Fosse
minha a síntese genial de Fernando Pessoa e, como ele, diria hoje, aqui e
agora; Quem quiser fazer a biografia destes 60 anos de percurso terá só
de inscrever duas datas – 15 de Agosto
de 1962 e 15 de Agosto de 2022. Tudo o mais é meu!
Mas,
porque não é meu tudo o mais, aqui
deixo um registo breve (que eu desejaria longo, infinito) de gratidão para com
todos os que comigo fizeram esta viagem. Faço-o com o frio gelo que queima toda
a emoção e, ao mesmo tempo, com todo o calor que não posso conter no
coração.
O
dia em que um rapaz de 23 anos de idade subiu ao altar-mor da igreja matriz de
Machico para celebrar Missa Nova. Era a manhã de 15 de Agosto de 1962.
O
ano de professor e prefeito no Seminário
da Encarnação no Funchal.
Os
dois anos (1963-1965) na paróquia do Espírito Santo, Porto Santo, então um
deserto, que fez desabrochar em mim o milagre de transformar os cardos
espinhosos em pétalas de oiro. Eternamente grato às gentes do Porto Santo, ao
Grupo Folclórico, aos colaboradores locais, madeirenses e continentais em
serviço na ilha, que comigo iniciaram o Ensino Preparatório e Secundário, os
quais ainda não existiam oficialmente. O Pico Castelo, o Campo de Baixo, o
Campo de Cima, a Lapeira e a Ponte. E o Ilhéu da Cal, para onde me levaram, com
receio de que a Pide viesse buscar-me por ordem da diocese. Aos descendentes
vivos dessa plêiade de ‘combatentes’ o meu preito maior.
Os
dois anos (1965-1967) como coadjutor na Sé Catedral do Funchal, os alunos da
Escola Salesiana e do Colégio Lisbonense onde lecionei, a convite do poeta e
historiador Padre Eduardo Pereira. “A Malta do Calhau”, distintos velejadores.
Os Escuteiros Marítimos.
Os
dois anos da guerra colonial (1967-1969) em Cabo Delgado, Moçambique, nessa
degradante condição de tenente-capelão do Batalhão de Caçadores 1899, a nódoa
mais negra em toda a minha vida: desalojar quem vivia pacificamente na sua
própria casa, ainda que não passasse de uma pobre cabana. O baptismo de 32
macondes em Palma, junto ao Rio Rovuma. Os 11 amigos meus, praças e furriéis, mortos à
minha frente, numa mina anti-carro, precisamente em 15 de Agosto de 1967. “A Visita da Velha Senhora”, de Francis
Durremat, no palco de Mocuba, Quelimane, Zambézia. Os missionários italianos de
Morrumbala.
Os
53 anos (1969-2022) na Ribeira Seca, a minha Universidade Existencial, onde
aprendi factualmente que “O Povo é quem mais ordena”. Contra a ditadura
política (1985) e contra a ditadura diocesana (2010), a Ribeira Seca escreveu
em pedra no adro da sua igreja; “Este Chão é um Chão sagrado/Onde cantámos
Vitória”. E porque ainda é cedo para o tempo da memória – estamos vivos! - a História continua abrindo caminho.
.
Ao
fim de 60 anos, um súbito episódio na tela da vida, gostaria de incluir-me
entre aqueles de quem o Mestre afirmou: “Somos servos inúteis. Só fizemos o que
devíamos fazer” .
Com uma ressalva: Servi o Povo, não servi a
Instituição!
Aos
companheiros de viagem, a minha gratidão sem limite.
15.Ago.22
Martins Júnior
Muito bem! Fale do Avante, o jornal do Seminário.....
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