7 de Setembro de 1972. Olinda e
Recife. Um Homem, um Justo, um Santo na fogueira da inquisição militar. Eu
estava lá.
Não
passa nem um “7 de Setembro” que não
regresse àquele terreiro largo onde está implantado o Paço Episcopal da
diocese. Um palácio imponente, ao melhor estilo colonial, mas com uma diferença
abissal: o bispo não mora lá. Foi habitar uma casa rasteira numa das ruas da
capital e cedeu a monumental construção às associações vivas da diocese, crianças,
jovens, adultos e veteranos.
E se permanece sempre audível o eco
emotivo dessa memória anual, hoje - volvidos outros 50 anos sobre os 150 da
independência – com mais intenso clangor bate comigo o “7 de Setembro de 1972”.
Era o tempo da ditadura militar (1964-1985),
das rusgas nocturnas, do Esquadrão da Morte, dos julgamentos políticos na trágica
“Rua Brigadeiro António” (onde atrevidamente assisti a um desses julgamentos),
era o tempo da condenação de padres-pastores na Prisão da Praia Grande de
Santos, era também o tempo de perseguir os bispos verdadeiramente cristãos,
como o bispo de Volta Redonda, a quem o governo já tinha instaurado três
processos judiciais. E era, acima de tudo, a fogueira onde o poder militar pretendia
fazer desaparecer o “bispo vermelho”, “o bispo comunista” (assim era a matéria de
acusação gratuita) contra o ‘Apóstolo
das Gentes’ do século XX, o arcebispo Hélder da Câmara,
Aqui faço um obrigatório ponto de
paragem. Ia eu a descrever o cenário intimista, cativante e solidário dessa
noite, quando alguém me chama para ver e ouvir uma multidão ululante diante de
um recandidato à Presidência do Brasil, em olhar disperso e faiscante de
alucinado político, apelar à população que espumava de ódio, ameaças, gritos
tribais atingindo o clímax selvagem nestes termos: “Golpe Militar”!!!
Nem queria acreditar. Aberração
inominada essa de transformar o dia patriótico da Independência num despudorado
comício eleitoralista! Com toda a consideração pelos grandes vultos brasileiros
em vários quadrantes da civilização, apete-me também gritar: “Que povo é este,
que povo?!”. E mais humilhado fiquei, ao ver ali, entalado e franzino, como um
junco o nosso Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.
Para completar o cavername repugnante
daquela Praça de Brasília, a jóia primorosa de Óscar Niemeyer, foi de bradar
aos céus a blasfémia colectiva de terminar tudo com uma oração. Não se sabe a
que deus dos infernos!
Que mundo é este, que futuro!!!
Pedir aos deuses o tenebroso e
assassino regresso da ditadura militar !
Cinquenta
anos depois de 1972. Duzentos anos após a Independência e Liberdade do Povo
Brasileiro.
E
falecem-me as forças para continuar…
07.Set.22
Martins
Júnior
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