quarta-feira, 7 de setembro de 2022

ENTRE OS 150 E OS 200 ANOS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL. UM HOMEM JUSTO CONTRA A DITADURA MILITAR. O DESCONCERTO DO MUNDO…

                                                                         


7 de Setembro de 1972. Olinda e Recife. Um Homem, um Justo, um Santo na fogueira da inquisição militar. Eu estava lá.

         Não passa nem um “7 de Setembro”  que não regresse àquele terreiro largo onde está implantado o Paço Episcopal da diocese. Um palácio imponente, ao melhor estilo colonial, mas com uma diferença abissal: o bispo não mora lá. Foi habitar uma casa rasteira numa das ruas da capital e cedeu a monumental construção às associações vivas da diocese, crianças, jovens, adultos e veteranos.

         E se permanece sempre audível o eco emotivo dessa memória anual, hoje - volvidos outros 50 anos sobre os 150 da independência – com mais intenso clangor bate comigo o “7 de Setembro de 1972”.

         Era o tempo da ditadura militar (1964-1985), das rusgas nocturnas, do Esquadrão da Morte, dos julgamentos políticos na trágica “Rua Brigadeiro António” (onde atrevidamente assisti a um desses julgamentos), era o tempo da condenação de padres-pastores na Prisão da Praia Grande de Santos, era também o tempo de perseguir os bispos verdadeiramente cristãos, como o bispo de Volta Redonda, a quem o governo já tinha instaurado três processos judiciais. E era, acima de tudo,  a fogueira onde o poder militar pretendia fazer desaparecer o “bispo vermelho”, “o bispo comunista” (assim era a matéria de acusação gratuita) contra  o ‘Apóstolo das Gentes’ do século XX, o arcebispo Hélder da Câmara,

         Aqui faço um obrigatório ponto de paragem. Ia eu a descrever o cenário intimista, cativante e solidário dessa noite, quando alguém me chama para ver e ouvir uma multidão ululante diante de um recandidato à Presidência do Brasil, em olhar disperso e faiscante de alucinado político, apelar à população que espumava de ódio, ameaças, gritos tribais atingindo o clímax selvagem nestes termos: “Golpe Militar”!!!

         Nem queria acreditar. Aberração inominada essa de transformar o dia patriótico da Independência num despudorado comício eleitoralista! Com toda a consideração pelos grandes vultos brasileiros em vários quadrantes da civilização, apete-me também gritar: “Que povo é este, que povo?!”. E mais humilhado fiquei, ao ver ali, entalado e franzino, como um junco o nosso Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.

         Para completar o cavername repugnante daquela Praça de Brasília, a jóia primorosa de Óscar Niemeyer, foi de bradar aos céus a blasfémia colectiva de terminar tudo com uma oração. Não se sabe a que deus dos infernos!

         Que mundo é este, que futuro!!!

         Pedir aos deuses o tenebroso e assassino regresso da ditadura militar !

Cinquenta anos depois de 1972. Duzentos anos após a Independência e Liberdade do Povo Brasileiro.

E falecem-me as forças para continuar…   

         07.Set.22

         Martins Júnior

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