Se nome algum pudessem ter a alma do
mundo e o ritmo da história um só, mais que todos os demais, escrever-se-ia com
seis letrinhas apenas; Música!
Nem literatura, nem
filosofia, teologia, ciência ou tecnologia conseguem alcançar o poder mágico
dos sons que tocam a epiderme e a intraderme (passe o neologismo) de
tudo o que existe. Enquanto todos os vectores que dimanam da criatividade
humana ou se esgotam ou se defrontam ou entram em colapso-beco sem saída, a Música
penetra os ossos, inocula-se nas veias, fecunda o cérebro e, sem nunca abandonar
a matéria corpórea, evola-se para o além, o mais alto e mais longe, a
estratosfera do espírito , por isso, lhe chamam a Divina Arte ou a Arte dos
Deuses.
Perscrutando-a na sua
amplitude, constatamos que Ela partilha de dois atributos supra-humanos,
apanágio da Divindade: primeiro, a infinitude produtiva, quer a criacionista quer
a evolucionista: com sete notas apenas, quantas miríades de estrelas sonoras
atravessam o tempo e o espaço, os de ontem, os de hoje, os de amanhã?! O
segundo, a ubiquidade cósmica que faz da Música um habitante nómada, sem
morada certa ou exclusiva, um ‘sem-abrigo’ bilionário que mora em todas as casas, tanto nos
palácios reais como nos bairros periféricos dos que até trazem no bolso o ‘radiozinho’
proletário!
No Dia
Mundial da Música, a Diva volta a subir entronizada nos extremos polos do
planeta e na horizontalidade do seu diâmetro, desde os concertos orquestrais
dos seus maiores até aos mais ingénuos recantos onde floresce a alma dos povos,
jovens, crianças, idosos, entrelaçados pela seiva intergeracional que os une através
dos acordes saídos dos agrupamentos locais, tunas, bandas filarmónicas, corais,
solistas e afins.
Incluo neste roteiro tão
diversificado a tarde soalheira deste domingo, 1 de Outubro, em Machico, mais precisamente na vetusta
Capela de São Roque, sentinela e farolim da nossa generosa e inspiradora baía,
onde a suave espuma das ondas ganha ritmo e sonoridade tocadas pela grande
orquestra das pedras e areias que a circundam desde tempos imemoriais.
Num ambiente acolhedor,
ladeado pela obra-prima da azulejaria dedicada a São Roque (o padroeiro oficial
de Machico eleito pela vereação em 1728, conforme os Anais do Município), nesse
recinto vocacionado para a Música
de câmara, partilharam da Arte dos
Deuses muitos circunstantes, jovens e idosos (é também o Dia do Idoso),
madeirenses, nacionais e estrangeiros hospedados nas unidades hoteleiras locais.
A TCM-Tuna de câmara de Machico fez as honras da casa, a convite da Câmara
Municipal, registando-se o bom acolhimento por parte da diocese e da paróquia
matriz.
A
Diva – interclassista e musicalmente super-democrática
– também mora aqui!... E todos os dias são Dias da Música|
01-02.Outt.23
Martins Júnior
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