sexta-feira, 9 de setembro de 2022

FESTEJAR É VIVER!... “A FESTA QUE O POVO É” !!!

                                                                            


Quando me preparava para descrever o Dia Patriótico do Brasil – essa comemoração intensa do “7 de Setembro” em Olinda e Recife, ano 1972 – eis que a ‘rosa dos ventos’  fortuitos, veio virar o capelo aos planeamentos mais estratégicos, com a morte da Rainha Elisabeth II e, de certo modo, Dona do Mundo. É grosseiramente sábio e eficaz o organigrama (ou ordenamento jurídico da monarquia) para ‘eleger’ o  novo Rei. Ele já está feito, há 73 anos|. Por isso os canhões que protestam a morte da Rainha são os mesmos que ribombam de encantamento pelo novo rei. Inefáveis Ironias…

          Do “7 de Setembro”, não posso deixar de recortar a proclamação-síntese do Grande Herói da verdadeira soberania da Brasil no século XX, Hélder da Câmara, arcebispo de Olinda e Recife: “Dizem os militares da ditadura que eu sou anti-brasileiro e não quero o progresso da nossa nação, mas enganam-se  porque o progresso que eu quero para o Brasil tem de ser feito com os brasileiros, pelos brasileiros e para os brasileiros”.

         A população do lugar – bairro, freguesia, concelho, região ou nação – sempre na centralidade dos movimentos ou projectos do lugar! E não há outro caminho de sucesso.

         É por isso que, sem subalternizar o peso dos grandes eventos que ora decorrem à nossa volta, vou apenas situar o pensamento de Hélder da Câmara no recôndito vale da Ribeira Seca no grande vale de Machico. É que há festa, sábado e domingo. E é também nas festas que se revela  a personalidade de um povo, a sua identidade, o seu espírito criador, a sua fidelidade às raízes.

         É o povo deste modesto rincão que se organiza, que ornamenta de verde puro o seu logradouro, a sua sala de visita, o seu adro. É o povo que “conta a sua dor nos versos que hoje canta”. A presença em palco – o palco que as pessoas construíram – afirmará de novo que a FESTA É DO POVO – do povo que reside e de todos quantos queiram vir por bem. Passarão em desfile coreográfico episódios marcantes da história deste lugar, a sua luta, as suas aspirações legítimas, as suas reivindicações mais dramáticas, algumas delas, e sobretudo os seus processos de intervenção, sempre através da música e da arte. É a história de um povo traduzida em verso e canto e dança e interpretada por adultos, jovens e crianças do lugar. Registo para Memória Futura!

Vem de longe, desde 1692, aquando da construção da velha capelinha do Amparo, centralidade primitiva que deu origem à nova e ampla centralidade da Ribeira Seca. É expressivo o título do Orago desta comunidade: a Senhora Mãe do Amparo, designação transparente que nos remete para uma verdadeira saga de acontecimentos que projectaram estas gentes a um patamar de dignidade, coerência e dinamismo.

    FESTEJAR É VIVER !

 

         09.Set.22

         Martins Júnior

1 comentário:

  1. Mais uma página eloquente e sentida sobre o percurso histórico e identitário do povo da Ribeira Sêca, sobretudo, destes últimos 60 anos. Outras páginas como esta virão do autor deste blog, sempre cheias de frescura intelectual e de um verde esperança por um mundo melhor. No entanto, permita-me o autor deste banquete dos dias impares, guardar este texto com especial sentimento.

    ResponderEliminar