Quis
o calendário gregoriano que em cada ano da graça sete vezes os Dias Ímpares se
abraçassem entre o 1º e o 31º ou, cronologicamente, entre o último e o primeiro
de cada mês. Este é o quinto encontro solidário e pleno do ano de 2022 – 31 de
Agosto e 01 de Setembro.
Nesta geminação dos Dias Ímpares,
apraz-me deambular por outras e tantas geminações de ilhas e gentes que, como
jangadas de basalto, acham um porto de abrigo e uma baía de abraços – encontro este projectado e lavrado pela mão de
quem estando longe sente bater mais perto o coração.
Trago a notícia, na decorrência da já
propalada visita da “TCM-Tuna de Câmara de Machico”, (extensão do CCCS-RS,
Centro Cívico-Cultural e Social da Ribeira Seca) à ilha do Pico, mais
precisamente ao Município das Lajes. Razão e oportunidade do evento: a
geminação do concelho de Machico com o concelho das Lajes, em 1989.
Mas não só nessa ilha os dois
Municípios se irmanaram. Em 1996, foi em São Miguel que novamente Machico rumou
ao concelho da Povoação, onde se rubricou a nascença de dois novos irmãos
gémeos. Bem me recordo: a gentileza do presidente daquele concelho micaelense, o
Dr. Carlos Ávila, e o signatário destas linhas, então presidente da autarquia
que antes fora a primeira capitania da Madeira. De toda a substantiva afinidade
entre as duas autarquias e o seu povo, retenho as permutas sócio-culturais
então realizadas e, com agudo pesar, não me sai da memória a tragédia ocorrida
na ‘Ribeira Quente’, aquando do desabamento da falésia sobre o aglomerado
populacional e as vítimas mortais, os funerais que acompanhei presencialmente.
São vários e distintos os genes
histórico-laborais que nos unem. Lajes e Povoação assinalam os primeiros locais
onde os descobridores (ou achadores) aportaram, respectivamente, ao Pico e a
São Miguel. Daí o topónimo ‘Povoação’. Ora, Machico pode ostentar igualmente os
pergaminhos de ter sido a baía onde chegaram pela primeira vez à Ilha os
marinheiros do Senhor Infante. A actividade piscatória e, particularmente, a
faina atuneira e a extinta indústria baleeira tornaram próximos e gémeos os dois
concelhos. Visitar o Museu do Baleeiro ou a antiga Fábrica da Baleia, nas
Lajes, é como atravessar uma gostosa ponte inter-ilhas.
Mas o mais surpreendente foi saber pela
boca da própria presidente lajense: “As Lajes do Pico também estão geminadas
com o concelho da Povoação”. Aí ficámos com a nítida sensação de termos
desenhado um perfeito Triângulo no coração do Atlântico.
A Tríade poética, romântica, quase
mítica:
MACHICO-POVOAÇÃO-LAJES
DO PICO !
Numa tentativa de balanço, perguntar-se-á
qual o efeito prático e útil para as respectivas populações. Logicamente, não
serão visíveis e palpáveis as projeções imediatas das geminações, mas o seu
significado, o de sabermos que não estamos sós, que não somos apenas ilhas
separadas pelo mar, cria na sensibilidade insular uma interpretação tangente de
vivermos todos na mesma aldeia global ou, como diz Francisco Papa, na mesma
Casa Comum. Além de que estabelecem-se liames afectivos e laborais entre
madeirenses que vivem nos Açores e açorianos que fazem da Madeira a sua segunda
pátria natal. Confirmámo-lo nós próprios por conhecimento directo.
Daqui a milhas de distância, fazemos do
Triângulo Inter-Ilhas um navio carregado de hortênsias e buganvílias sulcando o
mar atlântico ao encontro dos irmãos gémeos em todos os Dias Ímpares !
31.Ago-01.Set.22
Martins
Júnior
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