quarta-feira, 4 de outubro de 2023

TOADAS-OITAVAS DA “NAU CAPOEIRA”

                                                                                  



Lá vem a Nau Catrineta

Outra história vai contar

Dentro dela uma opereta

Desafia o alto mar

À proa vai a vedeta

Põe tudo a cacarejar

Maravilha da Madeira

Chama-se a Nau Capoeira

 

A vedeta é uma pombinha

Sem orgasmo nem paixão

Inocente e maneirinha

Cabe na palma da mão

Ela sabe coitadinha

Que à popa vai o pavão

Tão astuto e tão bacano

Que ao leme toca piano

 

Ele toca, ela comanda

Ele canta, ela ameaça

Se alguma tranca desanda

Pianista perde a graça

E a menina do panda

Manda tudo prá desgraça

Ó pombinha do Divino

Vê lá não percas o tino!

 

A nau assim se acostuma

Neste estranho solidó

De dia sopra-lhe a espuma

De noite sobra-lhe o pó

Porque a batuta é só uma

E o maestro um fala-só

Mas há quem fuja do tom

E esqueça o Michel Dom

 

Capoeira na Travessa

E já aumenta o brouhaha

Do porão sai uma peça:

Rua com  ménage à trois!

Os que chegaram à pressa

Não têm direito a estar cá !

E o leme levanta o dedo:

“A mim ninguém mete medo”

 

Que é isto? – gritou um velho

Que infernal este banzéu

Tem as garras de francelho

Feiticeiro do Ilhéu

O  bico ficou vermelho

E debaixo do chapéu

Como Velho do Restelo

Soltou um tremendo apelo:

                                                      


“Quem é este galinheiro    

Roçando aqui ao meu pé

Cacarejo tão rafeiro

Nem na arca de Noé

Os que já estão no poleiro

Não maltratem a bebé !

Se seguem nesse vexame

Vai ao fundo o cavername

 

“Marinhagem anda à toa

Quem devia ir à popa

Bem galante vai na proa

Ao da ré falta-lhe um tropa

Chama  a armada de Lisboa

E atrás de montespretos

Vêm rochedos e tropedos

 

“Não tinhas medo, mas tens,

Diz o bruxo ao pianista

Não te dou os parabéns

Trocaste a estirpe tourista

Por uma de três vinténs

Sai mais barata a alpista

Mas não sabes ao que vens

Quem quer papinhos de penas

Há-de tê-las às centenas

 

“Vão-se já daqui embora

Afastem-se de ao pé de mim

Vão p’ràs ilhas Bora Bora

Com esse enorme chinfrim

E se alguém for borda fora

Deixai-o em Arguim

Se agora a coisa está feia

Que não será na Assembleia”.

 

Assim falou

O Feiticeiro-avô

E com o enguiço

Pôs-lhe o feitiço

                                                            Lá foi a Nau Capoeira

                                                           Desapontou ao ilhéu

                                                           Quando voltar à Madeira

                                                           Já cá tem um mausoléu

 

                                                           No galináceo vapor

                                                           Há preces, velas, incenso:

                                                           Que morra o Adamastor

Da Ponta de São Lourenço

 

                                                           Entre Setembro e Outubro

                                                           Outra história vai rodando

                                                           Madeira ficou ao rubro

                                                           Só não se sabe até quando

 

                                                                                                                     

                    29.Set-3-5.Out.23

Martins Júnior

 

 

 


Sem comentários:

Enviar um comentário