Quando me preparava para descrever o Dia Patriótico do
Brasil – essa comemoração intensa do “7 de Setembro” em Olinda e Recife, ano
1972 – eis que a ‘rosa dos ventos’ fortuitos,
veio virar o capelo aos planeamentos mais estratégicos, com a morte da Rainha Elisabeth
II e, de certo modo, Dona do Mundo. É grosseiramente sábio e eficaz o
organigrama (ou ordenamento jurídico da monarquia) para ‘eleger’ o novo Rei. Ele já está feito, há 73 anos|. Por
isso os canhões que protestam a morte da Rainha são os mesmos que ribombam de
encantamento pelo novo rei. Inefáveis Ironias…
Do “7 de Setembro”, não posso deixar de
recortar a proclamação-síntese do Grande Herói da verdadeira soberania da
Brasil no século XX, Hélder da Câmara, arcebispo de Olinda e Recife: “Dizem os
militares da ditadura que eu sou anti-brasileiro e não quero o progresso da
nossa nação, mas enganam-se porque o
progresso que eu quero para o Brasil tem de ser feito com os brasileiros, pelos
brasileiros e para os brasileiros”.
A
população do lugar – bairro, freguesia, concelho, região ou nação – sempre na
centralidade dos movimentos ou projectos do lugar! E não há outro caminho de
sucesso.
É por
isso que, sem subalternizar o peso dos grandes eventos que ora decorrem à nossa
volta, vou apenas situar o pensamento de Hélder da Câmara no recôndito vale da
Ribeira Seca no grande vale de Machico. É que há festa, sábado e domingo. E é
também nas festas que se revela a personalidade
de um povo, a sua identidade, o seu espírito criador, a sua fidelidade às
raízes.
É o povo
deste modesto rincão que se organiza, que ornamenta de verde puro o seu logradouro,
a sua sala de visita, o seu adro. É o povo que “conta a sua dor nos versos que
hoje canta”. A presença em palco – o palco que as pessoas construíram –
afirmará de novo que a FESTA É DO POVO – do povo que reside e de todos quantos
queiram vir por bem. Passarão em desfile coreográfico episódios marcantes da
história deste lugar, a sua luta, as suas aspirações legítimas, as suas
reivindicações mais dramáticas, algumas delas, e sobretudo os seus processos de
intervenção, sempre através da música e da arte. É a história de um povo
traduzida em verso e canto e dança e interpretada por adultos, jovens e
crianças do lugar. Registo para Memória Futura!
Vem de longe, desde 1692, aquando da
construção da velha capelinha do Amparo, centralidade primitiva que deu origem
à nova e ampla centralidade da Ribeira Seca. É expressivo o título do Orago
desta comunidade: a Senhora Mãe do Amparo, designação transparente que nos
remete para uma verdadeira saga de acontecimentos que projectaram estas gentes
a um patamar de dignidade, coerência e dinamismo.
FESTEJAR É VIVER !
09.Set.22
Martins Júnior
Mais uma página eloquente e sentida sobre o percurso histórico e identitário do povo da Ribeira Sêca, sobretudo, destes últimos 60 anos. Outras páginas como esta virão do autor deste blog, sempre cheias de frescura intelectual e de um verde esperança por um mundo melhor. No entanto, permita-me o autor deste banquete dos dias impares, guardar este texto com especial sentimento.
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