quarta-feira, 31 de agosto de 2022

TRIÂNGULO SOLIDÁRIO NO CORAÇÃO ATLÂNTICO

                                                                                 


Quis o calendário gregoriano que em cada ano da graça sete vezes os Dias Ímpares se abraçassem entre o 1º e o 31º ou, cronologicamente, entre o último e o primeiro de cada mês. Este é o quinto encontro solidário e pleno do ano de 2022 – 31 de Agosto e 01 de Setembro.

         Nesta geminação dos Dias Ímpares, apraz-me deambular por outras e tantas geminações de ilhas e gentes que, como jangadas de basalto, acham um porto de abrigo e uma baía de abraços –  encontro este projectado e lavrado pela mão de quem estando longe sente bater mais perto o coração.

         Trago a notícia, na decorrência da já propalada visita da “TCM-Tuna de Câmara de Machico”, (extensão do CCCS-RS, Centro Cívico-Cultural e Social da Ribeira Seca) à ilha do Pico, mais precisamente ao Município das Lajes. Razão e oportunidade do evento: a geminação do concelho de Machico com o concelho das Lajes, em 1989.

         Mas não só nessa ilha os dois Municípios se irmanaram. Em 1996, foi em São Miguel que novamente Machico rumou ao concelho da Povoação, onde se rubricou a nascença de dois novos irmãos gémeos. Bem me recordo: a gentileza do presidente daquele concelho micaelense, o Dr. Carlos Ávila, e o signatário destas linhas, então presidente da autarquia que antes fora a primeira capitania da Madeira. De toda a substantiva afinidade entre as duas autarquias e o seu povo, retenho as permutas sócio-culturais então realizadas e, com agudo pesar, não me sai da memória a tragédia ocorrida na ‘Ribeira Quente’, aquando do desabamento da falésia sobre o aglomerado populacional e as vítimas mortais, os funerais que acompanhei presencialmente.

         São vários e distintos os genes histórico-laborais que nos unem. Lajes e Povoação assinalam os primeiros locais onde os descobridores (ou achadores) aportaram, respectivamente, ao Pico e a São Miguel. Daí o topónimo ‘Povoação’. Ora, Machico pode ostentar igualmente os pergaminhos de ter sido a baía onde chegaram pela primeira vez à Ilha os marinheiros do Senhor Infante. A actividade piscatória e, particularmente, a faina atuneira e a extinta indústria baleeira tornaram próximos e gémeos os dois concelhos. Visitar o Museu do Baleeiro ou a antiga Fábrica da Baleia, nas Lajes, é como atravessar uma gostosa ponte inter-ilhas.

         Mas o mais surpreendente foi saber pela boca da própria presidente lajense: “As Lajes do Pico também estão geminadas com o concelho da Povoação”. Aí ficámos com a nítida sensação de termos desenhado um perfeito Triângulo no coração do Atlântico.

         A Tríade poética, romântica, quase mítica:

MACHICO-POVOAÇÃO-LAJES DO PICO !

         Numa tentativa de balanço, perguntar-se-á qual o efeito prático e útil para as respectivas populações. Logicamente, não serão visíveis e palpáveis as projeções imediatas das geminações, mas o seu significado, o de sabermos que não estamos sós, que não somos apenas ilhas separadas pelo mar, cria na sensibilidade insular uma interpretação tangente de vivermos todos na mesma aldeia global ou, como diz Francisco Papa, na mesma Casa Comum. Além de que estabelecem-se liames afectivos e laborais entre madeirenses que vivem nos Açores e açorianos que fazem da Madeira a sua segunda pátria natal.  Confirmámo-lo nós próprios por conhecimento directo.     

           Daqui a milhas de distância, fazemos do Triângulo Inter-Ilhas um navio carregado de hortênsias e buganvílias sulcando o mar atlântico ao encontro dos irmãos gémeos em todos os Dias Ímpares !

 

         31.Ago-01.Set.22

         Martins Júnior

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