sábado, 3 de setembro de 2022

SINODALIDADE PERFEITA, HÁ MAIS DE DOIS MIL ANOS!

                                                                      


        Não vou fugir à minha paixão pelo LIVRO em fim de semana. Convido a ler a Carta de Paulo a Filémon, um dos activos mais influentes em todo o território israelita. Por influência de Paulo,  Filémon aderira à mensagem de Jesus de Nazaré.  A Carta que lhe esreveu Paulo é a mais exígua de texto  em toda a Bíblia, mas sem dúvida a mais esclarecedora sobre o movimento solidário fundado pelo Nazareno. Três personagens em cena - Paulo, Onésimo, Filémon e o narrador.

         Onésimo tinha sido escravo ao serviço de Filémon. Tempo depois, Paulo requisitou Onésimo para seu colaborador na prisão. Mais tarde, decide desonerá-lo da condição de escravo e restituir-lhe o estatuto de homem livre, enquanto “irmão muito amado”,   o que de certo modo desagradou à classe dominante, em cujo elenco se integrava Filémon.

         Aí começa o drama de Paulo: remeter o antigo escravo, agora liberto e equiparado a “irmão em Cristo”, para o serviço de Filémon.  Mas como fazê-lo sem o consentimento  do antigo dono?... Não obstante o prestígio de Paulo que lhe conferia poder de impor a sua decisão, escreve-lhe a famosa Carta a Filémon, em termos repassados de acurado sentido democrático e respeito, de cujo conteúdo recorto a seguinte passagem:

         Eu, Paulo, o velho, prisioneiro pela Evangelho de Jesus, peço-te, por amor, pelo meu filho Onésimo que gerei nas minhas prisões, o qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim, muito útil, to torno a enviar. E tu torna a recebê-lo como se fossem as minhas próprias entranhas, Eu bem  quisera conservá-lo comigo para que me servisse nas prisões do Evangelho. Mas nada quis fazer sem o teu parecer para que o teu benefício não parecesse forçado, mas inteiramente voluntário. Peço-te, pois, que o recebas não já como escravo mas como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor. Assim, se me tens como companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E se te causou algum dano ou  te deve alguma coisa, põe isso na minha conta.

         Sem mais comentários, comparemos a atitude de  Paulo com certos comportamentos autocráticos das diferentes hierarquias da Igreja que se autointitula representante e continuadora do Mestre da Galileia, de Paulo e da tradição apostólica. O respeito, a solidariedade e, sobretudo, a atitude sinodal – de colegialidade e de consulta aos fiéis – sobre os rumos que as Igrejas terão de seguir no futuro. Os exemplos, bons e maus, estão ao alcance de todos. O mais eloquente e incisivo é o do Papa Francisco, ao instaurar a Magna Assembleia no Vaticano sob o signo da Sinodalidade, isto é, a arte e o método de caminharmos juntos. Porque “ninguém se salva sozinho e ninguém se condena sozinho”.

 

         03.Set.22

         Martins Júnior

 

 

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