurarias se já não me tivesses encontrado”.

Dentro de ti, a meta e o caminho!

 

         03.Jul.22

Martins Júnior

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