Não
vou fugir à minha paixão pelo LIVRO em fim de semana. Convido a ler a Carta de
Paulo a Filémon, um dos activos mais influentes em todo o território israelita.
Por influência de Paulo, Filémon aderira
à mensagem de Jesus de Nazaré. A Carta que
lhe esreveu Paulo é a mais exígua de texto em toda a Bíblia, mas sem dúvida a mais
esclarecedora sobre o movimento solidário fundado pelo Nazareno. Três personagens
em cena - Paulo, Onésimo, Filémon e o narrador.
Onésimo tinha sido escravo ao serviço
de Filémon. Tempo depois, Paulo requisitou Onésimo para seu colaborador na
prisão. Mais tarde, decide desonerá-lo da condição de escravo e restituir-lhe o
estatuto de homem livre, enquanto “irmão muito amado”, o que
de certo modo desagradou à classe dominante, em cujo elenco se integrava
Filémon.
Aí começa o drama de Paulo: remeter o antigo
escravo, agora liberto e equiparado a “irmão em Cristo”, para o serviço de Filémon.
Mas como fazê-lo sem o consentimento do antigo dono?... Não obstante o prestígio de
Paulo que lhe conferia poder de impor a sua decisão, escreve-lhe a famosa Carta
a Filémon, em termos repassados de acurado sentido democrático e respeito, de
cujo conteúdo recorto a seguinte passagem:
Eu,
Paulo, o velho, prisioneiro pela Evangelho de Jesus, peço-te, por amor, pelo
meu filho Onésimo que gerei nas minhas prisões, o qual noutro tempo te foi
inútil, mas agora a ti e a mim, muito útil, to torno a enviar. E tu torna a
recebê-lo como se fossem as minhas próprias entranhas, Eu bem quisera conservá-lo comigo para que me
servisse nas prisões do Evangelho. Mas nada quis fazer sem o teu parecer para
que o teu benefício não parecesse forçado, mas inteiramente voluntário. Peço-te,
pois, que o recebas não já como escravo mas como irmão amado, particularmente
de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor. Assim, se me tens
como companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E se te causou algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso na minha
conta.
Sem
mais comentários, comparemos a atitude de Paulo com certos comportamentos autocráticos
das diferentes hierarquias da Igreja que se autointitula representante e
continuadora do Mestre da Galileia, de Paulo e da tradição apostólica. O
respeito, a solidariedade e, sobretudo, a atitude sinodal – de colegialidade e
de consulta aos fiéis – sobre os rumos que as Igrejas terão de seguir no
futuro. Os exemplos, bons e maus, estão ao alcance de todos. O mais eloquente e
incisivo é o do Papa Francisco, ao instaurar a Magna Assembleia no Vaticano sob
o signo da Sinodalidade, isto é, a arte e o método de caminharmos juntos.
Porque “ninguém se salva sozinho e ninguém se condena sozinho”.
03.Set.22
Martins
Júnior
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